sábado, 19 de janeiro de 2013

BIBLIOTECA PARTICULAR JOSÉ SARAMAGO



Minha Biblioteca: 
Biblioteca José Saramago



            Lembro-me que Cristovam Buarque em sua declaração eleitoral colocou seu maior bem: sua biblioteca.

            Posso dizer-lhes também que um dos maiores bem que possuo é minha biblioteca, devo ter mais de 5.000 livros, depois dos 3.000 parei de contar. Desde que comecei estudar História, comecei a montar minha biblioteca que começou com três livros que ainda lembro-me e dois deles ainda tenho, um sumiu no meio das emprestadas.

            Meus três primeiros livros, que comprei e li-os nas férias de 1986 (neste ano eu já possuía minha enciclopédia Novo Conhecer) foram: As Veias Abertas da América Latina do Eduardo Galeano, A História da Riqueza do Homem do Léo Huberman e Brasil, Nunca Mais! Encabeçado pelo querido Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns.

            É claro que antes deles, no primeiro ano de História, foram imprescindíveis os livros da coleção primeiros passos, O que é História? O que é Sociologia? E o que é Dialética. Depois destes não lembro mais a ordem das compras, mas foram muitos os ataques a sebos e também não me esqueço da delícia que era comprar na livraria Prosa & Verso do grande amigo Rafael. Bons tempos.

            Minha biblioteca atual é muito diversificada, é claro que a maioria dos livros são de História Mundial e do Brasil, porém tenho muitos livros de literatura, tanto brasileira quanto estrangeira, filosofia, e os mais diversos. Tenho mais de dez bíblias, várias obras em Inglês, Espanhol e até em francês. Possuo até livros repetidos, porém de edições diferentes, ter uma primeira edição é algo glorioso. Tenho um livro autografado pessoalmente pelo Jorge Amado, que enviou para mim, ABC de Castro Alves,  e diz o seguinte: “Para Cláudio Maffei, com os votos para sua ???? e sua ficção. O abraço de JAM, Bahia 1995 ou 1997” Eta, letrinha danada!

            Como aprecio muito José Saramago resolvi chamar minha biblioteca de José Saramago.



            Muito bem, agora tire o olho, que sou muito cioso com meus livros e só empresto realmente para quem é de minha confiança, mesmo assim, vivo levando alguma pernada, pois dois dos livros que citei acima (As veias abertas e O que é Historia) foram e não voltaram.

            É isso aí, um dia se a Luiza ou o Luiz Otávio não quiserem ficar com meus livros, após meu passamento (o palavrinha feia), espero que a mesma seja doada para uma boa biblioteca, que pode ser a municipal de Porto Feliz. Tive a chance de visitar a Biblioteca do Florestan Fernandes em São Carlos na UFSCAR é fantástico você ver livros onde o nobre sábio riscava e deixava suas anotações. Só não quero que minha biblioteca acabe indo para a reciclagem. Para terminar deixo um exemplo do que falei neste parágrafo do Eduardo Galeano:


1984

Rio de Janeiro

Desandanças da memória coletiva na América Latina



            O contador público João David dos Santos deu um pulo de alegria quando conseguiu receber seus muitos salários atrasados. Não foi em dinheiro, mas conseguiu receber. Na falta de dinheiro, um centro de investigação em ciências sociais pagou-lhe com uma biblioteca completa, de nove mil livros e mais de cinco mil jornais e folhetos. A biblioteca era dedicada à história contemporânea do Brasil. Continha materiais muito valiosos sobre as ligas camponesas do Nordeste, os governos de Getúlio Vargas e muitos temas.

            Então o contador Santos pôs a biblioteca à venda. Ofereceu-a aos organismos culturais, aos institutos de história, aos diversos ministérios. Nenhum tinha fundos. Tentou as universidades, oficiais e privadas, uma após outra. Não adiantou nada. Numa universidade deixou a biblioteca emprestada, por alguns meses, até que lhe exigiram que começasse a pagar aluguel. Depois tentou os particulares. Ninguém mostrou interesse: a história nacional é enigma ou mentira ou bocejo.

            O infeliz contador Santos sente um grande alívio quando finalmente consegue vender sua biblioteca à Fabrica de Papel Tijuca, que transforma todos esses livros e jornais e folhetos em papel higiênico colorido.


(extraído de Eduardo Galeano, O Século do Vento, 1988)

           

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