Marcelo Gleiser (Rio de Janeiro, 19 de
março de 1959) é um físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista
brasileiro, atualmente pesquisador e professor da Faculdade de Dartmouth, nos
Estados Unidos. É membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society.
Conhecido nos
Estados Unidos por suas aulas e pesquisas científicas, no Brasil é mais popular
por suas colunas de divulgação científica no jornal Folha de São Paulo.
Escreveu oito livros e publicou três coletâneas de artigos. Participou de
programas de televisão dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Brasil, entre
eles, Fantástico.
Marcelo
recebeu o Prêmio Jabuti em 1998, pelo livro A Dança do Universo, e em
2002 por O Fim da Terra e do Céu. Em 2007, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Filosofia. Em março de 2019, tornou-se o primeiro
latino-americano a ser contemplado com o Prêmio Templeton, tido informalmente
como o "Nobel da espiritualidade".
Juventude e formação acadêmica
Marcelo é
nascido em uma família judaica da cidade do Rio de Janeiro, e desde criança
gostava de tocar violão e jogar voleibol, modalidade esportiva em que foi
campeão júnior brasileiro aos quinze anos, ao lado de Bernardinho. Mesmo não se
interessando por matemática, desde cedo eram claros seu interesse e paixão pela
natureza. Queria ser músico, mas seu pai, Isaac, que era dentista, convenceu-o
a mudar de ideia, pois, segundo ele, a música seria uma escolha arriscada,
tornando incerto seu futuro profissional.
Após cursar
dois anos de Engenharia Química, Gleiser transferiu-se para o curso de Física
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Bacharelou-se
em 1981, mesmo ano em que representou o voleibol brasileiro nos jogos
Macabíadas em Israel, conquistando a medalha de prata. No ano seguinte fez seu
mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em 1986 obteve seu
doutorado no King's College de Londres na Universidade de Londres. Em 1988
obteve um pós-doutorado pela Fermilab e no mesmo ano foi nomeado bolsista
sênior de pós-doutorado no Instituto de Física Teórica da Universidade da
Califórnia. Em 1991 foi nomeado professor assistente de física e astronomia no
Dartmouth College em Hanover, New Hampshire.
Carreira
Desde 1991, é
professor de Física e Astronomia e pesquisador da Dartmouth College em Hanover,
Estados Unidos. Já fez parte do grupo de pesquisadores do Fermilab, em Chicago,
e do Institute for Theoretical Physics da Califórnia. Recebeu bolsas para
pesquisas da NASA, da National Science Foundation e da OTAN.
Na Dartmouth,
ministra a disciplina "Física para Poetas", cujas aulas se
caracterizam por relatos da história da ciência e dos cientistas juntamente com
explicações sobre os fundamentos da física no laboratório através de
experiências e demonstrações em sala de aula.
Em 1994,
ganhou do presidente norte-americano Bill Clinton o prêmio Presidential Faculty
Fellows Award por seu trabalho de pesquisa em cosmologia e por sua dedicação ao
ensino. Em 1995, ganhou o Dartmouth Award for Outstanding Creative or Scholarly
Work e venceu em 2001 o prêmio José Reis de Divulgação Científica. Em 2001,
Gleiser foi eleito Fellow da American Physical Society, a Sociedade de Física
Americana, da qual é membro. Seu ensaio "Emergent Realities in the
Cosmos" apareceu na antologia Best American Science Writing 2003, editada
por Oliver Sacks.
Em 1997,
lançou no Brasil seu primeiro livro, A Dança do Universo, que trata da
questão da origem do Universo tanto sob o ponto de vista científico quanto
religioso. O livro, escrito para o público não-especializado tornou-se um marco
da divulgação científica no Brasil. Naquele ano também passou publicar aos
domingos, artigos sobre ciência no jornal Folha de São Paulo. A coluna foi
publicada até 28 de outubro de 2018.
Em 1998 ganhou
o Prêmio Jabuti por esse livro, prêmio que viria a repetir em 2002 pelo livro O fim
da Terra e do Céu. Em 2005, lançou uma coletânea de suas colunas
publicadas na Folha de São Paulo de 1999 a 2004, intitulada Micro
Macro, e em 2007, dando prosseguimento à coleção, outra coletânea
intitulada Micro Macro 2. A sua primeira obra inspirou uma peça de teatro
do grupo Arte e Ciência no Palco, que estreou no Festival de Curitiba, e foi
apresentada em vários teatros e festivais no Brasil e em Portugal.
Em 2006,
publicou A Harmonia do Mundo, seu primeiro romance e também um best
seller, sobre a vida e obra do astrônomo alemão Johannes Kepler. Em 2010,
publicou o livro "Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da
Natureza", onde faz criticas a várias ideias de unificação na física argumenta que
as assimetrias do Universo não tiveram origem a partir de um Deus, e que são as
imperfeições que causaram e causam a formação de estruturas na Natureza, do
átomo às células. O livro foi publicado em sete línguas. Em 2015, publicou The
Island of Knowledge que lida com o problema do necessariamente
incompleto conhecimento científico e dos limites das explicações do universo.
Em setembro de 2006 estreou nos cinemas o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá
Diegues, com consultoria de Gleiser. O filme conta a história de um astrofísico
que volta ao Brasil.
Em 2006,
apresentou um bloco no programa dominical Fantástico, da Rede Globo, chamado "Poeira
das Estrelas". A série em muito lembra a série Cosmos, de Carl
Sagan, com episódios abordando temas científicos e mantendo o foco na
astronomia e na origem da vida. A série inspirou um livro homônimo publicado no
mesmo ano. Dois anos depois, em 2008, também no Fantástico, apresentou outra
série de conteúdo científico: "Mundos Invisíveis", onde
explorou a história da física e da química, da alquimia à física de partículas
elementares. Em 2010, narrou o documentário Como Funciona o Universo, exibido
pelo Discovery Channel.
Ciência e religião
Certamente
recorrentes em seus trabalhos os debates entre as visões de mundo religiosas e
científicas, Marcelo Gleiser é, contudo, adepto declarado do naturalismo:
"Para mim, não há
absolutamente nenhuma dúvida de que o sobrenatural é completamente incompatível
com uma visão científica do mundo, visão que costumo defender arduamente".
"(...) A mecânica universal
não precisa de Deus! As pessoas podem precisar de Deus! São duas coisas
completamente diferentes!"
e declara-se
agnóstico especificamente "(...) um
desses ateus liberais que Dawkins critica"; posicionamentos que
certamente transparecem em suas obras também de forma implícita. Ao contrário
dos assim denominados ateus radicais, que veem uma guerra declarada entre
ciência e religião e nela militam, Gleiser reconhece - embora defensor do
ateísmo - o papel que a fé desempenhou e desempenha nos contextos
sociocultural, histórico e de definição do ser humano, posicionando-se contra o
radicalismo tanto religioso quanto antirreligioso. Em suas palavras:
"Se sou ateu; se fico
transtornado quando vejo a infiltração de grupos religiosos extremistas nas
escolas, querendo mudar o currículo, tratando a ciência em pé de igualdade com
a Bíblia; se concordo que o extremismo religioso é um dos grandes males do
mundo; se batalho contra a disseminação de crenças anticientíficas absurdas
como o design inteligente e o criacionismo na mídia; por que, então, critico o
ateísmo radical de Dawkins? Porque não acredito em extremismos e intolerância. (...)
É essa crença ignorante que deve ser combatida; (...) É a hipocrisia usada sob
a bandeira da fé que deve ser combatida, não a fé em si."
Em novembro de
2016, No programa Canal Livre da Rede Bandeirantes de Televisão, Gleiser
declarou-se agnóstico - não especificando o tipo, mas declarou ser a posição
mais compatível com o método científico. O que não pode ser uma posição
cientificista, pois numa entrevista a fundação Na pratica, ele disse:
"A ciência é obviamente
nosso melhor modo de se explorar e entender o mundo, mas não é o único, e nem é
ilimitado".
Também
criticou o ateísmo por ser só outra forma de fé cega, pois não tem provas para
seu dogma da inexistência de Deus - ainda no programa Canal Livre.
Gleiser também
se declara crítico das posturas perfeccionistas do universo, criticando
fortemente a busca da comunidade de físicos pela "teoria do tudo".
Para Gleiser o Universo é repleto de imperfeições, e nele não se pode identificar
baseado em nossa tecnologia limitada, uma lei única que reja toda a natureza,
postura que o torna crítico direto dos físicos que a buscam na tentativa de
estabelecer qualquer "teoria final". Para Gleiser, tais cientistas
deveriam ter uma maior "autocrítica":
"Nós conhecemos o mundo por
causa de nossos instrumentos(...) O problema é que toda máquina tem uma
precisão limitada. É impossível criar uma teoria final porque nunca vamos saber
tudo. Temos de aprender a ser humildes com relação a nosso conhecimento de
mundo, que sempre será limitado."
Vida pessoal
Marcelo
Gleiser vive com a família no estado de Nova Hampshire, nos EUA. Além de dar
aulas na universidade, realiza palestras e também leciona em cruzeiros com
"caçadores de eclipses". Já viajou de Zanzibar a Madagáscar e pelo
Mar Negro. Nessas viagens aproveita para praticar mergulho.
Possui como
hobby a pesca com isca artificial (fly fishing), que pratica na cidade onde
mora, Hanover. Lá, além da pesca, gosta de praticar alpinismo. Mantinha amizade
com o escritor norte-americano Oliver Sacks, a quem fazia visitas em Nova
Iorque. Também é amigo de Roald Hoffmann, ganhador do prêmio Nobel de Química
de 1981. Roald já desfilou com Gleiser pela escola de samba Unidos da Tijuca
vestidos de Santos Dumont, no carnaval de 2004.
Livros
A Dança do
Universo (1997)
Retalhos
Cósmicos (1999)
O fim da Terra
e do Céu (2001)
Micro Macro
(2005)
A Harmonia do
Mundo (2006)
Cartas A Um
Jovem Cientista: O Universo, A Vida e Outras Paixões (2007)
Micro Macro 2
(2007)
Criação
Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza (2010)
A Ilha do
Conhecimento: Os Limites da Ciência e A Busca Por Sentido (2014)
A Simples
Beleza do Inesperado (2016)
O Caldeirão
Azul (2019)
Artigos científicos selecionados
"An Analytical Characterization
of Oscillons: Their Energy, Radius, Frequency, and Lifetime", with David
Sicilia, Phys. Rev. Lett. 101, 011602 (2008).
"A Class of Nonperturbative
Configurations in Abelian-Higgs Models: Complexity from Dynamical Symmetry
Breaking", com Joel Thorarinson, Physical Review D 79, 025016 (2009).
"An Extended Model for the
Evolution of Prebiotic Homochirality: A Bottom-Up Approach to the Origin of
Life", com Sara Walker, Orig. Life Evol. Biosph. 38, 293-315 (2008).
"Punctuated Chirality",
with Joel Thorarinson and Sara I. Walker, Orig. Life Evol. Biosph. 38, 499-508
(2008).
"Long-lived Oscillons from
Asymmetric Bubbles," com A. Adib e C. A. S. Almeida, Phys. Rev. D66 (2002)
085011.
"Gauged Fermionic
Q-Balls," com T. S. Levi, Phys. Rev. D66 (2002) 087701.
"Nonequilibrium Precursor Model
for the Onset of Percolation in a Two-Phase System," com Rafael Howell e
Rudnei Ramos, Phys. Rev. E65 (2002) 036113.
"Anisotropic Stars: Exact
Solutions," com Krsna Dev, Gen. Rel. Grav. 24 (2002) 1793.
"Bubbling the False Vacuum
Away", com Barrett Rogers e Joel Thorarinson, Phys. Rev. D 77,
023513 (2008).
Fonte:
Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelo_Gleiser.
Acesso em: 12 mar. 2024.