A DOUTRINA
A MORAL
No xintoísmo o homem é considerado como
naturalmente bom e puro, participante da natureza através dos Kami, e que o
pecado e a impureza se devem a influências malignas dos espíritos habitantes do
mundo inferior. Por isso, o homem recebe diretamente dos kami uma componente
natural, um ideal celeste a ser realizado nesta vida, modelo de vivência dado e
aceito como meta, e que representa a ligação da vida humana à vida divina. Este
é o maior conceito moral do xintoísmo, o chamado michi, termo que significa
“caminho”. Trata-se de um ideal de justiça e de caráter, de que ninguém se deve
afastar, elemento básico da vida xintoísta e do próprio culto. O michi,
obediência ao curso da natureza, reveste-se duma extrema simplicidade e
naturalidade.
Para o xintoísmo, a vida só alcança o
seu sentido e a sua finalidade se for vivida na pureza, que é o seu estado
natural. A vida que não leva isso em conta é radicalmente anti-xintoísta e não
agrada aos kami que, desgostosos, podem mandar vários tipos de desgraças para
avisar o pecador, e até mesmo castigá-lo. Procura-se esse ideal de pureza,
tanto corporal como mental e espiritual, que leva o homem à sua plenitude.
Embora o homem não possa controlar tudo o que acontece e pode danificar a sua
pureza, tem a responsabilidade de procurar viver uma vida autenticamente
xintoísta, reta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami.
Vítima de forças que lhe escapam, o
homem corrompido é alguém que deixou de pertencer, durante algum tempo, ao
mundo da bondade e da felicidade, possuindo, porém, o direito de voltar a ele.
Por isso, o pecado e a falta moral, embora reconhecidos, revestem-se de um
caráter diferente do que têm os ocidentais.
Aquilo que pode danificar a pureza pode
ser de caráter voluntário ou involuntário. As faltas voluntárias são
verdadeiros pecados, da responsabilidade daquele que os pratica, e denominam-se
tsumi. As faltas involuntárias não fazem, obviamente, a pessoa incorrer em
igual responsabilidade, embora ela possa ter contribuído para a situação,
devido à sua má conduta ou imprudência. Incluem-se neste grupo as calamidades ou
desgraças (wazawai) e as manchas, impurezas (kegari), adquiridas por contatos
com elementos como um cadáver, o sangue, as relações carnais, etc. Estes males
têm origem no mundo interior, que envia as calamidades e impurezas e incita aos
crimes. Para afastar a sua nefasta influência, realizam-se vários tipos de
exorcismos.
Embora, pareça uma confusão entre mal, moral e acontecimentos fortuitos, o que acontece é a justificação do preceito
fundamental da pureza que, para muitos pensadores xintoísta, se sobrepõe aos
ritos e ao culto.
No que se refere ao concreto, as
concepções morais rígidas do xintoísmo apresentam bastante pobreza, pois não se
encontram códigos morais definidos propriamente ditos, como existem noutras
religiões orientais, como o confucionismo, por exemplo. O michi apresenta-se
como algo extremamente vago e simples, o que pode levar a pensar que o
xintoísmo rejeita propositadamente qualquer tipo de regras concretas de moral.
No século XVIII um grande teólogo o
xintoísta, Motoori (1730 – 1801), apresenta uma teoria que diz que os homens
foram naturalmente dotados pelos kami de conhecimento do que devem ou não
fazer, pelo que não precisam de códigos morais. Se necessitassem de tal, seriam
inferiores aos animais que, embora em grau inferior, sabem como devem proceder.
A ausência deliberada dum código moral no xintoísmo é, para Motoori, motivo de
orgulho, pois significa que aos japoneses basta-lhes seguirem a moral do
coração e do espírito puro, neles inscrita pelos kami.
CULTO
As práticas do xintoísmo têm a
finalidade de se dirigirem aos kami, para que escutem a oração dos fiéis. As
orações podem ter diversos sentidos: pedidos, muitas vezes relacionados com a
vida cotidiana ou com alguma ocasião importante, ações de graça, por um
benefício concedido, uma meta atingida, um obstáculo ultrapassado; promessas de
ação futura em favor dos homens e da sociedade, tentativas de aplacar a fúria
dos kami, irritados por algum motivo, ou, muito simplesmente para os louvar,
rendendo-lhes homenagem sincera, sem esperar propriamente nada de especial em
troca.
Através de vários elementos, os fiéis
podem estabelecer relação com os kami, relação muitas vezes de caráter filial,
em que uma divindade tutelar de dada região ou localidade. Os fiéis locais
estabelecem especial ligação com esse kami, que os atende e protege, nos mais
variados acontecimentos da sua vida.
ORGANIZAÇÃO
SACERDOTAL
Os santuários têm ao seu serviço um
número variável de sacerdotes, que neles oficiam de vários modos. São
denominados pelo termo kannushi, que significa “mestre do kami”, ou então pelo
termo chinês shinshoku, “pessoa cuja profissão é servir a divindade”.
A sua principal função é a de servir e
adorar os kami e servir como um elo entre eles e os crentes através da execução
dos ritos nos santuários, visando assegurar a proteção do povo japonês e do
imperador.
Não costumam falar em público, tendo
sido mesmo proibidos em 1885, no contexto do xintoísmo de Estado. Hoje em dia,
porém, os sacerdotes pregadores começam a ser apreciados. Não considerados como
chefes ou guias espirituais, mas somente como oficiantes de atos de culto, a
pedido dos fiéis e em seu benefício.
O sacerdócio xintoísta é aberto às
mulheres. As sacerdotisas têm mesmo tendência a aumentar, encontrando-se algumas
à frente de grandes templos. O sacerdócio feminino desenvolveu-se no Japão após
a Segunda Guerra Mundial. Para além de sacerdotisas, as mulheres podem ainda
ser mikos. Uma miko é uma virgem que leva uma vida monástica, ajudando os
sacerdotes a executar os ritos nos templos e executando as danças sagradas.
Exercem estas funções durante cinco a dez anos.
Os sacerdotes repartem-se por várias
categorias. A mais elevada é a de Princesa consagrada ao kami (saishu), uma
princesa virgem da família imperial. Atualmente, só existe uma, no santuário de
Ise. Em seguida, temos o Grande Sacerdote, à frente de cada santuário, e depois
o restante do clero, que se reparte por funções diferenciadas.
Em tempos
atuais verifica-se uma nova preocupação em revitalizar o xintoísmo e os
santuários, buscando novas tendências, pelo que se tem agora grande cuidado com
a preparação intelectual e teológica dos candidatos a sacerdotes. Os
regulamentos atuais preveem vários diplomas possíveis, dos quais pelo menos um
é exigido aos sacerdotes, que apenas o obtêm após vários anos de estudo
em universidades ou institutos especiais. Hoje em dia a formação de
um sacerdote xintoísta é garantida pela frequência de um curso
na Universidade de Kokugakuim ou da Universidade de Kogakkan.
Os sacerdotes, uma vez consagrados, mantêm as suas funções habitualmente
toda a vida, mesmo não sendo obrigados a exercê-las. Moram fora do santuário,
com exceção do Grande Sacerdote. Os sacerdotes xintoístas não são obrigados a
levar uma vida de castidade, podendo casar e fundar
uma família, o que geralmente fazem.
As vestes sacerdotais apresentam grande beleza
artística, enraizadas nos séculos passados, mas só são utilizadas nos
santuários e em ocasiões especiais na rua. A indumentária para o culto fica
completa com um toucado especial e sapatos próprios. Sobre a testa de um
"Yamabushi", coloca-se uma pequena caixa preta chamada "tokin",
que é amarrada à sua cabeça com um cordão preto. Durante as cerimônias, os
sacerdotes costumam trazer também uma espécie de cetro de madeira, que tem um
significado purificador, mas sobre o qual não recai qualquer tipo de veneração. Fora das funções
rituais, os sacerdotes não usam qualquer tipo de sinal exterior, que os
distinga dos leigos.
OS SANTUÁRIOS
Os santuários xintoístas espalham-se por todo o Japão,
constituindo lugares privilegiados de culto. Mas, embora surjam por todo o
lado, têm geralmente alguma razão especial para existir: um fenômeno natural,
um acontecimento histórico ou mítico, a simples devoção pessoal ou o patronato
político. Também os há motivados por revelações em sonhos, ou porque
simplesmente era necessário um lugar de culto naquele local.
Quando o local de construção de um novo santuário é escolhido, põe-se em
prática uma série de ritos, destinados a purificar o lugar e a invocar a
presença do kami, para que se digne vir habitar naquele sítio. Se mais tarde
for decidido deixar aquele santuário ou mudá-lo para outro lugar, existem os
ritos inversos, pelos quais se convida delicadamente o kami a retirar-se.
O santuário encontra-se na base
do xintoísmo. É nesse local que a divindade habita e que escuta os seus fiéis,
e é também centro de ligação da comunidade e de partilha de identidade. Neste
contexto, podem distinguir-se três grandes tipos de santuários, conforme a
abrangência que possuem:
·
os de dimensão local, centros
de partilha de uma comunidade reduzida, onde se venera o kami da localidade.
Este tipo de santuário congrega em torno de si as pessoas da aldeia, que
sentem uma filiação comum em relação à divindade. O santuário aparece como
local de estreitamento de relações entre kami e paroquianos.
·
santuários de tipo particular,
mais abrangentes, procurados por motivos concretos e determinados, como o êxito
nos negócios ou nos estudos, ou outro tipo de proteção especial.
Este gênero de santuários encontra-se por todo o Japão.
·
por último, os grandes
santuários nacionais, destino de peregrinação de milhões de pessoas, todos os
anos, dos quais o mais importante é o de Ise, em honra da deusa
Amaterasu, e que está diretamente ligado à casa imperial.
Além destes, há ainda templos dedicados
a kami de guerra, a valores marciais ou em honra de pessoas notáveis, a quem se
pedem favores específicos.
O santuário é entendido como um local
onde as pessoas se vêm “refrescar” espiritualmente. Neles, está-se em profunda
comunhão com a natureza, que abre o homem a uma espiritualidade plena
e à identificação pessoal com os kami.
Os templos xintoístas podem assumir as
mais diversas formas e tamanhos, mas apresentam certos aspetos em comum. Todos
eles são constituídos por um edifício, ou um conjunto deles, inseridos num
espaço envolvente, rodeados pela natureza. Têm particular importância
as árvores, principalmente a árvore sagrada, sakaki (榊), utilizada em muitos dos
rituais.
O espaço em volta do edifício principal
é por vezes muito extenso, e apresenta-se dividido em várias partes. Ao longo
do caminho, que nunca é em linha reta, encontra-se uma série de diferentes
elementos separadores, que marcam também etapas duma caminhada espiritual. São
eles:
·
os torii (鳥居), muito característicos dos
templos japoneses, que são uma espécie de portais sem porta, constituídos por
dois postes verticais e duas traves horizontais. Aparece um de imediato no
início do caminho e depois geralmente mais dois, ou mesmo uma grande fila deles.
A série de torii repete-se para cada via de acesso ao
santuário;
·
pontes, por vezes várias, até
se chegar ao templo algumas monumentais e muito elaboradas. A água é um
elemento purificador, pelo que os cursos de água debaixo das pontes constituem
uma eficaz barreira contra toda a impurezas;
·
barreiras e paliçadas, com portas,
que simbolizam a entrada no local sagrado, reservado ao homem puro.
Encontram-se também jardins, lagos,
lanternas. Ainda antes de se chegar ao edifício principal, depara-se um tanque
de água limpa, geralmente abrigado por um alpendre, no qual os fiéis
se lavam, purificando-se de todas as impurezas e pecados, servindo-se, para
isso, dumas colheres compridas de bambu, para tirar a água.
É costume também, em ocasiões solenes,
libertar aves, peixes e outros animais.
No edifício do templo (pode-se haver
vários, num mesmo santuário, dirigidos a diferentes kami) têm geralmente
dimensões modestas, não obstante a grande diversidade de tamanhos. São
constituídos por três secções:
·
uma sala de orações (Haiden) (拝殿) para os fiéis, onde eles
dirigem as suas preces ao kami. À entrada está uma grande caixa de madeira,
para depositar moedas, e um sino, ligado a uma corda, que serve para advertir o
kami da presença do fiel;
·
uma sala de oferendas,
reservada aos sacerdotes chamada (Heiden) (幣殿);
·
uma sala mais pequena (Honden) (本殿), nunca visitada, considerada a morada
física do kami, e onde podem estar depositados objectos simbólicos,
como espelhos, joias ou espadas, invólucros onde reside o
espírito da divindade. O espelho, particularmente, é considerado morada
privilegiada do espírito divino, e tem origem muito antiga, sendo já mencionado
na mitologia japonesa.
Alguns templos preveem nos seus
estatutos serem totalmente reconstruídos periodicamente. É o caso do templo de
Ise, reconstruído de vinte em vinte anos. Essa ocasião é rodeada de ritos
próprios, para convidar o kami a mudar de residência. Embora reconstruídos, os
templos mantêm o estilo do anterior, pelo que os novos não diferem dos antigos
e originais.
Alguns santuários possuem também uma
espécie de museu, não raras vezes repleto de peças de grande valor,
consideradas espólio da divindade.
Os ritos exercidos nos santuários,
apesar de muito diversos, apresentam o seguinte esquema: o sacerdote, depois de
purificado, invoca o kami. Faz ofertas propiciatórias, de bebidas e alimentos,
a que se segue a oferta de jogos, danças e representações, para entreter a
divindade. No fim, o kami é convidado a retirar-se, seguindo-se uma refeição
fraterna.
RITOS DE PURIFICAÇÃO
A
purificação é uma prática fundamental em toda a prática xintoísta. É por ela
que o homem se liberta, regressando ao seu estado inicial de pureza, a que tem
direito. Para a purificação, que antecede qualquer ato religioso, particular ou
comunitário, utilizam-se diversos ritos, que assumem formas diferentes.
Os kami não suportam a impureza, pelo
que se exerce sempre um conjunto de práticas purificativas antes do culto
propriamente dito, que tornam puros os participantes, os objetos e as
oferendas. Os ritos de purificação assumem três formas distintas:
- · o misogi (禊), que consiste na purificação por meio da água. A água é tida como poderoso elemento purificador, crença já muito antiga, pois é referida na mitologia: o deus Izanagi, depois de fugir dos infernos, banhou-se na água dum rio, para se purificar das imundícies contraídas naquele lugar. Ao banhar-se ou lavar-se na água, o fiel xintoísta obtém a purificação das impurezas, tanto das voluntárias como das involuntárias. Pela água, purifica-se o corpo e a alma. O misogi é depois estendido a níveis sucessivamente superiores: o coração, o meio envolvente, a alma;
- o harai (祓), que é um tipo de purificação algo próximo do exorcismo. É realizado por um sacerdote, que agita sobre o que deve ser purificado ramos da árvore sagrada, sakaki, ou uma vara com tiras de papel penduradas e joga-se um punhado de sal. Por este meio, obtém-se a purificação de todas as manchas, corporais e espirituais, bem como o afastamento de todas as influências malignas.Duas vezes por ano, no fim de Junho e de Dezembro, realiza-se uma purificação solene, ou grande exorcismo, o chamado o-harai. No recinto do santuário, reúnem-se muitas pessoas, que recebem umas tiras de cânhamo ou de papel branco (kirinusa). Depois de recitar a oração de purificação, o sacerdote agita a vara com os papéis, enquanto as pessoas agitam também as suas tiras. Estas tornam-se objetos de substituição, contendo todas as impurezas, e são lançadas a rios ou ao mar. Nalguns santuários, um exercício semelhante é feito com papéis recortados em forma humana (hitogata), que a pessoa passa pelo corpo, depois de neles ter escrito o nome;
·
o imi (忌), que é um período
de jejum a ser realizado antes das cerimônias. Tem duração diferente,
conforme a importância do rito. Consiste em abster-se de determinados alimentos
e bebidas, bem como de palavras e ações menos próprias. É um período de
recolhimento pessoal, evitando todo o tipo de impureza, sem se ouvir música e
sem se preocupar com assuntos que causem fadiga ou sofrimento. Este tipo de
purificação é principalmente realizado pelos sacerdotes, que se retiram para
outro lugar e fazem abluções. Após este tempo, qualquer pessoa está apta a
participar nas cerimônias mais importantes.
Na sua vida diária, todo o fiel
xintoísta tem a obrigação de prestar homenagem aos kami, o que pode ser feito
nos mais variados lugares e ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo
campo ou pela rua.
Revestem uma importância particular as
visitas aos santuários, que podem ser realizadas com diferentes objetivos: prestar
contas, louvar, agradecer ou rogar. Todos os fiéis têm como dever ir visitar
periodicamente o kami e relatar-lhe o que lhe tem acontecido na vida diária,
não no intuito de pedir perdão, mas para simples informação. É comum também
agradecer graças recebidas ou louvar simplesmente o kami. O pedido de graças
faz-se geralmente em favor de outra pessoa ou da sociedade, pois considera-se
de mau tom pedir para si próprio. As orações também não devem ser muito longas,
complexas, para não aborrecer o kami. Muitas vezes, são os sacerdotes os
encarregados de transmitir as preces às divindades, devendo saber interpretar,
por sinais diversos, se a oração foi ou não bem recebida.
A adivinhação é um rito que também acompanha frequentemente o rito
individual: faz-se através de varetas numeradas, dentro duma caixa, que
correspondem a predições e conselhos.
Põem-se em prática também uma série de
rituais específicos, entre os quais o mais característico é o bater das palmas.
Depois de reverências solenes, diante do templo do kami, o devoto bate várias
vezes as palmas, finalizando de novo com reverências. Este gesto parece
destinar-se a atrair a atenção da divindade, mas o seu sentido não se esgota
simplesmente aí.
Em sua casa, os fiéis têm geralmente um
pequeno altar doméstico (kamidana),
onde colocam vários amuletos: um do santuário local, outro do grande santuário
nacional de Ise, e mais algum, conforme as devoções e preferências. Todas as
manhãs, são feitas oferendas: saquê (aguardente de arroz),
arroz, sal. Acende-se uma lamparina e fazem-se orações aos kami.
Um outro costume é o
das peregrinações. Os japoneses apreciam peregrinar, ganhando méritos pela
austeridade e pelas privações. Mas é claro que hoje em dia as viagens são muito
mais confortáveis. É hábito ter um livrinho, onde se registam os emblemas dos
vários santuários percorridos, assim como adquirir amuletos, que servem de
recordações.
FESTAS
A religião xintoísta comemora um grande
número de festas, com uma grande variedade de costumes e de motivos para
celebrar. Não raramente, verifica-se um grande intercâmbio entre religião e
estado civil: várias festividades xintoístas são feitas feriados, e vice-versa.
As festas dividem-se em dois grupos: as comunitárias, respeitantes à população
em geral, e as particulares, de âmbito pessoal e familiar.
Diversos tipos de ritos festivos são
celebrados nos santuários. Cotidianamente, fazem-se cerimônias de oferendas, de
manhã. No primeiro dia de cada mês também há ritos próprios. Estes são ritos de
dimensão modesta.
REISAI
Cada santuário, uma ou duas vezes por
anos, celebra uma data festiva, relacionada com o kami ou com o seu templo. O
dia em que é celebrada a festa pode ter múltiplos significados: pode
corresponder ao dia de fundação do santuário, a um dia importante na sua
história ou ser um dia associado à divindade do santuário.
Durante estas festas ocorre geralmente
uma procissão dos kami, razão pela qual as festas são também chamadas de
shinkó-sai (Festa da Procissão dos Deuses) ou togyo-sai (Festa da Augusta
Travessia). Os kami são instalados num carro (hóren) ou num palanquim (mikoshi)
e são passeados pela aldeia ou cidade.
Junta-se muita gente, que agita ramos
de árvore e estandartes, fazendo daquele acontecimento algo muito colorido e
vistoso. Estabelecem-se locais de paragem, para o kami descansar. A finalidade
deste ato é simplesmente entreter e divertir a divindade, pedindo-lhe, ao mesmo
tempo, que continue a dispensar a sua proteção. Estas festas são também ocasião
para jogos, artes e danças, tendo especial significado para o estreitamento de
laços entre kami e fiéis, e destes entre si.
FESTA DA PRIMAVERA
São várias as festas da primavera
(haru-matsuri). No dia 17 de fevereiro desenrola-se a festa toshigoi-matusuri
no palácio imperial e em todos os santuários do Japão, durante a qual é feita
uma prece que solicita boas colheitas e a prosperidade do país.
FESTAS DO VERÃO
Estas festas (natsu-matsuri) são
essencialmente urbanas e tem como principal objetivo afastar as calamidades.
Uma das festas de verão mais conhecidas
é o Festival de Gion que se desenrola no santuário de Yasaka em Kyoto no mês de
julho e que inclui uma marcha com carros ricamente decorados. Segundo a tradição
esta festa teria surgido no começo da época Heian, num temp marcado por grande
número de epidemias, para afastar os demônios aos quais atribuíam estas doenças
realizavam-se orações.
Outra importante festa é a do Rei
Celeste (tennó-matsuri) que tem lugar no santuário Tsushima situado na cidade
com o mesmo nome (em Aichi). Na véspera da festa ocorre uma cerimônia na qual
todas as impurezas são colocadas em canas que são largadas no rio. No dia da
festa vários barcos, decorados com lanternas, deslizam pelo rio Tenno ao som de
música e à luz de fogos de artifício.
FESTAS DO OUTONO
As festas do outono (aki-matsuri)
servem para agradecer às divindades pela existência de uma colheita abundante.
No santuário de Ise, a 17 de outubro,
decorre o importante rito do Kanname sai (cerimônia da prova), durante o qual
as primícias das colheitas dos cereais são oferecidos à deusa Amaterasu. São
também feitas oferendas das primeiras espigas de arroz cultivadas pelo
imperador e pelos agricultores das províncias.
A 23 de novembro, é o dia de
agradecimento pelo trabalho, com novas ofertas e orações pela prosperidade do
Japão.
·
Ano Novo, onde os fiéis
acorrem aos santuários, para a primeira peregrinação do ano;
·
Dia da Fundação da Nação,
acontece em 11 de fevereiro, data tradicional da subida ao trono do primeiro
imperador (660 a.C.), em que se ora pelo progresso do império.
·
Dia do Respeito pelas Pessoas
Idosas, em 15 de setembro, onde se apela ao amor e agradecimento aos mais
velhos.
·
Aniversário do imperador,
atualmente em 23 de dezembro, onde se ora pelo imperador e pelo país.
·
Outros feriados, todos eles
com ritos especiais: os equinócios, o Dia do Respeito pela Natureza (29 de abril),
o Dia da Constituição (3 de maio), o Dia das Crianças (5 de maio), o dia do
Desporto (10 de outubro), o Dia da Cultura (3 de novembro).
O CICLO DA VIDA NO XINTOÍSMO
Os vários momentos da vida humana,
muitas vezes ligados a ritos de passagem, são ocasião para realizar um tipo de
festa de motivação mais pessoal, realizadas no seio da família. São ocasião de
agradecimento, de pedidos e de renovação de propósitos para com os kami.
·
Primeira apresentação no
santuário: A primeira apresentação no santuário ou hatsumyia mairi, consiste em
levar ao santuário local os recém-nascidos para serem apresentados às
divindades. No caso dos meninos a apresentação ocorre no trigésimo primeiro
dia e nas meninas no trigésimo terceiro dia (embora possam ocorrer variantes
locais quanto ao número de dias). No passado era hábito a criança ser levada ao
santuário pela avó, porque se considerava que a mãe estava impura por ter dado
à luz, mas hoje em dia a criança é muitas vezes levada pela mãe.
·
Shichigosan: No dia 15 de novembro
as famílias deslocam-se aos santuários com os filhos para agradecer ao kami o
fato destes gozarem de saúde e para orar pelo seu crescimento. As crianças que
acompanham os pais são os meninos de três e cinco anos e as meninas de três a
sete anos. O nome do festival deriva precisamente da idade das crianças, shichi
= sete, go = cinco e san = três.
·
Celebração da maturidade: a 15
de janeiro celebra-se a festa da Idade Adulta (Seijin Shiki). Nesse dia os
jovens com vinte anos reúnem-se nos santuários para receber uma benção, embora
a festa também possua um caráter estatal, com cerimônias nas prefeituras. A
Constituição Japonesa atribui a maioridade aos jovens que atingiram os vinte
anos.
·
Votos por um parto fácil: no
quinto mês, a mulher grávida coloca no ventre um cinto de tecido branco,
purificado, para proteger o feto e ora pela criança que vai nascer;
·
Sekku, festas para os meninos
que acontece no dia 5 de abril e que se estendem estandarte em forma de carpa,
se fazem bonecos em figura de guerreiros e se oferecem bolos. Para as meninas,
é no dia 3 de março e se colocam bonecas sobre um estrado e se oferecem
bebidas, doces e bolos;
·
Entrada na vida ativa, ocasião
para o jovem agradecer aos kami, comprometendo-se a dar o seu melhor para o
serviço da sociedade;
·
Casamento, é celebrado numa
cerimônia muito solene, na presença de um sacerdote, que inclui oferendas, orações
e promessas aos kami, seguindo-se um banquete.
·
Expulsão das maldições, em
certas idades que são consideradas nefastas, sujeitas a desgraças, no caso 35,
42 e 61 anos pra os homens e 19, 33 e 37 para as mulheres, um sacerdote realiza
um exorcismo próprio e recomenda bastante prudência, pois as dificuldades
ameaçam acumular-se;
INFLUÊNCIAS
A tradição religiosa do xintoísmo é
anterior ao budismo, que posteriormente foi introduzido no Japão no século
VI. O contato entre as duas religiões modificou ambas. Os budistas adotaram
divindades xintoístas, e estes, que consideravam seus deuses espíritos
invisíveis e sem formas precisas, aprenderam com o budismo a erigir imagens e
templos votivos. Proclamou-se inclusive que as duas religiões eram
manifestações diferentes da mesma verdade, o que originou uma tendência
sincretista. Ambas religiões representam a religiosidade japonesa e os
japoneses chegam a praticar os ritos de ambas tradições de acordo com a natureza
da ocasião (por exemplo, preferem rituais xintoístas para rituais de nascimento
e casamento e rituais budistas em eventos fúnebres).
Algumas das novas religiões japonesas
tem forte influência xintoísta.
Ao contrario de religiões ocidentais,
como o cristianismo, o xintoísmo não pretende expandir-se através da conversão.
Por isso sua expansão fora das ilhas japonesas limita-se, geralmente, a
descendentes de japoneses.
SITES INTERESSANTES
Templo Xintoísta no Brasil : http://www.temploxintoista.org.br/atividades.html
SITES INTERESSANTES
Templo Xintoísta no Brasil : http://www.temploxintoista.org.br/atividades.html
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