História da Republica da
Índia
Em
15 de agosto de 1947, o governo britânico transferiu a soberania sobre o subcontinente indiano para os recém-formados Estados
independentes da Índia e do Paquistão (este último, na ocasião, incluía o
território que viria a tornar-se o Bangladesh).
A Índia tornou-se então um domínio independente no âmbito da Commonwealth britânica, governado pelo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru. Com a promulgação de
sua constituição, em janeiro de
1950, a Índia adotou a forma política republicana e laica, mantendo-se como membro da Commonwealth.
Os
primeiros anos do novo Estado indiano foram atribulados, com acontecimentos
como a maciça troca populacional com o Paquistão,
a Guerra Indo-Paquistanesa de 1947 e a integração de mais de 500 Estados principescos de modo a formar um país integrado.
Cerca
de 10 milhões de hindus e sics que residiam no Punjabi, na Província da Fronteira Noroeste, no Baluchistão, em Bengala Oriental e no Sind migraram para a Índia, temendo
permanecer num Paquistão muçulmano. Conflitos étnicos mataram mais de um milhão de hindus,
sics e muçulmanos e desestabilizaram ambos os países ao longo da fronteira
comum e nas cidades de Calcutá, Délhi e Lahore.
A violência extinguiu-se em setembro de 1947, graças aos esforços conjuntos de
Índia e Paquistão e à greve de fome de Mahatma
Gandhi. O assassinato deste último por um fanático hindu em janeiro de 1948 foi
um golpe sério para o país.
As
tratativas bilaterais no sentido de proteger as minorias dos dois lados da
fronteira preveniram uma guerra por motivo étnico,
mas terminaram por fracassar diante da questão da Caxemira.
O
processo de integração federal
A Índia britânica compreendia 17 províncias e algumas
centenas de Estados principescos.
As províncias foram entregues pelos britânicos quer à Índia, quer ao Paquistão,
em certos casos após serem divididas (casos do Punjabi e de Bengala).
Aos soberanos dos Estados principescos, entretanto, foi concedido o direito de
permanecer independentes ou de unir-se a um dos dois novos países. Diante da
perspectiva de herdar um território fragmentado em reinos de estilo medieval, o governo indiano, por
iniciativa de Sardar Vallabhbhai Patel (então ministro do interior), buscou
assegurar a primazia do poder central e da constituição federal que então se preparava, mesmo
que à custa da ameaça e do uso, em alguns casos, de força militar.
Neste
processo de partilha entre Paquistão e Índia, a adesão da Caxemira a este
último país tornou-se uma fonte de controvérsia que terminou por provocar a
primeira Guerra Indo-Paquistanesa,
de 1947 a 1949. Um cessar-fogo supervisionado pela ONU permitiu
à Índia manter dois-terços do território contestado.
Após
a independência, o Partido do Congresso, a que pertenciam Mahatma Gandhi e Jawaharlal
Nehru, assumiu o governo da Índia, com Nehru e, posteriormente, sua filha Indira Gandhi e seu neto Rajiv Gandhi, à frente, exceto por
dois breves intervalos nos anos
1970 e 1980. As primeiras eleições gerais
após a promulgação da constituição da Índia mantiveram o partido no poder
e conferiram a Nehru seu segundo mandato como primeiro-ministro.
A Lei de Reorganização dos
Estados, sancionada em 1956, extinguiu os estados indianos criados em 1947 e
constituiu uma nova estrutura federativa, baseada em estados formados a
partir de critérios étnicos e linguísticos. Formou-se um estado
de etnia exclusivamente tâmil, o Tâmil Nadu, a partir do antigo
estado de Madras, do qual foram retirados Kerala e as regiões
de língua télugo. Em 1960, criaram-se os estados de Maharashtra e Guzerate,
por meio da dissolução do antigo estado de Bombaim.
Política externa e conflitos armados
A política externa de
Nehru inspirou o Movimento Não-Alinhado. Em 1961, a Índia invadiu e anexou
a colônia portuguesa de Goa, na costa ocidental do subcontinente e
dando cabo do Estado Português da Índia. Em 1962, China e Índia
foram à guerra por conta de uma controvérsia de fronteira nos Himalaias,
resultando na derrota das forças indianas. Embora tenha evacuado os territórios
ocupados no nordeste, a China manteve o Aksai Chin, na Caxemira, e
reivindica da Índia o estado de Arunachal Pradesh e, até
recentemente, o Siquim.
Índia pós-Nehru
Com a morte de Nehru em 1964,
subiu ao poder Lal Bahadur Shastri. Índia e Paquistão voltaram a
enfrentar-se militarmente em 1965, devido à Caxemira.
Em 1966, Indira Gandhi assumiu
o cargo de primeira-ministra e adotou políticas de corte socialista, de
maneira a manter sua popularidade. Em 1969, uma tentativa de expulsá-la do
Congresso Nacional Indiano terminou por dividir o partido.
Em 1971, Indira e seu
Partido do Congresso venceram as eleições e nacionalizaram o setor
bancário, bem como outras medidas de cunho socialista, além de aproximar o
país da URSS. A Índia interveio na guerra civil então em
andamento no Paquistão Oriental, após a fuga de milhares de refugiados da
perseguição do exército paquistanês. O conflito - a terceira guerra
indo-paquistanesa - resultou na independência do Paquistão Oriental, com o
nome de Bangladesh. Em 1974, a Índia testou a sua primeira bomba
nuclear, no deserto do Rajastão. Em abril de 1975, o Siquim tornou-se
o 21º estado indiano, após um plebiscito.
Nos anos 1970, intensos esforços
governamentais culminaram na autossuficiência alimentar da Índia.
Em 1975, confrontada com
problemas políticos e econômicos e acusações de corrupção, Indira declarou
estado de emergência e suspendeu grande parte das liberdades civis.
Convocou eleições em 1977, para buscar legitimar-se nas urnas, mas foi
derrotada por Moraji Desai à frente de uma coalizão de cinco partidos
de oposição. Desai tornou-se o primeiro chefe de Governo da Índia não
pertencente ao Partido do Congresso.
Em 1979, o governo Desai
fracassou, incapaz de enfrentar a corrupção e a deterioração da
economia. Formou-se então um governo interino chefiado por Charan Singh,
ao qual se seguiu o retorno de Indira ao poder, em janeiro de 1980.
Indira foi assassinada em
outubro de 1984, por seus próprios guarda-costas sics, no contexto de
operações de repressão a uma rebelião sic no Punjabi.
Sucedeu-a no cargo de primeiro-ministro seu
filho Rajiv Gandhi, que empreendeu reformas para reduzir a interferência
do Estado na economia e procurou promover o desenvolvimento tecnológico do
país. No campo da política externa, aproximou a Índia dos Estados
Unidos, movimento contrário ao que sua mãe havia feito nas décadas anteriores.
O governo Rajiv enviou uma força
de paz indiana ao Sri Lanka que terminou por entrar em conflito com
os separatistas tâmeis, tornando-se alvo de ataques de nacionalistas cingaleses.
A intervenção da Índia custou a vida de milhares de soldados indianos e
posteriormente custaria também a vida de Rajiv.
Após as eleições de 1989, o
Partido do Congresso - sustentáculo do governo Rajiv - não logrou formar um
governo com maioria absoluta do parlamento. O Janata Dal, coalizão de partidos oposicionistas, formou então um
governo chefiado por V.P. Singh, com o apoio do Bharatiya Janata, do partido nacionalista hindu,
e dos comunistas.
Esta coalizão heteróclita fracassou em novembro de 1990, quando o poder passou
às mãos de um grupo dissidente do Janata
Dal, apoiado pelo Congresso e chefiado por Chandra Shekhar como
primeiro-ministro. Esta aliança também fracassa, nas eleições de junho de 1991.
Em maio de 1991, durante campanha
no estado de Tâmil Nadu em prol do Partido do Congresso, Rajiv Gandhi
foi assassinado por uma extremista tâmil do Sri Lanka. Nas
eleições, o Partido do Congresso ganhou 213 assentos no parlamento e formou um
governo de coalizão, com P.V. Narasimha Rao à frente. O novo governo
lançou um programa de liberalização e de reformas econômicas progressivas que
abriu a economia indiana ao comércio e aos investimentos internacionais.
Durante a primavera de 1996, os
derradeiros meses do governo Rao foram perturbados por diversas questões de
corrupção, o que contribuiu para os piores resultados eleitorais da história do
Partido do Congresso. O partido Bharatiya
Janata ganhou a maioria relativa do parlamento nas eleições de maio
daquele ano e formou um governo de coalizão sob o primeiro-ministro Atal
Bihari Vajpayee que durou exatamente 13 dias. Outra coalizão, chefiada
pelo Janata Dal, emergiu
para constituir novo governo, chamado Frente Unida, chefiado por H.D. Deve
Gowda. Esta administração durou menos de um ano. Assumiu então o cargo de
primeiro-ministro Inder Kumar Gujral, apoiado pela Frente Unida, composta
por 16 partidos.
Em novembro de 1997, o Partido do
Congresso retirou seu apoio à Frente Unida, provocando novas eleições, em
fevereiro de 1998, que levaram ao poder o Bharatiya Janata, com um governo de coalizão chefiado novamente
por Vajpayee. Em 11 e 13 de maio de 1998, a Índia efetuou uma série de testes
nucleares subterrâneos. Os Estados Unidos, sob a presidência de Bill
Clinton, procuraram impor sanções econômicas, mas o país continuou a recusar-se
a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Em 1999, a
Índia travou o chamado conflito de Kargil, na Caxemira, contra uma
infiltração de tropas paquistanesas e militantes irregulares.
Novas eleições em setembro de
1999 mantiveram Vajpayee e seu partido no poder, embora com uma nova coalizão
chamada Nova Aliança Democrática.
Nas eleições legislativas de maio
de 2004, o Partido do Congresso, tendo à frente Sonia Gandhi, viúva de
Rajiv, conquistou uma vitória histórica que o reconduziu ao poder. De
origem italiana, Sonia foi fortemente criticada pelos nacionalistas
do Bharatiya Janata e
decidiu ceder o cargo de primeiro-ministro a Manmohan Singh, de
origem sic.
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