sábado, 2 de junho de 2018

HINDUÍSMO (5)


FILOSOFIA DO HINDUÍSMO


As seis escolas filosóficas ortodoxas hindus, que aceitam a autoridade dos Vedas são 1) Nyaya, 2) Vaisheshika, 3) Sankhya, 4) Purva Mimamsa,  5) Yoga e 6) Uttara Mimamsa (também denominada Vedanta). As escolas não-védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influenciar o hinduísmo hoje são a Purya Mimamsa, Yoga e a Vedanta.

1)    NYAYA – escola de importância ímpar no desenvolvimento da filosofia indiana devido ao seu papel na construção de um sistema lógico e analítico do qual nasceu todo o resto da filosofia lógica indiana, além de influenciar o desenvolvimento paralelo em diversas outras áreas do pensamento. O Nyaya foi fundado por Aksapada Gautama, conhecido como Akpasapada (o de olhos fixos no pé), que escreveu o texto de maior importância dessa escola, o Nyaya Sutra, por volta do século II a.C. Inicialmente vista com suspeita pelo clero hindu, passou logo depois a ser promovido por este como ferramenta de debate contra os heterodoxos – materialistas, budistas e jainistas. A escola teve seu prestígio incrementado, e o seu sistema passou a ser visto como um dos meios para se levar à salvação.

2)    VAISHESHIKA – representa uma linha de pensamento intimamente associada com a da Nyaya e originalmente proposta pelo sábio Kanada (ou Kana-bhuk, literalmente “comedor de átomos”), em torno do século II a.C. Basicamente a Vaisheshika expressa uma forma de atomismo e postula que todos os objetos do universo físico são redutíveis a um número finito de átomos.
Heinrich Zimmer
3)    SAMKHYA – esta filosofia é anterior ao bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o indôlogo Heinrich Zimmer e seu clássico livro Filosofias da Índia. Patandjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tâmil preserva elementos das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema Saámkhya-yoga, indissociável. O Sámkhya foi compilado bem antes de Patandjali (que viveu no século II), por kapila que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre o Samkhya e o bramanismo é que o primeiro é dualista e o segundo monista, mas ambos veem o espírito ou deus como imanente e transcendente ao mesmo tempo. A diferença significante do Samkhya é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou deus pessoal) numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito terreno divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundo dos Upanixades, adotando uma visão vedantica monista. A realização do objetivo do yoga é conhecido como moksha ou samdhi. E como nos Upanaxides busca despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a “verdade suprema”.
 4)    PURVA MIMAMSA – A escola Purva Mimamsa (ou investigação anterior) estabeleceu as bases para a formulação de regras de interpretação dos Vedas. O principal questionamento da Purva Mimamsa se refere à natureza das leis naturais (ou dharma). Segundo esta linha de pensamento, a natureza do dharma não é acessível à razão ou observação e deve ser inferida a partir da autoridade da revelação contida nos Vedas. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda. A Purva Mimamsa, sendo fortemente ligada à exegese textual dos Vedas, deu origem ao estudo da filologia, ou da filosofia da linguagem na Índia. A introdução da noção de shabda (discurso) como unidade indivisível de som e significado é devido ao sábio Bhartrhari (século VII).
5)    YOGA – O sistema do yoga é geralmente considerado como tendo surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o yoga referido aqui, é especialmente o raja-yoga (Raja-Yoga ou união através da meditação). E é baseada em um texto que exerceu grande influência, o Yogas Sutras de Patandjali, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia do Yoga meditacional. Os Upanixades e o Hhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da Yoga.

6)    UTTARA MIMAMSA OU VEDANTA – A escola Uttara Mimamsa (ou investigação posterior), também conhecida como Vedanta é talvez a pedra angular dos movimentos do hinduísmo, e certamente, foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. A maior parte da atual filosofia hindu está relacionada a mudanças  que foram influenciadas pelo pensamento vedanta,  o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no “Eu” uno, ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas. Primeiramente associada com os Upanixades e seus comentários por Badarayana e Vedanta Sutra, o pensamento vedanta dividiu-se em três grupos:

·         PURO MONISMO: ADVAITA VEDÂNTA:  Advaita literalmente significa “não dois”, isto é o que referimos como monteístico, ou sistema não-dualístico, que enfatiza as unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788 – 820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanixades e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação direcionadas a obtenção da paz e compreensão da verdade.
·         MONISMO QUALIFICADO: VISHISTADVAITA VEDANTA – Ramanuja (1040 -1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vishnu), cit (alma) e acit (matéria). Vishnu é a única realidade indepente, enquanto alma e matéria são dependente de deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não-dualístico.
·         DUALISMO: DVAITA VEDANTA – Madhya (1199 – 1278) identificou deus como Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu um diferenciação fundamental entre o deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.
Filósofo Hindu Rabindranath Tagore visita Einstein em 14 de julho de 1930

 FILOSOFIA HINDU: AS ESCOLAS NÃO VÉDICAS
            As principais escolas não védicas ou heterodoxas (Nastika) do pensamento hindu são o budismo, o jainismo e Lokayata ou Carvaka, que veremos no blog do maffei como outras religiões em futuras postagens.

CULTURAS ALTERNATIVAS DE ADORAÇÃO

AS ESCOLAS BHAKTI
            A escola devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a ideia de “amor prazeroso, abnegado e estupetante de deus como pai, mãe, filho amados”, ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração devoto. A filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através de forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como uma forma de Yoga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente é deus que promove toda mudança que é a fonte de todos os trabalhos através do amor e da luz. 
             Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o hinduísmo ao longo da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior onda de mudança em orações e rituais hindus desde tempos remotos.
             A mais popular forma de expressão de amor a deus na tradição hindu é através do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras. Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV – XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual do fogo védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com deus através de meios simbólicos. Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na benção do indiferenciado amor à verdade.

TANTRISMO
            A palavra tantra significa “tratado” ou “série continua”, e é aplicada a uma variedade de trabalhos místico ocultos, médicos e científicos. A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia hindu.


TEMAS E SIMBOLISMOS IMPORTANTES NO HINDUÍSMO
             AHIMSA – o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana, sua exortação ao veganismo e a não violência é simbolizados pelo ahimsa – o termo apareceu primeiramente nos Upanixades, assim, levou a uma influência internamente enraizada e externamente motivada desenvolveu-se numa grande quantidade de hindus que acabaram por abraçar o vegetarianismos numa tentativa de respeitar as formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30 % da população hindu atual, especialmente em comunidades ortodoxas no sul da Índia, em alguns estados do norte como o Guzerate e em vários enclaves brâmanes à volta do subcontinente, é vegetariana. Portanto, enquanto o vegetarianismos não é um dogma, é recomendado com sendo um estilo de vida sátvico (purificador). Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o se estatuto de “cuidadora” espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto govinda (pastor de vacas) como gopala (protetor de vacas), e que o assistente de Shiva é Nandi, o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, sendo que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne tendo também um movimento entre os hindus para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.


FORMAS DE ADORAÇÃO


            MURTIS E MANTRAS – o hinduísmo prático é simultaneamente politeísta e enoteísta, pois professa a crença na existência de 33 milhões de deuses que dividem em graus hierárquicos, crendo na existência de um deus supremo e uma infinidade de deuses secundários. Segundo algumas interpretações de caráter monoteísta a variedade de deuses e avatares que são adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas de “Verdade Única”, algumas vezes vistos como mais do que um mero deus e um último terreno divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo, ou um princípio monoteístico como Vishnu ou Shiva. Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman – sem atributos) ou como um deus pessoal (saguna brahman – com atributos), os hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma de deus ou deusa. Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vishnu (conhecido como Vaishnavs) são 80 % dos hindus aqueles que acredita em Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A maioria dos hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da verdade. Entre o mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Cali e Durga), Ganesh, Skanda e Hanuman. A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas não serem o próprio deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de deus. Eles são símbolos do princípio maior, representando mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira hindu de adoração de imagens as torna apenas como símbolos da divindade, oposto à idolatria geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.

            MANTRA – recitações e mantras originaram-se no hinduísmo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga é realizada através de japa (repetições). Dizem que os mantras através de seus significados, sons e recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que pratica) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou por invocar a força espiritual interior. As últimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao senhor Rama “Hey Ram!”. O mais representativo de todos os mantra hindu é o famoso Gayatri Mantra:

भूर्भुवस्व: | तत् सवितूर्वरेण्यम् | भर्गो देवस्य धीमहि | धियो यो : प्रचोदयात्
Aum Bhūrbhuvasvah | tat savitūrvarenyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo naha pracodayāt

Significa literalmente: Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr o deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações. O mantra Gayatri é considerado o mais universal, o mais importante (maha mantra) de todos os mantras hindus, e invoca o Brahman universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos hindus até os dias de hoje, seguindo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5.000 anos, realizam abluções matinais às margens do rio sagrado (especialmente do rio Ganges), conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do “conhecimento divino” (Veda). E governado pelo princípio Ma (mãe) Gayatri, também conhecido como Veda Mata (mãe dos Vedas) e intimamente associado á deusa do aprendizados e iluminação, Sarasvathi. O maior objetivo da religião védica é alcançar moksha ou liberação através da constante dedicação a Satya (verdade) e uma eventual realização de Atman (alma universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes princípios. Os grandes rishis (sábios, considerados espécies de santos hindus) e também denominados como samsárico (aquele que vive no samsara – plano temporal ou terrestre) aquele que segue um meio de vida honesto e amável (dhármico) é um jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos Upanixades. Tat Twan Asi (assim és tu), e na última aspiração como segue:

Aum Asato mas ad gamaya tamaso ma ivotir gamaya mrityor ma aamritaam gamaya
Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a imortalidade


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