quinta-feira, 6 de abril de 2017

HERÓDOTO DE HALICARNASSO: PAI DA HISTÓRIA OU PAI DA MENTIRA?

"Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro".
Heródoto


       Mas entre ser chamado de historiador e mentiroso, é inegável que a volumosa obra de Heródoto, batizada de Histórias, é considerada para alguns como o primeiro trabalho histórico ou pseudo-histórico, pois em seu tempo o próprio Heródoto não descartava o fato de que suas Histórias fosse uma "literatura diferente", no entanto, embora pensasse dessa forma, sua obra fora fonte de inspiração para historiadores de seu período e até de séculos posteriores.


Halicarnasso


       Heródoto, embora tenha sido um grego, ele não nasceu na península balcânica e nem nas ilhas gregas, mas nasceu nos territórios coloniais gregos, chamados de Colônias Gregas na Ásia Menor. A cidade de Halicarnasso ficava localizada na Cária, defronte ao Mar Egeu, sendo hoje a atual cidade de Bodrum na Turquia. Mas, no início fora uma colônia grega fundada por Argos e Trezena, inicialmente compreendia a ilha de Zefiria no golfo de Cós. Posteriormente a cidade cresceu e mudou-se para o continente, vindo vários anos depois a se tornar uma das cidades mais importantes da região da Cária, até se tornar capital desta. Quando Heródoto nasceu, a Cária estava sob o governo persa há várias décadas, pois os persas haviam conquistado a Ásia Menor (hoje corresponde ao território da Turquia). No tempo que ele nasceu e viveu, reinava o rei persa Xerxes I. Embora, tal região estivesse ligada ao Império Persa, seus habitantes falavam grego ou jônio e preferiam manter a cultura grega do que adotar a cultura persa.

    A cidade de Halicarnasso é principalmente lembrada na História por ter sido o lar de dois importantes historiadores como Heródoto e Dionísio de Halicarnasso (século I a.C). Lar do poeta Paniasis, da rainha Artemísia I de Cária a qual se unira ao exército do rei persa Xerxes I e combateu os gregos na Batalha de Artemísio (480 a.C) e na Batalha de Salamina (480 a.C), durante a chamada Segunda Guerra Médica ou Guerras Greco-persas.

 Todavia, Halicarnasso também é conhecida por ter possuído uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o chamado Mausoléu de Halicarnasso, construído pela rainha Artemísia II para sepultar o corpo de seu falecido marido o sátrapa (governador persa) Mausolo (? -353 a.C). A imponente tumba fora considerada por longos anos uma maravilha arquitetônica. Hoje em dia apenas algumas ruínas são visíveis. 


Família e formação

Paniasis
       Heródoto teria nascido por volta de 484 a.C (alguns sugerem a data de 485 a.C), sendo filho de Lixas e de Drio. É descrito que sua família possuía prestígio social e certa prosperidade, no entanto, nada se sabe sobre as atividades de seu pai Lixas. Alguns sugerem que ele tivesse sido político, funcionário público e possivelmente possuísse propriedades rurais. Todavia, excetuando-se os pais de Heródoto, o seu único outro parente conhecido fora o seu tio, o poeta Paniasis (não se sabe ao certo se ele era tio paterno ou materno), existe teorias hoje desacreditadas que sugerem que Paniasis teria sido primo ou sobrinho de Heródoto, porém o erudito francês Pierre Henri Larcher (1726-1812) discorda desta hipótese que Paniasis teria sido sobrinho de Heródoto. 

       Larcher fora um dos primeiros a traduzir o livro Histórias de Heródoto na modernidade e a estudar sua vida, daí ser considerado uma fonte de pesquisa acerca da vida deste historiador. Embora que hoje alguns de seus argumentos perderam validade. Paniasis embora não seja famoso hoje em dia, na Antiguidade fora considerado por gregos e romanos tendo sido um grande poeta, equiparável a HomeroHesíodo Antímaco. Seus únicos trabalhos que sobreviveram ao tempo, são a Herácleia ou Heracleiade, poema épico em homenagem ao herói Héracles (Hércules em latim), composto por nove mil versos, dividido em 14 livros. E o poema Os Iônicos ou Os Jônicos, o qual narrava através de sete mil versos (hoje apenas fragmentos destes são conhecidos) a história deste povo que colonizou a Jônia (antiga região na Ásia Menor, hoje território turco) e fora um dos povos formadores dos gregos.

       Acerca da formação de Heródoto, pelo fato de ter pertencido a uma família abastada, é bem provável que recebera uma educação de qualidade e comum aos membros da sua classe. Logo, o mesmo na escola teria aprendido a ler, escrever, contar; teria tido aulas de educação física (parte importante do currículo escolar grego antigo), e possivelmente aulas sobre geografia, história, política, oratória, filosofia, etc. No entanto, não se conhece nenhum de seus professores, mas, Larcher sugere que Heródoto nessa fase teria lido ou pelo menos ouvido falar em alguns livros de história da época.

       "A descrição da Ásia por Decideu, a história de Lídia, de Xantus, as da Pérsia de Helanicos de Lesbos e Charon de Lampsaco, gozavam então a mais alta reputação. Estas obras agradáveis, interessantes, foram sem dúvidas devoradas por Heródoto nesta idade em que se é ávido por conhecimentos, e lhe inspiraram o vívido desejo de percorrer os países cujas descrições o haviam encantado. Não era, contudo uma vaga curiosidade que o levava a viajar; ele se propunha uma finalidade mais nobre, a de escrever história. O sucesso dos historiadores que o haviam precedido não o amedrontou; pelo contrário, serviu para inflamá-lo; e embora Helano de Lesbos e Charon de Lampsaco tivessem tratado em parte do mesmo assunto, longe de ser desencorajado, ele ousou lutar contra eles, e não se esforçou em vão em superá-los". (LARCHER, 2006, p. 9).

A narrativa histórica antes de Heródoto

       Antes do surgimento da escrita por volta de 4000 a.C na Suméria, região sul da Mesopotâmia (hoje tais territórios compreendem o Iraque), onde surgira a chamada escrita cuneiforme. A história era contada, ou seja, a história oral.

     "Assim, desde seus princípios, a História Oral esteve marcadamente envolvida com as questões da memória humana, tanto coletiva quanto individual. E, nesse sentido, passou a ser um relevante meio de valorização das identidades de grupos sem escrita, por meio da coleta de seus depoimentos e da análise de sua memória, de sua versão do mundo e dos acontecimentos". (Maria Aparecida de Oliveira Silva, Histórias, Livro I, Clio, 2009).

       A história oral fora a forma que prevaleceu antes do surgimento da escrita e até mesmo com esta tendo sido criada e desenvolvida, nem todos os povos tiveram acesso a escrita ao longo de milênios, assim a história oral prevaleceu nas chamadas sociedades ágrafas (sem escrita). Mas o que interessa sabermos aqui é que a história oral por bastante tempo era a forma de que as pessoas tinham como saber de acontecimentos internos e externos aos seus grupos, comunidades, vilas e cidades. Com a inexistência de meios de comunicação, as informações, as notícias eram transferidas verbalmente, pois mesmo se existe-se escrita entre aquele povo, a maioria da população era analfabeta, pois o ato de ler e escrever era de interesse do Governo e de certas classes.


 Nas comunidades ágrafas os contadores de histórias, eram as pessoas mais velhas, as quais narravam a história de seu povo e seus saberes. Todavia, havia também os contadores de histórias itinerantes, homens que viajavam de cidade em cidade, de país em país, geralmente trabalhando como cantor, músico poeta, etc., o qual aproveitava para contar histórias que ouviu, viu e inventou. Tais homens se especializavam neste trabalho, pois como fora dito, geralmente eles contavam ou cantavam as histórias ao som de música ou a declamava em poesia.

       Por esta época, a história oral possuía o papel de apenas informar e em muitos casos aqueles que informavam e recebiam a informação não se importavam em confirmar a veracidade das fontes. Fatos, boatos, mentiras, equívocos, etc., se mesclavam na narrativa oral compartilhada diariamente no mundo. A partir da década de 70 do século XX, a história oral passou a ser reinterpretada e reavaliada.

       A realidade em parte mudou após o surgimento da escrita e quando esta surgiu entre outros povos. À medida que alguns Estados se tornavam maiores, mais poderosos e complexos, passou-se a ter a necessidade de melhorar a administração destes Estados, aí entrara o papel da escrita e dos relatórios.

       Na ausência de historiadores propriamente falando, a História era escrita por funcionários do governo como forma de relatórios sobre as províncias ou territórios, abordando aspectos políticos (guerras, revoltas, etc.), sociais, econômicos, naturais (como ocorrência de secas, pragas, inundações, etc.); informações que seriam úteis para o soberano e seus funcionários.

       Além disso, por muito tempo, a História se fundamentou a relatar a vida e o governo dos soberanos e dos ditos "grandes homens". Figuras importantes para uma dada sociedade ou povo, que foram consideradas relevantes para terem seus feitos contados e preservados para o futuro. Na Bíblia existe o chamado Livro dos Reis no Antigo Testamento, o qual narra a vida de alguns dos reis de Israel, começando com Davi e terminando com Joaquim, após esse ser libertado do Cativeiro da Babilônia em 538 a.C pelo rei persa Ciro II, o Grande.

Hecateu de Mileto
       Por outro lado, a História poderia ser escrita por escritores, poetas, artistas, contadores de histórias, filósofos, políticos, generais, nobres, qualquer pessoa que soubesse ler e escrever e que encontrasse alguma importância em relatar tal acontecimento, de forma a dedicar seu tempo e trabalho para escrevê-lo. Hecateu de Mileto (ca. 540 - ca. 480 a.C) escreveu algumas importantes obras geográficas e históricas antes de Heródoto; como A Descrição da Terra e Genealogias. Obras que serviram de fonte para Heródoto. Por muito tempo não houve uma metodologia e uma teoria específica de como se escrever a história, tais aspectos surgiram apenas no século XIX, logo, cada pessoa procurava seguir um viés que achasse melhor para seus interesses.

"Na verdade, os significados da História estão em constante mutação e é preciso que o professor leve a reflexão em torno dessa constante mudança para a sala de aula, fornecendo instrumentos para que seus estudantes possam compreender a complexidade da História e a dificuldade de se responder à pergunta “O que é História?” Essa pergunta não é nova, e cada corrente de pensamento procura dar sua própria resposta. Por isso, não é possível oferecer uma definição fechada para esse conceito. O mais importante é estabelecer as linhas gerais do debate em torno da natureza da História". (Maria Aparecida de Oliveira Silva, Histórias, Livro I, Clio, 2009).


       Ainda na época de Heródoto a história misturava-se entre o real e o imaginário, e até mesmo com a Literatura, pois alguns poetas e escritores escreviam sobre a história. O próprio Heródoto na introdução de seu livro, segundo Larcher [2006] tentou meio que construir uma explicação romanceada de sua obra. 

     Logo, a narrativa histórica é bem mais antiga que o próprio Heródoto e fora praticada em vários locais, seja por viés oral ou escrito. 

    Mas porque Heródoto é chamado de "Pai da História"?




 Um viajante em busca das maravilhas do mundo

       Não se sabe ao certo quando Heródoto iniciou suas viagens que lhe serviriam de base para escrever seu livro As Histórias e por quanto tempo ele viajou, pois é provável que ele tenha realizado várias viagens em distintos períodos de sua vida. Outro fato que marca esse seu período de viajante é que existem dúvidas se realmente ele teria visitado todos os importantes locais que menciona em sua obra, como a Babilônia, a Pérsia (neste caso refere-se a região de mesmo nome e não no sentido de império) e Cartago.

     "Foi com isto em vista que empreendeu suas viagens, que percorreu a Grécia inteira, o Épiro, a Macedônia, a Trácia; e, segundo seu próprio testemunho, não se pode duvidar que tenha passado da Trácia aos Citas, para além de Íster e do Boristeno. Por toda parte, observou com olhar curioso os sítios, as distâncias dos lugares, as produções dos países, os usos, os costumes, a religião dos povos; fuçou em seus arquivos e em suas inscrições os fatos importantes, a sequência dos reis, as genealogias dos personagens ilustres; e por toda parte ligou-se aos homens mais instruídos, e dedicou-se a consultá-los em todas as ocasiões. Talvez tenha se contentado nesta primeira viagem em visitar a Grécia, e que, em seguida rumou para o Egito, passando daí para a Ásia na Cólcida, à Cítia, à Trácia, à Macedônia, retornando a Grécia pelo Épiro". (LARCHER, 2006, p. 10). 

       O Egito fora um dos locais que mais maravilhou Heródoto, pois como Hartog [1999] diz: uma das ideias de Heródoto sobre viajar e escrever a história era poder vê e falar sobre as "maravilhas" (thôma). Hartog também sugere que thôma possa ser entendido também no sentido de "curiosidades". Heródoto dizia que existiam "maravilhas" naturais e construídas pelos homens que valiam apena serem conhecidas. As pirâmides de Gizé foram uma destas maravilhas que encantaram Heródoto. O mesmo dedicou um bom tempo a viajar pelo Egito, percorrendo o Nilo, visitando cidades como MênfisTebas e Heliópolis, importantes cidades da época.

"Com relação a maravilhas, o território da Lídia não tem mesmo nada que mereça ser escrito, como há em outras regiões, a não ser as palhetas de ouro que descem do Tmolo...". (HARTOG, 1999, p. 245 apud HERÓDOTO).

       Na citação acima, dá-se para ver como François Hartog mostrara, que de fato Heródoto demonstrava interesse nestas "maravilhas" e nos monumentos (érgas), pois para ele tais obras eram uma expressão da beleza da arte humana e da influência divina, pois alguns destes monumentos eram dedicados aos deuses. Para Larcher as descrições sobre a Líbia (não confundir com a Lídia) Cirenaica, concedem a confirmação que Heródoto teria passado por este países vizinho ao Egito, e talvez seguido para Cartago no oeste.

"Suas excursões na Líbia e na Cirenaica precedem a viagem a Tiro. A descrição exata da Líbia, desde as fronteiras do Egito até o promontório Soloeis, hoje cabo Spartel, conforma-se em tudo ao que nos dizem os viajantes mais estimados, e o doutor Shaw em particular, não permitindo dúvida de que tenha visto este país por si mesmo. Somos ainda tentados a crer que tenha estado em Cartago; seus encontros com um grande número de cartaginenses autorizam esta opinião. Ele voltou sem dúvida pela mesma rota ao Egito, e daí enfim passou a Tiro". (LARCHER, 2006, p. 12).

       Na ilha de Tiro (hoje no Líbano), ele visitou um templo dedicado ao herói Héracles, e de lá teria percorrido o atual território palestino em Israel e teria seguido para a Babilônia (hoje no Iraque) e a Pérsia (hoje o Irã). Todavia, embora Larcher afirme que o historiador esteve na Babilônia, existem alguns que discordam disso, mas não entrarei nesta questão. Entretanto, Larcher conta que da Babilônia ele teria seguido para a Ásia Menor, por onde visitou também a Lídia e talvez a Cítia.

     "A Cólcida foi o último país da Ásia que percorreu. Queria assegurar-se pessoalmente se os Cólcidos eram de origem egípcia, como lhe tinham dito no Egito, e se eram descendentes de uma parte do exército de Sesostris que tinha se estabelecido neste país. Da Cólcida passou pelos Citas e os Getos, daí à Trácia, da Trácia à Macedônia; e enfim voltou à Grécia pelo Épiro. Se não tivesse conhecido tão bem todos estes diferentes países, como poderia ter dado uma descrição exata, falar com clareza da expedição de Dario entre os Citas, e da de Xerxes à Grécia?". (LARCHER, 2006, p. 13).


       Por volta de 
458 a.C ou 455 a.C, Heródoto já se encontrava por Halicarnasso, e nesse tempo soube que seu tio Paniasis fora assassinado por ordem do tirano Ligdamis I (o conceito de tirano e tirania entre os gregos antigos era diferente do conceito de hoje, pois o tirano era um governante que assumia o poder em tempos excepcionais, embora em alguns casos fosse considerado um usurpador). Paniasis havia se unido a oposição que pretendia destronar o tirano, mas acabou sendo morto. Não se sabe se Heródoto testemunhou a morte do tio, ou já se encontrava pela cidade quando aconteceu o caso. Temendo ameaças a sua vida, Heródoto deixou Halicarnasso e se mudou para a ilha de Samos, onde de acordo com Larcher dera início a escrita de seus livros. Todavia, sabe-se que Heródoto chegou a participar dos protestos e a tramar a derrubada de Ligdamis. Não se sabe se o mesmo retornou para a Halicarnasso neste tempo após a morte de seu tio. Mas, Ligdamis fora retirado do poder.
       
Larcher também conta que por volta da 81.ª Olimpíada ocorrida em 452 a.C, Heródoto teria visitado Olímpia local onde se realizavam os jogos, para proclamar alguns trechos de seu livro Histórias. Contudo, há dúvidas se realmente ele comparecera nesta Olimpíada ou teria sido em outra, posterior a essa data.
       
Larcher não fora o único a ter problemas com a periodização, outros autores como Luciano (ca. 125 - ca. 180) Amiano Marcelino (330-391) também não possuem exatidão acerca de qual Olimpíada o historiador comparecera. Marcelino (autor da biografia de Tucídides) diz que Tucídides (ca. 460-400 a.C), famoso historiador grego, teria comparecido a 83.ª Olimpíada ocorrida em 444 a.C, e chorado ao ouvir a declamação do historiador. Por esta época ele estaria por volta de seus 16 anos (embora a data de seu nascimento é incerta), data que é compatível com as menções de Luciano e Larcher onde os mesmos dizem que Tucídides teria por volta de seus 15 anos. Porém, Larcher diz que a Olimpíada fora a de 452 a.C e Tucídides teria nascido em 477 a.C. No entanto, hoje muitos historiadores não consideram esta data tão remota. Porém, ainda existe a possibilidade de engano, pois em Atenas nesta época havia outro Tucídides (conhecido como filho de Melesias), conhecido por ser um político de destaque na época. Teria Luciano, Marcelino, Larcher e alguns outros confundido os dois Tucídides, o político e o futuro historiador? Pois Tucídides antes de ser historiador também participou da vida pública de Atenas.   
    
A proposta de Heródoto quando concebeu seus livros era relatar os acontecimentos acerca das 
Guerras Médicas (493-492 a.C/480-479 a.C) como também abordar aspectos sociais e culturais de outros povos pelos locais que ele visitou em suas viagens, e isso incluíra os gregos, persas, egípcios, citas, lídios, trácios, babilônios, massagetas, macedônios, amazonas, etc.

       De qualquer forma sabe-se que em 444 a.C, Heródoto voltou a ler outros trechos de sua obra, agora em Atenas, no festival das Panatenéias. Segundo alguns autores, Heródoto teria chegado à Atenas entre 446 e 445 a.C, possivelmente teria conhecido ou pelo menos avistado o famoso dramaturgo Sófocles (497-405 a.C) e o famoso general e político Péricles (495/492-429 a.C). Acredito que se Tucídides ouviu e conheceu Heródoto deve ter sido por esta época, pois ambos estavam morando em Atenas. Além disso, não se sabe se ambos teriam ido a Olímpia na ocasião para assistir os jogos.

Em Túrio

       Sabe-se também que Heródoto fora um dos colonos que partira para a cidade de Túrio (Sibaris) na Itália, pelo ano de 444 a.C, como atestaram LarcherEusébioDiiloAristótelesEstrabão,Plutarco e outros. Não se tem certeza se o mesmo viveu o resto da vida em Túrio, mas sabe-se que permaneceu ali por muito tempo, pois em alguns casos ao invés de chamá-lo de Heródoto de Halicarnasso o chamavam de Heródoto de Túrio.


"Há muita aparência que ele passou o resto de seus dias nesta cidade, e parece certo que foi por esta razão que se lhe dá às vezes o sobrenome de Heródoto de Túrio. Estrabrão o diz positivamente. Eis como se exprime este sábio geógrafo ao falar da cidade de Halicarnasso: ‘O historiador Heródoto era desta cidade. Chamaram-no depois Turiano, porque estava entre os que foram enviados em colônia a Túrio.’ O imperador Juliano não o chama de outra forma no fragmento de uma carta que Suidas nos conservou: Se o Turiano parece a qualquer um digno de fé, etc. A coisa foi mesmo levada tão longe, que Heródoto tendo começado sua História com estas palavras: Publicando suas pesquisas, Heródoto de Halicarnasso, etc.; Aristóteles, que cita este começo, mudou esta expressão pela de Heródoto de Túrio. Este sábio não é o único a fazê-lo; porque Plutarco observa que muitas pessoas haviam feito a mesma mudança". (LARCHER, 2006, p. 18-19).

            Assim como outros fatos de sua vida, sua estadia em Túrio também é pouco conhecida. Heródoto quando se mudou para a cidade, contava com seus quarenta anos de idade, no entanto, não se sabe se ele era casado e tinha filhos por esta época, ou se casou em Túrio e teve outros filhos. Além disso, também não se possui informações sobre suas atividades; embora fosse um historiador, o mesmo só passou a ser chamado assim após anos depois de sua morte, logo, em vida, ele não recebera salário por ser um historiador. Teria ele trabalhando em algum cargo público ou na política? Teria tido propriedades rurais que lhe dessem sustento? Teria sido um professor e tutor? Essas são perguntas que não temos respostas ainda, pois mesmos aqueles que escreveram sobre sua vida na Antiguidade possuem poucas informações sobre essa.

       Contudo, sabe-se que o tempo em que vivera em Túrio dedicou-se a escrever e concluir sua vasta obra. Heródoto faleceu entre 425 e 420 a.C (em alguns livros mais antigos sugerem que ele teria morrido em 430 ou 428 a.C). Larcher [2006] alegava que Heródoto teria morrido com mais de 77 anos. Porém, hoje se acredita que o historiador teria morrido na casa dos 60 anos.

       Provavelmente tenha morrido em Túrio, como sugere sua biografia no Suda ou Suidas, enciclopédia bizantina do século X. Outros relatos sugerem que ele teria morrido em Pella, capital da Macedônia, mas como Larcher [2006] mesmo comentara, tal relato é pouco confiável, pois não se sabe quem fora que disse isso, apenas consta em alguns registros tal possibilidade. Marcelino alega que Heródoto teria morrido em Atenas onde fora sepultado próximo as portas de Mélitides. No entanto, Larcher [2006] sugere que tal caso se tratasse de um cenotáfio (monumento em homenagem a algum falecido).

       Estêvão de Bizâncio em seu dicionário Ethnica, escrito no século VI, quase quatro séculos antes do Suda, já contava que Heródoto havia morrido realmente em Túrio, e o mesmo até mencionara um epitáfio que teria sido gravado no túmulo do historiador:

     "Esta terra encobre em seu seio Heródoto, filho de Lixas, Dório de origem, e o mais ilustre dos historiadores iônios. Ele se retirou para Thurium, que via como uma segunda pátria, a fim de se colocar a coberto das mordidas de Momus". (LARCHER, 2006, p. 21).

 

O Pai da História

       A história já era escrita antes de Heródoto, porque chamá-lo de o "Pai da História"? A primeira pessoa que teria dado esse epíteto a ele, fora o romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C) proeminente político, orador, advogado, filósofo e escritor. A menção a tal citação se encontra no livro Das Leis (De Legibus) escrito por Cícero por volta de 52 a.C. Posteriormente a obra de Cícero, outras pessoas também passaram a adotar o epíteto de "Pai da História" para Heródoto, embora que ao mesmo tempo também surgirá o epíteto de "Pai das Mentiras", mas sobre isso falarei mais adiante. Os motivos para considerar Heródoto como sendo o "Pai da História" não são claros, pois não sabemos quais foram às prerrogativas que Cícero usou para designar esta homenagem, no entanto, posso mencionar algumas que possam se referir o porquê desta homenagem.

       A palavra história fora uma criação de Heródoto, ou seja, originalmente a palavra história fora um neologismo, derivado da palavra histor (ιστορ) que significava "investigar", "procurar". Heródoto criou a palavra história (no plural se diz historiai), que na época possuía um sentido de conhecer, pesquisar, procurar saber. Hoje seu sentido é bem mais complexo. Todavia, a invenção de Heródoto é tão marcante que o seu livro fora batizado com a palavra que ele criara: As Histórias (στοραι), embora não fora ele que dera este nome ao seu livro, como veremos adiante.

       Porém, para alguns deve ter ficado a pergunta: se Heródoto criou a palavra história, como se chamava a história antes dele? Bom, neste caso cada povo possuía seus termos para designar tal palavra, e hoje quando traduzimos textos anteriores a época de Heródoto ou até mesmo posteriores, mas que não tiveram contato com sua palavra, é comum mesmo assim traduzir tal palavra como história, desde que tenha o significado aproximado, pois história pode-se referir tanto a fatos, ficção, lendas, mitos e mentiras.

   A palavra história possui uma vasta abrangência, porém não confunda este sentido quando falamos da História (alguns historiadores não gostam de usar a palavra em maiúsculo e minúsculo para diferenciar, mas acredito que isso facilita o entendimento). No caso da História essa consiste na cadeia de fatos históricos analisadas, pesquisadas, criticadas e escritas ao longo do tempo, referentes a acontecimentos naturais e gerados pela humanidade. De fato a História é a disciplina ou a ciência humana como alguns falam. Isso serve para diferenciar do conceito normal de história.

 Heródoto criou a palavra história, mas não o seu conceito, pois o conceito é mais antigo que ele mesmo, e quanto a palavra historiador, o termo que designa o profissional que trabalha com a História?

       A palavra historiador é posterior a Heródoto, embora não se saiba com exatidão quando surgira. Em seu tempo, Heródoto não fora chamado de historiador, mas possivelmente de escritor, pois o sentido que ele pretendia dá a história ainda estava em desenvolvimento, daí alguns dizerem que ele escrevia um tipo "diferente de literatura". Hoje nós o chamamos de historiador e até Hecateu de Mileto também possa ser chamado de historiador, embora em seu tempo é provável que fosse chamado de filósofo, escritor e outros termos. 

       Outro aspecto que pode ter levado Cícero a considerar Heródoto como o "Pai da História", diz respeito a sua obra. E para isso precisamos analisar um pouco de sua obra, para entender o porquê da possibilidade de haver diferenças na escrita da história de Heródoto em relação a outros homens que o precederam.


As Histórias 


       As Histórias ou A História, como consta também em alguns relatos antigos e recentes, fora escrito ao longo de vários anos. Se tomarmos a descrição de Larcher [2006] e de Lucano, Heródoto teria começado a escrever seus livros antes do ano de 452 a.C e continuado até a sua velhice. Todavia, originalmente o livro não se chamava assim, e na verdade não era um livro, mas nove livros. Heródoto concebera sua obra dividida em nove volumes, cada um intitulado com o nome de uma das Musas da mitologia grega, deusas das artes das ciências.

   As Musas eram filhas de Zeus e da titânide Mnemósine, a deusa da Memória. Segundo o mito, elas habitavam o Monte Parnaso. As Musas costumavam receber a visita do seu irmão Apolo, o qual além de ser o deus do sol era o deus associado as artes, como a poesia e a música; e também recebiam a visita de sua irmã, a deusa Atena. Neste caso, Atena além de deusa da guerra era a deusa da sabedoria, e como as Musas estavam associadas ao conhecimento, daí a relação com Atena.

       O primeiro livro, este escrito pela década de 450 a.C., fora batizado de Clio em referência a Musa da História. Os demais livros se chamam respectivamente: Euterpe, Tália Melpône, Terpsícore, Erato, Polímnia, Urânia e Calíope.


    "Seu desejo de expor suas pesquisas (
historié) para impedir que os feitos dos gregos e bárbaros se apagassem da memória, principalmente as razões de terem entrado em conflito. Estão aí presentes, por tanto, as noções de memória, identidade, sequência de acontecimentos e confrontação entre opostos como apresentadas pela tradição mítica". (QUEIROZ; IOKOI, 1999, p. 17).

    Pelo fato de ter decidido falar a respeito das Guerras Médicas, Heródoto tivera a preocupação de apresentar quem eram os persas e contar a história do surgimento do Império Persa, antes de iniciar os relatos acerca das guerras empreendidas por Dario, o Grande e seu filho Xerxes I. Sendo assim, o primeiro livro aborda a história da formação do Império Persa, contando com alguns territórios foram conquistados por Ciro, o Grande. 
    O
s temas que cada um dos nove livros abordam, aparecem na descrição de cada um destes, como apresentada por Larcher [2006]. Uma espécie de índice que exibe os principais temas que são tratados naquele volume. 



LIVRO I — CLIO
OS PERSAS — OS MEDOS — BABILÔNIA — CRESO — CANDOLO E GIGÉS — SEMÍRAMIS — TÓMIRIS




LIVRO II — EUTERPE
EGITO — ÍSIS — O ORÁCULO DE DODONA — SESÓSTRIS — RAMPSINITO — HELIÓPOLIS — ELEFANTINA — O NILO — EMBALSAMAMENTOS — SEPULTURAS — OS DOZE REIS — PSAMÉTICO — VEGOS — PSÁMIS — ÁPRIES — AMÁSIS



LIVRO III — TÁLIA
EGITO — A PÉRSIA — CAMBISES — MÊNFIS — O BOI ÁPIS — A ETIÓPIA — POLÍCRATES — AMÁSIS — O FALSO ESMÉRDIS — DARIO — O CERCO DE BABILÔNIA — ZÓPIRO







LIVRO IV — MELPÔMENE
A CÍTIA — HÉRCULES — OS GRIFÃOS — OS HIPERBÓREOS — DESCRIÇÃO DA TERRA — O POVO DE CÍLAX — COSTUMES DOS CITAS — ANACÁRSIS — A EXPEDIÇÃO DE DARIO — O PONTO EUXINO — AS AMAZONAS — OS TRÁCIOS — OS GETAS — A LÍBIA — O CULTO DO SOL




LIVRO V — TERPSÍCORE
CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA DE DARIO — ATENAS E ESPARTA — OS PISISTRÁTIDAS — CLEÓMENES — AS ESTÁTUAS DE EGINA — ORIGEM DA INIMIZADE ENTRE OS ATENIENSES E OS EGINETAS — CÍPSELO, TIRANO DE CORINTO — HÍPIAS — TOMADA DE SARDES PELOS IÔNIOS E PELOS ATENIENSES — DARIO LANÇA UMA FLECHA CONTRA O CÉU, PEDINDO AOS DEUSES QUE O VINGUEM DOS ATENIENSES — TODAS AS CIDADES DO HELESPONTO, DA IÔNIA E DA EÓLIA SUBMETIDAS PELOS PERSAS, ETC.
LIVRO VI — ERATO
DARIO APODERA-SE DE MILETO — O POETA FRINICO — DARIO MANDA PEDIR TERRA E ÁGUA AOS POVOS DA GRÉCIA — PRERROGATIVAS DOS REIS DE ESPARTA — TOMADA DE ERÉTRIA PELOS PERSAS — CLEÓMENES — SUA MORTE — OS PERSAS ATACAM ATENAS — A BATALHA DE MARATONA — MILCÍADES — OS ESPARTANOS SÓ CHEGAM DEPOIS DA VITÓRIA — MILCÍADES DIANTE DE PAROS — O MALOGRO DE SUA EXPEDIÇÃO — CONDENADO A UMA MULTA — OS PELASGOS — LEMNOS
LIVRO VII — POLÍMNIA
A MORTE DE DARIO — XERXES SUCEDE-O NO TRONO — SUBMETE O EGITO — QUER VINGAR-SE DOS GREGOS E FAZER DA TERRA UM SÓ IMPÉRIO — REÚNE UM CONSELHO — RESOLVIDA A GUERRA CONTRA A GRÉCIA — MANDA PERFURAR O MONTE ATOS — PÍTIO — UMA PONTE LANÇADA SOBRE O MAR — O EXÉRCITO DESFILA DIANTE DE XERXES DURANTE SETE DIAS E SETE NOITES SEM INTERVALO — ENUMERAÇÃO À MANEIRA DE HOMERO — PASSANDO EM REVISTA A FROTA — XERXES CONSULTA DEMARATO — O ARAUTO DE ESPARTA DIANTE DE XERXES — TEMÍSTOCLES — EMBAIXADA A GÉLON — AS TERMÓPILAS — LEÔNIDAS — DIENECES — INSCRIÇÃO NAS TERMÓPILAS
LIVRO VIII — URÂNIA
TEMÍSTOCLES — COMBATE NAVAL PERTO DE ARTEMÍSIO — OS GREGOS SE RETIRAM — OS PERSAS ATINGIDOS POR UM RAIO PERTO DO TEMPLO DE DELFOS — A BATALHA NAVAL DE SALAMINA — XERXES ASSISTE À BATALHA — ARISTIDES NA FROTA — A CORAGEM DE ARTEMISA — DISCURSO DE MARDÔNIO A XERXES — DESASTRE DOS PERSAS — TEMÍSTOCLES DETÉM-SE NA PERSEGUIÇÃO AO INIMIGO — XERXES GANHA O HELESPONTO E RETIRA-SE PARA A ÁSIA — MARDÔNIO PERMANECE À FRENTE DE TREZENTOS MIL HOMENS — ATENAS E ESPARTA REPELEM AS PROPOSTAS DE PAZ
LIVRO IX — CALÍOPE
MARDÔNIO APODERA-SE DE ATENAS PELA SEGUNDA VEZ — OS ATENIENSES ENVIAM EMBAIXADORES A ESPARTA — LÍCIDAS É TORTURADO — MORTE DE MASÍSTIO, GENERAL PERSA — TISÂMENO TORNA-SE CIDADÃO DE ESPARTA — BATALHA DE PLATEIA — MORTE DE MARDÔNIO — SAQUE DO ACAMPAMENTO — OS GREGOS MARCHAM CONTRA TEBAS PARA VINGAR-SE DA TRAIÇÃO DOS SEUS HABITANTES — BATALHA NAVAL DE MÍCALE, GANHA NO MESMO DIA DA BATALHA DE PLATEIA — CERCO DE SESTO — FUGA DOS PERSAS — ARTAÍCTES CONDENADO À MORTE


    
Embora Heródoto tivesse como principal objetivo narrar as Guerras Médicas, quando analisamos e lemos As Histórias, é a partir do seu quinto livro que ele inicia a narrativa acerca da guerra, contando os fatores que levaram Dario a invadir a Grécia. E nos livros seguintes eles mantem sua narrativa sobre a guerra.
    No entanto, os quatro primeiros livros são uma descrição de parte do Império Persa, de sua história como também da história de países e povos que estavam sob o domínio dos persas. Sendo assim, no primeiro livro, Heródoto trata de falar sobre o surgimento do império dos persas; o segundo livro ele dedica a falar exclusivamente do Egito, e no terceiro ele continua a falar do Egito, mas agora tendo foco nas campanhas do rei persa Cambises II o qual conquistou o Egito. No quarto livro ele realiza um apanhado geral e fala acerca dos citas, dos trácios, dos massagetas, das amazonashiperbóreos, etc. Neste caso devo fazer um comentário sobre estes dois últimos.
    
As amazonas, são as mesmas da mitologia, e estas viveriam em uma ilha em algum lugar do mar Egeu. Entre os antigos gregos existiam várias histórias de constantes lutas entre eles e as amazonas. Mas o que para nós pode parecer mito, para Heródoto era algo real. Por exemplo, quando ele visitou a Lídia ele ouviu falar de grandes pegadas deixadas por um gigante, mas ao vê-las ele disse que tais pegadas foram feitas por Héracles. Heródoto também faz referências a Guerra de Troia, dizendo que um dos motivos para os persas invadirem a Grécia, seria vingar os troianos, pois na época de Heródoto, Troia se encontrava sob o domínio persa. Por sua vez os hiperbóreos eram habitantes de uma terra mítica chamada Hiperbórea, a qual gregos e romanos acreditavam que ficava em algum lugar ao norte de suas península, seguindo para dentro do continente europeu.
    A vasta obra de Heródoto contou com anos de pesquisa, viagem e estudo. Hoje desconhecemos em grande parte as fontes que ele utilizou, mas sabemos que entre as fontes estava o relato oral, pois muitos gregos não sabiam ler e escrever, e mesmo aqueles que sabiam não deixaram registros escritos, logo a história oral fora fundamental para o trabalho de Heródoto, o qual é bem provável entrevistou homens que lutaram nas Guerras Médicas.

"Heródoto trabalhou com um material diverso e enorme. Com fontes orais ao interrogar pessoas com quem se encontrava, com as experiências visuais obtida nas viagens ao observar, classificar e medir costumes, edifícios, santuários, esculturas, monumentos, rios, mares, caminhos, etc - ver com os próprios olhos era então considerado mais importante do que ouvir com os próprios ouvidos - e também com textos e inscrições". (QUEIROZ; IOKOI, 1999, p. 17).

    Existe certas particularidades no relato de Heródoto como Hartog [1999] fizera menção. Heródoto, em certos pontos de seus livros diz que possuía dúvidas sobre certas informações que lhe foram dadas, mesmo assim as registrou em seu livro (isso lhe traria problemas no futuro). Por outro lado, em alguns momentos ele preferiu não comentar sobre outros assuntos como o caso da metempsicose (reencarnação de almas humanas em corpos de animais), embora disse-se que "eu os conheço; e nada falarei sobre isso". Heródoto dava a entender que ele possuía conhecimento sobre certas questões, mas preferiu omiti-las, embora não sejam claros seus motivos. 


    Outro aspecto da obra de Heródoto diz respeito a cronologia. Os livros não seguem uma cronologia contínua, em dados momentos existem interrupções e retornos ao passado. Por exemplo, ele começa a narrar a ascensão de Ciro, o Grande por volta de 539 a.C, isso no Livro I - Clio, porém, já no Livro II -Euterpe ele se põe a contar parte da história do Egito, e isso o faz remeter há séculos antes, para depois no Livro III - Tália, retornar ao século VI a.C com Cambises II e sua conquista do Egito. No entanto, em dados momentos de sua obra, o tempo parece que ficar indeterminado, pois o mesmo começa a relatar aspectos sociais e culturais de outros povos como visto no Livro IV - Melpômene.
    Além deste fator temporal descontínuo, a geografia e a descrição dos lugares e costumes são questões importantes da sua obra. Alguns estudiosos chegaram a chamar Heródoto de geógrafo, por causa disso. Embora eu não possa afirmar se Heródoto tenha sido um bom geógrafo, pois a sua ideia era localizar os locais e os povos de quem falava para os gregos. Era situar o espaço nos acontecimentos históricos e não conceber uma obra geográfica propriamente, embora ele tenha feito algumas descrições interessantes sobre a costa grega, a costa da Ásia menor, o rio Nilo, etc.
    O historiador britânico Simon Schama em seu livro Paisagem e Memória (1996) construiu um relato histórico tendo como base a paisagem natural da Lituânia e da Polônia, países natais de seus avós. O mesmo procurou contar parte da história destas nações, tendo como ponto de vista as mudanças na paisagem destas nações, mudanças estas sofridas ao longo de séculos de intervenção humana. Neste caso, Heródoto não chegou a fazer a mesma coisa em seu livro, mas noto que as ideias são parecidas, no sentido que ele procurou apresentar o local onde vivia estes povos, como forma de contribuir na descrição dos mesmos, de situá-los no mundo, pois para a maioria dos gregos o mundo era desconhecido, e como Heródoto propunha apresentar algumas das "maravilhas" que existiam, ele teria como Hartog [1999] dissera: "indicar o caminho".

"As Histórias podem ser consideradas seja como uma justaposição seja como um encaixe de descrições e de histórias ou de quadros e de narrativas". (HARTOG, 1999, p. 261).

    Acerca de descrições, Hartog [1999] assinalou bem o fato de que As Histórias consistem numa descrição e representação do outro. Heródoto pretendia em seus livros mostrar que os "bárbaros" não eram iguais, que eles possuíam semelhanças entre si e com os gregos, mas ao mesmo tempo possuíam diferenças entre si. Dessa forma ele queria mostrar que os egípcios não eram iguais aos citas, aos trácios, aos lídios, aos massagetas, aos babilônios e nem aos persas, embora que todos estes povos vivessem sob o domínio persa, ele mostrou que havia diferenças culturais e sociais entre eles. Talvez essa tenha sido uma das principais contribuições de Heródoto em seu livro.


"As mulheres citas, às quais são confiados os 'trabalhos femininos', parecem-se muito com as mulheres gregas. Com efeito, vivem em suas carroças, como as mulheres gregas em suas casas. Produz-se então, de novo, o deslizamento já apontado: em face das amazonas, os citas tornam-se quase gregos. Com relação às mulheres citas, as amazonas ocupam indiscutivelmente uma posição masculina: percorrem o espaço exterior, manejam armas, montam cavalos e ignoram os 'trabalhos femininos’". (HARTOG, 1999, p. 239).

    É preciso ter em mente que os livros de Heródoto foram pensados principalmente para ensinar os gregos, para contar as histórias de alguns povos "bárbaros" conhecidos, e também para preservar um dos maiores feitos dos gregos até então, as vitórias sobre o poderoso Império Persa, a final, a Grécia deste tempo não era uma nação unida, mas um conjunto de cidades-Estados, em geral rivais ou inimigas entre si, que decidiram pôr de lado as diferenças e se uniram para combater um inimigo em comum. Neste caso, aquela expressão: "o inimigo do meu inimigo, é meu amigo", de certa forma poderia ser aplicada a este contexto.
    Outro aspecto que diz respeito ao lugar da religião na obra de Heródoto. O mesmo faz menção a deuses gregos, egípcios, persas, etc. Além de também falar sobre os heróis como Héracles. Além disso, Heródoto embora considerasse que as Guerras Médicas das ordens dos reis Dario e Xerxes, no caso de Dario como punição a Atenas por ter ajudado nas revoltas na Jônia, e no caso de Xerxes como vingança a derrota de seu pai, dez anos antes, Heródoto considerava que o destino também tenha contribuído para isso. O mesmo acreditava em oráculos e presságios, e não descartava a intervenção divina como fator que gerava as mudanças no mundo.
    Conclui-se que a obra de Heródoto tinha como objetivo falar de guerras, acabou se revelando como algo bem maior. Heródoto realizou descrições geográficas, descrições de animais, de monumentos. Falou sobre aspectos culturais e sociais de distintos povos; contou um pouco da história do surgimento do Império Persa até o reinado de Xerxes I. Realizou descrições sobre maravilhas e curiosidades em respeito a África, Ásia e Europa; fez menção a mitos e lendas. De certa forma, Heródoto quis construir um relato sobre o mundo em sua época, pelo menos o mundo conhecido pelos gregos.
    Acerca da sua metodologia de pesquisa não se sabe ao certo seus parâmetros. Em seu tempo não havia muitas bibliotecas e arquivos na Grécia, porém existiam no Egito, Babilônia e Pérsia. Além disso, nem todo mundo escrevia sobre certos assuntos, isso teria dificultado as investigações (histor) de Heródoto. No entanto, é provável que ele tenha lido alguns livros de história e consultado mapas, para embasar alguns aspectos de seu trabalho. Todavia, um dos principais meios que ele usou fora a entrevista e a conversa. Heródoto conversou com homens que lutaram nas Guerras Médicas, mas com outras pessoas que lhe forneceram informações sobre os locais que ele escrevera, por exemplo, sabe-se que ele conversou com vários sacerdotes no Egito acerca da história do país e outros assuntos.
    Partindo do que fora apresentado, aqui nota-se que Heródoto tivera preocupação em relatar o que realmente aconteceu, embora em alguns momentos seus relatos são questionáveis de exatidão e credibilidade, como também ele cometera alguns enganos. Mas, excetuando-se isso, acho que tais motivos devem ter levado Cícero a considerá-lo o "Pai da História". Mesmo assim, isso não fora suficiente para salvá-lo de também ser chamado de mentiroso.

O Pai das Mentiras
    Os gregos antigos tendiam a acreditar mais no relato oral de alguém que fora testemunha de um acontecimento, do que num relato escrito de uma pessoa que também testemunhara algum acontecimento. Se hoje a escrita possui um certo peso de conformidade e credibilidade, naquela época em que poucos sabiam ler, a palavra de um homem valia mais do que ele escreveu. A ideia de arquivo não existia. A ideia de que o que está escrito é mais forte do que fora dito, ainda estavam em desenvolvimento. Mas neste caso havia diferença no relato de quem viu para o relato de quem ouviu falar. E é neste caso que Heródoto sofrera duras críticas.
    "Assim, o olho do viajante baliza o espaço e recorta as zonas mais ou menos conhecidas (desde aquilo que eu vi com meus próprios olhos, ao que outros viram - e até àquilo que ninguém viu)". (HARTOG, 1999, p. 275). Hartog diz que como Heródoto se valera da consulta a memória de distintas pessoas para escrever seus livros, vem o problema de confiabilidade da mensagem transmitida. Será que a pessoa se lembrou corretamente? Será que esqueceu de algo? Será que omitiu ou mentiu? Como saber se o que tal pessoa disse realmente é verdadeiro? Será que tais inscrições estavam certas no que falavam? Esses são alguns problemas que ainda hoje os historiadores enfrentam em relação ao se trabalhar com a história oral e a analisar documentos antigos, pois sabe-se que houveram textos antigos que foram falseados, e para isso surgiram as chamadas "ciências auxiliares" que com suas técnicas combatem as fraudes documentais.
    Um caso que os críticos de Heródoto mencionavam dizia respeito ao Egito, onde Heródoto diz que não sabia egípcio, logo conversava com egípcios que falavam grego ou com gregos que falavam egípcio. Então alguns dos críticos alegaram que as transcrições que ele fizera de algumas inscrições que encontrara, poderiam estar erradas ou terem sido modificadas. Se Heródoto não sabia ler e nem falar egípcio, ele corria o risco de ser enganado, e quem garante que aquele que traduziu para ele o que estava escrito, o fizera de forma honesta?
    Em outros momentos, ele diz que não chegou a ver determinado lugar ou acontecimento, mas ouviu um relato de alguém que fora testemunha. Além disso ele também cometera enganos. Por exemplo, ele faz menção a uma estátua de ouro que supostamente seria em homenagem a Zeus, a qual ficava localizada na Babilônia, porém há estátua havia sido removida por Xerxes, mas Heródoto disse que a viu na cidade. 



    Possivelmente ele tenha traduzido ou transcrito nomes próprios de forma errada ou feito comparações impróprias. Neste caso temos o exemplo de quando Heródoto faz menção a alguns deuses persas e tenta compará-los aos deuses gregos. O problema é que determinadas divindades persas possuíam várias funções, logo compará-los aos deuses gregos onde alguns possuíam apenas uma ou duas funções era errôneo.
    
Mas, a ideia de comparação não era errônea pois a comparação como explicara Hartog [1999] é uma forma de explicação; ou seja, você compara algo para que o receptor da mensagem possa entender de forma mais clara aquilo que não conhece. No ato de comparar, Heródoto também usou analogias para fazer isso. Um exemplo interessante se encontra na sua descrição sobre os hipopótamos durante sua visita ao Egito. Ele realizara uma analogia entre o cavalo e o hipopótamo. Para alguns críticos de sua obra, isso eram absurdos, e o mesmo estaria desvirtuando a realidade. Todavia, a analogia de Heródoto não era tão errônea assim, a final, a palavra hipopótamo ao pé da letra significa "cavalo do rio".

"Enfim, o fazer-crer da narrativa levanta a questão do querer-crer - ou ainda, a questão do ouvido do público. [..]. O fazer-crer do narrador enxerta-se, com efeito, no querer-crer do público, do mesmo modo que em sua recusa de crer". (HARTOG, 1999, p. 301).

    Devido a alguns aspectos de seu relato, entre alguns aqui já mencionados; Heródoto fora chamado de rapsodologógrafophilomythíalogopoiós e mitólogo. E tais designações tem a ver com a forma de como algumas pessoas enxergaram seu trabalho, e ao mesmo tempo, levou ao surgimento da má fama de mentiroso.
    Rapsodo é um termo antigo usado pelos gregos para referir a um contador de histórias itinerante. O rapsodo costumava viajar de cidade em cidade, cantando as histórias o as declamando em poesia. Neste caso, Hartog [1999] nos conta que o fato de Heródoto ter lido alguns trechos de sua obra publicamente em Olímpia, Atenas e talvez em outros lugares, isso levou alguns a o chamarem de rapsodo. O fato é que o rapsodo contava histórias reais e ficcionais.
    Por sua vez, o termo logógrafo fora dado a Heródoto por Tucídides. Tucídides dizia que os estudiosos que o antecederam nos estudos da História eram na realidade logógrafos, homens interessados em estudar a História por prazer e curiosidade, e ao mesmo tempo contando suas histórias publicamente. A palavra logógrafo também era utilizada para se referir a uma pessoa que fazia discursos em eventos públicos, judiciais, religiosos, etc. Seria uma espécie de orador.
    Nestes caso, nota-se que Tucídides desconsiderava Heródoto e Hecateu a quem também chamava de logógrafo. Para Tucídides  a história deveria ter um uso prático, didático e social, aplicável no momento, e não apenas ser um repositório de acontecimentos passados que eram pronunciados publicamente. 
    Quanto ao termo philomythia, Hartog [1999] conta que tal expressão pode ser traduzida como "mentiroso". Além disso, outro termo para mentiroso usado na época era logopoiós "contador de mentiras" ou mitólogo (o termo hoje possui outro significado, mas na época era sinônimo de mentiroso). Hoje o conceito de mythos fora modificado, mas para os antigos o mythos era uma história ficcional, mentirosa, difícil de se acreditar. De certa forma a palavra mito (mythos) ainda conserva estes aspectos, porém a visão que nós damos para elas é outra. Por exemplo, consideramos os deuses gregos e seus heróis como mitos, porém na época de Heródoto eles não eram considerados mitos. No entanto, o que quero ressaltar aqui é que os gregos já tinha ciência de que nem toda a história era verdadeira.
    "A mentira ou o mythos têm, pois, uma dupla função: são produtores de narrativas e permitem que as narrativas proliferem, na medida em que se escreve para denunciar a narrativa do outro; Por tanto, mentira e mythos fazem escrever. Fazem também, cer; posto que designar a narrativa do outro como ficção é, ao mesmo tempo, da parte do narrador, valiar a sua própria narrativa como séria: ele quer nos fazer crer que viu, mais eu sei muito bem que não viu nada, pois eu, sim, vi realmente; é, pois, em mim que vocês devem crer". (HARTOG, 1999, p. 304).
Hartog conta que a medida que Heródoto escrevera os seus livros ele procurou desmentir outros autores e opiniões, pois alegava que eles estavam errados ou teriam mentido, mas o mesmo acontecera com ele. Ele mesmo chamara Hecateu de Mileto de logopoiós. Alguns homens que leram suas obras começaram a questionar a plausibilidade dos relatos de Heródoto, e começaram a tentar desmascarar supostas farsas que ele teria cometido. 

    Como fora visto, Tucídides fora o primeiro a questionar o trabalho de Heródoto, o chamando de contador de histórias. Por sua vez, sua má fama começou provavelmente com o persa Ctésias de Cnido no século IV a.C, o qual era médico na corte do rei Artaxerxes II (ca. 436 a.C - ca. 358 a.C), e decidiu com base nos registros persas em escrever a "verdadeira" história da Pérsia. Tal obra fora chamada de Persiká. A proposta de Ctésias além de escrever a história da Pérsia era desmentir o que Heródoto falara sobre os persas e seu império. Ou seja, era revelar as mentiras ditas por Heródoto. Porém, Ctésias não se saiu bem na sua tarefa: Luciano escreveu pesadas críticas sobre ele e o próprio Heródoto, chamando os dois de mentirosos.

"Isso feito, Heródoto, durante muito tempo, aparecerá como mentiroso e essa imagem passará a integrar, daí em diante, na esfera das coisas bem conhecidas, tornando a denominação quase inevitável". (HARTOG, 1999, p. 305).

    No século I a.C, Estrabão (63/64 - ca. 24 a.C), famoso geógrafo e as vezes considerado historiador, autor do livro Geographia, monumental obra em 17 volumes; Estrabão já falava que Heródoto e outros homens de seu tempo não deveriam ser chamados de historiadores, mas sim de philomythos, pois tinham a tendência de escrever e contar mentiras. No século I d.C, o historiador romano Flávio Josefo (37/38 - ca. 100) já comentava a má fama que surgira sobre a pessoa de Heródoto, como o "Pai das Mentiras".
 

·  
Mâneton (III a.C) - Contra Heródoto História do Egito. Em ambas as obras ele tenta mostrar que Heródoto mentira a respeito sobre os costumes e a história egípcia. 





·             Plutarco (ca. 46-120) - Sobre a Malignidade de Heródoto.





·       
Valério Pólio - Sobre os Roubos de Heródoto.





·         
Élio Harpocrátion - Sobre as Mentiras de Heródoto.






·      
Libânio (ca. 314 - ca. 394) - Contra Heródoto







·                
Abade J.-B. Bonnaud (séc. XVIII) - Heródoto, Historiador do Povo Hebreu sem o Saber. O abade alegara que o livro Euterpe que fala sobre o Egito era uma cópia descarada e mal feita de livros e informações do Antigo Testamento. Para ele Heródoto era um mentiroso. 
    A obra de Plutarco, famoso historiador, biógrafo e filósofo romano é interessante pois além de apontar e defender que Heródoto fora um mentiroso, Plutarco dizia que Heródoto fora um patife, que gostava de "falar mal das pessoas". Além disso, Plutarco o chamava de "philobárbaros" (amigo dos bárbaros). Plutarco dissera que era descabível para um grego dedicar-se a falar dos costumes e da história de "povos bárbaros". Logo, além de ser um mentiroso, Heródoto era um "admirador" desses povos "inferiores". Devemos ter em mente que os gregos e os romanos se consideravam os únicos povos "civilizados", logo, os demais eram bárbaros e deveriam ser tratados de forma inferior. 

"Esse tratado de Plutarco certamente representa um momento importa na construção e difusão da figura de Heródoto como mentiroso, figura que, além da Idade Média, atinge o Renascimento e os tempos modernos". (HARTOG, 1999, p. 306).

    Embora sua má fama tenha se perpetrado por séculos, houve alguns que decidiram defendê-lo. Um de seus defensores fora Henri Estienne (1528/1536-1598) que em 1566, publicou Apologia pro Heródoto, onde contra-atacava as calúnias proferidas contra eles. Estienne pretendia retirar essa fama de mentiroso.
    Outro defensor de Heródoto fora o historiador alemão Leopold von Ranke (1795-1886), chamado por alguns de o "Pai da História moderna". Ranke no século XIX argumentava em favor de Heródoto, embora não negasse que o mesmo tenha cometido seus equívocos e erros ao elaborar sua obra, ele lembrava que a concepção que Heródoto tinha sobre a História era diferente do que no começo da Era Cristã, ou na Idade Média, na Idade Moderna, e no próprio século XIX. 
    O que pode ter sido considerado como mentiroso, o fato de Heródoto abordar lendas, mitos e boatos em seus livros, fatos que foram usados por seus críticos, hoje seria repensado pelos historiadores. Pois, quando Heródoto escreveu seus livros, a escrita da História estava ainda associada a Literatura: em seu prólogo, ele esboça a ideia de ter escrito uma história épica sobre os gregos, algo que Luciano e Dionísio de Halicarnasso alegaram que Heródoto era de fato um rapsodo, que queria imitar a Ilíada de Homero.
    Não obstante, não havia uma noção metodológica e teórica sobre a História e a historiografia naquele tempo, e tal noção mudou desde que surgira. Além disso, quando um historiador vai estudar determinado período, lugar e povo, deve ter em mente que os costumes, a visão de mundo, a visão de justiça, moral, ética, cultura, etc., são diferentes. Bloch Certeau delineiam tais aspectos em seus livros. Bloch lembra que ainda no século XX, na década de quarenta quando ele publicara seu Apologia da História (1949), ele aponta que neste período havia incertezas acerca do papel do historiador para a sociedade e realmente como ele trabalhava. Por sua vez, Michel de Certeau, contribui para este texto, quando abordei os aspectos envolvendo a época, o lugar e o contexto social e cultural de Heródoto, o que Certeau chamara de "lugar sociale até mesmo a ideia de "escrita da História", título de sua obra aqui referendada.

Heródoto e Tucídides

Heródoto e Tucídides
Dois historiadores,
duas obras chamadas História
    Tucídides nasceu por volta da década de 470 a.C ou na década de 460 a.C, e teria falecido por volta do ano de 400 a.C, com sessenta ou setenta anos. Ateniense de nascença, filho de Olorus, cidadão de respeito, Tucídides ingressou no exército como todo ateniense, ocupando cargos militares, embora passou-se para a vida pública da cidade. Segundo, Luciano, Marcelino e Larcher, teria conhecido por volta de 444 a.C, Heródoto, tendo ouvido ele contar alguns trechos de seu livro. Na política tornou-se opositor do governo do general Péricles, um dos membros do Conselho dos Generais (o mais importante e proeminente dos dez generais do conselho), logo acabou ganhando impopularidade, pois Péricles possuía fama de bom governante. Tucídides fora indicado ao ostracismo (exílio político forçado), acabou tendo seu nome votado, e fora sentenciado a deixar a cidade por volta do ano de 443 a.C, onde mudou-se para Esparta antes do início da Guerra do Peloponeso no ano de 431 a.C. Durante a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C) Tucídides passou a relatar os acontecimentos desta guerra, para ele a mais importante guerra já travada até então na história grega, mais importante do que a Guerra de Troia e as Guerras Médicas.
    
A Guerra do Peloponeso reuniu a antiga rivalidade de Esparta e Atenas, acrescida com o apoio dos aliados de ambas as cidades-Estados mais poderosas da Grécia na época. A desgastante guerra de 27 anos, arruinou a economia das cidades participantes do conflito, como enfraqueceu os acordos políticos, e a situação social nestes centros urbanos. Como tendo sido testemunha destes conflitos, Tucídides sentiu a necessidade de relatá-lo para a posteridade.
    "Enxergava nela um embate direto entre sistemas políticos e desempenhos políticos, entre modos de vida irreconciliáveis". (QUEIROZ; IOKOI, 1999, p. 19).
O seu livro fora chamado de História da Guerra do Peloponeso, o qual abarcara os conflitos entre os anos de 431 a.C a 411 a.C. No entanto, Tucídides não chegou a concluir seu livro. A divisão em oito livros, fora dada pelos editores, pois Tucídides narrara seus relatos tendo como base o período da primavera e verão, onde as batalhas ocorriam, pois no outono e no inverno, as lutas eram suspensas.
    Outro fator que deve ter contribuído para a não conclusão de seu livro, fora seu exílio na Trácia. Por volta do ano de 424 a.C, Tucídides já havia retornado de seu ostracismo e reaceito em Atenas, então fora nomeado estratego (comandante militar), com a missão de liderar um ataque na Trácia, para impedir que os espartanos tomassem a cidade de Amphipolis, mas ele acabou falhando, e fora considerado traidor, pois alegaram que o tempo que ele vivera em Esparta, o fez trair sua pátria. Tucídides se exilou na Trácia por vários anos, e isso dificultou ter acesso a documentos sobre a Guerra do Peloponeso e a relatos orais da mesma, pois ele enviava pessoas para coletar informações, como também para lhe trazer documentos. 

   Mas, o que nos interessa aqui, é a visão distinta de Tucídides acerca da História e acerca do trabalho de Heródoto. Tucídides valoriza o tempo presente, para ele a História deveria narrar o tempo presente e não o passado, pois este estava longe e era inalcançável. A Literatura se encarregaria de contar o passado. Logo, ele desconsiderada as obras de Heródoto e de Hecateu, pois ambos procuraram tratar de aspectos antigos e que não testemunharam (Heródoto era criança quando Xerxes invadiu a Grécia), daí eles serem chamados de logógrafos por ele.
    Outro aspecto a salientar, é que Tucídides não considerava a ideia de intervenção divina. Embora acreditasse nos deuses, para ele os deuses não interviam na vida humana, algo que Heródoto sugeria em seus livros.

"Ao contrário de Heródoto descarta totalmente a ideia de destino, de um curso da História. Considera que os fatos ocorrem em virtude dos interesses e das paixões dos homens. A moral guia a vida privada, não dos Estados; a vontade de poder atua como força motriz do mundo. Ecos de Tucídides permeiam as obras de Machiavel e Nietzsche". (QUEIROZ; IOKOI, 1999, p. 20).

    Diferente de Heródoto que abriu espaço para comentar sobre aspectos sociais e culturais dos "povos bárbaros", para depois adentrar a contar a história das Guerras Médicas, Tucídides focou sua atenção em escrever uma história política, social e da guerra sobre a Grécia. Ele priorizou as questões bélicas e políticas. Tal fato o distancia da obra de Heródoto e da visão de ambos os autores, pois ambos trataram sobre guerras.

"A narrativa de Tucídides é totalmente analítica; ele preza particularmente a cronologia precisa. Em tudo, inclui acontecimentos que outros poderiam considerar insignificantes, pois seu propósito é registrar o que aconteceu. Mas neste propósito assenta um desenvolvimento que volta e meia salienta, de modo que a atenção do leitor está sempre, simultaneamente, voltada para o geral. Os méritos de sua narrativa aumentam e diminuem com os acontecimentos". (RANKE, 2011, p. 257).

    Embora
fosse ateniense, mas tenha morado algum tempo em Esparta, Tucídides agiu de forma imparcial, sem procurar exaltar nenhuma das duas cidades-Estados. Ranke [2011] elogia e questiona a imparcialidade dele, diferente do que visto nos livros de Heródoto, onde nota-se uma admiração pelas maravilhas do mundo, em terras estrangeiras, algo que Tucídides desaprovava na narrativa de Heródoto. Para ele, Heródoto dera atenção desnecessária aos costumes e as nações "bárbaras".
    Leopold von Ranke admirava a imparcialidade de Tucídides, e chegara a questionar até que ponto os vários discursos que o mesmo transcrevera em seus livros ou contara, eram totalmente exatos, a final, Tucídides não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Além disso, Ranke chamara a atenção que os discursos são construídos para defenderem determinados pontos de vista, e em alguns casos, eles podem procurar falsear a verdade, ou tornar verdadeira uma mentira.

"Num estilo denso e sóbrio, tenta revelar as razões e a psicologia das partes envolvidas no conflito entre atenienses e espartanos e, diante da documentação, pretende ser imparcial: no entanto, não consegue deixar de imprimir suas próprias ideias filosóficas e preferências políticas no decorrer da narrativa; de adorar alguns personagens, execrar outras. Usa discursos para expor opiniões contraditórias e antíteses como a do interesse e do direito". (QUEIROZ; IOKOI, 1999, p. 20). 

   Embora, Tucídides tenha sido também chamado de "Pai da História", diga-se de passagem o "verdadeiro", como alguns alegavam, ele não detém esta homenagem como o homem que criticara. Heródoto, hoje é mais lembrado como "Pai da História" do que "Pai das Mentiras". Embora que o filósofo, matemático e tradutor inglês Thomas Hobbes (1588-1679) ao traduzir a obra de Tucídides, tenha dito que ele fora "o maior historiógrafo político que o mundo já vira".
    Logo, é evidente que embora tenham problemas em seus relatos, cada um contribuiu de uma forma, mesmo essa sendo diferente, para uma proposta em comum: a guerra. Heródoto partiu de uma visão "macro" para falar das Guerras Médicas, preferindo contar parte da história dos inimigos, os Persas, além de dá atenção as "maravilhas" (thômas), aos monumentos (érgas), a curiosidades, mas também a aspectos sociais, culturais e religiosos. Por sua vez, Tucídides priorizou uma visão "micro", preferindo focar apenas a Guerra do Peloponeso e não narrar a história de Esparta e Atenas, e sua longa rivalidade como base para respaldar e situar seu trabalho para os futuros leitores. Tucídides priorizou os aspectos militares, políticos e particulares da natureza humana (as paixões), em detrimento do social, cultural e religioso visto nas obras de Heródoto.
 
    Em ambos os casos, cada autor tem seu mérito, pois seus trabalhos na Grécia foram únicos, embora Hecateu de Mileto possua similaridades com o discurso adotado por Heródoto, e por sua vez,Xenofonte (ca. 430 a.C - ca. 355 a.C) com a visão de Tucídides, estes dois autores seguiram caminhos diferentes tanto em relação a Heródoto e Tucídides.

"O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido". 
Aristóteles


Referências Bibliográficas:

HERÓDOTOHistória. Traduzido por Pierre Henri Larcher. Rio de Janeiro, W. M. Jackson, 1950. (Clássicos da Jackson - vol. XXIII e XXIV). Obra digitalizada para a Editora eBooksBrasil em agosto de 2006.

HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Tradução de Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte, Ed. da UFMG, 1999. 

QUEIROZ, Tereza Aline Pereira; IOKOI, Zilda Márcia Gricoli. A história do historiador. São Paulo, Humanitas FFLCH/USP, 1999.
 
RANKE, Leopold von. Heródoto e TucídidesRevista História da Historiografia,  Rio de Janeiro, número 6, 2011, p. 252-259.
 
BLOCH, Marc. A Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002. 

BURKE, Peter. O que é história cultural? 2a ed, Rio de Janeiro, Zahar, 2008.

CERTEAU, Michel de. A escrita da história. 2a ed, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008.

Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 12, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

FONTE : BLOG SEGUINDO OS PASSOS DA HISTÓRIA de LEANDRO VILAR, com algumas adaptações e formatado pelo blog do maffei. Disponível em: 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

CENSURA OU SEGURANÇA?

Coincidentemente não consegui postar essa parte do Blog que informava sobre o Estado Islâmico nos grupos que faço parte. Nesta postagem coloco a mensagem que foi emitida, espero que seja uma forma de segurança e não de censura, pois como professor acredito que a melhor arma contra o fanatismo é a INFORMAÇÃO E A CORAGEM.


AS VÁRIAS DIVISÕES DA ÁFRICA

DIVISÃO DA ÁFRICA


A África possui 54 países e nove territórios.



Depois de mostrar um mapa atual da África, e avisar que existem muitas formas de se poder dividir a África apresento aqui as duas mais tradicionais.



Uma que divide a África em 5 regiões:









E a outra que divide em apenas 2:





Aproveitamos também para mostrar uma divisão étnica da África:







O desrespeito a essa divisão e a inobservância da mesma pelos países imperialistas europeus trouxeram consequências desastrosas para este continente.

ISLAMIC STATE OF IRAQ AN ASH-SHAM - O ESTADO ISLÂMICO


Estado Islâmico é um grupo terrorista formado por jihadistas muçulmanos ultraconservadores, que são conhecidos por defenderem fundamentos radicais do islamismo.

Também conhecido por ISIS (Islamic State of Iraq and ash-Sham) ou Daesh (transliteração do acrônimo árabe), o Estado Islâmico utiliza de táticas brutais contra todas as pessoas que não seguem a sharia (lei religiosa islâmica), como a crucificação, a decapitação e outros atos que provocam a indignação e o medo em todo o mundo.
O Estado Islâmico (EI) acredita em uma variante extremista do islão, seguindo literalmente todos os ensinamentos descritos no Alcorão, livro sagrado da fé islã que foi supostamente escrito pelo profeta Maomé.
Este grupo terrorista é chamado de Estado Islâmico porque os seus membros constituíram um califado, ou seja, uma espécie de “governo” que é dirigido por um representante religioso e político que mantém como base para as leis do Estado a sharia.
Atualmente, o território do Estado Islâmico abrange parte da Síria e do Iraque, sob o comando do califa Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do EI.


Oficialmente, a declaração do califado e a instituição do Estado Islâmico foi feita em 29 de junho de 2014.
Califa é um título atribuído ao líder religioso da comunidade islâmica, considerado pelos muçulmanos como um dos sucessores do profeta Maomé.
O califa é o chefe máximo de um califado, que consiste numa espécie de sistema de governo dos muçulmanos que se baseia nas leis islâmicas (sharia).
Os califas representam a maior autoridade jurídica, política, militar, social e religiosa dentro de seus califados. Comparativamente, um califa pode ser considerado um tipo de imperador, sob a ótica do mundo ocidental.
A palavra “califa” é derivada de khalifa, versão abreviada de khalifatu rasulil-lah, expressão que significa “Sucessor do Mensageiro de Deus”, na tradução do árabe.
De acordo com a história do islamismo, o primeiro califa teria sido Abu Bakr, o sogro do profeta Maomé, que assumiu a liderança da comunidade islâmica em 632 d.C.
Após várias dinastias de califados que comandaram o mundo islâmico, o título de califa foi oficialmente abolido quando o Império Otomano foi desfeito pela República da Turquia, em 1924.
Porém, em 2014, um grupo de jihadistas sunitas anunciaram a criação de um califado na região que ficou conhecida por Estado Islâmico (entre a Síria e o Iraque), sob o comando do califa Abu Bakr al-Baghdadi.


Sharia é um conjunto de leis islâmicas que são baseadas no Alcorão, e responsáveis por ditar as regras de comportamento dos muçulmanos.
Em árabe, sharia pode ser traduzida literalmente como “caminho para a fonte”, e atualmente é adotada em diversos países com predominância da cultura islâmica, seja de modo integral ou parcial.
Na Arábia Saudita, por exemplo, a sharia é integral, ou seja, o país usa as leis islâmicas como única fonte para a definição da sua legislação. Neste caso, a sharia forma a Constituição daquela nação.
Nos países onde a sharia domina, não existe uma separação entre a religião e o direito dos cidadãos, como acontece nos países ocidentais.
Todas as leis destes países são baseadas nos princípios religiosos do islamismo e nos ensinamentos deixados pelo profeta Maomé no Alcorão, o livro sagrado para o islã.
Porém, a maioria dos países islâmicos adotam a chamada sharia dual. O governo é oficialmente secular, mas existem tribunais especiais que julgam unicamente os muçulmanos, com base nas leis da sharia.
Os não-muçulmanos, no entanto, não deverão ser submetidos a esta legislação, mas sim à prevista pelo governo secularista.
Existem países que adotam a sharia em diferentes níveis, ou seja, podem não adotar na sua totalidade. Por exemplo, alguns países adotam as indicações da sharia sobre o divórcio mas não adotam certas punições para as mulheres. Em alguns países islâmicos é recomendado para as mulheres o uso do hijab (uma espécie de véu que cobre a cabeça da mulher) e é culturalmente reprovável o ato de dirigirem automóveis.

Sharia no Brasil

O Brasil é oficialmente um estado laico, pois a Constituição Federal prevê a total liberdade para todas as crenças religiosas dos seus cidadãos.
As leis do estado brasileiro não são baseadas em princípios religiosos.


Formado majoritariamente por membros sunitas, os principais inimigos do Estado Islâmico são os xiitas, outra seita que deriva do islamismo. Os Estados Unidos, a Europa, os membros de outras religiões e demais partidários do “estilo de vida ocidental”, também são considerados alvos a serem combatidos por estes terroristas.
Até o momento, o Estado Islâmico já realizou uma série de ataques terroristas em vários pontos mundo, com destaque para o massacre em Paris, em novembro de 2015, que matou mais de 130 pessoas e feriu outras 350.
Estado Islâmico no Brasil
Segundo a ideologia religiosa do Estado Islâmico, toda a nação considerada “infiel” ao islamismo será alvo de represália por parte do grupo terrorista.
Neste contexto, o Brasil seria um dos países na “lista negra” dos jihadistas do EI. No entanto, não há, até o momento, nenhuma ameaça direta do grupo terrorista aos brasileiros.

Uma das estratégias dos terroristas e difundir “células” em todos os países ocidentais, convocando os muçulmanos simpatizantes do movimento jihadista para praticarem o terrorismo no país em que residem.
Jihad é um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho. É muitas vezes considerado um dos pilares da fé islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão a Deus.
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos muçulmanos de disseminar a fé muçulmana. É também utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual.
Ao contrário do que muitas vezes é dito, jihad não significa uma guerra santa, implica mais uma luta interna com o objetivo de melhorar o próprio indivíduo ou o mundo à sua volta. Existem grupos extremistas que usam métodos violentos para transmitirem as suas ideias, mas esse não e o conceito original de jihad.
O conceito de jihad tem dois significados para a religião muçulmana: a luta pela melhoria pessoal sob as leis do islamismo e a luta em busca de uma melhor humanidade, por meio da difusão da influência do islamismo e com o esforço que os muçulmanos devem fazem para levar a religião islâmica para um maior número de pessoas.
O esforço pessoal, espiritual e introspectivo para controlar seus impulsos, sua ira e perdoar os pecados em nome de Alá, é considerado para os muçulmanos a maior jihad.
O segundo significado, a jihad externa, está bem representada na palavra de Maomé, nela os muçulmanos são instruídos a usar meios combativos para difundir a paz e a justiça da religião islâmica para áreas que não estejam sob a influência do profeta Maomé.

Jihad-islâmica

Jihad-islâmica é uma organização palestina nacionalista, de orientação fundamentalista, que surgiu na década de 70, na Faixa de Gaza, criada por estudantes egípcios que achavam a Irmandade Muçulmana moderada demais e não comprometida com a causa palestina. Seu objetivo é destruir Israel e criar um Estado islâmico na região, sob o controle dos palestinos.
O grupo extremista é a mais independente das facções muçulmanas e conta com o apoio restrito da população. Seu líder espiritual é Abd al-Aziz e o líder principal é Ramadan Shallah, um palestino educado no Reino Unido.

Guerra Santa

A “guerra santa” é um recurso extremista usado pelas religiões monoteístas, ao longo da história, para proteger seus dogmas ou seus lugares sagrados. Esse recurso é usado também como estratégia geopolítica de expansionismo das civilizações. As principais guerras santas, já travadas ao longo da história, tiveram origem no Cristianismo e no Islamismo.









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