Universidade das Ruas
Quando terminou a oitava série,
Malcolm foi morar em Boston na casa de sua meia irmã Ella. Fez amizade com
Shorty, esticou os cabelos, passou a beber, fumar, cigarros, baseados, jogar
cartas, jogo dos números e aprendeu a dançar muito bem. Sua melhor parceira era
Laura, uma singela negra que morava com a avó e sonhava forma-se na
universidade. Ele a namorou, levou-a aos bailes, numa destas festas, trocou-a por
uma mulher branca, uma mulher loura, a namorada negra chamada Sophia. Laura, no futuro próximo,
cairia na prostituição. Malcolm confessou: “Umas das vergonhas que tenho
carregado é o destino de Laura..., tê-la tratado da maneira como tratei por
causa de uma mulher branca foi um golpe forte demais”.
Malcolm entre outros
empregos, a exemplo de engraxate, trabalhou na ferrovia, depois resolveu se
mudar para o Harlem. Alugou um apartamento onde várias das inquilinas eram
prostitutas. Sophia ia de Boston para o Harlem visitá-lo. Algum tempo depois,
casou-se e manteve-o como amante. No Harlem, Malcolm também morou na casa de
Sammy, um amigo cafetão, e entrou para a “vida do crime”, tornou-se traficante.
Aproveitou o bilhete que ganhou, quando trabalhou na ferrovia, e foi traficar
nos trens. Estava cada dia mais difícil vender nas ruas, a polícia estava
“fechando o cerco”, os artistas que conhecia – seus clientes – adoraram a ideia.
Naquele tempo, temia três coisas: cadeia, emprego e o exército.
Fingiu-se de louco para se livrar do serviço militar. Depois do término das
viagens traficando, perdeu a conta dos golpes que deu no Harlem. Não podia mais
vender maconha, a polícia já o conhecia.
Passou a praticar seus primeiros
assaltos, e se preparava para esses trabalhos com drogas mais fortes. Era
viciado no jogo dos números, quando ganhava, convidava Sophia para passar
alguns dias em Nova
York. Sua vida marginal levou-o a se meter em tantas
encrencas no Harlem que acabou ficando num “beco sem saída”, estava “jurado de
morte”. Sammy ligou para seu velho amigo Shorty vir buscá-lo, levá-lo de volta
para Boston. Em Boston, foi morar com Shorty em seu apartamento.
Quase todos os
dias assim que o amigo saia para trabalhar, como saxofonista, Sophia
encontrava-se com Malcolm, e ele arrancava-lhe todo o dinheiro. O marido de
Sophia havia arrumado emprego de vendedor, e viajava constantemente. Para sair
da inatividade Malcolm propôs a Shorty que assaltassem casas. Formaram um grupo
com a participação de Rudy, amigo de Shorty, Sophia e sua irmã. Sophia havia
apresentado sua irmã para Shorty e os dois passaram a namorar. O primeiro
trabalho foi um sucesso, e depois vieram outros e outros. “Todo ladrão espera o
dia em que será apanhado”. Chegou o dia inevitável de Malcolm, Shorty e Sophia
e sua irmã, somente Rudy conseguiu escapar. As duas mulheres tiveram penas
reduzidas, pegaram de um a cinco anos. Malcolm disse: “Apesar de serem ladras
eram brancas”. Quanto aos dois negros, seu próprio advogado de defesa
confessou: “Vocês não deviam ter se metido com mulheres brancas”. Shorty pegou
de oito a dez anos, e Malcolm onze anos.
A Importância da Leitura
Na prisão por causa de sua
atitude rebelde e anti-religiosa, Malcolm ficou conhecido como Satã. Reginald
escreveu-lhe uma carta dizendo que descobrira a verdadeira religião do homem
preto. Ele pertencia a Nação do Islã, Malcolm respondeu a carta com palavrões.
Recebeu outra, escrito: “Não coma carne de porco e pare de fumar que eu lhe
mostrarei como sair da prisão”. Estas palavras ficaram em sua cabeça. Reginald
sabia como funcionava a mente marginal do irmão, havia passado uma temporada
com ele no Harlem. Quando foi visitá-lo Malcolm estava ansioso para saber como
não comendo carne de porco livrar-se-ia da prisão. Afinal qual golpe havia
tramado, e passou a ouvir Reginald falar sobre Elijah Muhammad. Seu irmão
contou que: Alá viera para a América e se apresentou a um homem chamado Elijah
– um homem preto – afirmando que o homem branco é o demônio. A mente de
Malcolm, involuntariamente, recordou todos os homens brancos que conheceu. Ao
ir embora Reginald deixou seu irmão pensando, com seus primeiros pensamentos
sérios. Malcolm pensou nos brancos que tinham internado sua mãe, os que tinham
matado seu pai, os brancos que haviam destruído sua família, em seu professor
branco que assegurou que: “é absurda a idéia um negro pensar em ser advogado”.
Apesar de suas notas altas, Malcolm deveria ambicionar ser carpinteiro. Quando
Reginald voltou, viu o efeito que suas palavras haviam provocado em seu irmão,
e falou mais sobre o demônio que é o homem branco. Seus outros irmãos também
passaram a escrever, a falar sobre o honrado Elijah Muhammad. Todos
recomendaram seus ensinamentos que classificavam como o verdadeiro conhecimento
do homem preto. Malcolm titubeou, no entanto, acabou se convertendo ao islã,
tornou-se muçulmano negro.
Mesquita no Harlem, Nova Iorque, NY, EUA |
Elogio e Traição
Malcolm fundou um jornal chamado
“Muhammad Fala” que levou revistas mensais a darem reportagens de capa sobre os
muçulmanos negros. Não demorou muito para que Malcolm fosse convidado para
participar de mesas redondas de rádio, televisão e universidades, entre elas
Havard, para defender a Nação do Islã, enfrentando intelectuais negros e
brancos. Elijah Muhammad disse para Malcolm: “Quero que você se torne muito
conhecido, pois você se tornando conhecido, também me tornará conhecido”.
Malcolm tornou-se realmente conhecido, tornou-se uma personalidade
estadunidense que muitas vezes chamou a atenção do cenário mundial, mais do que
Martin Luther King e o presidente John F. Kennedy.
O seu destaque gerou ciúmes no próprio Elijah que não possuía a coragem e perspicácia de Malcolm para discutir, por exemplo, com professores universitários. A intensa exposição e repercussão da figura de Malcolm X contribuíram para alimentar entre os enciumados muçulmanos negros o boato que ele tentaria tomar o controle da Nação do Islã. Duas antigas secretárias de Muhammad entraram com processo de paternidade. Malcolm ao conversar com elas descobriu que enquanto Elijah Muhammad o elogiava pela frente, tentava destruí-lo pelas costas, e aguardava o momento oportuno para afastá-lo. A morte de John Kennedy e a declaração polêmica de Malcolm a respeito foi o ensejo. Ele que tanto se dedicou e com certeza foi uns dos principais (senão o principal responsável) pelo crescimento da Nação do Islã, foi afastado. Malcolm em seu trabalho árduo, praticamente, não adquiriu bens materiais. Bens que poderiam gerar algum conforto à sua família, no caso de sua falta, porém sempre acreditou que se alguma fatalidade lhe ocorresse, os muçulmanos negros cuidariam de sua família. Malcolm ficou sabendo do seu banimento através da imprensa. Sofreu humilhações públicas com manchetes como: “Malcolm silenciado”. Os muçulmanos negros também conspiraram para que ele fosse considerado traidor, a punição para a traição é o ostracismo e a morte. A ironia é que Malcolm sempre foi leal, ele falava em nome de Muhammad, renunciava a própria personalidade em favor de Elijah Muhammad.
Viagem à Meca
Patrocinado por Ella, Malcolm
viajou para Meca com o objetivo de conhecer melhor o islã. Agora admitia que
Elijah Muhammad havia deturpado esta religião nos Estados Unidos. Ao voltar de
sua viagem, estava para iniciar uma nova fase em sua vida. Ele que teve tantas
reviravoltas em sua agitada história. Em uma entrevista coletiva,
perguntaram-lhe: “Você ainda acredita que os brancos são demônios?” E ele
respondeu: “Os brancos são seres humanos na medida que isto for confirmado em
suas atitudes em relação aos negros”.
Movido por suas novas idéias,
Malcolm fundou a Organização da Unidade Afro-Americana: Grupo não religioso e
não sectário – criado para unir os afro-americanos –, contudo, em 21 de
fevereiro de 1965, na sede de sua organização, Malcolm recebeu 16 tiros calibre
38 e 45, a
maioria deles atingiu o coração. Malcolm foi assassinado – com apenas 39 anos –
em frente de sua esposa Betty, que estava grávida, e de suas quatro filhas.
Escreveu MS Handler: “Balas fatais acabaram com a carreira de Malcolm X antes
que ele tivesse tempo para desenvolver suas novas idéias”.
Debate em programa de TV
Durante um programa de grande
audiência de uma rede de TV Estadunidense, Malcolm X foi questionado pelo
professor universitário afro-americano Dr.Payson.
Dr.Payson: - Por que ensina a supremacia
negra ? Por que ensina o ódio ?
Malcolm X: - Um branco pergunta ao negro porque o
odeio, é como o estuprador perguntar à violada: “Você me odeia?”. O Branco não
está em posição moral para acusar o negro de nada.
Dr.Payson: - Mas é um negro que te faz a pergunta.
Malcolm X: - Quem chamaria você de negro com
diploma de formação superior ? E o que os brancos te chamam. É preciso
entender o raciocínio, e para isso, é necessário saber que, historicamente,
havia duas espécies de escravos: o negro da casa e o do campo. O negro da casa
vivia junto do senhor, na senzala ou no sótão da casa grande. Vestia-se, comia
bem e amava o senhor. Amava mais o senhor que o senhor o amava a ele. Se o
senhor dizia: “Temos uma bela casa”. Ele respondia: “Pois temos”. Se a casa
pegasse fogo, o negro da casa corria para apagar o fogo. Se o senhor adoecesse,
dizia “estamos doentes”. Se um escravo do campo lhe dissesse: “ vamos fugir
desse senhor”, ele respondia: “existe uma coisa melhor do que o que temos
aqui?”. “Não saio daqui.” O chamávamos de negro da casa. É o que lhe chamamos
agora, porque ainda há muitos pretos de casa.
Importância
histórica de Malcolm X
Malcolm X conduziu uma parte do
movimento negro nas década de 50 e 60 à três pontos fundamentais: 1) O
islamismo, 2) a violência como método para auto-defesa e 3) o socialismo. Apesar
da religião ter sido a porta de entrada para Malcolm X perceber todos os
problemas sociais enfrentados pelos negros, pouco a pouco, ele percebeu a
questão do negro não era uma questão apenas de carácter teológico, mas sim, uma
questão política, econômica e civil. Foi a partir daí que os meios de
comunicação exploraram suas declarações mais ácidas. Malcolm percebeu que a
violência não era uma forma de barbárie, mas um meio legítimo de conquistas,
pois todas as mudanças históricas se deram de maneira violenta. A violência
proposta era, portanto, uma metodologia de transformação e não uma barbárie
gratuita. O socialismo de Malcolm foi consequência da evolução de seu
pensamento, após ser traído por membros da Mesquita Templo Número Dois,
gradativamente ele percebeu que a questão do negro passava pela estrutura do
capitalismo.
Desta nova forma de pensar surgiu a Organização da Unidade Afro-Americana, um grupo não religioso e não sectário, focada nos problemas sociais das minorias sociais na sociedade capitalista americana. A sua opção pela violência e pelo socialismo foi de vital importância para os rumos que os movimentos negros tomaram ao fim da década de 60, tal como os "Panteras Negras", também partidários da violência enquanto método e do socialismo enquanto ideologia política.
Desta nova forma de pensar surgiu a Organização da Unidade Afro-Americana, um grupo não religioso e não sectário, focada nos problemas sociais das minorias sociais na sociedade capitalista americana. A sua opção pela violência e pelo socialismo foi de vital importância para os rumos que os movimentos negros tomaram ao fim da década de 60, tal como os "Panteras Negras", também partidários da violência enquanto método e do socialismo enquanto ideologia política.
“They called me the angriest Negro in America.” — Malcolm X
“Eles me chamaram de o negro mais zangado da América.” - Malcolm X
Filme Malcolm X (Dublado em Português)
Disponível em: https://youtu.be/E4bMtGxZT80. Acesso em 28 de dez. 2021.
Data de lançamento: 18 de novembro de 1992 (EUA)
Bilheteria: 73 milhões USD
- SPIKE LEEDIRETOR(A), ELENCO, ROTEIRO, E PRODUTOR(A)
- ARNOLD PERLROTEIRO
- ALEX HALEYESCRITOR
- DENZEL WASHINGTONELENCO
- ANGELA BASSETTELENCO
- AL FREEMAN, JR.ELENCO
- ALBERT HALLELENCO
- DELROY LINDOELENCO
- LIZBETH MACKAYELENCO
- CHRISTOPHER PLUMMERELENCO
- LONETTE MCKEEELENCO
- AL SHARPTONELENCO
- THERESA RANDLEELENCO
- KAREN ALLENELENCO
- ROGER GUENVEUR SMITHELENCO
- ASHANTIELENCO
- ERNEST R. DICKERSONCINEMATOGRAFIA
- TERENCE BLANCHARDMÚSICA
- WYNN THOMASDESIGN DE PRODUÇÃO
- MARVIN WORTHPRODUTOR(A)
- BARRY ALEXANDER BROWNEDIÇÃO