ERRO 5: DESISTIR DE UM ALUNO
Hoje, eu acho que ser paciente é a maior virtude do
professor. Não a clássica paciência de não esganar um adolescente numa última
aula de sexta-feira, mas a paciência de saber que, como diz Rubem Alves,
plantamos carvalhos e não eucaliptos. Nossa tarefa é constante, difícil, com
resultados poucos visíveis a médio prazo. Porém, se você está lendo este texto,
lembre-se: houve uma professora ou um professor que o alfabetizou, que pegou na
sua mão e ensinou, dezenas de vezes, a fazer a simples curva da letra O. Graças
a essas paciências, somos o que somos. O modelo da paciência pedagógica é a
recomendação materna para escovar os dentes: foi repetida quatro vezes ao dia,
durante mais de uma década, com erros diários e recaídas diárias. As mães
poderiam dizer: já que vocês não querem nada com o que é melhor para vocês,
permaneçam do jeito que estão que eu não vou mais gritar sobre isso (típica
frase de sala de aula...). Sem essas paciências, seríamos analfabetos e
banguelas. Não devemos oferecer menos ao nosso aluno, especialmente ao aluno
que não merece e nem quer essa paciência – este é o que necessita urgentemente
dela. O doente precisa do médico, não o sadio. O aluno-problema precisa de nós,
não o brilhante e limpo discípulo da primeira carteira.
É um erro que já cometi muito. Um aluno não me ouve. Não faz
nada do que eu peço. Diante de qualquer tentativa, sutil ou forte, ele reage
com indiferença absoluta. Eu insisto, chamo para conversar, estimulo,
repreendo. Nada. Absolutamente nada. Todos os colegas dizem o mesmo: “esse aí
não quer nada com nada”. Por vezes denunciam uma espécie de maldição genética: “já
dei aula para os irmãos dele, naquela família ninguém quer nada com nada”.
Parece que o aluno, o DNA, os colegas, o sistema e tudo o
mais indicam que devemos desistir. Afinal, o que eu posso fazer com apenas
aquele tempinho e tendo tantos estudantes para atender? Nesse momento, queria
dizer para mim e ler muitas vezes para mim e aproveitar para dizer a vocês: não
desistam. Desistir de um aluno e declarar que nada mais pode ser feito é um
fracasso doloroso para todos, para o professor inclusive. Acho que há momento
para desligar as máquinas num centro de tratamento intensivo. Acho que há
momentos em que a doença vence. Mas gostaria, na minha vida profissional, que
eles fossem escassos. É a vitória da morte, num hospital ou numa sala de aula.
O mais dramático é que, por vezes, é o aluno que nos pede
para desistir. Ouvi tanto isso deles. “Não adianta, professor. EU NÃO QUERO
APRENDER...” Encare sempre esse desafio. Quem não quer é o que mais precisa.
Volto para a escova de dentes.
Leandro karnal. Conversas com um Jovem Professor - pp.39 e 40
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