DEFINIÇÃO DE HINDUÍSMO
A
característica da tolerância compreensivas às diferenças de credo e a abertura
dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser definido como uma religião de
acordo com o conceito ocidental tradicional.
Embora
o hinduísmo seja um conceito prático claro para a maior parte dos seus
seguidores muitos manifestam algum tipo de problema ao tentar chegar a uma
definição do termo, principalmente devido à ampla gama de tradições e ideias
incorporadas ou cobertas por ele.
Descrito
como uma religião, o hinduísmo costuma ser definido com mais frequência como
uma “tradição religiosa”. É descrito como a mais antiga das religiões mundiais,
e mais diversa em tradições religiosas.
A
maior parte das tradições hindus reverenciam um corpo de literatura sagrada ou
religiosa, os VEDAS, existindo exceções, onde algumas tradições religiosas
acreditam que certos rituais específicos sejam essenciais para a salvação, mas
diversos pontos de vista sobre o assunto podem coexistir. Algumas filosofias
hindus postulam uma ontologia teística da criação, sustento e destruição do
universo, enquanto outros hindus são ateus.
O
hinduísmo por vezes é caracterizado pela crença na reencarnação (samsara),
determinada pela lei do Karma, e que a salvação é a liberdade deste ciclo de
sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no entanto, como o
budismo e o jainismo também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do
hinduísmo.
O
hinduísmo é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas
do mundo, porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a
maior delas, como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com
raízes que se estendem até a pré-História.
Uma
definição do hinduísmo dada pelo primeiro vice-presidente da Índia, o teólogo
Sarvepalli Radhakshnan diz que “não é apenas uma fé”, mas que, por estar ele
próprio relacionado à união da razão e intuição, não pode ser definido, apenas
experimentado.
De
maneira similar, alguns acadêmicos sugerem que o hinduísmo pode ser visto como
uma categoria com seus limites pouco definidos, e não uma entidade rígida e bem
definida.
Algumas
formas de expressão religiosa são centrais ao hinduísmo, enquanto outras não
são tão centrais, porém ainda enquadram-se dentro da categoria, com base nisto
desenvolveram-se algumas teorias acerca da definição do hinduísmo, como a
“teoria dos protótipos”.
A
teoria dos protótipos nasceu na antropologia e na psicologia cognitivista, e
constitui um desenvolvimento teórico dentro do paradigma da linguística
cognitiva, tendo assim estendida à análise léxica e semântica. A teoria dos
protótipos teve como precursores Georges Kleiber e George Lakoff, apresentou-se
como o modelo de explicação do fenômeno da categorização, conceito essencial
para as ciências cognitivas, partindo do princípio fundamental de que não é
possível encontrar um conjunto de traços semânticos comuns a todos os membros
de uma categoria. A categorização da realidade envolvente não se faz por
exclusão dos semas que separam os membros de uma categoria, mas sim pelo
reconhecimento dos semas que podem aproximá-los, isto é, aquilo que
Wittgenstein designou por “semelhanças de família” e que foi integrado no
modelo cognitivista. As categorias apresentam muitas vezes limites difusos.
Desta forma, existem categorias com exemplares mais representativos, ou seja,
mais prototípicos, do que outros, os quais se dispõem pelas margens do
protótipo, os membros periféricos do protótipo. Assim, por exemplo, quando se
faz um inquérito a respeito dos exemplares que cada indivíduo considera fazerem
parte da categoria fruto, obtemos resultados ligeiramente diferentes segundo
cada pessoa, mas o centro do protótipo para fruto contém certamente exemplares
como laranja, maçã, abacaxi, ameixa, uva, enquanto que exemplares como azeitona
e tomate ficarão nas margens do protótipo. Isto explica-se pelo conjunto de
características que associamos à imagem mental de fruto (sumarento e doce,
utilizado para sucos, utilizado como sobremesa, utilizado em saladas com outros
frutos etc.) e que estão presentes em cada exemplar de forma diferente. A
inclusão de um elemento dentro de uma categoria define-se em função do grau de
semelhança estabelecido com o protótipo.
Os
problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo
“hinduísmo” frequentemente são atribuídas ao fato que o hinduísmo não tem um
fundador histórico único ou comum. O hinduísmo ou, como alguns dizem,
“hinduísmos”, não tem um sistema único de salvação, e apresenta diferentes
metas de acordo com a seita ou denominação. A formas da religião védica são
vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas como a sua forma mais antiga,
e praticamente não há justificativa para as divisões estabelecidas pela maior
parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo, o bramanismo e o próprio
hinduísmo.
Uma
possível definição de hinduísmo é ainda mais complicada pelo uso frequente do
termo “fé” como sinônimo para “religião”. Alguns acadêmicos e diversos
praticantes se referem ao hinduísmo com uma definição nativa, como “Sanãtana
Dharma”, uma frase em sânscrito que significa “a eterna lei” ou “eterno
caminho”.
CRENÇAS
O
hinduísmo é uma corrente religiosa que evoluiu organicamente através de um
grande território marcado por um diversidade étnica e cultural significativa.
Esta corrente evoluiu tanto através da inovação interior quanto pela
assimilação de tradições ou cultos externos ao próprio hinduísmo. O resultado
foi uma variedade enorme de tradições religiosas, que vai de cultos pequenos e
pouco sofisticados aos principais movimentos da religião, que contam com
milhões de aderentes espalhados por todo o subcontinente indiano e outras
regiões do mundo. A identificação do hinduísmo como uma religião independente,
separada do budismo e do jainismo, depende muitas vezes da afirmação dos próprios
fiéis de que ela o é.
Temas
proeminentes nas (porém não restritos às) crenças hinduístas incluem o dharma
(ética hindu), a samsara (continuo ciclo do nascimento, morte e renascimento),
Karma (ação e consequente reação), moksha (libertação do samsara), e as
diversas iogas (caminho ou prática).
O
hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem o
monoteísmo, o politeísmo, o panenteísmo, o panteísmo, o monismo e o ateísmo, e
o seu conceito de deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas
tradições e filosofias. Por vezes é tido como uma religião henoteísta (que
envolve a devoção a um único deus, embora aceite a existência de outros) porém
o termo é visto, da mesma maneira qe os outros, como uma generalização
excessiva.
A
maior parte dos hindus acredita que o espírito ou a alma – o “eu” verdadeiro de
cada pessoa, chamado de atman – é eterno. De acordo com as teologias monistas e
panteístas do hinduísmo (tais como a escola Advaita Vedânta), este atman não
pode ser distinguido, em última estância, do Brâman, o espírito supremo, estas
escolas são, portanto, chamadas de não-dualistas. A meta da vida, de acordo com
a escola Advaita, é chegar à conclusão que o seu atman é idêntico ao Brâman, a
alma suprema. Os Upanixades afirmam que quem toma a consciência do atman como o
âmago de si próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim o
moksha (liberação ou liberdade).
Escolas
dualísticas, como por exemplo a Dvaita e Khakti, compreendem Brâman como um ser
supremo que possui personalidade e o/a veneram como Vishnu, Brahma, Shiva ou
Shákti, dependendo da seita. O atman é dependente de deus, enquanto o moksha
depende do amor a deus e da graça de deus. Quando deus é visto como um ser
supremo pessoal (em lugar do princípio infinito), deus é chamado de Ishyara (o
senhor), Bhagavan (o auspicioso) ou Parameshwara (o senhor supremo). As
interpretações de Ishvara variam, no entanto, da não-crença no Ishyara dos
seguidores do mimamsakas, do vishnuísmo cujo deus é Vishnu e o texto das
escrituras desta denominação identifica este ser como Krishna, por vezes
chamado de Syayam Bhabavan. Também existem escolas como a Sânquia que tem
tendências ateias.
DEVAS
E AVATARES
As
escrituras hindus se referem a entidades celestiais chamadas devas (ou devi, na
sua forma feminina; devatã é usado como sinônimo de deva em hindi), “os
brilhantes”, que pode ser traduzido com deuses ou seres celestiais. Os devas
são uma parte integrante da cultura hindu, e foram retratados na sua arte, arquitetura
e através de ícones e histórias mitológicas sobre eles foram relatadas nas
escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e no Puranas.
Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishyara, um deus pessoal supremo
que muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu ista devatã, ou
ideal escolhido. A escolha é uma questão de preferência individual e tradições
regionais e familiares.
Os
épicos hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de deus à
Terra em sua formação corpórea para restaurar o dharma da sociedade e guiar os
humanos ao moksha, incluidno Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna (figura
central do épico Mahabárata).
Quanto
ao avatar (do sânscrito, avatara, que significa “decida”, de avatarati “ele
desce”, de ava “igual “longe + tarati “ele atravessa), encarnação do verbo;
descida ou travessia do salvador universal do plano do espírito para o plano da
matéria.
O
avatar com seu complemento divino ou chama gêmea, Shakti, retrata e representa
a consciência e nos quatro corpos inferiores o padrão arquetípico do deus pai
para a evolução das almas em um ciclo de dois mil anos.
Avatar
vem da palavra em sânscrito avatâra, sendo que ava significa ao longe, e târa
como sendo ele cruza, ele percorre. No hinduísmo mais comumente um avatar está
mais relacionado às várias encarnações, de Vishnu, o deus da infinita bondade,
que de tempos em tempos vem ajudar a humanidade em momentos difíceis.
Avatar,
como já foi dito acima, vem do sânscrito “avatara” que significa literalmente “descida”.
Diz-se da “descida” de uma divindade a este mundo, em forma humana ou outra
forma qualquer. A palavra avatar significa também antiga lei, ou seja, aquele
que vêm pela lei universal una e verdadeira.
Avatares
são seres de um altíssimo grau de consciência bem acima do homem comum, são instrutores
da humanidade e que em determinados momentos se manifestam para contribuir ao
evoluir da consciência de uma mente restrita e com corpos sutis.
KARMA
E SANSARA
Karma
pode ser traduzido literalmente com “ação”, “obra” ou “feito” e pode ser
descrito com a “lei moral de causa e efeito”. De acordo com os Upanixades um
indivíduos conhecido como o jiva-atma desenvolve samskaras (impressões) a
partir das ações, sejam elas físicas ou mentais. O linga sharira, um corpo mais
sutil que o físico, porém menos sutil que a alma, armazena as impressões, e
lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma trajetória única para o
indivíduo. Assim, o conceito de um karma infalível, neutro e universal,
relaciona-se intrinsecamente à reencarnação, assim como à personalidade,
característica e família de cada um. O karma une os conceitos de livre-arbítrio
e destino.
O
ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento é um continuo, chamado
de samsara. A noção de reencarnação e karma é uma premissa forte do pensamento
hindu. O Bagavadguitá afirma que: “Assim como uma pessoa veste roupas novas e
joga fora as roupas antigas e rasgadas, uma alma encarnada entra em novos
corpos materiais abandonando os antigos.”
A
samsara dá prazeres efêmeros, que levam as pessoas a desejarem o renascimento
para gozar dos prazeres de um corpo perecível. No entanto, acredita-se que
escapar do mundo da samsara através do moksha assegura felicidade e paz
duradouras. Acredita-se que depois de diversas reencarnações um atman
eventualmente procura a união com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).
A
meta final da vida, referida como moksha, nirvana ou samadhi, é compreendida de
diversas maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com deus;
como a realização da relação eterna de alguém com deus; realização da unidade
de toda a existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio ‘eu”;
como o alcance de uma paz mental perfeita; e como desprendimento dos desejos
mundanos. Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o ciclo de
renascimentos.
A
conceitualização do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu.
O Advaita Vedanta, por exemplo, sustenta que após alcançar o moksha um atman
não mais identifica a si próprio como indivíduo, mas sim como sendo idêntico a
Brâman em todos os aspectos. Os seguidores da escola Dyaita (dualística) se
identificam como parte de Brâman, e após atingir o moksha esperam passar a
eternidade num loka (céu) na companhia de sua forma escolhida de Ishvara.
Assim, diz-se os seguidores do Dvaita desejam “provar o açúcar”, enquanto os
seguidores do Advaita querem “se tornar açúcar”.
O
pensamento hindu clássico aceita os seguintes objetivos da vida humana,
conhecidos como os purushartas ou “quatro objetivos da vida”:
·
DHARMA – retidão, ética;
·
ARTHA – sustento, riqueza
·
KÃMA – prazer sensual
·
MOKSA – liberação, liberdade (do
samsara)
No
hinduísmo, acredita-se que todos os homens seguem o karma e o artha, mas
brevemente, com a maturidade, eles aprendem a controlar esses desejos com o
dharma ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo seria o
infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, o moksha ou liberação (também
conhecida como mukti, samadhi, nirvana, etc.) do samsara, o ciclo da vida,
morte e da existência dual.
IOGA
Qualquer
que seja a maneira na qual o hindu defina a meta de sua vida, existem diversos
métodos (yôgas) que os sábios ensinaram para atingir aquela meta. Textos
dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad Gita), os Ioga Sutras, o
Hatha Yoga Pradipika, a Gheranda Samhita entre outros, e, como sua base
filosófica-histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir
para atingir a meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem, entre
outros:
·
BACTI-IOGA – o caminho do amor e da
devoção;
·
CARMA-IOGA – o caminho da ação
correta;
·
RAJA-IOGA – o caminho da meditação
·
JNANA-IOGA – o caminho da sabedoria
e;
·
RAJA-IOGA – o caminho da união real.
Um
indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre os outros, de acordo com a sua
inclinação e entendimento. Algumas escolas devocionais ensinam que o bhakti é,
para a maior parte das pessoas, o único caminho prático para se alcançar a
perfeição espiritual, com base em sua crença de que o mundo atualmente estaria no
Kali Yuga (uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga). A prática de um ioga
não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os diferentes yogas se
misturam naturalmente e auxiliam na prática dos outros yogas. Por exemplo,
acredita-se que a prática da jnana-ioga inevitavelmente leve ao amor puro (a
meta do bacti-ioga) e vice-versa. Alguém que pratica a meditação profunda (como
no raja-ioga) deve incorporar os princípios centrais do karma-ioga, do
jnana-ioga e do bacti-ioga, seja direta ou indiretamente.
PRÁTICAS
As
práticas hinduístas geralmente envolvem a procura da consciência de deus, e por
vezes também a procura de bênçãos dos devas. Assim, o hinduísmo desenvolveu
muitas destas práticas como forma de ajudar o indivíduo a pensar na divindade em
meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar a puja (culto ou veneração)
tanto em casa como num templo. Em seus próprios lares os hindus frequentemente
costumam criar um altar, com ícones dedicados às suas formas escolhidas de
deus. Os templos costumam ser dedicados a uma divindade primária e às
divindades subordinadas que lhe são associadas, embora alguns templos sejam
dedicados a mais de uma divindade. A visita a templos não é obrigatória e
muitos os visitam apenas durante os festivais religiosos. Os hindus realizam
seu culto através do murtis, ícones; o ícone serve como uma ligação tangível
entre o fiel e deus. A imagem costuma ser considerada uma manifestação de Deus,
já que Ele é imanente. O Padma Purana afirma que o murti não deve ser visto como
apenas pedra ou madeira, mas sim como uma forma manifesta da divindade. Algumas
seitas hindus, como o Arva Samai, não acreditam em venerar deus através de
ícones.
O
hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo e iconografia para
representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura e em seu culto. Estes
símbolos ganham seu significado das escrituras, mitologia ou tradições
culturais. A sílaba om (que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica
(que simboliza auspiciosidade) acabaram passando a representar o próprio
hinduísmo, enquanto outros símbolos, como a tilaka identificam um seguidor da
fé. A tilaka é uma marca usada geralmente na testa, as vezes em outras partes
do corpo, como pescoço, mão ou peito.
O
hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente associados
a divindades específicas, como lótus, chakra e veena.
Os
mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu significado, som
e estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos pensamentos sagrados
ou exprimir devoção a deus ou às divindades. Muitos devotos realizam abluções
matinais às margens de um rio sagrado, enquanto cantam o Gayatri Mantra ou os
mantras Mahamrityunjaya. O poema épico Maabárata exata o japa (canto
ritualístico) como o maior dever durante o Kali Yuga (que os hindus acreditam
ser a era presente), e muitos adotam o japa como sua prática espiritual
primordial.
RITUAIS
A
imensa maioria dos hindus praticam rituais religiosos diariamente, porém a
observância destes rituais varia enormemente de acordo com as regiões, cidades
ou aldeia e indivíduos. A maior parte dos hindus segue estes rituais religiosos
em seus lares. Os hindus mais devotos também executam tarefas diárias, como
venerar durante a alvorada, depois de se banhar (normalmente num santuário
familiar, num ritual que também envolve o acendimento de uma lâmpada e a
colocação de oferendas de alimentos diante de ícones da divindades), recitar os
escritos religiosos, cantar hinos devocionais, meditar, cantar mantras, entre
outros. Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o puro e
o impuro (ou poluído). Atos religiosos pressupões algum grau de impureza ou
poluição para o seu praticante, que devem ser anulados ou neutralizados antes
ou durante o decorrer do ritual. A purificação, feita geralmente com água, é
portanto um aspecto típico da maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.
Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito
de mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que
acumulam com o tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo.
Os
ritos védicos da oblação pelo fogo (vajna) são atualmente apenas práticas
ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de
casamentos e funerais hindus, no entanto, o vajna e o entoamento de mantras
védicos ainda são a norma. Os rituais upacharas, mudam com o tempo, por
exemplo, nas últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças sagradas e
as oferendas musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas Sodasa,
recomendados pelo Agama Shastra, foram substituídos por oferendas de arroz e
doces. Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes envolvem o que são
frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos. No hinduísmo, os
rituais que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a primeira ingestão
de comida sólida por um bebê), Upanayanam (cerimônia do fio sagrado, pela qual
passam as crianças de castas elevadas em sua iniciação na educação formal) e
Shraadh (ritual de conceder banquetes em nome dos falecidos). Para a maior
parte das pessoas na Índia, o noivado de um jovem casal e a data e hora exatas
do casamento são questões decididas pelos pais, em consultas com astrólogos. Na
morte, a cremação que é considerada obrigatória para todos, com exceção de
sanyasis hijra e crianças abaixo de cinco anos, costuma ser executada
envolvendo-se o corpo em algum tecido e queimando-o sobre uma pira.
Os
hijra é uma comunidade religiosa que impõe a emasculação como forma de agradar
a deusa Bahuchara Mata. Meninos vitimados de abusos sexuais são conduzidos
pelas próprias famílias aos líderes da seita e então são castrados em rituais
místicos, a partir daí, são obrigados a vestir-se e portar-se como mulheres.
Segundo a tradição religiosa hindu, os hjras tem grande facilidade para
“abençoar ou amaldiçoar”, o que torna esta comunidade temida e respeitada
naquela sociedade. Em 2014, a Suprema Corte de Justiça da Índia definiu os
hijras como pertencentes a um “terceiro gênero”, tornando a situação indiana
única na história da antropologia.
PEREGRINAÇÃO
E FESTIVAIS
A
peregrinação não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores
as realizem. Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia, incluindo
Allahabad, Haridwar, Varanasi e Vridavan. Entre as cidades que possuem templos
famosos está Puri, que abriga um dos principais templos vixnuísta de jagannath
e a comemoração de Rath Yatra, Tirupati, lar do templo Tirumala Venkateswara e
Katra, onde se localiza o templo de Vaishno Devi. Os quatro locais sagrados de
Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath (ou, alternativamente, as cidades de
Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri no Himalaia) compõem o circuito de
peregrinação de Char Dham (quatro moradas).
O
Kumph Mela (festival das jarras) é uma das peregrinações hindus mais sagradas,
realizada a cada quatro anos, a localização é alternada entre Allahabad,
Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os
Shaktj Peethas onde a deusa mãe é cultuada, da qual as duas principais são
Kalighat e Kamakhya.
O
hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo do ano. O calendário hindu
costuma prescrever estas datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos da
mitologia hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem
festivais que são celebrados principalmente por seitas específicas ou em certas
regiões do Subcontinente Indiano. Alguns dos festivais mais importantes são o
Maha Shivaratri, Holi, Ram, Navami, Krishna Jammastami, Ganesh Chaturthi, Dussera
e Durga Puja, além do Diwali.
ESCRITURAS
O
hinduísmo baseia-se no “tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por
diferentes pessoas em diferentes tempos”. As escrituras foram transmitidas
oralmente, na forma de versos – para auxiliar na sua memorização, muitos
séculos antes de serem escritos. Ao longo dos séculos diversos sábios refinaram
estes ensinamentos e expandiram o cânone.
Na
crença hindu pós-védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser
interpretada literalmente, dá-se mais importância aos significados éticos e
metafóricos derivados deles. A maior parte dos textos sagrados está escrito em
sânscrito e os textos se dividem em duas classes: shruti e smriti.
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