Rosacruz é um movimento filosófico que se popularizou na
Europa do século XVII após a publicação de vários textos que pretendiam
anunciar a existência de uma ordem esotérica até então desconhecida para o
mundo.
Rosacruz é um nome atribuído com base no lendário personagem
Christian Rosenkreutz que é o ponto de partida para várias organizações
rosacruzes. A misteriosa doutrina da ordem é supostamente “construída sobre
verdades esotéricas do passado antigo”, que “oculta ao homem comum, fornece uma
visão da natureza, do universo físico e do domínio espiritual”.
Seus manifestos não falavam extensivamente sobre o assunto,
mas mencionavam a Kabbalah, o Hermetismo e o Cristianismo. O movimento era
então tido em conta como um “Colégio de Invisíveis” nos mundos internos,
formado por grandes adeptos, com o intuito de prestar auxílio à evolução
espiritual da humanidade.
Alguns metafísicos consideram que o rosacrucianismo pode ser
compreendido, de um ponto de vista mais amplo, como parte, ou mesmo como fonte,
do hermetismo cristão, patente no período dos tratados ocidentais de alquimia
que se segue à publicação da Divina Comédia de Dante. Alguns historiadores, no
entanto, sugerem a sua origem num grupo de protestantes alemães, entre os anos
1607 e 1616, quando três manifestos anônimos foram elaborados e lançados na
Europa: Fama Fraternitatis R.C., Confessio Fraternitatis e Núpcias Alquímicas
de Christian Rozekreuz. A influência desses textos foi tão grande que a
historiadora Frances Yates denominou este período do século XVII como um
movimento de reforma em Tubinga dentro do protestantismo alemão.
Os manifestos foram publicados num momento em que o domínio
científico e tecnológico da natureza levou a um distanciamento entre ciência e
cultura cristã. O principal objetivo e meta dos três escritos era contrariar
esta tendência, por meio de um contínua reforma da ciência, ética e religião.
Sua autoimagem é baseada em uma difusão livre de preconceito e uso do
conhecimento de outras culturas ainda não difundidos. Nesta época ainda não
havia grupos de Rosacruzes organizados. Somente após 140 anos da publicação dos
manifestos, a primeira organização Rosacruz foi fundada como ordem
paramaçônica, em 1760, a Ordem Dourada dos Rosacruzes, como um polo oposto às
forças racionais e modernistas. Viriam mais tarde a ser perseguidos na Prússia,
sob os auspício do reinado de Guilherme II. Após o fim da Ordem Dourada, o rosacrucianismo
manteve-se vivo graças à Societas Rosicruciana in Anglia (S.R.i.A), de 1865.
Além disso, grupos teosóficos e herméticos, formados no fim do século XIX,
também referidos como “novos rosacrucianistas”, ajudaram na difusão do
rosacrucianismo.
Os Manifestos Rosacruzes anunciaram uma “reforma universal
da humanidade”, através de uma ciência supostamente mantida secreta por décadas
até que o clima intelectual possa recebe-la. As controvérsias surgiram sobre se
eram um engano, se a “ordem da Rosacruz” existia como descrito nos manifestos,
ou se todo era uma metáfora disfarçando um movimento que realmente existia, mas
de um forma diferente. Em 1616, Johann Valentin Andreae designou-o como um
“ludibrium”. Ao prometer uma transformação espiritual num momento de grande
turbulência, levaram muitas pessoas a iniciar-se na busca do conhecimento
esotérico e místico. Filósofos ocultistas do século XVII, como Michael Maier,
Robert Fludd, e Thomas Vaughan (filósofo) se interessaram pela visão do Rosacruz
do mundo.
De acordo com o historiador David Stevenson, influenciou a
Maçonaria quando emergia na Escócia. Em séculos posteriores, muitas sociedades
esotéricas alegaram derivar do movimento Rosacruz primordial.
Existem toda uma série de ordens que foram fundadas no
século XIX e XX, que procuravam restabelecer as bases do rosacrucianismo, como
é o caso da ordem hermética da aurora dourada, fundada pro maçons membros da
Sociedade Rosacruciania da Inglaterra, assim como o AMORC, a Rosacruz Áurea e a
Fraternidade Rosacruz. Contudo, estas ordens estão para o rosacrucianismo, como
o martinismo criado por Gerard Encausse está para Louis Claude de Saint-Martin,
não no sentido em que não tinham existido ordens previamente, nesses mesmos
preâmbulos, mas sim pelo fato de que são reconstituições históricas de algo que
tinha previamente existido, e portanto, nunca 100% fiéis ao movimento original.
LENDA E HISTÓRIA
Segundo a lenda constante nos referidos manifestos, a ordem
teria sido fundada por Christian Rosenkreuz, peregrino do século XV. No
entanto, essa datação é discutível devido ao simbolismo e hermetismo do
conteúdo dos manifestos, principalmente nos aspectos numéricos e nas concepções
geométricas apresentadas.
De acordo com a narrativa exposta no documento “Fama
Fraternitatis” (1614), Christian Rosenkreuz (de início apenas designado por
“irmão C.R.C.”), nasceu em 1378 na Alemanha, junto ao rio Reno. Os seus pais
teriam sido pessoas ilustres, mas sem grandes posses materiais. Sua educação
começou aos quatro anos numa abadia onde aprendeu grego, latim, hebraico e
magia. Em 1393, acompanhado de um monge, visitou Damasco, o Egito e o Marrocos
onde estudou com mestres do ocultismo, depois do falecimento do seu mestre, em
Chipre.
Após seu retorno à Alemanha, em 1407, teria fundado a Ordem
Rosa Cruz (constituída por um pequeno grupo de não mais que oito pessoas), de
acordo com os ensinamentos obtidos com os mestres árabes, que o teriam curado
de uma doença, iniciando-o também no conhecimento das práticas do ocultismo.
Teria passado, ainda, cinco anos na Espanha, onde três discípulos redigiram os
textos iniciadores da sociedade. Depois, teriam formado a “Casa Sancti
Spiritus” (Casa do Espírito Santo), onde, através da cura de doenças e do
amparo daqueles que necessitavam de ajuda, foram desenvolvendo a confraria, que
pretendia, no futuro, orientar os monarcas na boa condução dos destinos da
humanidade. Segundo o texto “Fama Fraternitatis”, C.R.C. morreu em 1484. Após
sua morte, a ordem se extinguiu. A localização da sua tumba permaneceu
desconhecida durante 120 anos até 1604, quando foi descoberta, e então a ordem
renasceu. Observe-se que “Christian Rosenkreuz” seria apenas um nome simbólico:
Christian, de Cristo ou Christos ou, ainda Khrestos; Rosen ou Rosa, e Kreuz ou
cruz.
Uma outra lenda menos conhecida, foi veiculada pelo
historiador maçônico E.J.Marconis de Negre – que, juntamente com seu pai,
Gabriel M. Marconis é considerado o fundador do Rito de Memphis-Misraim da
maçonaria. Com base em conjecturas anteriores (1784) de um estudioso Rosacruz,
o barão de Westerode, a Rosacruz teria como origem uma sociedade secreta e
altamente hierarquizada (ao contrário dos ideais da fraternidade, expostos nos
manifestos) do século XVIII da Europa Central ou oriental, denominada “Gold und
Rosenkreuzer” (Rosacruz de Ouro), que teria tentado, sem sucesso, submeter a maçonaria
ao seu poder. A Ordem Rosacruz teria sido criada no ano 46, quando um sábio
gnóstico de Alexandria, de nome Ormo, e seis discípulos seus foram convertidos
por Marcos, o evangelista. Seu símbolo, dizia-se, era uma cruz vermelha
encimada por uma rosa, daí a designação de Rosacruz. A ordem teria nascido,
portanto, da fusão do cristianismo primitivo com a mitologia egípcia.
Rosenkreuz teria sido, segundo essa versão, apenas um iniciado e, depois Grande
Mestre, e não o fundador.
Mapa da Alemanha onde a Turíngia aparece em cor laranja |
A existência real de Christian Rosenkreuz divide certos
grupos de Rosacricianos. Alguns o aceitam, outros consideram Christian
Rosenkreuz como um pseudônimo usado por personagens realmente históricos
(Francis Bacon, por exemplo).
A primeira informação conhecida publicamente, acerca desta
irmandade, encontra-se nos três documentos denominados “Manifestos Rosacruz”, o
primeiro dos quais (Fama Fraternitatis R.C.,, ou “Chamado da Fraternidade
Rosacruz) foi publicado em Kassel, na Alemanha, em 1614, ainda que cópias
manuscritas do mesmo já circulassem desde 1611. Outros dois documentos foram:
Confessio Fraternitatis (Confissões da Fraternidade Rosacruz), 1615, publicado
também em Kassel, e Chymische Hockeit Christiani RosenKreuz (Núpcias Alquímicas
de Christian Rosenkreuz), 1616, publicado na então cidade independente de
Estrasburgo (anexada à França em 1681).
Deve-se notar que no segundo manifesto de 1615, é feita a
defesa da irmandade, exposta no primeiro manifesto de 1614, contra vozes que se
levantavam da sociedade, colocando em causa a autenticidade e os reais motivos
da Ordem Rosacruz. Nesse manifesto, podem-se encontrar as seguintes passagens
que demonstram a linha condutora do pensamento da irmandade: que o requisito
fundamental para alcançar o conhecimentos secreto, de que a ordem se faz
conhecer como possuidora, é que “sejamos honestos para obter a compreensão e
conhecimento da filosofia”; descrevendo-se simultaneamente como cristãos, “que
pensam vocês, queridas pessoas, e como parecem afetados, vendo que agora
compreendem e sabem, que nós nos reconhecemos como professando verdadeira e
sinceramente Cristo”, não de um modo exotérico, “condenamos o Papa”, e sim no
verdadeiro sentido esotérico do cristianismo: “viciamo-nos na verdadeira
filosofia, levamos uma vida cristã. O modo como são expostos os temas nos
manifestos originais e a descrição dos mesmos aponta para grande similaridade
com o que é conhecido atualmente acerca da filosofia Pitagórica, principalmente
na transmissão de conhecimentos e ideias através de aspectos numéricos e
concepções geométricas.
A publicação dos manifestos provocou imensa excitação por
toda a Europa. Foram feitas inúmeras reedições e circularam diversos panfletos
relacionados com os textos, embora os divulgadores de tais panfletos pouco ou
nada soubessem sobre as reais intenções do(s) autor(es) original(ais) dos
textos, cuja identidade permaneceu desconhecida por muito tempo.
Em sua autobiografia, o teólogo Johannes Valentinus Andreae
ou Johann Valentin Andreae (1586 -1654), declarou que o terceiro manifesto
Rosacruz, “Núpcias Químicas”, publicado anonimamente, era de sua autoria e
posteriormente descreveu o texto como um Ludibrium. É convicção de alguns
autores que Andreae o teria escrito como se fosse o contraponto da Companhia de
Jesus. No entanto, esta teoria foi posteriormente contestada por historiadores,
principalmente católicos, que consideravam os documentos, com simples
propaganda ocultista, de inspiração protestante, contra a influência do Bispo
de Roma.
Os manifestos mostravam a necessidade de reforma da
sociedade humana, do ponto de vista cultural e religioso, e a forma de atingir
esse objetivo através de uma sociedade secreta que promoveria essa mudança no
mundo. O texto “Núpcias Químicas de Christian Rosenkreuz”, contudo foi escrito
em forma de um romance pleno de simbolismos e descreve um episódio iniciático
na vida de Christian Rosenkreuz, quando já tinha 81 anos.
Em Paris, em 1622 ou 1623, foram colocados cartazes
misteriosos nas pareces, mas não se sabe ao certo que foram os responsáveis por
esse feito. Estes cartazes incluíam o texto: “Nós, os Deputados do Alto Colégio
da Rosacruz, fazemos a nossa estada, visível e invisível, nesta cidade (...)” e
“Os pensamentos ligados ao desejo real daquele que busca irá guiar-nos a ele e
ele a nós”.
A sociedade europeia da época, dilacerada por guerras,
tantas vezes originadas por causa da religião, favoreceu a propagação destas
ideias que chegaram, em pouco tempo, até a Inglaterra e a Itália.
TRADIÇÕES E INFLUÊNCIAS
Os primeiros seguidores são geralmente identificados como
médicos, alquimistas, naturalistas, boticários, adivinhos, filósofos e homens
das artes, acusados muitas vezes de charlatanismo e heresia pelos seus
opositores.
Aparentemente sem um corpo dirigente central, assumem-se como
um grupo de “irmãos” (confraria).
Tradicionalmente, os Rosacruzes se dizem herdeiros de
tradições antigas que remontam à alquimia medieval, ao gnoticismo, ao
ocultismo, ao hermetismo no antigo Egito, à cabala e ao neoplatonismo.
Em The Muses’Threnodies, de H. Adamson (Perth, 1638)
encontra-se o seguinte:
“Pois o que pressagiamos não está em grande,
Pois somo irmãos da Rosacruz;
Temos a Palavra Maçônica e a segunda visão,
Coisas por acontecer nós podemos prever acertadamente.”
O rosacrucianismo pode ser compreendido, de um ponto de
vista mais amplo, como parte da corrente de pensamento hermético-cristã. Neste
contexto, é clara a influência do Corpus Hemeticum, que, após 1.000 anos de
esquecimento foi traduzido em 1460 por Marcílio Ficino, a figura centra da
Academia Platônica de Florença, para atender a uma encomenda de Cosme de
Médici. Nas Núpcias Alquímicas de Cristian Rosenkreuz, é dito que “Hermes é a
fonte primordial”.
Verifica-se também a influência do pensamento de Paracelsus,
citado na Fama Fraternitatis R.C. “Teofrasto (Paracelso), por vocação, foi
também um desses heróis. Apesar de não haver entrado em nossa Fraternidade, não
obstante, ele leu diligentemente o Livro M.”
A grande maioria dos personagens relacionados com o lançamento
dos “Manifestos Rosacruzes” se originaram do meio luterano alemão. É de se
notar que o próprio Lutero foi um dos primeiros a utilizar uma “rosa-cruz” (o
“selo de Lutero”, ou “rosa de Lutero”) como símbolo de sua teologia. Abaixo de
muitas rosas de Lutero está a frase: “O coração do cristão permanece em rosas,
quando ele permanece sob a cruz.”
É amplamente discutível se os chamados “reformadores
radicais” teriam exercido uma forte influência sobre os Rosacruzes, ou, como
algumas evidências parecem sugerir, se teriam sido os Rosacruzes a influenciar
esses reformadores. Esses pensadores e teólogos luteranos acreditavam que a
Reforma de Lutero deveria ser ampliada, que a doutrina ortodoxa não era
suficiente e que o cristão devia realizar a comunhão mística com deus. Entre
outros, é possível citar os nomes de Caspar Schwenckfeld, Sebastian Franck e
Valentin Weigel. Johann Arndt, teólogo luterano alemão cujos escritos místicos
circularam amplamente na Europa no século XVII, amigo e mentor espiritual de
Johann Valentinus Andreae e amigo muito próximo de Christoph Besold, também é
uma influência conhecida. Arndt foi muito influenciado pelas ideias de Valentin
Weigel, e é considerado o “pai” do movimento pietista alemão.
O místico e teósofo luterano alemão Jacob Boehme e o
educador Jan Amos Comenius foram contemporâneos do movimento Rosacruz original
do século XVII e também davam testemunho de uma mesma sabedoria. Comenius
chegou a denominar a Unidade dos Irmãos da Boêmia-Morávia, da qual ele foi um
dos líderes principais antes de seu desaparecimento, como “Fraternitas Rosae
Crucis”. Além disso, ele tinha em Johann Valentin Andreae sua primeira fonte de
inspiração, considerando-o “um homem de espírito ígneo e de inteligência pura”,
tendo-o contatado e recebido deste o archote para dar continuidade à tarefa
iniciada. Muitos dos que responderam ao chamado dos manifestos rosacrucianista,
como Michael Meier e Robert Fludd, também se ligavam a mesma fonte de força
espiritual.
O historiador francês Paul Arnold foi o primeiro a
considerar os três manifestos como a obra comum do “Círculo de Tubinga”, ou
seja, o grupo que se reuniu ao redor do (futuro) teólogo Valentinus Andreae e
dos juristas Tobias Hess e Christoph Besold, na Universidade de Tubinga
(Alemanha). Frances Yats, no entanto, relacionou o rosacrucianismo “clássico”
do século XVII unicamente a Frederico do Palatinado e sua corte inglesa em
Heidelberg.
Apesar do sucesso da tese de Yates, os historiadores Richard
vand Dülmen, Martin Brecht e Rolando Edighoffer reconstituíam os fatos graças a
uma pesquisa histórica aprofundada, que aconteceu a partir de 1977. Brecht e
Edighoffer estudaram, ao mesmo tempo e independentemente um do outro, e
finalmente provaram a autoria dos manifestos. Andreae se fez conhecer como o
autor dos textos (sua “obra pessoal”) e Tobias Hess, defensor do milenarismo e
partidário de Paracelso (que, como afirma o historiador Carlos Gilly, “Andreae
honrou e defendeu após sua morte, como, pai, irmão, mestre, amigo e
companheiro”) teria sido o mestre e iniciador do grupo de onde saíram os
manifestos da Rosacruz.
Muitos procuraram responder ao “chamado” emitido pelos
rosacruzes no século XVII, não apenas naquele século, mas também nos seguintes,
quando várias organizações com o nome Rosacruz surgiram. Também no século XX
surgiram muitas organizações com este nome, todas elas de certa forma
coerdeiras do tesouro espiritual da Rosacruz do século XVII.
PRINCÍPIOS E OBJETIVOS
De um modo geral os rosacrucianos defendem a fraternidade
universal entre todos os homens. Para os rosacrucianos, os homens podem
desenvolver suas potencialidades para tornarem-se melhores, mais sadios e
felizes. O rosacrucianismo tem por objetivo primordial levar o homem ao
autoconhecimento e à manifestação de sua real natureza espiritual, a fim de
contribuir para a evolução de toda a humanidade.
Estes objetivos, segundo os rosacrucianos, podem ser
atingidos por meio de uma mudança pessoal, de hábitos, pensamentos e
sentimentos. Segundo eles, isto só é possível ao dissipar o véu de ignorância
que cobre os olhos dos homens.
A recompensa daqueles que atingem este objetivo, que é de
natureza espiritual, é uma paz profunda consigo próprio; estado este que se
irradia do indivíduo e atinge todos em volta, produzindo em todos um reflexo
positivo.
O que os Rosacruzes querem de fato é a libertação da
humanidade do mundo onde hoje ela se encontra, onde pode ser de fato apontado o
gnosticismo que significa a crença em outra natureza. O Rosacruz tem a
consciência de que o homem tem outra proveniência, por isso é necessário que
tenhamos fraternidade como base, pois a humanidade faz parte da mesma coisa, no
pensamento Rosacruz.
O processo em si, creem os Rosacruzes, que passa pelas etapas
internas às externas, se resume em uma mudança de hábitos e é regido pela
trindade sentir, pensar e agir. O processo é considerado de faculdades internas
pois começa, segundo os Rosacruzes, no coração ao contrário de qualquer outro
movimento.
SIMBOLISMO
O emblema Rosacruz, embora com variações, apresenta-se como
uma cruz envolvida por uma coroa de rosas, ou com uma rosa no centro da cruz. A
rosa representa a espiritualidade, enquanto a cruz representa a matéria.
Outra faceta da Rosacruz mais conhecida é o 18.º Grau
(representado simbolicamente a 9.ª Iniciação Menor), o grau de “Cavaleiro
Rosacruz”, do “Capítulo da Rosacruz” do “Rito Escocês Antigo e Aceito” da
Franco-Maçonaria que tem como símbolos principais o Pelicano, a Rosa e a Cruz.
Diversos livres pensadores defende que o Rosacrucianismo não
é uma Ordem constituída mas, uma corrente de pensamento, cuja filiação ocorre
pela adoção de certas posturas de vida.
ILUMINISMO ROSACRUZ
No início do século XVII, os manifestos causaram entusiasmo
por toda a Europa, ao declararem a existência de uma irmandade secreta de
alquimista e magos que se preparavam para transformar as artes, as ciências, a
religião e o panorama intelectual da Europa. Guerras entre política e religião
pululavam, então, o continente. Os trabalhos eram reeditados várias vezes,
seguidos de numerosos panfletos favoráveis. Entre 1614 e 1620, cerca de 400
manuscritos e livros eram publicados e eram então discutidos os documentos Rosa
cruzes.
O pico do furor Rosacruz foi alcançado
quando dois pôsteres misteriosos apareceram nas ruas de Paris em 1622 com o
espaçamento de alguns dias entre um e outro. O primeiro dizia, “Nós, os
Deputados do Colégio principal da Rosacruz, demoramo-nos visível e
invisivelmente nesta cidade pela graça do Altíssimo (...)”, e o segundo acabava
com as palavras “Os pensamentos anexados ao real deseja de procurar irão
conduzir-nos a ele e dele a nós.”
O lendário primeiro manifesto, Fama
fraternitatis Rosae Crucis (1614), era inspirado no trabalho de Michael Maier
(1568 – 1622) da Alemanha; Robert Fludd (1574 – 1647) da Inglaterra; Teophilus
Schweighardt Constantiens, Gothardus Arthusius, Julius Sperber, Henricus
Madathanus, Gabriel Naudé, Thomas Vaughan e outros.
Em Theatrum Chimicum Britannicum de
Elias Ashmole (1650) este defende os Rosacruzes. Alguns trabalhos posteriores
que impactaram o Rosacrucianismo foram o “Opus magocabalisticum et
theosophicum” por George von Welling (1719) – da inspiração alquímica e
paracelsiana e do “Aureum Vellus ou Goldenes Vliess” por Hermann Fictuld em
1749.
Michael Maier foi nomeado Pfalzgraf
(Conde Palatino por Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico e Rei da
Hungria e Rei da Boêmia. Ele também foi um dos defensores mais proeminentes dos
Rosacruzes, transmitindo claramente detalhes sobre a “Cruz dos Irmãos da Rosa”
em seus escritos. Maier fez a declaração firme de que os Irmãos do R.C. Existem
para avançar artes inspiradas e ciências, incluindo a alquimia. Os
pesquisadores dos escritos de Maier salientam que ele nunca afirmou ter
produzido ouro, nem Heinrich Khunrath nem nenhum dos outros Rosacrucianos. Suas
escritas apontam para uma alquimia simbólica e espiritual, em vez de uma
operativa. Em uma combinação de estilos diretos e velados, esses escritos
transmitiram os nove estágios da transmutação involutiva-evolutiva do “corpo
triplo” do ser humano, a “alma tripa” e o “espírito triplo” entre outros
conhecimentos esotéricos relacionados ao “Caminho da Iniciação”.
Em seu panfleto de 1618, “Pia et
Ultilissima Admontio de Fratribus Rosae Crucis”. Henrichus Neuhusius escreveu
que os Rosacruzes partiram para o leste devido à instabilidade europeia causada
pelo início da Guerra dos Trinta Anos. Em 1710, Sigmund Richter, fundador da
sociedade secreta da Cruz Dourada e Rosada, também sugeriu que os Rosacruzes
haviam migrado pra o leste. Na primeira metade do século XX, René Guénon, um
pesquisador do oculto, apresentou a mesma ideia em algumas de suas obras. Um
eminente autor do século XIX, Arthur Edward Waite apresentou argumentos que
contradizem essa ideia. Foi neste campo fértil do discurso que surgiram muitas
sociedade Rosacruzes. Eles foram baseados no oculto, inspirados pelo mistério
deste “Colégio dos Invisíveis”.
Alguns estudiosos modernos por exemplo
Adam McLean e Giordano Berti, assumem que, entre os primeiros seguidores da
Cruz da Rosa, havia também o teólogo alemão Daniel Cramer, que em 1617 publicou
um tratado bizarro intitulado “Societas Jesus et Rosae Crucis Vera”, que contém
40 figuras emblemáticas acompanhadas de citações bíblicas.
A ideia de tal ordem, exemplificada
pela rede de astrônomos, professores, matemáticos e filósofos naturais na
Europa do século XVI, promovida por homens como Johannes Kepler, Georg Joachim
Rheticus, John Dee e Tycho Brahe, deu origem ao Colégio Invisível. Este foi
precursor da Royal Society fundada em 1660. Foi constituído por um grupo de
cientistas que começaram a realizar reuniões regulares para compartilhar e
desenvolver o conhecimento adquirido por investigação experimental. Entre estes
foram John Wilkins, John Wallis e Robert Boyle, que escreveu; “as pedras
angulares do Colégio Invisível (ou como se denominam o Filosófico), de vez em
quando honram a companhia deles...”
POÇO
INICIÁTICO DA QUINTA DA REGALEIRA
É uma galeria subterrânea, em Sintra,
Portugal, com uma escadaria em espiral, sustentada por colunas esculpidas, por
onde se desce ao fundo do poço. A escadaria é constituída por nove patamares
separados por lanços de 15 degraus cada um, invocando referências à Divina
Comédia de Dante e que podem representar os 9 círculos do Inferno, do Paraíso,
ou do Purgatório. Segundo os conceituados ocultista Albert Pike, René Guénon e
Manly Palmer Hall é na obra Divina Comédia que se encontra pela primeira vez
exposta a Ordem Rosacruz. No fundo do poço está embutida, em mármore, uma rosa
dos ventos sobre uma cruz templária, que é um emblema heráldico, representando,
do topo para baixo, a lua, o sol, os elementos, e, simultaneamente, indicativo
da Ordem Rosacruz.
O poço diz-se iniciático porque se
acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e a explicação do
simbolismo dos mesmos nove patamares diz-se que poderá ser encontrada na obra
Conceito Rosacruz do Cosmos, em particular do simbolismo da monas hieroglífica,
como símbolo de unidade entre os planos superiores e inferiores, tal como
latente na máxima “as above, so below, as within, so without, as the universe,
so the soul” – tradução: “como acima, tão abaixo, como dentro, tão sem, como
universo, então a alma” (Hermes Trimegisto).
A simbologia do local está relacionada
com a crença que a terra é o útero materno de onde provém a vida, mas também a
sepultura para onde esta voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos
do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento. A existência de 23
nichos localizados por debaixo dos degraus do poço iniciático representava um
dos muitos mistérios da referida construção. No dia 29 de dezembro de 2010, o
professor Gabriel Fernández Calvo da Escola Técnica Superior de Engenheiros de
Caminhos, Canais e Portos da Universidad de Castilla – La Mancha em Ciudad
Real, quando visitava o poço acompanhado de outros professores da UCLM,
observou que os 23 nichos não estão colocados por acaso, pois encontram-se
agrupados em três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos separados entre si à medida que
se desce ao fundo do poço. Esta organização não é aleatória e provavelmente
refere-se ao ano de 1715 em que Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou
a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro) em hasta pública.
O poço está ligado por várias galerias
ou túneis a outros pontos da Quinta, a Entrada dos Guardiães, o Lago da Cascata
e o Poço Imperfeito. Estes túneis, outrora habitados por morcegos afastados
pelos muitos turistas que visitam o local, estão cobertos com pedra importada
da orla marítima da região de Peniche, pedra que dá a sugestão de um mundo
submerso.
FERNANDO
PESSOA – NO TÚMULO DE CHRISTIAN ROSENKREUZ
Fernando Pessoa, no seu poema “No
túmulo de Christian Rosenkreuz”, traça toda uma série de jogos de linguagem,
que remetem para o domínio da gnose cristã, e, consequentemente, de correntes
como o Rosacrucianismo.
I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até corpo, essa descida
Até á noite que nos a Alma obstrui,
Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui
Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,
Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De além o Abismo, Espírito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.
II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.
Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.
Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue atual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.
III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.
Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.
Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?
Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosaecruz conhece e cala.
ORGANIZAÇÕES
MODERNAS
Entre o final do século XIX e o início
do século XX surgiram várias organizações inspiradas na Tradição da Rosacruz.
Existem atualmente diversas e distintas ramificações Rosacrucianas.
Apresenta-se em seguida uma breve descrição acerca das mais divulgadas:
A FRATERNIDADE ROSACRUZ, no Brasil e em
Portugal (inglês The Rosicrucian Fellowship), foi fundada por Max Heindel entre
1909 e 1911, nos Estados Unidos, Não reivindica o título de “Ordem Rosacruz”,
considerando-se apenas uma escola de exposição de suas doutrinas e de
preparação para o indivíduo para ingresso em caminhos mais profundos na Ordem
espiritual. Segundo eles, a verdadeira Ordem Rosacruz funciona apenas nos
planos espirituais. Ao contrário da maioria das demais organizações Rosacruzes,
as escolas de Max Heindel se consideram indissociáveis do Cristianismo. Outras
organizações Rosacruzes também consideram cristãs, mas não com esta ênfase;
ANTIGA E MÍSTICA ORDEM ROSAE CRUCIS
(AMORC), com sede mundial em São José na Califórnia, EUA, foi fundada em 1915,
por Harvey Spencer Lewis, nos Estados Unidos. Tem influência do Antigo Egito,
de organizações fundadas pelo Faraó Amenófis IV (também conhecido como
Aquenáton) por volta de 1.500 a.C. Tal como está expresso no site oficial da
Ordem: “A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização internacional de caráter
místico-filosófico, que tem por missão despertar o potencial interior do ser
humano, auxiliando-o em seu desenvolvimento, em espírito de fraternidade,
respeitando a liberdade individual, dentro da Tradição e da Cultura Rosacruz”.
A Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis é hoje a maior confraria Rosacruz no
mundo, abrangendo dezenas de países, em diversos idiomas, além de acolher a
Tradicional Ordem Martinista (T.O.M.), uma ordem martinista fundada pelo
renomado médico e ocultista francês Papus (Dr. Gerard Anaclet Vicent Encausse).
A sede para os falantes da língua portuguesa localiza-se na cidade de
Curitiba-PR;
FRATERNITAS ROSAE CRUCIS (FRC), também
com sede mundial nos EUA, que se reivindica a autêntica Ordem Rosacruz fundada
em 1614 na Alemanha, mas na verdade foi fundada por Reuben Swinburne Clymer por
volta de 1920 e se diz representante de um movimento originalmente fundado por
Pascal Beverly Randolph em 1856;
FRATERNITAS ROSICRUCIANA ANTIQUE (FRA),
foi fundada pelo esoterista alemão Arnolde Krumm-Heller por volta de 1927, e
tem sede no Rio de Janeiro (está presente também nos países de língua
hispânica);
LECTORIUM ROSICURCIANUM (ou Escola
Espiritual da Rosacruz Áurea) é uma organização Rosacruz que começou a se
estruturar em Haarlem, Holanda, em 1924, através do trabalho de J. Van
Rijckeborgh (pseudônimo de Jan Leene) e Z.W.Leene, qudno esses dois irmãos
entraram para a Sociedade Rosacruz (Het Rozekruisers Genootschap), divisão
holandesa do grupo americano Rosicrucian Fellowship. Este grupo se tornaria
independente da Roscrucian Fellowship em 1935 e, com o final da guerra em 1945
(quando seu trabalho foi proibido pelas forças de ocupação nazista), o trabalho
exterior foi retomado e passou a adotar o nome Lectorium Rosicrucianum, ou
Escola Internacional da Rosacruz Áurea, apresentando-se cada vez mais como uma
escola gnóstica, “Gnosis” significando aqui o conhecimento direto de deus,
resultado de um caminho de desenvolvimento espiritual. Desde 1945, o grupo
expandiu por vários países da Europa, América, Oceania e África, além de
publicar inúmeros livros, muitos dos quais com comentários sobre antigos textos
da sabedoria universal, como os Manifestos Rosacruzes do século XVII, o Corpus
Hermeticum (textos atribuídos a Hermis Trismegisto), o Evangelho Gnóstico da
Pistis Sophia, o Tao Te Ching, entre outros;
CONFRATERNIDADE DA ROSA+CRUZ (CR+C)
preserva e perpetua a Tradição Rosacruz sob a linhagem e autoridade espiritual
do Imperator Gary L. Stewart, oferecendo os Ensinamentos Rosacruzes originais
preparados nas décadas de 1920 e 1930 por Harvey Spencer Lewis. Preservando a
tradição conforme especificamente estabelecida no início do século XX e também
conforme o Movimento Rosacruz em geral dos séculos passados. Para executar essa
tarefa com êxito, há necessidade de se manter sempre o equilíbrio entre a
Tradição e o Movimento com adesão estrita às leis que governam a sua operação e
a sua existência. A manutenção desse equilíbrio é confiada a um imperator do
Movimento, que, sobe muitos aspectos, serve como um guardião do mesmo;
OKRC (Ordem Kabbalística da Rosacruz) –
a OKRC foi fundada em 1888, pelo Marquês Stanislas de Guaita (seu primeiro
Grão-Mestre). Ela agrega em si de uma forma equilibrada a herança do Martinismo
da Rosacruz, da Kabbala e do Hermetismo. Ela tem uma estrutura internacional
mista. Longe de não ser apenas uma escola filosófica ou simbólica, ela tem por
objetivo desde sua criação formar e iniciar os Seres de Desejo. Presente hoje
como outrora, a sua herança conservou este vigor e esta riqueza, que sempre
permitiu adaptar-se à sua época, fazendo irradiar a chama da sua iniciação.
Tendo ressurgido no século XIX, as correntes Rosacruzes do Sudoeste da França
permitiram o reencontro entre a tradição mística e simbólica alemã e suas correntes
herméticas mediterrâneas. Por este intercâmbio, a Rosacruz da qual falamos
concentro seus trabalhos sob o ritual, a alquimia, a astrologia e uma certa
forma de teurgia.