CONHECENDO
A ÍNDIA, BERÇO DO HINDUÍSMO
Hindu
é o nome em persa do rio Indo, encontrado pela primeira vez na palavra Hindu do
persa antigo correspondente ao sânscrito védico Sindhu. O Rigveda chama a terra
dos indo-arianos como Sapta Sindhu (Sete rios Sagrados no noroeste da Ásia
Meridional, um deles o Indo) que corresponde ao Hapta Hendu no Avesta,
escritura sagrada do Zoroastrismo. O termo foi utilizado para resignar aqueles
que viviam no subcontinente indiano, ou para além do “Sindhu”.
O
termo persa Hinduk entrou na Índia pelo Sultanato de Délhi e aparece nos textos
do sul da Índia, bem como da Caxemira, a partir de 1323 d.C. e a partir daí é
cada vez mais utilizado especialmente durante o período da britânica (Raj
britânico). Desde o fim do século XVIII a palavra passou a ser usada no
Ocidente como um termo que abrange a maioria das tradições religiosas,
espirituais e culturais do subcontinente, com exceção do siquismo, budismo e
jainismo que são religiões distintas.
DIVISÕES
O hinduísmo pode ser subdividido em
diversas correntes principais. Dos seis darshanas ou divisões históricas
originais, apenas duas escolas, a vedanta e a raja ioga, sobrevivem. As
principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vjxnuísmo, o xivaísmo, o
smartismo e o shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser
categorizados sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas
denominações e filiações variam imensamente.
Alguns estudiosos dividem as correntes
do hinduísmo moderno em seus “tipos”:
·
Hinduísmo popular, baseado nas
tradições locais e nos cultos das divindades tutelares, praticado em nível mais
localizado;
·
Hinduísmo dérmico ou “moral diária”,
baseado na noção de carma, na astrologia, nas normas de sociedade como o
sistema de castas, e os costumes de casamentos;
·
Hinduísmo vedanta, especialmente o
advaita Vedânta (smartismo), baseado nos Upanixades e nos Puranas;
·
Bhakti, ou “devocionalismo”,
especialmente o vixnuísmo;
·
Hinduísmo bramânico védico, tal como
é praticado pelos brâmanes tradicionalistas, especialmente os shautins;
·
Hinduísmo iogue, baseado
especialmente nos Ioga Sutras de Pantadjáli. Com os principais templos
Hoysaleswara e Khajuraho.
DEFINIÇÕES
O hinduísmo não tem um sistema
unificado de crenças, codificado numa declaração de fé ou um credo, mas sim é
um termo abrangente, que engloba a pluralidade de fenômenos religiosos que se
original e são baseados nas tradições védicas.
A Era Védica (4500 a 2500 a.C.)
surgiram os quatro Vedas, os grandes Rishis do passado (sábios visionários)
habitavam o vale do Indo as margens do rio Sarasvati.
Em 3100 a.C., o rio Yamuna mudou o
seu curso e deixou de desaguar no Sarsvati em 2300 a.C. o Sutlej que era o
maior afluente do rio Sarasvati também passou a desaguar no Ganges e em 1900
a.C. o rio Sarasvati secou, e o povo Védico e Arianos (ambos falavam o
Sânscrito), que eram um único povo que tiveram de migrar para o leste da Índia
para as margens do rio Ganges.
O fim da Era védica foi marcada pela
guerra do Mahabharata em 3102 a.C. que coincide com o início do Kali Yuga
falado nos puranas, tantras, sastras, etc.). A estrutura literária do Hinduísmo
é dividido em dois grandes blocos conhecidos como Shruti e Smriti.
O termo Shruti representa tudo
aquilo que foi ouvido e catalogado pelos sábios nos quatro livros principais do
Hinduísmo: O Rig, o Sama, o Yajur e o Atharva Veda.
O termo Smriti representa um
conjunto de escrituras secundárias ou interpretações dos ensinamentos dos
Vedas, feitas pelos Rishis (Sábios) a fim de atingirem mais facilmente o homem
comum.
SHRUTI – Os videntes védicos
recebiam as suas visões sagradas como recompensa de um árduo trabalho, de muita
asceses (exercícios espirituais consistindo na renúncia ao prazer e na não
satisfação de algumas necessidades visando o desenvolvimento espiritual) e de
uma profunda aspiração à iluminação espiritual. Viam a si mesmos como filhos da
luz e tinham o coração voltado para a realização da Luz Celestial, ou do
Supremo Ser-Luz. Os quatro Vedas falam de rituais de adoração e manipulação das
forças da natureza, especulações filosóficas e técnicas de meditação para o auto-conhecimento
e unificação com o divino. Cada veda é composto de Samhita, onde encontramos os
Mantras (hinos) e rituais; Brahmana e Aranyaka, onde estão as explicações dos
hinos e rituais; Upanishad, que são comentários e especulações filosóficas em
torno da identidade cósmica entre Brahman (absoluto) e Atma (o ser individual);
Kalpasutras, são textos que codificam e regulamentam a realização de rituais.
VEDAS
O termo Vedas provém do sânscrito,
cuja raiz “vid” significa “sabedoria”, “conhecer a Sabedoria Divina”, por isto
os Vedas são traduzidos como Sabedoria Divina ou Suprema.
Segundo o linguista, cientista das
religiões, orientalista e mitólogo alemão Max Muller (1823-1900): “Os Vedas são
considerados, por todos os eruditos Orientais e Ocidentais, como a mais antiga
de todas as escrituras do mundo e a mais sagrada das obras sânscritas
conhecidas. Foram escritos em um sânscrito tão antigo, tão diferente do idioma
atual, que não existe outra obra semelhante na literatura desse ‘irmão mais
velho de todos os idiomas conhecidos’”.
·
RIG VEDA (5000 á 4500 a.C.): É uma
coleção de 1.028 hinos (Sukta), divididos em dez livros (Mandala), nos quais
encontram-se épicos, lendas antigas, encantamentos, mitos regras de
comportamento social e religiosos, poesias etc. nele aparecem muitas variações
de linguagem devido a variação cronológica e diversidade de autores. O Rig Veda
é a base de todas as concepções filosóficas do solo indiano. Contém as
primeiras perguntas que o homem fez em relação à criação, à natureza do
universo e de sua própria função existencial.
·
SAMA VEDA (2600 a.C.): Coletânea de
melodias (Mantras) cantadas pelos sacerdotes da classe Udgatar, durante as
oferendas sacrificiais. Estes hinos reverenciam uma bebida chamada Soma. É
composto de duas parter: Arcita com 585 cantos, classificados conforme o ritmo
ou os deuses aos quais se referem; e Utthararcika com 400 cantos de três estrofes,
em geral, agrupados segundo a ordem dos principais sacrifícios.
·
YAJUR VEDA (2400 a.C.): Contém
fórmulas que os sacerdotes da classe adhvaryu murmuravam nos ritos de
sacrifício. Existem duas versões do Yajur Veda. A primeira conhecida como Negra,
é a mais antiga, chamada assim porque suas fórmulas estão mescladas e sem
ordenação clara, foi copiada pelas escolas Taittrya, Samhita, a Kathaka e a
Kapsithala Kathaka Samhita. A segunda versão conhecida como Branca, leva o nome
de Vajasaneyi Samhita cujo autor é Yajnavalkya Vajasaneyi, por isso a
denominação, e é chamado de Branco porque suas fórmulas possuem ordenação clara
e sistemática, ela possui dias revisões uma da escola Madhyandina e outra da
escola Kanya.
·
ATHARVA VEDA (2400 a.C.): Contém
cerca de seis mil versículos sobre os mais diversos temas, mas sobretudo
ensinamentos de magia e medicina popular, destinados a promover a paz, a saúde,
o amor e a prosperidade material e espiritual. É o Veda dos sacerdotes do fogo
Atharvan e Angiras. Os Atharvan eram sacerdotes que operavam sortilégios bons,
favoráveis a todas as partes, curando enfermos, protegendo contra desgraças
etc. Os Angiras atuavam enviando desgraças, enfermidades aos inimigos e rivais
de quem os procurassem. A revisão mais conhecida é a da escola Saunaka com 731
hinos em 20 livros com 6.000 versos.
DIVISÕES
DENTRO DE CADA VEDA
·
SAMHITA: É um conjunto de hinos e
rituais que formam o corpo inicial dos Vedas;
·
BRAHMANA: Explica a relação entre
fórmulas e hinos que os sacerdotes murmuram durante os rituais, contém
explicações sobre os rituais, mitos e narrativas cosmogônicas, antigas lendas,
vestígios históricos sobre o passado da Índia e a expansão Ariana no Vale do
Indo, costumes sociais, formação geográfica entre outras;
·
ARANYAKA: Os Aranyakas (livros da floresta) surgiram a
partir de um pequeno grupo de iniciados que se retiraram para o silêncio das
florestas em busca de outras vias de salvação e especulações filosóficas. Estes
ascetas se colocaram em oposição a mecânica dos complicados ritos de sacrifício
e contra a apropriação dos Brahmanas de todo o conhecimento e ato religioso. É
a partir de 1900 a.C. que surge os Aranyakas e Upanishads, a literatura da
tradição Aranya (da floresta), uma vez que às margens do Ganges existiam vastas
florestas.
·
UPANISHAD: Foram elaborados a partir
de 1500 a.C. e considerados como o mais alto ponto de especulação sobre os
Vedas. São conhecidos também como Vedanta (parte final dos Vedas). Os
ensinamentos principais dos Upanishads estão na afirmação da identidade do
absoluto com o ser individual (Brahman + Atma).
·
KALPASUTRA: São divididos em
Shrautasutra, que codificam os sacrifícios, e os Grhyasutra, que regulamentam
os sacramentos que dão valor religioso a vida individual desde o nascimento até
a morte.
ERA
BRAHMANICA (2500 – 1500 a.C)
Neste período o conhecimento védico
ficou reservado aos Brahmanes ou casta dos sacerdotes, foi a partir deste
momento que as castas se tornaram fixas. Para os pesquisadores recentes a
invasão Ariana nunca existiu pois os Arianos sempre foram indianos e habitantes
do Vale do Indo (como os Dravidianos), sendo o Yoga um fruto da civilização
Indo-Sarasvati. De acordo com alguns estudiosos, o fim da Era Védica foi
marcada pela famosa guerra que consta no Mahabharata e que a tradição data de
3102 a.C. coincidindo com o início do Kali Yuga.
Neste período os Vedas, que já eram
recitados há milênios, foram escritos em folhas de bananeiras e também algumas
interpretações dos Vedas-Smriti, feitas pelos Rishis (sábios) afim de atingirem
mais facilmente o homem comum.
SMRITI
São escrituras secundárias: Dharma
Shastras, os livros que codificam as leis que regulam a sociedade; Itihasa,
épicos nacionais; Puranas, livros de educação religiosa popular; Agamas tratam
das tendências devocionais e; Dharshanas, que apresenta as principais escolas
de pensamento nascidas a partir dos Vedas. Embora a maior parte dessas
escrituras sejam posteriores a esse período ainda são consideradas Smriti:
·
DHARMA SHASTRA: São regulamentos e
obrigações das castas composto pelos Brahmames. Esses textos foram escritos
pelo povo invasor proto-austriaco (1800 a.C.), como forma de dominar a
sociedade indiana. Esse invasor fixou as castas, citadas conforme
características pessoais nos Vedas, passando eles a se denominar casta
dominante ou Brahmanes. Uma parte da sociedade indiana que não estava de acordo
se refugiou na floresta (Aranya). O mais antigo é de autoria do ancestral
mítico da tribo Manava chamado de Manu. As leis de Manu trouxeram benefícios e
poderes para a casta dos Brahmanes fortalecendo seu domínio sobre a sociedade
indiana. Determinava que tudo o que existe no universo é propriedade dos
Brahmanes, sendo que a estes não seria cobrado tributos porque um Brahmane irado
poderia apenas coma a recitação de um Mantra destruir o rei e seu exército. Aos
Sudras as leis eram mais severas em penalidades, se um Sudra abusasse de uma
mulher de um Brahmane, teria a propriedade confiscada e o órgão sexual cortado,
se um Sudra ouvisse a recitação das escrituras Védicas, o castigo era receber
chumbo derretido em seus ouvidos e se recitasse teria a língua cortada, e assim
por diante; a mulher era considerada fonte de desonra, discórdia, mundanidade e
deveria ser evitada e as mulheres casadas deveriam demonstrar devoção ao
marido. As leis de Manu era um forte instrumento de controle social e
manutenção do poder do Brahmanes ou povo invasor.
·
ITIHASA: São grandes épicos da
literatura Hindu. O mais significativo é o Mahabharata, composto de histórias
sobre uma guerra ocorrida na Índia (3102 a.C.) entre duas linhagem arianas em
que o capítulo principal é o Bhagavadgita, ensinamentos do Avatar Krishna para
Arjuna. Outro épico é o Ramayana que descreve a vida de Rama (+ ou – 6000 a.C.)
e de sua esposa Sita, sendo Rama o símbolo da Perfeição.
·
PURANA: Instrumento de educação
popular, tem a finalidade de imprimir na mente do povo por meio de exemplos
concretos os ensinamentos do Veda. Descreve características e ações das
divindades, detalhes sobre a criação do mundo, genealogia dos deuses, dinastias
reais, especulações filosóficas, mitologias, etc. Os Puranas estão
classificados em aqueles que elevam Brahma: Brahma Purana, Brahmananda Purana,
Markandeya Purana, Bravishya Purana e Vamana Purana; e os que elevam Vishu:
Vishu Purana, Padma Purana, Bhagavata Purana, Naradiya Purana, Garuda Purana e
Varaha Purana; e os que eleva Shiva: Shiva Purana, Lingam Purana, Skanda
Purana, Agni Purana, Matsya Purana e Kurma Purana.
·
AGAMA: São tendências devocionais que
são tantas quanto os Deuses do hinduísmo. Os mais expressivos são: Shivaistas
(dos seguidores de Shiva – renovador e disciplinador), Shaktas (adoram o
princípio feminino como criador e renovador), Ganaphatas (adoradores de Ganesha
– conhecimento), Hanupatas (cultuam Hanumam – discípulo perfeito), Vaishnavas
(seguidores de Vishnu – preservador), Ramaphatas (adoradores de Rama – herói divino),
Krishnaphatas (seguidores de Krishna – devoção e amor divino) entre muitas outras.
·
DARSHANA: São os pontos de vista ou
escolas filosóficas nascidas do Veda e tiveram origem entre 700 e 200 a.C. As
quatro primeiras aceitam teoricamente o Veda mas possuem doutrinas oposta aos
seus ensinamentos, as duas últimas, Mimansa e Vedanta, aceitam literalmente a
autoridade dos Vedas. Os seis Darshanas são:
1.
NYAYA: origem 300 a.C., seu fundador
é Gautama, autor de Nyaya Sutra, textos que falam da possibilidade de se
atingir o “absoluto” através do argumento lógico e da mente racional. Nyaya
significa “regra”, “examinar”, regras do correto pensar.
2.
VAISHESHIKA: origem 300 a.C., fundada
pelo sábio Kanada. Examina as particularidades da manifestação cósmica e pregam
a noção de uma constituição atomista do mundo.
3.
SAMKHYA: 700 a.C., fundada por
Kapila. Descreve o desenvolvimento cósmico como um processo gradativo e
matemático. Dois princípios, Purusha e Prakriti, interagem e criam toda a
existência.
4.
YOGA: 200 a.C., fundada por Patanjali
tem como base literária os Yoga Sutras que mostra os passos para se chegar a
liberação. Esta escola é o clímax de um longo período de desenvolvimento das
práticas de Yoga e do pensamento Védico.
5.
MIMANSA: 400 a.C, fundada por
Jaimini, autor dos Purna Mimansa Sutras que foram as primeiras investigações
dos Vedas no conceito de Dharma.
6.
VEDANTA: 200 a.C., fundada por
Badarayana, é conhecida como a investigação final dos Vedas, tem como texto
fundador os Brahma Sutras, escrituras que divulgam os Vedas como a mais alta
revelação e propõe a doutrina do Único Ser Supremo (Brahma), responsável por
tudo o que existe. O mestre mais exaltado em Vedanta é Sankara (século II
a.C.), pois foi graças aos Bhasyas, comentários que fez dos Brahma Sutras e de
alguns Upanishads, que os Vedas foram compreendidos como um todo, como um elo
de conhecimento sem contradição.