A AULA - 1 - INTRODUÇÃO AO JOGO E SUAS REGRAS
(Leandro Karnal – Conversas com um
Jovem Professor, pp. 15 e 16)
Vai
começar. Você estudou anos para isto. Preparou aquela aula. Leu e debateu
autores que tratam do tema. Porém, nada no planeta pode substituir a
experiência de enfrentar uma turma pela primeira vez. Uso o verbo enfrentar
porque é esta a sensação: dezenas de olhos colocados sobre você. Um pouco mais
de silêncio se for uma turma que não se conhece ou... muito barulho se for uma
turma que se reencontra depois das férias. E, finalmente, cadernos e livros na
mão, ei-lo entrando para o local privilegiado da sua profissão: a sala de aula.
A
faculdade antecipa pouco essa experiência real. Onde eu enfio Piaget e Vigotsky
quando vou fazer a chamada? Dúvidas banais substituem os grandes temas da
psicopedagogia: coloco “P” ou “ponto” para a presença? E aqueles trabalhos
imensos sobre a produção do conhecimento numa sociedade dependente periférica
capitalista? Agora só ocorrem perguntas triviais e poucos nobres: é permitido
rasurar o diário? Será que eu posso autorizar a ida ao banheiro daquele aluno
que está de pé desde que eu entrei?
Na
verdade, o banho realístico veio antes da sua solene entrada na turma. Começou
na sala dos professores. Colegas deram conselhos práticos: “Não mostre os
dentes no primeiro dia”. Para quem não está acostumado a essa linguagem,
significa não sorrir de imediato para não perder o controle da sala. Os mais
experientes soltaram risadinhas: “Você vai ver aquela sétima B”! A advertência
é quase uma praga, ou, talvez, um desejo velado de que você fracasse.
Disseram-me há uns 30 anos: “Deus inventou o conhecimento e o diabo, invejoso,
criou o colega...”. Na época, muito jovem, eu achava a frase amarga.
Aqui,
um conselho prático: antes de entrar em sala, ouça os colegas, desde os muito
interessantes até os indiferentes. Alguns querem ajudar. Outros não toleram sua
juventude ou entusiasmo. Ouça todos. Porém nunca esqueça: a fala do colega diz
respeito, exclusivamente, à experiência dele e não a sua. O aluno-problema dele
talvez seja apenas dele e a turma fácil talvez não flua tão bem com você.
Ouça
sempre. A experiência tem valor, mas esteja atento a essa verdade pétrea que
vale até para este texto: bons conselhos podem ser úteis, mas seu caminho será
construído exclusivamente por você.
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