Na conjuntura atual, onde graças ao reacionarismo reinante, a obra de Paulo Freire vem sendo severamente atacada e questionada, vale a pena revermos (re-vermos, re-lermos, re-discutirmos) seu legado. Sugerimos para começar uma releitura da obra "Pedagogia do Oprimido", pois diferentemente daqueles que o atacam, mas não o leem e muito menos conhecem suas ideias e práticas, devemos conhecê-lo e reconhecê-lo (do verbo re-conhecer, conhecer novamente). Inclusive, os brutos neoconservadores de plantão, precisam entender que a educação brasileira apresenta baixo níveis, não por causa de Paulo Freire, mas sim por não seguir os ensinamentos do grande humilde mestre!
Escrito pelo professor brasileiro mais conhecido em todo o mundo e um dos livros mais influentes dentro da pedagogia, a pedagogia do oprimido mudou a concepção de educação para milhares de pessoas.
Pedagogia do Oprimido
O livro “Pedagogia do Oprimido'' foi escrito entre 1964 e
1968 enquanto Paulo Freire estava exilado no Chile por proibição da ditadura
civil-militar do Brasil, onde permaneceu até 1974. Esse livro traz situações
concretas, desvelando as relações que sustentam uma ordem social injusta,
responsável pela violência dos opressores e pelo medo da liberdade que os
oprimidos sentem. É um livro radical (no sentido de ir às raízes dos problemas),
sobre o conhecer solidário, a vocação ontológica, o amor, o diálogo, a
esperança e a humildade. Aborda a luta pela desalienação, pelo trabalho livre,
pela afirmação dos seres humanos como pessoas, e não coisas.
De acordo com a pedagogia do oprimido, sendo uma
pedagogia humanista e libertadora, podem ser observados dois momentos
distintos: o primeiro, no qual os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão
e vão comprometendo-se com a sua transformação, e o segundo, no qual
transformada a realidade opressora, a pedagogia deixa de ser do oprimido e
passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente evolução.
Medo da Liberdade
Dentre as principais ideias do livro “Pedagogia do Oprimido”,
temos o medo da liberdade, um medo de que não tem consciência de quem o possui.
Segundo o autor, no caso dos opressores há até aqueles que se dizem a favor da
liberdade, mas buscam justificativas para negá-la aos oprimidos. No caso dos
oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que lhes prescrevem os
opressores, a liberdade significaria substituir a prescrição dos opressores por
outro conteúdo — e este conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos,
agora autônomos. Em resumo, um sujeito teme a liberdade porque prefere a
estabilidade (mesmo que desfavorável) a uma liberdade arriscada, a uma situação
à qual não se sente preparado.
Contradição do Opressor/Oprimido
Nessa concepção, os opressores agem sobre os oprimidos através da imposição de sua consciência, suas idéias, suas vontades. Exploram, violentam, desumanizam os outros e, ao mesmo tempo, se desumanizam nessa desumanização.
Já os oprimidos hospedam os opressores em si mesmos, já que não se veem como sujeitos da sua própria história, dos acontecimentos do mundo, muitas vezes sendo levados a acreditar em destino ou na vontade de Deus como explicação para sua miséria, sofrimento e injustiças das quais são vítimas.
Educação Bancária
Um conceito muito conhecido de Paulo Freire, a educação
bancária se refere à prática de ensino que reproduz a sociedade opressora, em
que o educador se coloca em posição superior, como dono do saber, que transfere
e “deposita” nos educandos. Aos educandos (os recipientes) não resta outra
coisa a não ser arquivar os depósitos, memorizá-los, sem qualquer possibilidade
de pensar autenticamente e de criar. Só lhes resta se adaptar.
Educação Dialógica
e Libertadora
Esse tipo de prática educativa se fundamenta em uma
relação horizontal entre educador e educandos, superando a contradição entre os
dois. Nesse contexto, educadores e educandos, por meio do diálogo e em
comunhão, se tornam educadores-educandos e educandos-educadores, mediados pelo
mundo.
Assim, a pedagogia do oprimido é, no fundo, a pedagogia dos homens se empenhando na luta por sua libertação. Nenhuma pedagogia realmente libertadora pode ficar distante dos oprimidos, quer dizer, pode fazer deles seres desditados, objetos de um “tratamento” humanitarista, para tentar, através de exemplos retirados de entre os opressores, modelos para a sua “promoção”. Os oprimidos hão de ser o exemplo para si mesmos, na luta por sua redenção.
Os Homens se Libertam
em Comunhão
Segundo
Paulo Freire, só quando os oprimidos descobrem, com nitidez, o opressor, eles
se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos,
superando sua “convivência” com o regime opressor. A ação política junto aos
oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para a liberdade, por si mesmo,
ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de
dominação em que se acham e que gera também a sua visão inautêntica do mundo,
não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor, devida à baixa resiliência do oprimido. Este é que se serve desta
motivação de dependência para criar mais dependência.
Abdias Nascimento organizando o povo.
Educação Dialógica e Diálogo
Assim, o autor considera que não há diálogo sem um
profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é
um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda. Não há, por outro
lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o
recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante. Sem o diálogo, não há
comunicação e sem esta não há verdadeira educação.
Por isto é que não podemos, a não ser ingenuamente,
esperar resultados positivos de um programa, seja educativo num sentido mais
técnico ou de ação política, se, desrespeitando a particular visão do mundo que
tenha ou esteja tendo o povo, se constitui numa espécie de invasão cultural,
ainda que feita com a melhor das intenções.
Manipulação
Freire diz que, através da manipulação, as elites
dominadoras tentam conformar as massas populares a seus objetivos. E
quanto mais imaturas politicamente seja, mais facilmente se deixam
manipular pelas elites dominadoras com o fim de um tipo
inautêntico de “organização” que evite o seu contrário. As massas têm duas
possibilidades: ou são manipuladas pelas elites ou se organizam verdadeiramente
para sua libertação.
Assim, a educação deve ser ferramenta de estimulação de pensamento crítico, reflexão e libertação para uma sociedade mais justa e com maior qualidade de vida para todos.
Referência:
FREIRE, Paulo Reglus Neves. Pedagogia do oprimido. 67ª edição. Editora Paz & Terra. São Paulo, 2013.
Fonte:
IBND.
Disponível em: https://www.ibnd.com.br/blog/a-pedagogia-do-oprimido.html.
Acesso em: 29 de janeiro de 2022.
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