O nudismo tradicional pode estar chegando ao fim na Alemanha,
local do nascimento do mesmo. Organizado em associações de naturistas com áreas
privativas, o movimento queixa-se hoje dos que tiram a roupa em qualquer lugar
para tomar sol.
A
sociedade muda com tanta rapidez, que o que parecia progressista tempos atrás,
em pouco tempo acaba com um certo ranço conservador. A situação não está fácil
para o movimento nudista, conhecido na Alemanha pela sigla FKK (FreiKörperKultur).
Suas associações perdem filiados, seus membros envelhecem. Ao mesmo tempo, o
liberalismo moderno tirou a nudez de praias isoladas e clubes exclusivos,
expondo-a em locais públicos - e não apenas na publicidade em outdoors.
O
resultado é um exibicionismo de pele nua, em qualquer lago natural ou
artificial, e até em muitos parques das cidades. Foram-se os tempos em que o
Englischer Garten, de Munique, era o único reduto nudista na capital da
Baviera. Ou seja, o nudismo se disseminou.
Quem
acha que os nudistas se alegrariam com isso, está completamente enganado.
"Eles só querem saber de nadar nus", diz o bávaro Walter Nussbaumer,
presidente da Associação para a Liberdade de Vida
O naturista alemão Oswalt Kolle com a família, em clube nudista nos anos 70. Kolle ficou conhecido por seus programas de tevê, prestando esclarecimentos sobre sexo. |
Ovelhas negras: os nudistas sem carteirinha
O
tom é de desprezo pelos "nudistas selvagens" de hoje, que tiram a
roupa em público e não têm carteirinha, isto é, não estão filiados a nenhuma
organização. Isso porque de trás do nudismo alemão há toda uma concepção de
vida - dizem os que o praticam. Quem se filia a uma das associações, em que a
união familiar e a prática de esportes têm grande destaque, não está fazendo
nada proibido ou condenável socialmente.
"A
nudez é expressão de liberdade. Nus, somos iguais entre iguais", diz
Nussbaumer, acrescentando uma vantagem desconhecida pelos brasileiros:
"Sem calções ou maiôs molhados, não pegamos nenhuma doença nos rins."
O que também nem todos os brasileiros sabem, é que fundar associações é um dos
passatempos mais comuns dos alemães.
O
representante nudista faz questão de diferenciar entre os "verdadeiros
naturistas", adeptos da livre cultura física - a tradução literal de FKK -
dos demais "peladões", que não compartem os mesmos nobres objetivos e
ainda por cima podem denegrir a imagem do movimento nudista com seu
comportamento inconveniente, uma vez que a maioria dos mortais não separa uns
de outros. "Damos grande importância à moral. E não há nada de erotismo
quando 200 pessoas pulam juntas praticando esporte", acrescenta, no que
qualquer brasileiro lhe daria razão.
E,
no entanto, o protesto denota um saudosismo dos bons velhos tempos, em que os
simples nomes dos "paraísos da FKK", como a Ilha de Sylt, no norte,
ou Pupplinger Au, às margens do Rio Isar, na Baviera, já despertavam cochichos.
Sem falar na curiosidade de estrangeiros em geral, latinos e brasileiros
especialmente, ansiosos de conhecer as praias nudistas.
Pudor, o ponto de partida
Na
Alemanha, a média de idade nas associações nudistas já supera os 50 anos. O
número de filiados está em torno de 50 mil, com tendência a diminuir. A origem
do movimento remonta ao século 19, mais precisamente a 1839, com a publicação
de um livro sobre a cultura física ao ar livre, que foi o ponto de partida para
o nudismo. Que seu autor se chamasse Heinrich Pudor pode até parecer irônico a
quem desconheça a concepção naturista. Os nazistas proibiram a FKK. Em 1949,
ressurgiu a associação Deutsche Bund für Freikörperkultur, em Kassel.
Em
um congresso, nos anos 70, seus adeptos assim definiram sua concepção de vida:
"O naturismo é uma forma de vida em harmonia com a natureza. Ele se
expressa na nudez comunitária, aliada ao respeito próprio, ao próximo, aos que
pensam diferente e ao meio ambiente." A nudez seria um "fator de
equilíbrio" nos seres humanos, ao livrá-los das tensões, que têm origem
nos tabus e provocações da sociedade.
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