ORIGENS
O xintoísmo tem raízes antigas nas ilhas japonesas. Sua
História remonta ao Kojiki (712) e ao Nihon Shoki (720), porém os registros arqueológicos
datam de um período significativamente mais antigo. Ambas as obras são
compilações de tradições mitológicas orais já existentes. O Kojiki estabelece a
família imperial como o alicerce da cultura japonesa, na condição de
descendentes de Amaterasu Omikami.
Existe uma genealogia de criação e aparição dos deuses, de
acordo com um mito de criação. O Nihon Shoki estava mais interessado em criar um sistema estrutural de governo,
política externa, hierarquia religiosa e ordem social interna.
Existe um sistema interno de desenvolvimento xintoísta que
configura as relações entre o xintoísmo e outras práticas religiosas ao longo
de sua história, os Kami (espíritos) internos e externos. O Kami interno ou
ujigami (uji significa clã) favorece a coesão e a continuação dos papéis e
padrões estabelecidos; e o hitogami, ou Kami externo, traz inovação, novas
crenças, novas mensagens e alguma instabilidade.
Os povos joomon do Japão utilizava-se de habitações
naturais, ainda não conheciam o cultivo do arroz e frequentemente eram
caçadores e coletores. A evidência física de suas práticas rituais é de difícil
documentação. Existem muitos locais que contêm estruturas rituais de pedra, e
conhecem-se práticas funerárias refinadas, além dos antigos torii, que indicam
a continuidade do xintoísmo arcaico. Os joomon tinham um sistema tribal baseado
em clãs, similar a muitos dos povos indígenas do mundo. No contexto deste
sistema as crenças locais desenvolveram-se naturalmente, e quando a assimilação
entre os clãs ocorreu, as crenças de tribos vizinhas acabaram por influenciar
as outras. A um certo ponto passou a existir um reconhecimento de que os
ancestrais criaram as gerações presentes e a reverência aos ancestrais (tama)
tomou forma. Havia algum comércio entre os povos primitivos das ilhas japonesas
com o continente, bem como diversas migrações, o que aumentou o crescimento e a
complexidade da espiritualidade dos povos locais, através de sua exposição a
novas crenças. Esta espiritualidade, no entanto, ainda era centrada no culto às
forças naturais, ou mono, e aos elementos naturais dos quais todos dependiam.
A introdução gradual de organizações religiosas e
governamentais metódicas a partir da Ásia Continental, começada por volta de
300 a.C., plantou as sementes das mudanças reativas que ocorreriam no xintoísmo
arcaico, ao longo 700 anos seguintes, em direção a um sistema mais formalizado.
Estas mudanças foram dirigidas internamente, pelos diversos clãs,
frequentemente como forma de um evento cultural sincrético direcionado às
influências externas. Eventualmente, à medida que os Yamato (camada dominante)
conquistaram o poder, um processo de formalização se iniciou. A gênese da casa
imperial japonesa, e a criação subsequente do Kojiki, ajudou a facilitar a
continuidade necessária para este desenvolvimento a longo prazo.
O xintoísmo apresenta hoje em dia um equilíbrio entre
influências externas do budismo, do confucionismo, do taoismo, das religiões
abraâmicas, do hinduísmo e de crenças seculares que embora tenha tido conflitos
em seu desenvolvimento, aparenta atualmente ser natural e não exclusivo. Em
períodos mais modernos o xintoísmo desenvolveu também novas formas e suas
próprias subdivisões, e até mesmo expandiu-se para além das fronteiras do Japão,
tornando-se uma religião global.
XINTOÍSMO E O BUDISMO
O budismo foi introduzido no século VI e trouxe graves
consequências para o xintoísmo. Vindo da Coréia, apresentado ao imperador, o
budismo, apesar de algumas resistências iniciais, acabou por triunfar, tendo
servido para a consolidação do poder imperial, com o apoio dos governantes
locais.
Apesar disto, a tendência geral, e mais conforme à
mentalidade do Oriente, foi a de fundir as duas religiões, mas sobe a égide do
budismo.
Durante longo séculos, o budismo impôs a sua influência,
sobrepondo-se à religião tradicional, que porém não desapareceu.
Face ao domínio duma religião estrangeira desde logo vários
pensadores e sacerdotes procuraram manter a dignidade e o papel desempenhado
pela religião tradicional. Na Idade Média, vários destes pensadores fizeram uma
união entre os dois tipos de divindades, mas em sentido contrário ao já
referidos: os budas eram na verdade kami encarnados, que assim deixavam o seu
estado original para descerem à Terra.
Nos séculos XVI – XVII, viveu-se um momento de renascimento
da cultura japonesa, com o consequente afastamento de influências estrangeiras.
Apesar de o budismo não perder substancialmente o seu terreno, ficou agora relegado
para segundo plano, a favor de uma tendência nacionalista que se afirmava e que
atingiria o seu ponto culminante no período seguinte.
No âmbito da ideologia profundamente nacionalista da era
Meiji, a escolha duma religião oficial recaiu culturalmente sobre o xintoísmo,
já aclamado como a religião verdadeiramente original do povo japonês,
considerado pelo regime como superior a todos os outros.
Criou-se então o chamado xintoísmo de Estado, uma espécie de
sacralização do Estado, ou, melhor, laicização do xintoísmo. De fato, o
xintoísmo foi despido do seu caráter religioso para se tornar um dever cívico
de reverência ao Estado e ao imperador.
O xintoísmo estatal permaneceu em vigor durante algumas
décadas. Como expressão do nacionalismo japonês, exacerbou-se particularmente
por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Com a derrota do Japão precipitou-se o
seu processo de queda. Em 1946, foi proclamada a nova constituição, pela qual o
imperador foi destituído de todas as prerrogativas divinas e de todo o poder
político, tornando-se apenas símbolo da unidade nacional.
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