quarta-feira, 17 de maio de 2017

COMO ERA CONSTITUÍDA A IGREJA CATÓLICA NA IDADE MÉDIA

A Igreja na Idade Média



            Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas “invasões” ou migrações germânicas e ao esfacelamento do Império Romano, praticamente apenas a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se como instituição. Vemos os Vândalos na África, os Visigodos na Hispania, os Francos na Gália, os Anglos e Saxões nas Ilhas Britânicas, os bárbaros (Germânicos) na Itália. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja foi difundindo o cristianismo entre os povos “bárbaros”, enquanto preservava muitos elementos da cultura greco-romana. Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da “fragmentação política” (processo de atomização do poder – poder local forte) da sociedade feudal.


            OBSERVAÇÃO: O termo católico (adjetivo grego que significa “Universal”) é usado a partir do Concílio de Trento (1545 - 1563) para designar a Igreja Romana em oposição às Igrejas da Reforma. Antes, o termo utilizado era Cristandade.

Periodização

            Idade Média (Medium Aevum ou Middle Age) É o termo usado para o período situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no período do Renascimento Cultural (século XVI) voltado somente para a região da Europa Ocidental, ou seja, não há Idade Média na África, Japão, China... Cada um desses locais possuem denominações próprias para esse período.

            Tem como marco inicial o ano de 476 d.C (com o fim do Império Romano no Ocidente – tomada de Roma, pelo imperador germânico Odoacro) e tem seu término no ano de 1453 d.C (com o fim do Império Romano no Oriente - Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos). Suas características, entretanto, nunca foram às mesmas no tempo ou no espaço, pois não havia unidade nesse período. É preciso dizer o contexto específico.

            O período está dividido em: Alta Idade Média (séc. V - XI), Idade Média Central (séc. XI - XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV e XV). Há até hoje um forte preconceito sobre este período, tomado como “Idade das Trevas”, “Escuridão”, de “Pestes e Guerras”, não havia “cidades, nem comércio”, dentre outros adjetivos. Contudo, deve ser levado em consideração que num período de mil anos, não houve apenas pestes, guerras... Temos que ter um olhar consciente: Nesse período houve a criação das Universidades, da letra minúscula, do parlamento, Hospitais, Tribunal com Júri, aperfeiçoamento da Matemática, geografia, escrita, etc.

Entendendo o Surgimento da Cristandade

            Entende-se Cristandade por um sistema de relações da Igreja e do Estado (ou qualquer outra forma de poder político) numa determinada sociedade e cultura. Ela perdura até praticamente a Revolução Francesa (1789), com várias modalidades dentro desse processo através dos séculos. Na história do cristianismo, o sistema iniciou-se por ocasião da Pax Ecclesiae em 313 (paz concedida pelo imperador Constantino à Grande Igreja), com o Edito de Milão (ele põe fim às perseguições) e deu origem à primeira modalidade de Cristandade dita “constantiniana”; a qual se apresenta como um sistema único de poder e legitimação da Igreja e do Império tardo-romano.

            As características gerais desta modalidade “constantiniana” são, entre outras, o cristianismo apresentar-se como uma religião de Estado, obrigatória, portanto para todos os súditos; a relação particular da Igreja e do Estado dar-se num regime de união; a religião cristã tender a manifestar-se como uma religião de unanimidade, multifuncional e polivalente; o código religioso cristão, considerado como o único oficial, ser, todavia diferentemente apropriado pelos vários grupos sociais, pelos letrados e iletrados, pelo clero e leigos. A figura ao lado é o “Monograma de Cristo”, da época de Constantino. Ele é formado por duas letras entrelaçadas, as letras gregas "chi" (X) e "rô" (P). Essas letras são as iniciais de "Christós", em grego: CRISTOS.

Os Padres da Igreja

            Os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e V, embora possa se entender que se estenda até o século VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do Oriente foram: Eusébio de Cesaréia, Santo Atanásio, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nisa, Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria. Os principais Padres do Ocidente são: Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra prima da literatura universal e Santo Ambrósio; Eusébio Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e Gregório Magno, este um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "os Morais e os Diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o canto "gregoriano" permanece vivo até os dias de hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, é considerado o último dos grandes padres ocidentais.

A Cristandade Medieval

            A Cristandade medieval ocidental é, em certa medida, a continuadora da Cristandade antiga, a do “Império Cristão” dos séculos IV e V. No contexto medieval, acentuaram-se muito mais a situação de unanimidade e conformismo, obtida por um consenso social homogeneizador e normatizador, consenso este favorecido pela constituição progressiva de uma vasta rede paroquial e clerical. As instituições todas tendiam, pois, a apresentar um caráter sacral e oficialmente cristão. Sabemos que nela predominou, em geral, a tutela do clero. Não, todavia durante os séculos IX e X, quando a tutela dos leigos sobre as instituições eclesiais a levou à sua feudalização, o que provocou a partir do século XI, o grito dos reformadores, sobretudo eclesiásticos: libertas Ecclesiae. Ocorreu então a reforma “gregoriana”, no século XI, que operou a síntese de uma reforma na da Igreja, de uma reforma “na cabeça e nos membros”.

Fatos Históricos Importantes ocorridos no Período da Idade Média

A Distinção Gelasiana (494)

            O Bispo de Roma, o Papa Gelásio I (492-496) efetuou a distinção entre o poder temporal dos imperadores e o espiritual dos papas, considerando superior o poder destes últimos. Envia um documento ao imperador do Oriente (Anastácio). Definiu a teoria dos dois poderes: o poder temporal (poder do imperador) e o poder espiritual (poder dos bispos). Os bispos, de acordo com essa teoria, seriam superiores ao poder temporal. Estabelecido ainda que a figura do papa não poderia ser julgada por ninguém. Dizia que o papel do Pontífice era antes ouvir do que julgar.

As Heresias

            Define-se como negação ou dúvida pertinaz de uma verdade que se deve crer com fé divina e católica, por quem recebeu o batismo. Ao longo da história da Igreja vemos: O Gnosticismo (séc. II); Maniqueísmo (séc. III); Arianismo (séc. IV); Pelagianismo (séc. V); Iconoclastas (séc. VIII); Cátara e valdense (séc. XII-XIII); Protestantismo e Anglicanismo (séc. XVI); Jansenismo (séc. XVII); Modernismo (séc. XIX). O relativismo doutrinal e moral são tidos como a grande heresia atual. O rigor da Igreja no combate às heresias e cismas variou ao longo dos tempos, com períodos de grande repressão, sobretudo quando tais desvios eram cominados com penas graves pelo poder político.

Os Mosteiros

            Vemos com São Bento de Nursia (529), uma retomada e revigoramento dos mosteiros. Os ermitões (Ermo – significa deserto) atuavam sozinhos e passam a se organizar em pequenos grupos. São Bento traça uma regra, dando uma forma à vida monástica, a qual passa a ser copiada em outros mosteiros. O dia do monge é dividido em sete momentos de oração, mais o trabalho manual (penitência), produz seu alimento. “Ora et Labora”. Não é necessário buscar mosteiros distantes, mas se santificar com aqueles que convive. Deu forma ao monasticismo medieval. Ao longo da Idade Média vemos que os mosteiros preservam as escrituras sagradas, tornam-se refúgio, guardam as obras de arte e cultura...

Fragmentação do Império Romano no Ocidente

            Com as migrações germânicas e a queda do Império Romano no ocidente (476) os bispos começam a buscar a unificação. Apelam para a elite romana “Romanitas”, que passam a defender os valores cristãos. Os reis bárbaros vão se convertendo ao longo dos anos. Vemos a ação do papa Gregório I, o Magno (590-604) assinala que “todo o poder foi dado ao alto aos meus senhores para ajudar os homens a fazer o bem”. Assim os bispos e o Imperador e os reis têm a função de ajudar o bem e punir o mal. Primeiro papa monge, intitulava-se Servidor dos Servidores de Deus. Aproveitou-se da falência imperial na Itália para assumir o poder temporal. Desligou-se da influência bizantina e aproximou-se dos germânicos. Visigodos, suábios e lombardos se converteram. Agostinho foi à Inglaterra e converteu os anglo-saxões. Os escritos de Gregório Magno instruíram o clero e fortaleceram a religiosidade dos fiéis. Sua Regra Pastoral serviu de manual para os padres em toda a Idade Média.

- As Cruzadas

            Atendendo ao apelo do papa Urbano II, em 1095, foram organizadas na Europa expedições militares conhecidas como cruzadas (esses missionários assim se chamavam pela cruz de pano que levavam na veste), cujo objetivo oficial era conquistar os lugares sagrados do cristianismo (Jerusalém, por exemplo) que estavam em poder dos muçulmanos e turcos. Entretanto, além da questão religiosa, outras causas motivaram as cruzadas: a mentalidade guerreira da nobreza feudal, canalizada pela Igreja contra inimigos externos do cristianismo (os muçulmanos); e o interesse econômico de dominar importantes cidades comerciais do Oriente. Os cristãos eram estimulados pelas indulgências que lhes prometiam o perdão dos pecados e a posse do céu. De 1095 a 1270, a cristandade européia organizou oito cruzadas, tendo como bandeira promover guerra santa contra os infiéis. Era a guerra santa, justa, pois eles estavam difamando o santo sepulcro, a terra santa. Foram, ao todo, oito grandes incursões. Vemos a Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096), Primeira Cruzada (1096-1099), Segunda Cruzada (1147-1149), Terceira Cruzada (1189-1192), Quarta Cruzada (1202-1204), Cruzada Albigense, Quinta Cruzada (1217-1221), Sexta Cruzada (1228-1229), Sétima Cruzada (1248-1250), em março de 1270, o rei Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada - Oitava Cruzada (1270), a qual fracassa e ele morre em combate.

Querela das Investiduras

            A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador. No século X, o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias; nomeou seus titulares (abades leigos) e, em troca da proteção que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa. Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-se de sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa. No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de do mosteiro de Cluny (França). Esses ideais foram ganhando força dentro da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem reformista.

A Reforma Gregoriana (Século XI)

            Os papas escolhidos passam a ser de origem germânica (monges), logo os papas romanos saem de cena, pois os primeiros não teriam parte com a política local. Com isso as reformas têm inicio com esses papas de origem monástica, com amplas mudanças de cima para baixo, hierarquizada, uma reforma das instituições. Hildebrando, reformador ligado ao movimento de Cluny, tinha acesso ao papa e, sob sua influência, Nicolau II criou em 1059 o Colégio dos Cardeais, com finalidade de eleger o papa, limitado o cesaropapismo. Primeiro, há uma reforma do clero, contra os abusos existentes, das instituições (reforma da Igreja). Também havia a necessidade da mudança dos corações, dos pensamentos (reforma na Igreja). A reforma viria do papado, passaria pelos bispos, presbíteros e monges até chegar aos leigos. Esse espírito de reforma foi lento e progressivo, aos poucos, vemos os abusos sendo retirados. Em 1073, Hildebrando foi eleito papa, com o nome de Gregório VII. Instituiu totalmente o celibato dos sacerdotes, em 1074, e proibiu que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. O Imperador alemão Henrique IV reagiu dando o papa como deposto. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual do papa. O papa considerou o imperador igualmente deposto, excomungando-o, e proibindo os vassalos de lhe prestar serviço, sob pena de excomunhão. Há uma interdição (sem batismos, sem eucaristia, sem extrema unção). Henrique foi ao Castelo de Canossa em 1077 e pediu perdão ao papa, que o concedeu. Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

Hospitalários (Ordem dos)

            O ideal cavalheiresco da Idade Média levou à criação de várias instituições de apoio aos doentes internados, ordem leiga de caráter assistencialista (1113), hospital para os peregrinos que vinham feridos e cansados.

Os Templários

            Ordem fundada em França (1119) para lutar contra os infiéis. O nome veio-lhes da casa que tiveram em Jerusalém sobre as ruínas de uma mesquita (cavaleiros da Ordem doTemplo). Fazem votos dados pelo patriarca de Jerusalém. Em 1129, vê-se a implantação militar. Prestaram notáveis serviços na Terra Santa e no Sul da Europa, chegando a ter 5 províncias e 4000 membros. É oficializada em 1199. As benesses recebidas de reis e papas deram-lhes grande poder financeiro, o que levou Filipe o Belo, rei de França, a acusá-los, com a conivência da Inquisição, de crimes graves, obrigando o Papa (Clemente V) a suprimi-los. Muitos foram mortos. Os seus bens, em França, foram confiscados pelo rei; em Portugal, passaram para a Ordem de Cristo, fundada por D. Dinis.

- O Cisma do Ocidente (1378-1417)

            Resultante da coexistência de papas e antipapas foi fruto de rivalidades dentro e fora da Igreja. Não há um “cisma” de fato, pois o que se dividiu é a obediência a dois papas e não à obediência eclesial.

            Após a morte do papa Gregório XI, há um conclave com 16 cardeais e depois de muitas dificuldades elegem um italiano, Urbano VI. Ele era intransigente, rude, indelicado e os cardeais assinalam que querem rever a decisão e pedem a sua renúncia. Ele rejeita. Grande parte dos cardeais vão para Nápoles e realizam novo Conclave, elegendo Clemente VII. A Igreja passa a ter “dois papas”. Eles ficam em Avinhão (França). A obediência fica dividida, ambos governando. Estados que apoiavam Urbano VI (Escandinávia, Flandres, Inglaterra, o Imperador e a maioria dos príncipes) usam a força para destituir Clemente VII (apoiado pelos parentes do rei da França Carlos V, Escócia, Castela), como uma cruzada. Essa seria a “Via Facti”. Os reis, os prelados, os párocos, as ordens religiosas tomam partido e ajudam nessa adesão de obediências. Em 1394, morre Clemente VII e é eleito Bento XIII. Também morre Urbano VI e é eleito Gregório XII. Continuam dois papas a governar. Em 1409, os dois grupos buscam uma via conciliar para resolver a situação, com o Concílio de Pisa, destituem os dois papas e elegem Alexandre V (com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na Igreja). Os dois papas não aceitam e a igreja passa a ser governada por 3 papas. Alexandre V morre e é eleito João XXIII (nome depois cancelado e renascido somente no século XX - e já no ano seguinte tomou posse da catedra romana). Apenas em 1417, vemos uma solução: João XXIII se demite, Gregório XII abdica e Bento XIII é deposto e se isola na Catalunha, sem apoio. Martinho V (1417-1431) é eleito e traz a unicidade novamente. Retorna para Roma. Em 1439, ainda teríamos o antipapa Félix V, contudo, não avança tal fato.

A Inquisição

            Tribunal eclesiástico para averiguar e julgar os acusados de heresia. A sua instituição jurídica data de 1232 (Inquisição Medieval); pelo papa Gregório IX, para disciplinar as freqüentes práticas persecutórias da parte do povo e dos príncipes, muitas vezes sob a forma de linchamentos. A desmoralização pública era a maior pena para os hereges condenados pelos inquisidores (bispos).

            No séc. XI apareceu uma heresia fanática e revolucionária, como não houvera até então: o Catarismo (do grego katharós, puro) ou o movimento dos Albigenses (de Albi, cidade da França meridional, onde os hereges tinham seu foco principal). Em geral, a Inquisição quando condenava um herege entregava-o ao braço secular, para lhe aplicar o castigo previsto nas respectivas leis e costumes, incluindo a morte na fogueira. A Igreja aplicava a condenação espiritual, “no outro mundo”. O seu funcionamento dependia muito dos inquisidores, que eram normalmente dominicanos, alguns deles elevados às honras dos altares (como S. Pedro de Verona, morto às mãos dos Cátaros). Devem reconhecer-se, além da crueza própria dos costumes de então, verdadeiros abusos e injustiças (como a condenação dos Templários e de Sta. Joana de Arc). Ficou também célebre a condenação (sem execução) de Galileu.

            Nos séculos. XV e XVI, a Inquisição foi reorganizada para enfrentar a heresia protestante, em geral, a pedido dos príncipes católicos. Em Espanha foi autorizada em 1478, em moldes que a fazia depender muito do poder civil. Em Portugal teve acuação moderada desde o séc. XIV, mas só se tornou particularmente rigorosa com D. Manuel I e D. João III, pelas medidas discriminatórias contra judeus e cristãos-novos.

            A Inquisição é inconcebível para a atual mentalidade, mas a sua correta apreciação deve ter em conta os tempos em que vigorou, em que a heresia era sentida como perigo grave para a unidade da Igreja e do Estado, e em que as penas aplicadas eram comuns no direito corrente dos povos. A Igreja aplicava as penas espirituais (na outra vida), tais como a excomunhão. Os condenados pela inquisição eram entregues às autoridades administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças seculares. As penas aplicadas a cada caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.

            A intervenção do poder secular exerceu profunda influência no desenvolvimento da inquisição. As autoridades civis anteciparam-se na aplicação da forma física e da pena de morte aos hereges; instigaram a autoridade eclesiástica para que agisse energicamente; provocaram certos abusos motivados pela cobiça de vantagens políticas ou materiais.

            OBS.: De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Média estavam, ao menos em tese, tão unidos entre si, que lhes parecia normal recorrer um ao outro em tudo que dissesse respeito ao bem comum. Quanto a Inquisição Romana instituída no séc. XVI era herdeira das leis e da mentalidade da lnquisição medieval.

            “Em nossos tempos, o Papa João Paulo II pediu perdão repetidamente por falhas dos filhos da Igreja. É de notar que não mencionou ‘falhas da igreja’, mas ‘falhas dos filhos da Igreja’. Implicitamente retomou a distinção entre pessoa e pessoal da Igreja: pessoa seria a Igreja Esposa de Cristo, que o Senhor vivifica e à qual garante a fidelidade ao Evangelho; pessoal seriam os fiéis, que nem sempre obedece às normas da Santa Mãe Igreja. O pecado está na Igreja, mas não é da Igreja; é resquício da velha criatura dentro da novidade da criatura oriunda do Batismo e da inserção em Cristo.” (in: BETTENCOURT, E. in: Na História da Igreja luzes e sombras)


(Juberto Santos)

POR QUE A HOLANDA TAMBÉM É CHAMADA DE PAÍSES BAIXOS?


Porque mais de um quarto do país está abaixo do nível do mar. E por que não seria então País Baixo, no singular? É que a Holanda é dividida em 12 províncias, que seriam os tais países, no plural. Duas dessas províncias – chamadas de Holanda do Norte e do Sul – acabaram virando sinônimo de toda a região em alguns idiomas, como o português e o espanhol.



“Isso aconteceu porque essas duas províncias dominaram por muito tempo a história do país. Lá ficam os grandes portos e os navios que viajavam para o exterior carregavam consigo o nome da região”, diz o holandês Martinus Feliz Mertens, assessor da Embaixada dos Países Baixos no Brasil. Mais curioso que a confusão a respeito dessas terminologias é a luta dos holandeses contra a ingrata geografia do país. Até o século 14, parte do que é hoje a Holanda estava submersa.


A introdução dos moinhos de vento, símbolo do país, trouxe a tecnologia necessária para drenar enormes áreas alagadas – as grandes pás captavam a energia do vento e com ela acionavam bombas de sucção. Isso, aliado à construção de diques, permitiu o aumento do território habitável. Em janeiro de 1953, os diques que protegiam o sudoeste dos Países Baixos se romperam após uma violenta tempestade, combinada com marés altas. Cerca de 150 mil hectares de terra foram inundados e 1 800 pessoas morreram. O país então desenvolveu o Plano Delta, que reforçou e aumentou diques, além de construir barragens para proteger a Holanda da baixa altitude em relação ao mar.

Fonte: 


PARA O "MOVIMENTO ESCOLA SEM PARTIDO" DE EINSTEIN



         O problema que os intelectuais desse país têm de enfrentar parece muito grave. Os políticos reacionários, agitando o espectro de um perigo externo, conseguiram sensibilizar a opinião pública contra todas as atividades dos intelectuais. Graças a este primeiro sucesso, tentam agora proibir a liberdade de ensino e expulsar de seu posto os recalcitrantes. Isto se chama aniquilar alguém pela fome.
         Que deve fazer a minoria intelectual contra este mal?
         Só vejo uma única saída possível: a revolucionária, da desobediência, a da recusa a colaborar, a de Ghandi. Cada intelectual, citado diante de uma comissão, deveria negar-se a responder. O que equivaleria a estar pronto a deixar-se prender, a deixar-se arruinar financeiramente, em resumo, a sacrificar seus interesses pessoais pelos interesses culturais do país.
         A recusa não deveria fundar-se sobre o artifício bem conhecido de objeção de consciência. Mas um cidadão irrepreensível não aceita submeter-se a uma tal inquisição, em total infração do espírito da constituição. E se alguns intelectuais se manifestarem, bastante corajosos para escolher este caminho heroico, eles triunfarão. A não ser assim, os intelectuais deste país não merecem coisa melhor do que a escravidão que lhes está prometida.


(EISTEIN, A. Como Vejo o Mundo, Editora Nova Fronteita, 6.ªed, 1981, pp. 28 e 29)

ALBERT EISTEIN: COMO VEJO O MUNDO. UM LIVRO MUITO INTERESSANTE!



MESTRES E ALUNOS


            É tarefa essencial do professor despertar a alegria de trabalhar e de conhecer. Caros meninos, como estou feliz por vê-los hoje diante de mim, juventude alegre de um país ensolarado e fecundo.

            Pensem que todas as maravilhas, objetos de seus estudos, são obra de muitas gerações, uma obra coletiva que exige de todos um esforço entusiasta e um labor difícil e impreterível. Tudo isto, nas mãos de vocês, se torna uma herança. Vocês a recebem, respeitam-na, aumentam-na e, mais tarde, irão transmiti-la fielmente à sua descendência. Deste modo somos mortais imortais, porque criamos juntos obras que nos sobrevivem.

            Se refletirem seriamente sobre isto, encontrarão um sentido para a vida e para seu progresso. E o julgamento que fizerem sobre os outros homens e as outras épocas será mais verdadeiro.


QUAL O SENTIDO DA VIDA?

            Tem um sentido minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso. Mas, “fazer tais perguntas tem sentido?” Respondo: “Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”.

 

(Textos extraídos do Livro Como Vejo o Mundo de Albert Einstein, editora Nova Fronteira – 1981)

A INQUISIÇÃO: VIOLÊNCIA EM NOME DA FÉ!



            Inquisição, ou Santa Inquisição foi uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média para condenar todos os hereges que eram aqueles que se colocavam contra os dogmas pregados pela Igreja Católica.

            Fundado pelo Papa Gregório IX, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição mandou para a fogueira milhares de pessoas que eram consideradas hereges (praticante de heresias; doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido pela Igreja Católica) por praticarem atos considerados bruxaria, heresia ou simplesmente por serem praticantes de outra religião que não o catolicismo.

            A verdade é que embora o apogeu da Inquisição tenha se dado no século XVIII, as perseguições aos hereges pelos católicos, têm registros bem mais antigos. No século XII os “albigenses” foram massacrados a mando do Papa Inocêncio III que liderou uma cruzada contra aqueles que eram considerados os “hereges do sul da França” por pregarem a volta da Igreja às suas origens e a rejeição a opulência da Igreja da época.

            Em 1252, a situação que já era ruim, piora. O Papa Inocêncio IV publica um documento, o “Ad Exstirpanda”, onde autoriza o uso da tortura como forma de conseguir a conversão. O documento é renovado pelos papas seguintes reforçando o poder da Igreja e a perseguição.

            A Inquisição tomou tamanha força que mesmo os soberanos e os nobres temiam a perseguição pelo Tribunal e, por isso, eram obrigados a ser condizentes. Até porque, naquela época, o poder da Igreja estava intimamente ligado ao do estado.

            Mais terrível que qualquer episódio da história humana até então, a Inquisição enterrou a Europa sob um milênio de trevas deixando um saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições que eram condenadas pelos chamados “autos de fé” – ocasião em que é lida a sentença em praça pública.

            Galileu Galilei foi um exemplo bastante famoso da insanidade cristã na Idade Média: ele foi perseguido por afirmar através de suas teorias que a terra girava em torno do sol e não o contrário. Mas, para ele o episódio não teve mais implicações. Já outros como Giordano Bruno, o pai da filosofia moderna, e Joana D’Arc, que afirmava ser uma enviada de Deus para libertar a França e utilizava roupas masculinas, foram mortos pelo Tribunal do Santo Ofício.


            Uma lista de livros proibidos foi publicada, o ”Index Librorum Prohibitorum” através da qual diversos livros foram queimados ou proibidos pela Igreja.

            O Tribunal era bastante rigoroso quanto à condenação. O réu não tinha direito à saber o porquê e nem por quem havia sido condenado, não tinha direito a defesa e bastavam apenas duas testemunhas como prova.

            O pior período da Inquisição foi durante a chamada Inquisição Espanhola (Século XV ao Século XIX). De caráter político, alguns historiadores afirmam que a Inquisição Espanhola foi uma forma que Fernando de Aragão encontrou de perseguir seus opositores, conseguir o poder total sobre os reinos de Castela e Aragão (Espanha) e ainda expulsar os judeus e muçulmanos.


O QUE QUEREM OS ANARQUISTAS SEGUNDO ERRICO MALATESTA



          Nós Anarquistas acreditamos que todos os males da sociedade derivam da luta entre os homens, da busca do bem-estar que cada um realiza por sua própria conta e contra todos, queremos corrigir esta situação, substituindo o ódio pelo amor, a competição pela solidariedade, a busca individual do próprio bem-estar pela cooperação fraternal para o bem estar de todos, a opressão e a imposição pela liberdade, a mentira religiosa e pseudo-científica pela verdade.
          Portanto propomos:
Abolição da propriedade privada da terra, das matérias-primas e dos instrumentos de trabalho - para que ninguém disponha de meios de viver pela exploração do trabalho alheio -, e que todos, assegurados dos meios de produzir e de viver, sejam verdadeiramente independentes e possam associar-se livremente com os demais, por um interesse comum e conforme as simpatias pessoais.
Abolição do governo e de todo poder que faça a lei para impô-la aos outros: portanto, abolição das monarquias, repúblicas, parlamentos, exércitos, polícias, magistraturas e toda instituição que possua meios coercitivos.

  • Organização da vida social por meio das associações livres e das federações de produtores e consumidores, criadas e modificadas segundo a vontade dos membros, guiadas pela ciência e pela experiência, livre de toda obrigação que não emane das necessidades naturais, às quais todos se submetem voluntariamente, quando reconhecem seu caráter inelutável.
  • Garantia dos meios de vida, de desenvolvimento, de bem-estar às crianças e a todos aqueles que são incapazes de suprir suas próprias necessidades.
  • Guerra às religiões e todas as mentiras, ainda que elas se ocultem sob o manto da ciência. Instrução científica para todos, até os níveis mais elevados.
  • Guerra às rivalidades e aos preconceitos patrióticos. Abolição das fronteiras e fraternidade entre todos os povos.
  • Reconstrução da família, de tal forma que ela resulte da prática do amor, liberto de todo laço legal, de toda opressão econômica ou física, de todo preconceito religioso.
Queremos abolir radicalmente a dominação e a exploração do homem pelo homem; queremos que os homens, irmanados por uma solidariedade consciente e desejada, cooperem todos de maneira voluntária para o bem-estar de todos; queremos que a sociedade constitua-se com o objetivo de proporcionar a todos os seres humanos os meios necessários para que alcancem o máximo bem-estar possível, o máximo desenvolvimento moral e material possível; queremos pão, liberdade, amor e ciência para todos.



(Errico Malatesta - ativista anarquista italiano influenciado por Bakunin e Carlos Cafiero, auxiliou Kropotkin a publicar La Revolté. Em 1885 exilou-se na Argentina. Sob o regime de Mussoline na Itália  foi mantido em prisão domiciliar, morrendo em 22 de julho de 1932)


terça-feira, 16 de maio de 2017

CÁTAROS: HEREGES GRAÇAS A DEUS



            Eles queimaram na fogueira porque repudiaram a Igreja, desafiaram o papa e fundaram um catolicismo alternativo em plena Idade Média.

            O povo de Languedoc, no sul da França, é conhecido por ser do contra e orgulhoso de sua terra. Os habitantes daquela região se gabam de ter as videiras mais antigas do país, plantadas pelos romanos. Também empinam o nariz para o futebol, esporte mais popular entre os franceses. Lá, o que se joga é rúgbi. Essa vocação para a dissidência vem de longe. Seu ápice ocorreu no século 11, quando cidadãos de Languedoc repudiaram a Igreja Católica – por eles chamada de Igreja dos Lobos – e fundaram um cristianismo alternativo: o catarismo.

            Os cátaros formaram a sociedade secreta mais “popular” da Idade Média. Alguém falou em heresia? Para esses cristãos, herege era o papa. “Eles se julgavam herdeiros dos apóstolos e foram condenados por isso”, escreve Mark Gregory Pegg em The Corruption of Angels (“A Corrupção dos Anjos”, inédito no Brasil), que narra a trajetória da seita.

BONS HOMENS

            história dos cátaros teve um início obscuro. Em 1022, dois monges que nada tinham a ver com o movimento foram queimados vivos, acusados de adorar o Diabo. O bispo do condado de Toulouse, o maior da região de Languedoc, condenou a execução. Secretamente, ele e outros membros da Igreja já vinham discutindo idéias pouco ortodoxas aos olhos do catolicismo. Acreditavam num Deus que era puro espírito. E que a criação era obra maléfica, não divina.

            No século 12, 4 paróquias de Languedoc abandonaram formalmente o credo católico, abraçando as novas idéias: Toulouse, Carcassone, Albi e Agen. Por causa das duas últimas, o movimento acabou sendo chamado também de albigense. A palavra “cátaro”, porém, só entrou para o vocabulário medieval por volta de 1160, graças a um pregador católico da Renânia chamado Eckbert de Schönau – emérito detrator da seita. Segundo uma de várias versões, o termo viria do grego katharoi, que significaria “os puros”. A história mais aceita, contudo, é bem menos lisonjeira. Segundo Alain de Lille, um teólogo francês do século 13, sua origem estaria na palavra catus (“gato” em latim), pois os seguidores da seita “faziam coisas ignóbeis em suas reuniões, como beijar o traseiro de gatos”.

            Os novos fiéis estavam se lixando. Eles se autodenominavam bons hommes e bonnes femmes (“bons homens” e “boas mulheres”). E repudiavam o termo “cátaro”. Os padres se vestiam com hábitos negros. Rejeitavam o dogma da Santíssima Trindade e também os sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o matrimônio. E viam com naturalidade o sexo fora do casamento. “Se a castidade não pudesse ser priorizada, era melhor manter encontros casuais do que regularizar oficialmente o mal”, diz a historiadora Maria Nazareth de Barros, autora de Deus Reconhecerá os Seus: A História Secreta dos Cátaros. A nova crença também arregimentou adeptos na Catalunha, na Alemanha, na Inglaterra e na Itália.

FOGO DIVINO

            Roma tentou conter o catarismo na base da conversa até meados do século 12. Quando o papa Inocêncio 3º assumiu, em 1198, a atitude da Igreja endureceu. Inocêncio suspendeu diversos bispos do sul da França. Em 1208, o representante eclesiástico Pierre de Castelnau excomungou um nobre de Toulouse. Em represália, foi assassinado.

            O incidente foi a gota d’água. No mesmo ano, o Vaticano autorizou uma guerra santa contra Languedoc – a primeira e última cruzada contra cristãos da história. No cerco a Béziers, em julho de 1209, 7 mil fiéis foram chacinados, entre eles mulheres e crianças. Em 1244, 200 cátaros foram queimados vivos numa grande fogueira nas redondezas da fortaleza de Montségur. A tortura era generalizada. O interrogador católico Guilhem Sais, certa vez, afogou uma mulher cátara num barril de vinho, pois ela não queria confessar seus supostos pecados.

            A Igreja precisou de décadas, mas conseguiu varrer os cátaros da face da terra. No coração dos habitantes de Languedoc, porém, a seita sobreviveu. O povo daquela região é do contra, lembra? Até hoje, em cidades como Montpellier e Toulouse, os revoltosos viraram até nome de rua: des Heretiques (dos Heréticos) na primeira e des Cathares (dos Cátaros) na segunda. Custou a vida de muitos, mas eles conseguiram sua revanche contra o papado. “Se existe uma coisa que os cátaros nos ensinaram”, diz Pegg, “é que as fronteiras da heresia são móveis, e que devemos ousar alargá-las.”

(Álvaro Oppermann – Revista Super Interessante)

JAN VAN EICK, JÁ VIU AS OBRAS MAS NÃO SABIA QUE ERA DELE, NÃO É VERDADE?

Jan van Eyck, Portrait of a Man (Self Portrait?), 1433. National Gallery, London

Jan van Eyck 

(Maaseik?,Holanda c. 1390 — Bruges, 1441) foi um pintor flamengo do século XV, irmão de Hubert van Eyck e pupilo de Robert Campin. Foi também o fundador de um estilo pictórico do estilo gótico tardio, influenciando em muito o Renascimento nórdico. Como tal, é visto como o mais célebre dos primitivos flamengos.



Teve como bases para a sua carreira artística os escultores Klaus Sluter e Broedeldam, duas distintas personagens da arte flamenga.

Foi um pintor igualmente caracterizado pelo naturalismo, imperando na sua obra meticulosos pormenores e vivas cores, além de uma extrema precisão nas texturas e na busca por novos sistemas de representação da tridimensionalidade, ou seja, a perspectiva.

Van Eyck, porém, não recorria com tanta frequência à perspectiva, pintando, desta feita, a madeira em que concebia os seus quadros de branco, o que concedia à pintura um excepcional brilho e um ligeiro efeito de profundidade. A ressequida madeira era também polida. Tal diz-nos que o artista era muito inovador e até um pouco atrevido.


É concedida, muitas vezes, a van Eyck a criação da pintura a óleo. Todavia, esta já era relativamente conhecida e utilizada na Flandres do século XIV. Realmente, o que o artista criou foi a tinta a óleo com secagem rápida (hoje em dia esta é, obviamente, mais rápida).

Foi, em 1425, nomeado pelo Duque de Borgonha que veio a se casar com Infanta de Portugal D. Isabel, pintor da corte da Flandres, cargo que conservou até à sua morte.

A relação que mantinha com o duque era de tal importância, que este encarregou-o mesmo com alguns cargos e missões diplomáticas, sobretudo em Espanha, Portugal e Itália.


A sua visita a estes países explica muitas das mudanças e inovações na arte, sofridas sobretudo em Portugal e na Itália. Nesta última, por exemplo, explica-se a grande influência dos primitivos flamengos com as ditas viagens de van Eyck ao país. Note-se, entre outros, a obra de Melozzo da Forlì.


Em Portugal, um país sempre conservador e que "franzia o olho" às novas tendências, toda aquela arte gótica que ainda imperava no país, foi convidada a desaparecer. Esta radical mudança eventualmente pode ser visível nos famosos Painéis de São Vicente de Fora, pertencentes, hoje, ao acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

É de relevo, na obra de van Eyck, a influência da pintura helenística. O artista costumava conceder profundidade e diversas sombras, mesmo nas zonas onde mais incidia a luz. Tal facto, pode ser considerado como uma iniciação ao realismo.


Por outro lado, é interessante uma constante elementar, mas de profundo vigor, em quase toda a obra do artista flamengo: as figuras humanas aparecem representadas como se um monumento fossem. Note-se o quadro O Casal Arnolfini, em que, tanto Giovanna Arnolfini como o esposo, Giovanni Nicolao, são representados com recorrência a uma certa "monumentalidade".


Entre seus herdeiros diretos podemos mencionar Rogier van der Weyden, Hugo van der Goes, Petrus Christus, Konrad Witz, Hans Memling, Martin Schongauer e Mabuse.Para levar a termo sua intenção de espelhar a realidade em todos os pormenores, Jan Van Eyck teve que aperfeiçoar a técnica pictórica. Foi ele o inventor da pintura a óleo. Existe muita discussão em torno do significado exato e da veracidade dessa asserção, mas os detalhes importam comparativamente pouco. A descoberta dele foi algo como a da perspectiva, que constituiu um evento inteiramente novo. O que ele realizou foi uma receita para a preparação de tintas, antes delas serem espalhadas no papel. Os pintores daquela época não compravam cores prontas em tubos ou outros recipientes. Tinham que preparar seus próprios pigmentos, sobretudo extraídos de plantas e minerais. Depois os pulverizavam, triturando-os entre duas pedras – ou mandando seus aprendizes triturarem-nos –, e antes de os usarem, adicionavam algum líquido aos pigmentos, a fim de converterem o pó numa espécie de pasta. Havia diversos métodos para fazer isso, mas durante a Idade Média o principal ingrediente do líquido era obtido do ovo, o que era muito adequado, salvo pelo inconveniente de secar muito depressa. Esta técnica é conhecida como têmpera. Aparentemente não muito satisfeito com esta fórmula, pois não permitia realizar transições suaves em que as tonalidades cromáticas se transformassem gradualmente de uma para outra. Usando óleo ao invés do ovo, Jan Van Eyck podia trabalhar muito mais devagar e com maior exatidão. Podia fazer cores lustrosas, suscetíveis de serem aplicadas em camadas transparentes ou "vidradas"; podia adicionar cintilantes detalhes em relevo com um pincel de ponta fina, e realizar todos os milagres de precisão e minúcia que espantaram seus contemporâneos e cedo levaram à aceitação geral do óleo como o veículo pictórico mais adequado.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

SHAKESPEARE: MANUAL DE INSTRUÇÃO DE COMO SE VIVER





Para entender a Alma


"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar a alma.
    E, você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança. E, começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
    Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficares exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam.
    E, aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la... e que você pode fazer coisas num instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.
    Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que os bons amigos são famílias que nos permitiram escolher.
    Aprende que não temos que mudar os amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso sempre devemos deixar aqueles que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
    Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto.
    Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
    Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois ou mais lados.
    Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
    Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que a chute quando cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar. 
   Aprende que maturidade tem a ver mais com os tipos de experiências que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.
    Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. E que também que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
    Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
    Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém , algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo.
    Aprende que com a mesma severidade que julga, serás em um momento condenado.
    Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não pára pra que você o conserte.
    Aprende que o tempo não é algo que possa voltar pra trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
    E, você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e quer ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E, que realmente a vida tem um grande valor e que você tem um grande valor diante da vida." 



ENEM: UM LIVRO PARA SE ESTUDAR O ESCRAVISMO GRECO-ROMANO



                Provavelmente no ENEN deverá haver alguma atividade sobre a Antiguidade, porém é mais comum que o assunto seja sobre Antiguidade Clássica, ou seja, sobre Grécia e Roma.
Por isso estou deixando aqui um livro do Funari, sobre essas duas civilizações. Lembrando-se que as mesmas estavam produzindo dentro do que, alguns historiadores, chamam de modo de produção escravista.
                Bons estudos:


https://geopraxis.files.wordpress.com/2016/03/livro-grc3a9cia-e-roma.pdf



segunda-feira, 15 de maio de 2017

SÃO FRANCISCO E O SEU IRMÃOZINHO LOBO


Gúbio, uma cidade na Úmbria, estava tomada de grande medo.

Na floresta da região vivia um grande lobo, terrível e feroz, o qual não somente devorava os animais como os homens, de modo que todos do povoado estavam apavorados! Por isso, cercaram a cidade com altas muralhas e reforçaram as portas. E todos andavam armados quando saíam da cidade, como se fossem para um combate.

Certa vez, quando Francisco chegou àquela cidade, estranhou muito o medo do povo.

Percebeu que a culpa não podia ser unicamente do lobo. Havia no fundo dos corações outra causa que era tão destrutiva como parecia ser a causa do lobo.

Logo, Francisco ofereceu-se para ajudar. Resolveu sair ao encontro do lobo, sozinho e desarmado, mas cheio de simpatia e benevolência pelo animal, e, como dizia às pessoas, na força da Cruz.

O perigoso lobo, de fato, foi ao encontro de Francisco, raivoso e de boca aberta pronto para devorá-lo, mas quando o lobo percebeu as boas intenções de Francisco e ouviu como este se dirigia a ele como a um irmão, cessou de correr e ficou muito surpreendido.

Francisco de Assis anulou a violência que havia no irmãozinho lobo. De olhos arregalados, viu que esse homem o olhava com bondade. Francisco então falou para o lobo:

- Irmãozinho lobo, quero somente conversar com você, meu irmão ... E caso você esteja me entendendo, levante, por favor, a sua patinha para mim!

O irmãozinho lobo, então, perante tão forte vibração de amor e carinho, perdeu toda a sua maldade. Levantou confiante a pata da frente, e calmamente a pôs na mão aberta de Francisco.

Então, Francisco disse-lhe amorosamente:

- Querido irmãozinho lobo, vou fazer um trato com você! De hoje em diante, vou cuidar de você meu irmão! Você vai morar em minha casa, vou lhe dar comida e você irá sempre me acompanhar e seremos sempre amigos! Você por sua vez, também será amigo de todas as pessoas desta cidade, pois de agora em diante você terá uma casa, comida e carinho, sendo assim, não precisará mais matar nem agredir ninguém, para sobreviver... Com a promessa de nunca mais lesar nem homem nem animal, foi o lobo com Francisco até a cidade.

Também o povo da cidade abandonou sua raiva e começou a chamar o lobo de irmão. Prometeu dar-lhe cada dia o alimento necessário. Finalmente, o irmão lobo morreu de velhice, pelo que, todos da cidade tiveram grande pesar.

Ainda hoje se mostra, em Gúbio, um sarcófago feito de pedra, no qual os ossos do lobo estão depositados e guardados com grande carinho e respeito durante séculos.

A história do lobo de Gúbio chama-nos, sem dúvida, à reflexão.

Quantas vezes deparamo-nos com irmãozinhos um tanto agressivos, nervosos, impacientes, chegando mesmo a nos agredir com palavras ásperas, levando-nos às decepções e amarguras... Quantas vezes!

Se pararmos para pensar e refletir, talvez cheguemos à triste conclusão, de que esteja ocorrendo, com eles, o mesmo acontecido com o lobo de Gúbio...

Ele, o lobo, acusado, com fome, sem receber compreensão e carinho, respondia também da mesma forma, com medo, ódio e agressividade.

Quando se encontrou frente a frente com o Amor e a Paz, defendidas por Jesus em Seu Evangelho, e personificada, vivida e exemplificada por Francisco de Assis, o lobo não teve outra reação senão a de recuar em suas agressões e respondeu também com carinho e compreensão, passando de inimigo a companheiro e amigo de todos.

Assim acontece em nossas vidas!

Se oferecermos aos nossos semelhantes azedumes, palavras de pessimismo, rancor, ódio e intolerância, receberão indubitavelmente, na mesma dose, tudo aquilo que semearmos...

Pois como dizia São Francisco:

"-é dando que recebemos...".

“Lenda retirada do livro “I Fioretti”, preciosa obra da primitiva literatura italiana, com lendas relativas a São Francisco de Assis”.

Na cidade de Gúbbio, até hoje, existe um sarcófago feito de pedra com os ossos do lobo.

Veja também:

ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

Quando falamos em escavar o solo em busca de vestígios do passado, muitas pessoas imediatamente pensam em fósseis de dinossauros e utensílio...

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