domingo, 30 de janeiro de 2022

FRIEDRICH ENGELS - O SEGUNDO VIOLINO

 



“Eu sempre fui o segundo violino”, disse Engels em carta a um amigo (J. Becker), referindo-se à sua importância quanto à elaboração da teoria do socialismo científico. Assim era ele: modesto, simples, sempre disposto a reconhecer o mérito das outras pessoas e a fugir das homenagens.



Com o mesmo nome do pai, Friedrich Engels, filho de Elizabeth Franziska, nasceu no dia 28 de novembro de 1820, em Barmem, reino da Prússia, que depois comporia a Alemanha unificada. Dedicou-se aos estudos, e sempre foi um aluno brilhante, queria cursar Direito e Economia, mas o pai, empresário próspero, tinha outro plano – queria que ele lhe sucedesse nos negócios e, para isso, obrigou-o a deixar a escola.

Encaminhado para uma fábrica da família em Manchester, Inglaterra, Engels, que já se posicionava a favor da liberdade, contrário à tirania e à opressão, passou a conviver com a realidade dos operários. “Abandonei a sociedade, os banquetes e a champanha da burguesia e dediquei minhas horas livres ao contato com verdadeiros operários, tratando da vida real”. Essa convivência produziu “A Situação da Classe Operária na Inglaterra”, que “constitui uma terrível acusação contra o capitalismo e a burguesia; é a obra que melhor representa a situação do proletariado contemporâneo (…). Nem antes de 1845 nem depois se fez uma descrição tão brilhante e verdadeira dos sofrimentos da classe operária” (Lênin).



Na Inglaterra, Engels conheceu o movimento autogestionário, participou de reuniões com Robert Owen, seu maior expoente, e escreveu nos seus jornais, procurando mostrar sempre o posicionamento dos socialistas utópicos franceses, como Saint Simon e Charles Fourier, entre outros. Lia muito e simpatizava com os artigos de um jovem alemão, Karl Marx. Este também se entusiasmou ao conhecer um trabalho de Engels, escrito aos 20 anos, intitulado “Esboço de Uma Crítica da Economia Política”.



Em setembro de 1844, os dois se encontraram em Paris, nascendo uma parceria de importância inigualável para o proletariado de todo o planeta”. (…) o proletariado europeu tem o direito de afirmar que a sua teoria foi criada por dois cientistas e combatentes cujas relações mútuas superam todas as comoventes lendas antigas acerca da amizade entre os homens”.

O primeiro trabalho conjunto foi “A Sagrada Família”, denominação irônica que deram a dois filósofos alemães, os irmãos Bauer e seus discípulos. Eles consideravam o proletariado como massa desprovida de espírito crítico. Engels e Marx responderam que o proletariado é que conduz em si o futuro e será o artífice da própria libertação e da libertação de toda a humanidade.



De 1845 a 1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, dedicando-se ao estudo e à militância. Ele e Marx entraram em contato com uma associação secreta denominada Liga dos Comunistas. Os componentes da Liga pediram para que os dois companheiros dessem uma concatenação às idéias esboçadas. Surgiu o célebre Manifesto Comunista, publicado em 1848.



Em 1848, estoura uma revolução popular na França, que se espalhou por toda a Europa Ocidental. Marx e Engels voltaram para a Alemanha, dispostos a pegar em armas. Marx foi logo preso e expulso e Engels se engajou, combatendo em quatro batalhas. “Todos que o viram sob o fogo falam de seu excepcional sangue frio e absoluto desprezo pelo perigo” (Eleanor Marx).

Com a derrota da insurreição, Engels voltou a trabalhar na fábrica do pai em Manchester, para ajudar os exilados, inclusive a família de Marx. “Foi o seu cativeiro egípcio”, dizia Marx, referindo-se à escravização do povo hebreu no Egito relatada pela Bíblia. No tempo livre, dedicava-se ao estudo das ciências da natureza e da sociedade, ao acompanhamento e análise da conjuntura internacional e escrevia para jornais democráticos e de esquerda de vários países.

Engels foi o primeiro teórico socialista a especializar-se em assuntos militares, convencido que era de que o domínio da estratégia e da tática militares seria de vital importância para o sucesso da revolução proletária. Trata do assunto em “A Guerra dos Camponeses na Alemanha”, “O Pó e o Reno” (sobre a luta pela unificação da Itália), “A Questão Militar na Prússia” e O “Partido Operário Alemão”, e “Notas sobre a Guerra”, em que analisa a experiência da Comuna de Paris.



Engels libertou-se do “cativeiro egípcio” no segundo semestre de 1870, quando se mudou para Londres e pouco após sua chegada, 4 de setembro, foi eleito para o Conselho Geral da Associação Internacional de Trabalhadores (I Internacional). A década seguinte foi de intensa luta ideológica. Primeiro, no combate ao anarquismo no interior da Internacional, que culminou com a expulsão dos bakuninistas; a seguir, contra o reformismo liderado por Lassalle no Partido Proletário alemão. No campo do reformismo, E.K.Dühring, professor da Universidade de Berlim lançou a proposta de “um novo comunismo”, que se construiria sem luta de classes. O “Anti-Dühring”, escrito com a colaboração de Marx, não se limita a responder ao professor. É uma exposição sistemática do materialismo histórico e dialético e apresenta um balanço da evolução das ciências da natureza. Mostra o funcionamento das leis da dialética na natureza e na sociedade.



Em março de 1871, o proletariado parisiense toma o poder e convoca a população para construir a nova sociedade, anunciando as primeiras medidas nesse caminho. Algumas províncias se levantam no interior, mas são logo sufocadas. O exército burguês se reorganiza e se alia com seu arquiinimigo até então, os invasores alemães, para retomar o domínio econômico e político. Em maio, depois de heróicos e sangrentos combates, a Comuna é derrotada. Desde o início da luta, Engels interveio no Conselho Geral da Internacional, no sentido de dar todo o apoio aos comuneiros dos quais, muitos, inclusive, eram filiados à organização. O apoio efetivamente aconteceu, tanto no período da luta como depois, com ajuda aos exilados e denúncia em todo o mundo da repressão feroz e do genocídio praticado contra os operários de Paris e suas famílias.



Engels deu uma contribuição própria à teoria do socialismo científico, que foi a de estender à natureza a concepção materialista da dialética, uma vez que Marx se dedicou ao ser social. A contribuição engelsiana conferiu ao marxismo o caráter de filosofia, dada a generalização metodológica e teórica, contendo uma concepção de mundo, não apenas da sociedade.

Os seus últimos 12 anos de vida, Engels dedicou-os à edição dos segundo e terceiro volumes de “O Capital”. Ao morrer, no dia 14 de março de 1883, Karl Marx tinha concluído apenas o I volume. Deixou anotações sem ordem, e Engels, o único capaz de empreendimento tão arrojado, dedicou-se a decifrar a letra do companheiro, apreender a essência do seu pensamento, concatenar as idéias e dar uma estrutura lógica, o mais próxima possível do modo de Marx expressá-las.



Mas não foi a única tarefa que o velho amigo deixou. Engels passou a orientar o movimento operário europeu, respondendo a consultas sobre método, problemas localizados, criticando e estimulando camaradas.

E nunca abandonou a condição de cientista social. A partir das pesquisas antropológicas de H. Morgan, lidas e anotadas por Marx, formulou a teoria marxista do Estado, na obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, cujos pressupostos já estavam em sua obra anterior e na de Marx, mas não de forma sistêmica e embasada na história e na antropologia.



Seu último trabalho (1895) foi o prefácio à reedição de “As Lutas de Classe na França”, de Karl Marx .Nele, Engels faz considerações sobre o desenvolvimento da luta de classes e situa, pela primeira vez na teoria marxista, a distinção entre guerra de movimento e guerra de posições.



No dia 5 de agosto de 1895, vitimado por um câncer no esôfago, falece Engels. Nos seus funerais, Wilhelm Liebknecht, líder operário, discursou: “Nele, teoria e prática se fundiram num todo único”. Presentes, atendendo ao seu pedido, apenas alguns parentes e amigos. Um grupo menor ainda, no qual estava Eleanor, filha caçula de Marx, atendeu a outro desejo, lançando as cinzas do seu cadáver no mar de Eastbourne, a duas milhas da costa.



Segundo Lênin, Engels foi “depois de Marx, o mais notável sábio e mestre do proletariado contemporâneo”. Ele próprio se dizia o “segundo violino”. Na verdade, ambos foram fundadores, construtores do socialismo científico e mestres do proletariado. O seu maior mérito foi demonstrar que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, mas “resultado inevitável do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade atual”. Mas esse resultado não brota espontaneamente, advindo da luta das classes sociais – burguesia e proletariado – que estão em lados contrários ante as forças produtivas. Uma obra comum. Um só violino a enlevar a orquestra revolucionária do proletariado na senda da emancipação.



Alves, Luiz. Site Jornal A Verdade. Disponível em: https://averdade.org.br/2012/04/biografia-de-friedrich-engels-nele-teoria-e-pratica-se-fundiram-num-todo-unico/. Acesso em 30 de jan. 2020.


SAINT-JUST - O ARCANJO DA REVOLUÇÃO FRANCESA


Louis Antoine Léon de Saint-Just – Nascido em 25 de agosto de 1767, em Decize, Nièvre e falecido em 28 de julho de 1794, Paris. Foi um aspirante a literato, pensador e político revolucionário francês. Foi eleito para a Convenção em 5 de outubro de 1792, e votou pela execução do rei. Seu discurso em favor da execução do monarca é considerado um dos mais importantes e eloquentes do processo, e foi determinante para condenação de Luís XVI. Em 30 de maio de 1793 foi eleito membro do Comitê de Salvação Pública, onde destaca como um dos líderes. Nesta fase, desenvolve teorias sobre o governo revolucionário, e se torna um dos defensores da política do Terror. Foi denunciado no tribunal da Convenção dos Girondinos, e pelos extremistas e moderados de seu próprio partido, os Montanheses. Depois, encarregado da reorganização do exército, fez ali um extraordinário trabalho. Toda sua ação política visava criar uma “democracia” de pequenos proprietários, de trabalhadores e artesãos, fiéis à República. Foi guilhotinado em 28 de julho de 1794. Por sua intransigência durante o período do Terror, foi apelidado “arcanjo do Terror” e “arcanjo da Revolução”.

            Filho de Louis Jean de Saint-Just de Richebourg (1716 – 1777), um capitão da cavalaria, condecorado com a ordem de Saint-Louis; e de Marie-Anne Robinot (1736 -1791), filha de um notário. Saint-Just tinha duas irmãs mais novas, Louise-Marie-Anne de Saint-Just de Richebourg e Marie-Françoise-Victoire de Saint-Just de Richebourg. Depois de frequentar a escola de sua pequena cidade, Saint-Just foi internado de 1779 a 1785 no colégio Saint-Nicolas dês Oratoriens em Soissons (hoje em dia Colégio Saint-Just), um estabelecimento tombado onde seu tio e seu pai já haviam estudado e onde ele se aproxima de filhos da classe rica e dominante da província. Depois de ter fugido da casa materna para ir a Paris após uma discussão, ele foi internado numa casa correcional, na rue de Picpus, de setembro de 1786 a março de 1887, após uma lettre de cachet (carta de cachê)[i] obtida contra ele por sua mãe. O episódio da casa de correição provavelmente influenciou seu poema “Organt” (“Órgão”), uma crítica à monarquia absoluta e à Igreja, às vezes de caráter pornográfico e na tradição cínica, publicado na primavera de 1769. Depois se tornou escrivão do procurador Maître Dubois de Soissons, matriculou-se em outubro de 1787 na Faculdade de Direito de Reims, que Brissot e Danton já tinham frequentado, antes de retornar no ano seguinte a Blérancourt, onde permaneceu até setembro de 1792.

            Saint-Just assiste aos primeiros movimentos da Revolução Francesa em Paris, depois parte para se juntar à família em Blérancourt, onde se torna tenente-coronel da guarda nacional em julho de 1789. O contato com a população rural contribui para sua formação como homem político ele acaba por se envolver com os problemas locais.



            Revolucionário de caráter exaltado participa da Festa da Confederação, em 1790, e faz parte do cortejo que escoltou Luís XVI, após sua tentativa de fuga. Conhece Robespierre, para quem escreve uma primeira carta em agosto de 1790, e acaba por tornar-se um dos seus partidários mais próximos. Junto com Couthon, eles formam o “triumvirat” mais temido durante a Revolução Francesa. Assim como Robespierre, Saint-Just é fascinado pela cultura greco-romana (de onde se origina a ideia de democracia e a de república).

            Foi eleito deputado em 1791 na Assembleia Legislativa, mas recusam-lhe o direito de assumir o cargo em função de sua idade (24 anos). Eleito em 1792 para a Convenção, onde é o caçula, ele se torna rapidamente um de seus principais oradores. No processo contra Luís XVI ele profere as célebres frases: “Não se pode reinar inocentemente” e “Todo rei é um rebelde ou um usurpador”. Sua retórica impecável, inspirada em Rousseau, e seu rigor contra os inimigos da Revolução fazem dele não só a voz dos da Montanha, mas, na sequência, do Comitê de Salvação Pública, contra os Girondinos. Ele acaba por tornar-se um dos articuladores da queda dos dantonistas e dos hebertistas.



            Durante a crise de Termidor, ele tenta, com Barère, restabelecer o consenso dentro dos comitês, organizando a reunião do 5 Termidor. Nesta ocasião, ele é incumbido de ler um relatório diante da Convenção, sobre as horas que sacudiram o governo revolucionário. Mas o discurso de Robespierre diante da Assembleia, no 8 Termidor, acelera o desfecho da crise.

            No dia seguinte, ele é interrompido logo no início de seu discurso, por Tallien e a prisão de seu grupo é decretada. Libertado graças à insurreição de Paris, ele é preso pelas tropas fiéis à Convenção na manhã de 10 Termidor e é guilhotinado com os principais partidários de Robespierre, à tarde, sem direito a julgamento.



            “L’Esprit de La Revolution et de La Constitution de France” (1790 – 1791). Nesta obra, Saint Just expõe suas reflexões sobre a Revolução Francesa e a base das ideias que ele desenvolvera em 1792. O texto que fez sucesso no meio político, de acordo com as palavras de Bertrand Barère, é uma defesa da monarquia constitucional. Além disso, é notória a influência que Montesquieu e Rousseau tiveram sobre estes pensadores revolucionários.

            “Les Fragments d’Institutions Républicaines” (1793 – 1794). “Du Droit Social ou Principes Du Droit Naturel” (“De La Nature de L’état Civil de La Cité ou Les Règles de L’indépendance Du Gouvernemente” de 1791 – 1792). “Arlequin-Diogène”, peça de teatro (1787). “Organt”, poema (1787 – 1789).

 

Wikipédia. Disponível em:  https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Louis_Antoine_L%C3%A9on_de_Saint-Just. Acesso em 30 de jan. de 2022.



[i] Lettres de cachet – Eram cartas assinadas pelo rei da França, assinado por um de seus ministros, e fechado com o selo real ou o cachet. Eles continham ordens diretamente do rei, muitas vezes para impor ações arbitrárias e julgamentos que não podiam ser apelados. No caso dos corpos organizados, as letras de cachet foram emitidas com o objetivo de evitar a montagem ou a realização de algum outro ato definido. Os estados provinciais foram convocados desta maneira, e foi por uma carta de cachet, ou mostrando pessoalmente em uma lei de justiça, que o rei ordenou a um parlamento que registre uma lei, apesar da recusa do Parlamento em passá-la. As mais conhecidas cartas de cachet, no entanto, eram penais, pelo qual um sujeito foi condenado sem julgamento e sem uma oportunidade de defesa para prisão em prisão estadual ou prisão comum, confinamento em um convento ou hospital, transporte para as colônias, ou expulsão para outra parte do reino, ou do reino completamente. Os ricos às vezes compraram essas letras para dispor de indivíduos indesejados. Fonte: Site Educalingo. Disponível em: https://educalingo.com/pt/dic-en/lettre-de-cachet. Acesso em 30 de jan. 2022.


sábado, 29 de janeiro de 2022

A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO DE PAULO FREIRE

 


    Na conjuntura atual, onde graças ao reacionarismo reinante, a obra de Paulo Freire vem sendo severamente atacada e questionada, vale a pena revermos (re-vermos, re-lermos, re-discutirmos) seu legado. Sugerimos para começar uma releitura da obra "Pedagogia do Oprimido", pois diferentemente daqueles que o atacam, mas não o leem e muito menos conhecem suas ideias e práticas, devemos conhecê-lo e reconhecê-lo (do verbo re-conhecer, conhecer novamente). Inclusive, os brutos neoconservadores de plantão, precisam entender que a educação brasileira apresenta baixo níveis, não por causa de Paulo Freire, mas sim por não seguir os ensinamentos do grande humilde mestre! 


 

Escrito pelo professor brasileiro mais conhecido em todo o mundo e um dos livros mais influentes dentro da pedagogia, a pedagogia do oprimido mudou a concepção de educação para milhares de pessoas.





Pedagogia do Oprimido

O livro “Pedagogia do Oprimido'' foi escrito entre 1964 e 1968 enquanto Paulo Freire estava exilado no Chile por proibição da ditadura civil-militar do Brasil, onde permaneceu até 1974. Esse livro traz situações concretas, desvelando as relações que sustentam uma ordem social injusta, responsável pela violência dos opressores e pelo medo da liberdade que os oprimidos sentem. É um livro radical (no sentido de ir às raízes dos problemas), sobre o conhecer solidário, a vocação ontológica, o amor, o diálogo, a esperança e a humildade. Aborda a luta pela desalienação, pelo trabalho livre, pela afirmação dos seres humanos como pessoas, e não coisas.



    De acordo com a pedagogia do oprimido, sendo uma pedagogia humanista e libertadora, podem ser observados dois momentos distintos: o primeiro, no qual os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se com a sua transformação, e o segundo, no qual transformada a realidade opressora, a pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente evolução.

 

Medo da Liberdade



Dentre as principais ideias do livro “Pedagogia do Oprimido”, temos o medo da liberdade, um medo de que não tem consciência de quem o possui. Segundo o autor, no caso dos opressores há até aqueles que se dizem a favor da liberdade, mas buscam justificativas para negá-la aos oprimidos. No caso dos oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que lhes prescrevem os opressores, a liberdade significaria substituir a prescrição dos opressores por outro conteúdo — e este conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos, agora autônomos. Em resumo, um sujeito teme a liberdade porque prefere a estabilidade (mesmo que desfavorável) a uma liberdade arriscada, a uma situação à qual não se sente preparado.


Contradição do Opressor/Oprimido

Nessa concepção, os opressores agem sobre os oprimidos através da imposição de sua consciência, suas idéias, suas vontades. Exploram, violentam, desumanizam os outros e, ao mesmo tempo, se desumanizam nessa desumanização.



Já os oprimidos hospedam os opressores em si mesmos, já que não se veem como sujeitos da sua própria história, dos acontecimentos do mundo, muitas vezes sendo levados a acreditar em destino ou na vontade de Deus como explicação para sua miséria, sofrimento e injustiças das quais são vítimas.

 

Educação Bancária

Um conceito muito conhecido de Paulo Freire, a educação bancária se refere à prática de ensino que reproduz a sociedade opressora, em que o educador se coloca em posição superior, como dono do saber, que transfere e “deposita” nos educandos. Aos educandos (os recipientes) não resta outra coisa a não ser arquivar os depósitos, memorizá-los, sem qualquer possibilidade de pensar autenticamente e de criar. Só lhes resta se adaptar.

 

Educação Dialógica e Libertadora

Esse tipo de prática educativa se fundamenta em uma relação horizontal entre educador e educandos, superando a contradição entre os dois. Nesse contexto, educadores e educandos, por meio do diálogo e em comunhão, se tornam educadores-educandos e educandos-educadores, mediados pelo mundo.

Assim, a pedagogia do oprimido é, no fundo, a pedagogia dos homens se empenhando na luta por sua libertação. Nenhuma pedagogia realmente libertadora pode ficar distante dos oprimidos, quer dizer, pode fazer deles seres desditados, objetos de um “tratamento” humanitarista, para tentar, através de exemplos retirados de entre os opressores, modelos para a sua “promoção”. Os oprimidos hão de ser o exemplo para si mesmos, na luta por sua redenção. 


Os Homens se Libertam em Comunhão

 

Segundo Paulo Freire, só quando os oprimidos descobrem, com nitidez, o opressor, eles se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando sua “convivência” com o regime opressor. A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para a liberdade, por si mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor, devida à baixa resiliência do oprimido. Este é que se serve desta motivação de dependência para criar mais dependência.

 

 

Abdias Nascimento organizando o povo.


Educação Dialógica e Diálogo

Assim, o autor considera que não há diálogo sem um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda. Não há, por outro lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante. Sem o diálogo, não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.



Por isto é que não podemos, a não ser ingenuamente, esperar resultados positivos de um programa, seja educativo num sentido mais técnico ou de ação política, se, desrespeitando a particular visão do mundo que tenha ou esteja tendo o povo, se constitui numa espécie de invasão cultural, ainda que feita com a melhor das intenções.

 

Manipulação

Freire diz que, através da manipulação, as elites dominadoras tentam conformar as massas populares a seus objetivos. E quanto mais imaturas politicamente seja, mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras com o fim de um tipo inautêntico de “organização” que evite o seu contrário. As massas têm duas possibilidades: ou são manipuladas pelas elites ou se organizam verdadeiramente para sua libertação.



Assim, a educação deve ser ferramenta de estimulação de pensamento crítico, reflexão e libertação para uma sociedade mais justa e com maior qualidade de vida para todos.



 

Referência:

FREIRE, Paulo Reglus Neves. Pedagogia do oprimido. 67ª edição. Editora Paz & Terra. São Paulo, 2013. 

Fonte:

IBND. Disponível em:  https://www.ibnd.com.br/blog/a-pedagogia-do-oprimido.html. Acesso em: 29 de janeiro de 2022.







sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

SOBRE "O CAPITAL – DAS KAPITAL" – KARL MARX

 


 

            “Das Kapital”, “O Capital”, em português, é uma das principais obras do economista e filósofo do século XIX Karl Friedrich Marx (1818 – 1883). Obra que expôs sua teoria do sistema capitalista, seu dinamismo e suas tendências para a autodestruição. Ele escreveu que seu propósito era de expor “a lei econômica do movimento da sociedade moderna”. O primeiro volume foi publicado em Berlim em 1867; o segundo e o terceiro volumes, editados por seu amigo, colaborador e financiador Friedrich Engels (1820 – 1895), foram publicados postumamente em 1885 e 1894.


Edição de O Capital pela Boitempo

            Muito do “O Capital explicita o conceito de Marx de “mais-valia” de trabalho e suas consequências para o capitalismo. De acordo com Marx, não foi a pressão da população que levou os salários para o nível de subsistência, mas sim a existência de um grande exército de desempregados (exército de reserva de força de trabalho), que ele atribuiu aos capitalistas. Ele afirmou que dentro do sistema capitalista, o trabalho era uma mercadoria que poderia ganhar apenas salários de subsistência. Os capitalistas, no entanto, podiam forçar os trabalhadores a gastar mais tempo no trabalho do que o necessário para ganhar sua subsistência e então se apropriar do produto excedente, ou a mais-valia, um valor maior criado pelos trabalhadores.

            Porque todo o lucro resulta de uma “exploração do trabalho”, a taxa de lucro – a quantia por unidade do gasto total do capital – depende em grande parte do número de trabalhadores empregados. Como as máquinas não podem ser “exploradas”, elas não podem contribuir para os lucros totais, embora ajudem a “mão-de-obra” (força de trabalho) a produzir produtos mais úteis. Apenas o capital da folha de pagamento – “capital variável” – é produtivo devido à mais-valia e, consequentemente de lucro. A introdução de máquinas é lucrativa para o empresário individual, a quem eles dão uma vantagem sobre seus concorrentes. No entanto, à medida que as despesas com máquinas crescem em relação às despesas com salários, o lucro diminui em relação às despesas totais de capital. Assim, para cada gasto adicional de capital, o capitalista receberá cada vez menos retorno e pode tentar adiar sua falência apenas pressionando os trabalhadores. Em última análise, de acordo com “O Capital”, a classe capitalista torna-se incapaz de governar, porque incompetente para assegurar a existência de seu “escravo” (o operário – o assalariado – o proletário) dentro de sua “escravidão”. Consequentemente, o sistema capitalista entra em colapso e a classe trabalhadora herda o poder econômico e político.



            Embora Marx abordasse o capitalismo como economista e se orgulhasse do rigor conceitual de sua obra, “O Capital” – especialmente o primeiro volume – é rico em descrições empíricas. Marx elogiou o trabalho da Inspetoria de Fábrica, de cujos relatórios extraiu exemplos vívidos e assustadores do excesso de trabalho e dos maus-tratos sofridos pelos trabalhadores britânicos. Sua descrição selvagem da chamada “acumulação primitiva do capital” – processo pelo qual a Grã-Bretanha foi transformada de uma economia pré-capitalista em uma economia capitalista – é mais um dos trechos da obra que além de polêmico demonstra o conhecimento histórico e analítico de Marx.



Britannica, The Editors of Encyclopaedia. "Das Kapital". EncyclopediaBritannica, 27 de setembro de 2018, https://www.britannica.com/topic/Das-Kapital. Acessado em 23 de dezembro de 2021.


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