Mikhail
Aleksandrovich Bakunin (em russo, Михаил Александрович Бакунин) – Nascido em 30 de
maio de 1814 em Premukhimo (localidade russa na província de Tver, à noroeste
de Moscou) e falecido em Berna, na Suiça em 1º de julho de 1876), também
aportuguesado de Bakunine ou Bakúnine. Foi um teórico político, sociólogo,
filósofo e revolucionário anarquista. É considerado uma das figuras mais
influentes do anarquismo e um dos principais fundadores da tradição social anarquista.
O enorme prestígio de Bakunin como ativista o tornou um dos ideólogos mais
famosos da Europa e sua influência foi substancial entre os radicais da Rússia
e da Europa.
Bakunin cresceu em Premukhimo e
morou em uma propriedade familiar localizada em Tver Governorate, para onde se
mudou com a intenção de estudar filosofia. Em Tver ele passou a ler as
enciclopédias francesas, entusiasmando-se particularmente com a filosofia de
Fichte. A partir de Fichte, Bakunin conheceu as obras de Hegel, o pensador mais
influente entre os intelectuais alemães da época. Em 1840, aos 26 anos, Bakunin
viajou para São Petersburgo e Berlim com a intenção de se preparar para a
cátedra de filosofia ou história na Universidade de Moscou. Em 1842, Bakunin
mudou-se para Dresden. Posteriormente viajou para Paris, onde conheceu
Pierre-Joseph Proudhon e Karl Marx.
O radicalismo crescente de Bakunin –
incluindo sua oposição ao imperialismo russo – pôs fim às esperanças de uma
carreira na docência. Ele foi deportado da França por militar contra a opressão
russa exercida na Polônia. Em 1849, Bakunin foi interrogado em Dresden por
conta de sua participação na rebelião Tcheca de 1848 e acabou levado à Rússia,
onde foi preso na Fortaleza de São Pedro e São Paulo em São Petersburgo. Ele
permaneceu preso até 1857, quando acabou exilado em um campo de trabalho na
Sibéria. Conseguindo fugir para o Japão, passou pelos Estados Unidos e
finalmente chegou em Londres, onde trabalhou com Alexander Herzen no jornal
Kolokol (O Sino). Em 1863 ele deixou o Reino Unido com a intenção de se juntar
à insurreição na Polônia, mas ele não conseguiu chegar a seu destino.
Em 1868, Bakunin se juntou à
Associação Internacional dos Trabalhadores, uma federação de sindicatos e
trabalhadores que possuía filiais espalhadas por muitos países europeus, bem
como pela América Latina, norte da África e Oriente Médio. A influência
“Bakuninista” rapidamente se expandiu, especialmente pela Espanha. Bakunin
envolveu-se numa contenda com Karl Marx, que era uma figura-chave no Conselho
Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores. O Congresso de Haia de
1872 foi dominado por uma luta entre os seguidores de Marx, que defendiam o uso
do Estado para provocar o socialismo e a facção anarquista de Bakunin, que
argumentava em prol da substituição do Estado por federações locais de
trabalhadores autônomos. Bakunin não pôde participar do congresso, pois não
conseguiu chegar à Holanda a tempo. Diante da ausência do líder, a facção
anarquista acabou perdendo e Bakunin foi expulso por Marx e o Conselho Geral da
AIT, sob a alegação de manter uma organização internacional secreta.
No entanto, os anarquista persistiam
na ideia de que o congresso não foi representativo. O grupo Bakuninista, muito
maior em número, ultrapassou o pequeno grupo rival marxista, que se mantinha
isolado em New York. Essa vitória contribuiu muito para a disseminação global
do anarcossocialismo. Durante esses debates, bem como em seus escritos
teóricos, Bakunin articulou e combinou as ideias básicas do sindicalismo e do
anarquismo, e desenvolveu uma análise estratégica do anarquismo. Bakunin
abandonou, então, o nacionalismo anti-imperialista que adotara durante a
juventude. Entre 1870 e 1876, Bakunin escreveu algumas de suas obras mais, como
o “Estatismo e Anarquia” e “O Império Knuto-Germânico e a Revolução Social”,
cujo texto “Deus e o Estado” é um trecho desta obra. Mesmo exercendo intensa
atividade intelectual, Bakunin permaneceu participando ativamente dos
movimentos sociais e revolucionários como militante.
Biografia
No dia 18 de maio, no meio da
primavera do ano de 1814, nascia Mikhail Alexandrovich Bakunin na pequena
cidade de Premukhimo, entre Torzhok e Kuvshinovo, na província de Tver, no
noroeste de Moscou.
Nasceu numa família de linhagem
nobre, formada por grandes proprietários de terra. Era um dos sete filhos de
Alexander Michailowitsch Bakunin e Varvara A. Bakunin (nascida
Varvara Muravyov). Durante a infância de Mikhail seu pai Alexander, que se
identificava com o liberalismo europeu e a Revolução Francesa, apresentou a sua
família as ideias em torno deste movimento e ofereceu aos seus filhos uma educação
primária baseada nestes mesmos ideais.
No entanto, depois dos levantes
dezembrista, Alexander Bakunin, horrorizado com a violência e temeroso que aos
ideias liberais lhes causassem problemas, tornou-se um leal czarista a defender
os benefícios da aristocracia russa, na época quase toda composta por famílias
da nobreza daquele país. Nesta mesma época, Alexander decidiu mandar Mikhail
para São Petersburgo para que ele se tornasse um oficial de artilharia. Aos 14
anos de idade, Mikhail Bakunin deixou a casa de sua família em Premukhimo para
ir para a Universidade de Artilharia em São Petersburgo. Lá, o jovem Bakunin
completou seus estudos em 1832, e em 1834 foi promovido a oficial júnior da
Guarda Imperial Russa. Seu pai imediatamente exigiu que ele fosse transferido
para o exército regular. Após a transferência de cargo, a bateria na qual
Bakunin estava alistado foi enviada a Minsk e Gardinas, na Lituânia.
Deprimido e insociável, em meio ao
inverno rigoroso e preso em uma pequena aldeia congelada, o jovem Bakunin
passaria a negligenciar seu deveres, mentindo para passar os dias envolto em
pele de carneiro. Diante da incontinência, o oficial em comando lhe deu duas
opções, retomar suas funções regulares ou desligar-se do exército. Bakunin
escolheria a segunda, retornando para casa no início da primavera.
Diante do seu retorno, a relação com
o pai se tornaria cada vez mais conflituosa. No verão seguinte, tomou parte em
uma briga familiar assumindo o lado de sua irmã, que se rebelara contra o pai,
a defender um casamento no qual sua filha se sentia infeliz. Em 1835, Mikhail
Bakunin partiu para Moscou com o objetivo de estudar filosofia. A escolha se
contrapunha frontalmente ao projeto de vida defendido por seu pai: tornar-se um
grande oficial de carreira militar.
Interesse por Filosofia
Em Moscou, Bakunin tornou-se amigo
de um grupo de estudantes universitários engajados no estudos sistemático de
filosofia idealista, agrupados em torno da figura do poeta Nikolay Stankevich,
“o arrojado pioneiro que expôs ao pensamento russo o vasto e fértil continente
da metafísica alemão” (E.H.Carr). A filosofia de Kant inicialmente era central
neste círculo de estudos, mas depois o grupo partiu para Schelling, Fichte e
Hegel. No outono de 1838, Bakunin decidiu formar um círculo de estudos
filosóficos em sua cidade natal de Premukhino; um espaço passional onde jovens
se reuniam não só para o estudo de filosofia. Neste círculo de estudos,
VissarionBelinskii se apaixonaria por uma das irmãs de Bakunin. No início de
1836, retornou a Moscou, onde publicou algumas traduções de “Algumas Leituras
Acerca da Vocação Escolar” e “O Caminho da Vida Abençoada”, de autoria de
Fichte. Este havia se tornado seu livro favorito. Com Stankevich, ele também
leria Goethe, Schiller e E.T.A. Hoffman.
Ele se tornou amplamente
influenciado pelo pensamento de Hegel e foi o autor da primeira tradução de sua
obra para o idioma russo. Durante esse período ele conheceu os eslavófilos Konstantin Aksakov,
Piotr Tschaadaev e os socialistas Aleksandr Herzen e Nikolay Ogarev. Nessa
época, começou a desenvolver uma perspectiva pan-eslávica. Depois de longas
discussões com seu pai, Bakunin foi para Berlim em 1840. Inicialmente, tinha
planos para tornar-se um professor universitário (um “sacerdote da verdade”,
tal qual imaginavam ele e seus amigos), mas logo encontrou-se e tomou parte de
um coletivo de estudantes denominados a “Esquerda Hegeliana”, e uniu-se ao
movimento socialista de Berlim. Em seu ensaio de 1842, “A Reação na Alemanha”,
ele argumentava em favor da ação revolucionária da negação, resumida na frase:
“(...) a paixão pela destruição é uma paixão criativa”.
Depois de três semestres em Berlim,
Bakunin foi para Dresden, onde tornou-se amigo de Arnold Ruge. Ele também havia
lido o ensaio de Lorenz von Stein “Der
Sozialismus und Kommunismus des Heutigen Frankreich” (“Socialismo e Comunismo na
França Hoje”) e, à época, era considerado um socialista fervoroso. A esse
tempo, havia abandonado seu interesse por um carreira acadêmica, devotando mais
e mais seu tempo a promoção da revolução. Preocupado com seu radicalismo, o
governo imperial russo ordenou que ele retornasse à Rússia. Diante da recusa,
todas as suas propriedades em território russo foram confiscadas em dezembro de
1844. Nesta mesma época, Bakunin foi para a cidade suíça de Zurique com Georg
Herwegh.
Suíça, Bruxelas, Praga, Dresden e Paris
Durante seis meses, Bakunin
permaneceu em Zurique, tornando-se muito próximo de Wilhelm Weitling. Até o ano
de 11848, seguiu tendo boas relações com os comunistas alemães, ocasionalmente
se autoproclamando um comunista e escrevendo artigos sobre o comunismo no
periódico Schweitzerische Reppublikaner (Republicanos Suíços). Acabou por
mudar-se para Genebra, no oeste suíço, após a prisão de Weitling. Seu nome
aparecia frequentemente na correspondência de Weitling apreendida pela polícia.
Este fato fez com que relatórios a seu respeito circulassem entre a polícia
suíça e o Império Russo. Não demorou para que o embaixador russo em Berna ordenasse
o retorno de Bakunin à Rússia. Este não obedeceu aos ditames do Estado Russo,
ao invés disso foi para Bruxelas, onde se encontrou com oradores do
nacionalismo e do progressismo polonês, como Joachim Lelewel, membro da
Associação Internacional dos Trabalhadores junto com Karl Marx e Friedrich
Engels.
Lelewel teve grande influência sobre
Bakunin. No entanto, não demorou para que este último rompesse com os
nacionalistas poloneses frente às suas demandas pela restauração de uma Polônia
histórica baseada nas fronteiras de 1776 (antes da divisão da Polônia), somado
ao fato de que também sua defesa ao direito de autonomia das populações não
polonesas nestes territórios era paulatinamente desconsiderada. Bakunin também
não apoiava o clericalismo reinante entre os nacionalistas da Polônia, e também
estes não demonstraram qualquer apoio à defesa da emancipação do campesinato
propalada por ele.
Em 1844, Bakunin foi a Paris, que
então era considerada um dos principais centros do pensamento progressista
revolucionário europeu. Nessa cidade estabeleceu contato com o comunista Karl
Marx e o anarquista Pierre-Joseph Proudhon. Este último lhe impressionou
prontamente e, com ele, Bakunin estabeleceu fortes laços pessoais. Em dezembro
de 1844, o imperador Nicolau I da Rússia lançou um decreto refutando os
privilégios de Bakunin, destituindo-o de seu título de nobre bem como de
quaisquer direitos civis, confiscando suas posses na Rússia, e condenando-o ao
exílio para o resto de sua vida na Sibéria caso as autoridades russas alguma
vez conseguissem pegá-lo.
Bakunin prontamente respondeu o
decreto com a longa carta “La Réforme”, denunciando o czar como um déspota e
fazendo um chamado para a democracia na Rússia e na Polônia. Em março de 1846,
em outra carta, intitulada “Constitutionel”, Bakunin defendeu a Polônia da
repressão orquestrada nesse país pelos católicos. Alguns refugiados poloneses
da Cracóvia, que se instalaram na França após a derrota do levante de Cracóvia,
convidaram-no para discursar num de seus encontros em novembro de 1847, em
comemoração ao Levante de Novembro de 1830.
Em seu discurso, Bakunin fez um
chamado por uma aliança entre as populações russa e polonesa contra o
imperador, em prol do “colapso definitivo do despotismo na Rússia”. Em
consequência deste chamado, foi expulso da França e se dirigiu para Bruxelas.
Lá, Bakunin faria um apelo para que Aleksandr Herzen e Vissarion Belinsky se
envolvessem em uma ação conspiratória em favor da revolução social na Rússia. No
entanto, nenhum dos dois daria ouvidos a ele. Também em Bruxelas, Bakunin
restabeleceu contato com poloneses revolucionários e voltou a encontrar com
Karl Marx. Em um encontro organizado por Lelewel, em fevereiro de 1848, ele
discursou sobre o grande futuro reservado aos eslavos, cujo destino era
rejuvenescer a Europa Ocidental. Por essa época, na embaixada russa, circulavam
rumores de que Bakunin era um agente russo que havia excedido suas ordens.
Frente ao fim do movimento revolucionário de 1848, Bakunin não continha seu
desapontamento frente aos parcos resultados alcançados na Rússia. Ainda assim,
junto aos revolucionários do Governo Provisório – Ferdinand Flocon, Louis
Blanc, Alexandre Auguste Ledru-Rollin e Albert L’Ouvrier –, havia obtido algum
recurso com o objetivo de fomentar a criação de uma Federação Eslava, cuja
finalidade seria libertar as populações que permaneciam sob o controle da
Prússia, do Império Austro-Húngaro e da Turquia. Partiu para a Alemanha
viajando de Baden até Frankfurt e Köln.
Bakunin apoiou a Legião Democrática
Alemã liderada por Herwegh e não poupou esforços tentando vinculá-la à
insurreição de Friedrich Hecker em Baden. Posteriormente, ele romperia com Marx
com relação ao criticismo de Herwegh. Muito mais tarde em 1871 – Bakunin
escreveria:
“Eu preciso admitir abertamente que nessa controvérsia, Marx
e Engels estavam certos. Com sua insolência característica, eles atacaram
pessoalmente Herwegh quando ele não estava lá para defender. No confronto cara
a cara, eu calorosamente defendi Herwegh, e nossa desavença mútua aí teve seu
início”.
Em Berlim, foi impedido pela polícia
de chegar a Posen, onde estava acontecendo uma insurreição popular. À época,
essa cidade compunha os territórios poloneses tomando pelo Reino da Prússia nas
Divisões da Polônia. Frente ao impedimento, foi para Leipizig e Breslau, de lá
para Praga, onde participou do Primeiro Congresso Pan-eslávico. O congresso foi
seguido por uma insurreição malfadada que buscou promover e intensificar mas
que, por fim, foi violentamente suprimida. Retornando a Breslau, ficou sabendo
que Marx havia alegado publicamente que ele era um agente imperial. Face à
acusação, exigiu que George Sand apresentasse suas evidências. Marx se
retrataria depois que o próprio George Sand veio em defesa de Bakunin.
No outono de 1848, Bakunin publicou
seu “Apelo aos Eslavos”, no qual propunha que os revolucionários eslavos se
unissem com os revolucionários húngaros, italianos e alemães para derrubar as
três maiores autocracias da Europa, O Império Russo, o Império Austro-húngaro e
o Reino da Prússia.
Mikhail Bakunin teve um papel de
destaque no Levante de Maio em Dresden, em 1849, ajudando a organizar a defesa
das barricadas contra as tropas prussianas com Richard Wagner e Wilhelm Heine.
Wagner escreveria em sua biografia sobre a atuação do grande anarquista em
Dresden e Praga, bem como sobre a aura revolucionária que emanava de suas
ações:
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Richard Wagner |
“Por anos havia cruzado com seu nome nos jornais, e sempre
sob espetaculares circunstâncias extraordinárias. Ele voltou a Paris para um
encontro polonês, mas ainda que fosse um russo, ele declarou que pouco
importava ser um homem russo ou polaco, o que ele desejava ser era um homem
livre, isso era tudo que importava. Ouvi mais tarde de Georg Herwegh, que ele
havia renunciado a toda sua riqueza enquanto membro de uma influente família
russa, e que um dia, quando toda sua fortuna consistia em dois francos, ele a
entregou para um mendigo no bulevar, porque isso lhe causava irritação, estar
preso por suas posses, suas preocupações estavam no amanhã. Fui informado de
sua presença em Dresden por Rockel, e que mais tarde ele se tornaria um
fervoroso republicano. Ele havia levado o russo para sua casa, e me convidou
para ir lá conhece-lo. Naquela época, Bakunin estava sendo perseguido pelo
governo da Áustria por sua participação nos eventos que ocorreram em Praga no
verão de 1848, e porque ele era membro do Congresso Eslavo que precedeu aqueles
acontecimentos. Em decorrência desta perseguição, ele teve que procurar refúgio
em nossa cidade, mas de forma que não desejava permanecer muito longe da
fronteira com a Boêmia. A sensação extraordinária que ele criou em Praga
advinha do fato que, quando os tchecos buscaram a proteção da Rússia contra a
temerosa polícia germanizada da Áustria, ele conjurou-os eles próprios a defender-se
com fogo e espada contra aqueles mesmos russos, e também contra quaisquer
outras pessoas que vivessem sob o mando de um despotismo como aquele dos
czares”.
Bakunin seria capturado pelos saxões
em Chemnitz e trancafiado pro treze meses antes de ser condenado à morte pelo
governo da Saxônia; uma vez que os governos da Rússia e Áustria também estavam
atrás dele, sua sentença de morte compulsória, seria comutada para prisão
perpétua. Finalmente em maio de 1851, Bakunin foi enviado para as autoridades
russas.
Aprisionamento, “Confissão” e Exílio
Bakunin foi levado à notória prisão
da Fortaleza de Pedro e Paulo. No início de sua sentença, o conde Orlov, um
emissário do czar, visitou Bakunin e disse a ele que o imperador requisitava
uma confissão por escrito, esperando que a confissão pudesse encaminhar Bakunin
espiritual e fisicamente frente ao poder do Estado russo. Uma vez que todos
seus atos eram conhecidos, ele não possuía segredos a serem revelados, e
decidiu a escrever ao imperador:
“Você quer minha confissão; mas você precisa saber que um
criminoso penitente não é obrigado a implicar ou revelar as ações de outrem.
Guardo apenas a honra e a consciênciade que jamais traí quem quer que tivesse
confiado em mim, e é por esse motivo que não lhe entregarei nenhum nome”.
Ao ler a carta, o czar Nicolau I
teria dito: “Ele é um bom rapaz, cheio de espírito, mas é um homem perigoso e
não devemos jamais deixar de vigiá-lo”. A confissão seria publicada muito
posteriormente, após ser descoberta em meio aos arquivos imperiais.
Depois de três anos em uma pequena
cela da Fortaleza de São Pedro e São Paulo, ele passaria outros quatro
trancafiado nas masmorras subterrâneas do castelo de Shlisselburg. Lá, ele
sofreria com o escorbuto e todos seus dentes cairiam com resultado da
aterradora dieta. Mais tarde, Bakunin diria que ele encontrou algum alento ao
rememorar mentalmente a lenda de Prometeu. Seu contínuo aprisionamento nessas
terríveis condições fizeram com que ele pedisse ao seu irmão que lhe trouxesse
veneno para que desse um fim ao seu sofrimento.
Após a morte de Nicolau I, o novo
imperador Alexandre II exigiu que o nome de Bakunin ficasse fora da lista de
anistia. No entanto, em fevereiro de 1857, sua mãe fez um apelo ao imperador
que resultou na deportação do libertário ao exílio permanente na cidade de
Tomsk, na Sibéria Ocidental. Após um ano de sua chegada em Tomsk, Bakunin casou
com Antonia Kwiatkowska, a filha de um mercador polonês. Anteriormente, ele
havia ensinado francês a ela. Em agosto de 1858, Bakunin recebeu a visita do
seu primo Nikolay Muravyov-Amursky, que fora governador-geral da Sibéria
Ocidental por dez anos.
Muravyov era um liberal e Bakunin,
enquanto seu parente, tornou-se seu primo favorito. Na primavera de 1859,
Muravyov ajudou Bakunin com um emprego na Agência de Desenvolvimento de Amur o
que permitiu que ele e sua companheira se mudassem para Irkutsk, a capital da
Sibéria Oriental. Esta mudança possibilitou que Bakunin fizesse parte do
círculo de discussões políticas centrado no quartel-general da colônia de
Maravyov.
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Pietr Kropotkin |
A administração regional estava
ressentida com o tratamento dispendido à colônia pela burocracia de São
Petersburgo, que lhe destinava o caráter de colônia penal para criminosos e
descontentes. Neste ambiente, emergiu a proposta para a criação de um Estados
Unidos da Sibéria, independente da Rússia e confederado junto a um novo Estados
Unidos da Sibéria e América, seguindo o exemplo dos Estados Unidos. O círculo
incluía o jovem chefe do Estado-maior, Kukel – o qual, relatava Kropotkin,
tinha, em sua posse, a obra completa de Aleksandr Ivanovitch Herzen – o
governador civil Izvolsky, que permitiu que Bakunin utilizasse seu endereço
para correspondência, e o eventual vice de Muravyov, seu provável sucessor, o
general Alexander Dondukov-Korsakov.
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Nikolay Muravyov-Amursky |
Quando Herzen criticou Muravyov em
“O Sino”, Bakunin escreveu uma resposta vigorosa na defesa de seu patrono.
Cansado de seu emprego como viajante comercial, ainda que agradecido pela
influência de Muravyov, Bakunin havia conseguido alguns benefícios (recebia 2
mil rublos por ano) sem ter que pagar nenhum imposto. No entanto, Muravyov
seria forçado a se aposentar de seu cargo de governador-geral, em parte por sua
conduta liberal, em parte pelo temor de que ele pudesse levar a Sibéria a um
movimento de independência.
Muravyov seria substituído por
Korsakov, que por sua vez também era parente de Bakunin. O irmão de Bakunin,
Paulo, havia casado com sua prima. Tomando a palavra de Bakunin, o novo
governador-geral deu-lhe uma carta permitindo a ele passagem em todos os barcos
que circulassem no rio Amur e seus tributários desde que voltasse para Irkutsk
antes do retorno do gelo.
Em 5 de junho de 1861, Bakunin
deixou Irkutsk para supostamente tratar de negócios da companhia, aparentemente
empregado por um mercador siberiano para fazer uma viagem até Nilolaevsk. Em 17
de julho, ele estava a bordo do navio de guerra Strelok indo para Kastri. No
entanto, no porto de Olga, Bakunin conseguiu convencer um capitão americano da
nau S.S. Vickery a leva-lo a bordo. A bordo, para sua surpresa se deparou com o
cônsul russo, mas ainda assim passou despercebido e partiu navegando sob o
nariz da Marinha Imperial Russa. Em 6 de agosto, chegou a Hakodate, na ilha de
Hokkaido, no extremo norte do arquipélago do Japão, e logo estava em Yokohama.
No Japão, Bakunin por acaso
encontrou com Wilhelm Heine, um de seus camaradas de armas de Dresden. Ele
também conhecia o botânico alemão Philipp Franz von Viebold, que estava
envolvido na abertura do Japão aos Europeus (particularmente aos russos e
holandeses) e era um amigo do patrono de Bakunin, Muraviev. O filho de Von
Siebold escreveria 40 anos mais tarde:
“Naquele porto de Yokohama nós encontramos um fora da lei do
oeste selvagem de Heine, provavelmente tão bem quanto tantos outros convidados
interessantes. A presença do revolucionário russo Michael Bakunin,
recém-chegado da Sibéria, foi tão longe quanto alguém pudesse ver em um piscar
de olhos das autoridades. Ele estava muito bem amparado com dinheiro, e nenhum
dos que vieram a conhece-lo deixaram de demonstrar por ele seu respeito”.
|
Joseph Heco |
Ele deixou o Japão a partir de
Kanagawa no S.S. Carrington, como um dos dezenove passageiros incluindo Heine,
o reverendo P.F. Koe e Joseph Heco. Heco era um nipo-americano, que oito anos
mais tarde teria um papel importante ao assessorar politicamente Kido Takayoshi
e Ito Hirobumi durante o levante revolucionário que derrubou o shogunata feudal
de Tokugawa.
Chegaram a San Francisco em 15 de
outubro. Antes das ferrovias transcontinentais terem sido completadas, a forma
mais rápida de ir para New York era através do canal do Panamá. Bakunin subiu a
bordo do Orizaba para o Panamá, onde, depois de esperar por duas semanas, subiu
na embarcação Champion em direção a New York.
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Alexander Herzen |
Em Boston, Bakunin visitou Karol
Foster, uma partisan de Ludwik Mieroslawski durante a revolução de Paris de
1848, que fora apanhada junto com outros quarenta e oito veteranos das
revoluções 1848 na Europa entre eles Friedrich Kapp. Depois, ele navegou para
Liverpool, aportando em 27 de dezembro. Imediatamente, Bakunin foi a Londres
para ver Herzen. Naquela noite, ele irrompeu na sala de jantar onde a família
comia sopa. “O que! Você está sentado aí comendo ostras! Bem” Conte-me sobre as
novidades. O que está acontecendo, e onde?!”.
Na Itália
Tendo retornado ao oeste europeu,
imediatamente Bakunin mergulhou nos movimentos revolucionários. Em 1860,
enquanto ainda estava em Irkutsk, Bakunin e seus associados políticos tinham
muito se impressionado com Giuseppe Garibaldi e sua expedição à Sicília, na
qual declarou-se ditador em nome de Vitor Emanuel II. Após o retorno a Londres,
ele escreveu para Garibaldi em 31 de janeiro de 1862:
“Se você pudesse ver como eu vi o entusiasmo apaixonado de
toda a cidade de Irkutsk, a capital da Sibéria Ocidental, frente às notícias de
sua marcha triunfal através das terras do louco rei de Nápoles, você teria dito
como eu disse que já não existem distâncias ou fronteiras”.
Bakunin pediu para Garibaldi que
participasse de um movimento abrangendo italianos, húngaros e eslavos do sul
contra os Estados do Império Austríaco e do Império Otomano. Garibaldi estava
então engajado nas preparações para a Expedição contra Roma. Por maio, a
correspondência de Bakunin focava a possibilidade de estabelecer proximidade
entre os italianos, os eslavos e progressistas da Polônia. Em junho, ele
resolveu se mudar para a Itália, mas estava esperando que sua esposa se unisse
a ele. Em agosto, ele partiu para a Itália. Giuseppe Mazzini escreveu para
Maurizio Quadrio, um de seus apoiadores-chave, dizendo que Bakunin era uma
pessoa boa e confiável. No entanto, diante das novas da derrota na Batalha de
Aspromonte, Bakunin parou em Paris, onde estabeleceu um contato breve com
Ludwik Mieroslawski.
No entanto, frente ao chauvinismo de
Mieroslawski e de sua recusa em garantir concessões aos camponeses, Bakunin
dele se afastou, retornando à Inglaterra e focando sua atenção nas questões
referentes à Polônia. Quando a insurreição polonesa irrompeu em janeiro de
1863, ele navegou para Copenhagen, onde esperava se reunir com a Legião
Polonesa. Eles planejavam navegar através do Báltico no S.S. Ward Jackson para
se juntarem à insurreição. A tentativa, no entanto, falhou, e Bakunin encontrou
com sua esposa em Estocolmo antes de retornar a Londres. Sua atenção voltou-se
novamente à Itália, para onde decidiu retornar. Seu amigo AurelioSaffi lhe
escreveu cartas de introdução para Florença, Turim e Milão. Mazzini escreveu
cartas de recomendação para Frederico Campanella em Gênova e Giuseppe Dolfi em
Florença. Bakunin deixou Londres em novembro de 1863 viajando via Bruxelas,
Paris, Vevey (Suíça), chegando na Itália em 11 de janeiro de 1864. Foi lá que,
pela primeira vez, ele se autodeclarou anarquista e expôs suas ideias enquanto
tal.
Lá, ele concebeu o plano para formar
uma organização secreta de revolucionários para levar à frente o trabalho de
propaganda e prepararem-se para a ação direta. Ele recrutou italianos,
franceses, escandinavos e eslavos ara uma irmandade Internacional também
chamada de Aliança dos Socialistas Revolucionários. Até então, o termo
“socialismo” se relacionava com diferentes formas de superação da sociedade de
classes. Posteriormente, com a popularização do marxismo e com a experiência
soviética, o termo “socialismo” ganhou a conotação de um molde político específico
de transformação através da ditadura do proletariado.
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Herzen e Ogarev |
Em julho de 1866, Bakunin escrevia
para Herzen e Ogarev os bons resultados de seus esforços em relação aos últimos
dois anos. Sua sociedade secreta, então possuía, então, membros na Suécia, Noruega,
Dinamarca, Bélgica, Inglaterra, França, Espanha e Itália, bem como também
membros da Rússia e da Polônia. Em seu “Catecismo de um Revolucionário” de
1866, ele se opunha tanto à religião quanto ao Estado, defendendo a“absoluta
rejeição a toda autoridade, incluindo aquela que sacrifica a liberdade em nome
da conveniência do Estado”.
Durante o período entre os anos de
1867 e 1868, respondendo ao chamado de Emile Acollas, Bakunin envolveu-se na
Liga de Paz e Liberdade (LPF), para a qual ele escreveu o longo ensaio
“Federalismo, Socialismo e Antiteísmo”. Neste escrito, ele defendia o
socialismo federalista, baseado no trabalho de Proudhon. Ele apoiava a
liberdade de associação e o direito de secessão para cada unidade da federação,
mas enfatizava que essa liberdade deveria dar conjuntamente com o socialismo,
já que: “Liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; socialismo sem
liberdade é brutalidade e escravidão”.
Bakunin desempenhou um importante
papel na Conferência de Genebra em setembro de 1867, e juntou-se ao comitê
central. Participaram, desta conferência fundacional, em torno 6 mil pessoas.
Bakunin se ergueu para falar:
“(...) o grito passava de boca em boca: Bakunin! Garibaldi,
que estava sentado, se levantou, avançou uns poucos passos e o abraçou. Este
encontro solene de dois velhos e experientes guerreiros da revolução produziu
uma impressão estonteante... todos se levantaram e houve um prolongado e
entusiasmado bater de palmas”.
No Congresso de Berna de 1868, ele e
outros libertários (Élisée Reclus, Aristide Rey, Victor Jaclard,
Giuseppe Fanelli, Nicholas Joukovsky, Valerian Mroczkovsky e outros)
encontraram-se em minoria. Eles romperam com a Liga, estabelecendo outra
organização: Aliança Internacional de Democracia Socialista, que adotou o
programa socialista revolucionário.
Nechayev e o Niilismo
Entre os anos de 1869 e 1870,
Bakunin esteve envolvido com o revolucionário russo Sergey Nechayev em um
número significativo de projetos clandestinos. Em conjunto, os dois teriam
escrito os livretos “Palavra à Juventude – Princípios da Revolução” e
“Catecismo de um Revolucionário”, obras consideradas, por muitos, um exemplo de
frieza maquiavélica.
No entanto, um pouco mais tarde,
Bakunin revê esta posição e rompe com Nechayev devido aos seus métodos
“jesuítas”, como o próprio Bakunin posteriormente definiria. Desde então, passa
a criticar a ideia de Nechayev de que todos os meios são justificáveis para
atingir os fins revolucionários.
A Primeira Internacional
Em 1868, Bakunin participou da seção de Genebra da Primeira Internacional, na qual ele permaneceu sendo muito ativo até sua expulsão por Karl Marx e seus seguidores no Congresso de Haia em 1872. Bakunin foi um importante articulador no estabelecimento de núcleos da Internacional na Itália e na Espanha.
Em 1869, a Aliança Internacional de
Democracia Socialista foi impedida de entrar na Primeira Internacional. O
argumento era que esta também era uma organização internacional por si mesma, e
apenas organizações nacionais eram permitidas enquanto membros na
Internacional. A Aliança foi dissolvida e os vários grupos que a formavam
uniram-se à Internacional separadamente.
As discordâncias entre Bakunin e
Marx, que resultaram na expulsão da Internacional de 1872 pela votação dominada
pelos seguidores de Marx no Congresso de Haia, ilustram a crescente divergência
entre as seções “antiautoritárias” da Internacional que advogavam a ação e
organização dos trabalhadores de forma a abolir o Estado e o capitalismo, e as
seções social-democratas aliadas de Marx que defendiam a conquista do poder
político pela classe trabalhadora.
Ainda que Bakunin aceitasse a
análise de classe de Marx e suas teorias econômicas relacionadas ao
capitalismo, reconhecendo sua genialidade, ele considerava Marx um arrogante,
bem como que seus métodos poderia comprometer a revolução social. Bakunin criticava
de forma efusiva o que chamava de “socialismo autoritário” (que associava
sobretudo ao marxismo) e o conceito de “ditadura do proletariado”, o qual
refutava abertamente: “Se você pegar o mais ardente revolucionário, e
investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele seria pior que o próprio
czar”.
As palavras de Bakunin evidenciando
a falha da estratégia marxista soam um tanto proféticas com relação aos
acontecimentos do século XX:
“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para
considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da
imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta
minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza,
de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes
do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de
cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas
pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”.
As seções antiautoritárias expulsas
da Primeira Internacional por Marx e seus seguidores criaram seu próprio
Congresso Internacional em Saint-Imier. Agregando grupos libertários de vários
países, e importantes pensadores anarquistas – entre estes os irmãos Élisée e
Élie Reclus, Piotr Kropotkin, Errico Malatesta –, esta organização internacional
seria responsável por um novo fôlego à tradição antiautoritária, mutualista e
de caráter descentralizado do anarquismo nas próximas décadas, não sem algum
teor de dissenso.
As Comunas de Lyon e Paris
Em 1870, Bakunin atuou como
articulador de um levante na cidade francesa de Lyon, chamando a população a se
rebelar em resposta ao colapso do governo francês durante a Guerra
Franco-Prussiana, procurando transformar um conflito imperialista em revolução
social. Este levante que efetivamente fracassou mostrou-se um importante
precedente da Comuna de Paris, com a qual compartilhou princípios e modelos. Em
suas “Cartas para um Francês Sobre a Presente Crise”, ele defendeu uma aliança
revolucionária entre a classe trabalhadora e o campesinato e apresentou sua
formulação daquilo que, mais tarde, ficou conhecido como propaganda pelo ato:
“(...) precisamos difundir nossos princípios, não com palavras mas com ações,
esta é a mais popular, mais potente e mais irresistível forma de propaganda”.
Bakunin foi um forte apoiador da
Comuna de Paris de 1871, movimento revolucionário que foi brutalmente suprimido
pelo governo francês. O movimento brutal
das comunas foi compreendido por Bakunin como uma “rebelião contra o Estado e
os privilégios de classes”. Bakunin elogiou os homens e mulheres que,
posteriormente, ficaram conhecidos como communards por rejeitarem não só o
Estado mas também uma “ditadura revolucionária”.
Em uma série de panfletos enérgicos
em resposta a um artigo do nacionalista italiano Giuseppe Mazzini, Bakunin não
só defenderia a Comuna como a Primeira Internacional contra seus ataques. Dessa
forma, o pensador russo conseguiria conquistar muitos republicanos italianos
tanto para a Internacional quanto com relação à necessidade de transformação
social através da revolução.
Últimos Anos e Morte
Bakunin retirou-se para a cidade
suíça de Lugano em 1873. Passou a morar numa pequena vila chamada Baronata, em
uma casa adquirida por seu amigo e colaborador Carlo Cafiero, na primavera
daquele ano. Mesmo doente, com alguns estudantes e intelectuais, nesse mesmo
ano funda uma editora na qual grande parte de seus livros são publicados sob o
título de “Estadismo e Anarquia” (“Staatlichkeitund Anarchie”).
Bakunin ainda participaria no ano
seguinte, 1874, de uma tentativa de revolta na cidade italiana de Bolonha.
Esta, no entanto, não alcançou êxito, fazendo com que o velho revolucionário
retornasse para Lugano. Lá, passou seus últimos anos, época em que a vida de
aventuras e estadias na prisão cobraram seu último quinhão. Em seu texto,
“Lembrando Bakunin”, Errico Malatesta rememorou os últimos dias do
revolucionário por ocasião dos cinquenta anos de sua morte.
“Há cinquenta
anos morria Bakunin. Há quase cinquenta anos, eu o vi pela última vez em
Lugano, já mortalmente atacado pela enfermidade e reduzido à sua própria sombra
(ele me dizia, meio sério, meio irônico: ‘Meu caro, assisto à minha
dissolução’). Entretanto, o simples fato de pensar nele ainda reconforta meu
coração e enche-o de entusiasmo juvenil.
Em 1876, com a saúde muito
deteriorada, Bakunin é levado por um amigo para um hospital em Berna. Lá,
encontrou seu fim, falecendo em 1º de julho de 1876. Seu corpo foi enterrado no
túmulo 68, no bloco 9.201, no cemitério de Bremgarten, na cidade de Berna. Seu
túmulo mantido graças às doações de um suíço anônimo, é visitado por
anarquistas vindos de todo o mundo. Segundo o diretor, não é incomum que, em
algumas noites, grupos de jovens entrem no cemitério e se reúnam para beber
junto ao túmulo de Bakunin. Este túmulo permanece sendo o mais visitado daquele
cemitério.
Ideias e Reflexões
Em sua perspectiva política, Bakunin
rejeitou os sistemas de governo fossem qual fosse o seu formato. Questionou
qualquer governabilidade baseada na escolha divina, bem como toda forma de
autoridade externa, que fizesse prevalecer sobre as demais vontades, a vontade
de um soberano, ou de elites cuja ascensão possa ser favorecida pela
implementação de um sufrágio universal. Em “Deus e o Estado” (“Dieu et
L’Etat”), publicado postumamente em 1882 ele escreveu:
“A liberdade do
homem consiste tão somente nisso, de que ele obedeça as leis da natureza as
quais ele por si próprio reconhece enquanto tais, e não porque elas foram
impostas externamente sobre ele por qualquer vontade exterior, humana ou
divina, coletiva ou individual”.
De forma similar, Bakunin rejeitou a
noção de quaisquer posições ou classes privilegiadas, desde que “esta é a
peculiaridade do privilégio e de qualquer posição privilegiada: matar o
intelecto e o coração do homem. O homem privilegiado, seja ele privilegiado
politicamente ou economicamente, é um homem depravado em intelecto e coração”.
O entendimento político de Bakunin
estava baseado em uma série de conceitos inter-relacionados: 1) liberdade; 2)
socialismo; 3) federalismo; 4) ateísmo; e 5) materialismo. Ele também
desenvolveu uma crítica ao marxismo que alguns consideram profética, prevendo
que, se os marxistas tivessem êxito em ocupar o poder, eles iriam criar uma
ditadura de partido “em tudo mais perigosa porque ela se apresentaria como uma
falsa expressão da vontade do povo”.
Conceito de Liberdade de Bakunin
Por “liberdade”, Bakunin não se
referia a um ideal abstrato, mas a uma realidade concreta baseada na liberdade
simétrica de outros. Liberdade consiste no “desenvolvimento pleno de todas as
faculdades e poderes de cada ser humano, pela educação, pelo conhecimento
científico, e pela prosperidade material”. Tal concepção de liberdade é
“eminentemente social, porque só pode ser concretizada em sociedade”, não em
isolamento. Em um sentido negativo, liberdade é “a revolta do indivíduo contra
todo tipo de autoridade, divina, coletiva ou individual”.
Anarquismo Coletivista
A forma de socialismo tal qual a
concebia Bakunin era conhecida como “anarquismo coletivista”, condição na qual
os trabalhadores poderiam administrar diretamente os meios de produção através
de suas próprias associações produtivas. Assim, haveria “modos igualitários de
subsistência, fomento, educação e oportunidade para cada criança, menino ou
menina, até a maturidade, e recursos e infraestrutura análoga na idade adulta
para dar forma ao seu próprio bem estar através do próprio trabalho”.
Federalismo
Por federalismo, Bakunin entendia a
organização da sociedade “da base até o topo – da circunferência ao centro – de
acordo com os princípios de livre associação e federação”. Consequentemente a
sociedade poderia ser organizada “com base na liberdade absoluta dos
indivíduos, das associações, todas as comunas, todas as regiões, todas as
nações” tendo “o direito absoluto da autodeterminação, de se associar ou não,
aliar-se com quem quer que desejassem”.
Ateísmo
Bakunin defendia que “a ideia de
Deus implicava a abdicação da razão humana e justiça; esta é a mais decisiva
negação da liberdade humana, e necessariamente termina na escravidão da
humanidade, na teoria e na prática”. Consequentemente, Bakunin invertia o
aforismo de Voltaire de que “se Deus não existisse, seria necessário
inventa-lo”, afirmando que “se Deus realmente existisse, seria necessário
aboli-lo”.
Materialismo
Bakunin refutava a ideia religiosa
de livre-arbítrio e defendia uma explicação material dos fenômenos naturais:
“as manifestações de vida orgânica, propriedades químicas e reações,
eletricidade, luz, calor e atração natural de corpos físicos, constituem, na
nossa perspectiva, tantas formas diferentes, mas interdependentes da totalidade
de elementos reais daquilo que chamamos matéria” (“Escritos Selecionados”). A
“missão da ciência é, por observação das relações gerais, compreender os fatos
verídicos, e estabelecer as leis gerais inerentes as desenvolvimento de um
fenômeno no mundo físico e social”.
Bakunin, no entanto, rejeitava a
noção de “socialismo científico”, escrevendo em “Deus e o Estado” que um “corpo
científico, tão logo a ele seja confiado o governo da sociedade, acabaria
rapidamente por dedicar-se, não mais para a ciência, mas se envolveria em outro
assunto... em sua eterna perpetuação, tomando a sociedade que se confiou aos
seus cuidados, tornando-a cada vez mais estúpida e, consequentemente, mais
necessitada de seu governo e direção”.
Críticas ao Marxismo
A disputa entre Mikhail Bakunin e
Karl Marx realçaram as diferenças entre o anarquismo e o marxismo. Os
argumentos de Bakunin se contrapunham aos ideais defendidos por um número
considerável de marxistas de que nem todas as revoluções precisavam ser
necessariamente violenta. Ele também rejeitou fortemente o conceito marxista de
“ditadura do proletariado”, que os seguidores de Marx na atualidade, traduzem
em termos modernos por “democracia dos trabalhadores”, mas que mantém o poder
concentrado no Estado até a futura transição ao comunismo. Bakunin, “que havia
abandonado ideais de ditadura revolucionária”, insistia que revoluções deveria
ser lideradas pelo povo diretamente enquanto qualquer “elite iluminada” só
deveria exercer influência discreta... jamais impondo-se na forma de uma
ditadura a outrem... e nunca se aproveitando de qualquer direitos oficiais, em
termos de benefício ou significância. Bakunin defendia que o Estado deveria ser
imediatamente abolido, porque todas as formas de governo eventualmente levariam
à opressão.
“Eles (os marxistas) defendem que nada além de uma ditadura –
a ditadura deles, é claro – pode criar o desejo das pessoas, enquanto nossa
resposta para isso é: Nenhuma ditadura pode ter qualquer outro objetivo para
além de sua autoperpetuação, ela pode apenas levar à escravidão o povo que
tolerá-la; a liberdade só pode ser criada através da liberdade, isto é, por uma
rebelião universal de parte das pessoas e organização livre das multidões de
trabalhadores de baixo para cima” (Mikhail Bakunin – “Estadismo e Anarquismo”).
Enquanto os anarquistas sociais e os
marxistas compartilham o mesmo objetivo final, a criação de uma sociedade livre
e igualitária, sem classes sociais ou Estado, eles discordaram amplamente em
como alcançar o objetivo. Anarquistas acreditam que uma sociedade sem classes
ou Estado deveria ser estabelecida através da ação direta das massas em
organizações e espaços não hierárquicos, culminando na revolução social, e
refutam qualquer estágio intermediário como uma “ditadura do proletariado”,
argumentando que, desde seu início, tal ditadura teria, como objetivo, sua
autoperpetuação. Para Bakunin, esta é a contradição fundamental dos marxistas, “anarquismo
ou liberdade é a meta, enquanto no marxismo o Estado e a ditadura é o meio,
então logo, com o objetivo de libertar as massas, elas devem antes serem
escravizadas”.
Apesar da oposição veemente à
proposta marxista de revolução autoritária, Bakunin sempre conferiu valor à
análise de Marx acerca do capitalismo. Bakunin considerava as análises
econômicas apresentada por Marx extremamente importantes, tanto que foram o
próprio Bakunin o tradutor do “O Capital” para o idioma russo.
Já Marx, quando escreveu sobre a
insurreição de Dresden de 1848, afirmou que “no refugiado russo Michael
Bakunin, eles (os rebeldes de Dresden) encontraram um líder capaz e de cabeça
fresca”. Marx também escreveria, em uma de suas cartas para Engels, sobre o
encontro com Bakunin em 1864, depois de sua fuga da Sibéria: “No geral ele é um
dos poucos, penso eu, que não retrocedeu após estes 16 anos, pelo contrário,
avançou ainda mais”.
Mikhail Bakunin foi talvez o
primeiro teórico da “nova classe” de intelectuais e administradores componentes
de um aparato burocrático estatal. Bakunin afirmava que:
“O Estado sempre foi e sempre será patrimônio de alguma
classe privilegiada: uma classe sacerdotal, uma classe aristocrática, uma
classe burguesa. E finalmente, quando todas as outras classes terem se
exaurido, o Estado então se tornará o patrimônio da classe burocrática e então
cairá – se preferir, se erguerá – à posição de uma máquina”.
Educação Integral
Tendo, como base de reflexão, a ideia de educação politécnica sugerida por Proudhon, Bakunin também esboçou, em seus escritos, uma proposta educacional visando romper com a divisão educacional no século XIX e vigente até a atualidade que, de um lado, dispensa uma educação técnica e manual aos trabalhadores visando formar a mão de obra a ser explorada, e do outro oferece uma educação intelectual para reproduzir uma elite exploradora que se sobrepõe aos trabalhadores e detém o poder.
“Tomando a educação no sentido mais amplo desta palavra, incluindo nela não somente a instrução e as lições de moral, mas ainda e sobretudo os exemplos que dão às crianças todas as pessoas que as cercam, a influência de tudo o que ela entende do que ela vê, e não somente a cultura de seu espírito, mas ainda o desenvolvimento de seu corpo, pela alimentação, pela higiene, pelo exercício de seus membros e de sua força física, diremos com plena certeza de não podermos ser seriamente contraditados pro ninguém: que toda criança, todo adulto, todo jovem e finalmente todo homem maduro é o puro produto do mundo que o alimentou e o educou em seu seio, um produto fatal, involuntário, e consequentemente, irresponsável”.
Concepção de Revolução Social
Os métodos defendidos por Bakunin em
seu programa revolucionário estavam em consonância com seus ideais e
princípios. Os trabalhadores do campo e da cidade iriam se organizar em uma
base federalista, “criando não só as ideias, mas também os fatos do futuro eles
próprios”. Os sindicatos e organizações operárias poderiam “tomar em sua posse
todas as ferramentas de produção bem como prédios e recursos”. Os camponeses
“ocupariam a terra e colocariam para fora aqueles senhores de terra que vivem
do esforço de outros”. Em sua perspectiva, “as multidões”, somente as massas de
pessoas pobres e exploradas, assim como o chamado “lumpemproletariado”, seriam
capazes de “inaugurar e levar ao triunfo a Revolução Social”, uma vez que estes
eram os setores sociais “quase não corrompidos pela civilização burguesa”.
Críticas ao Pensamento de Bakunin
Dentro do âmbito do movimento,
Bakunin foi, posteriormente, criticado pela concepção de revolução violenta que
defendia. Alguns dos seus críticos afirmam que sua defesa da conspiração
revolucionária e aprovação da ação direta violenta contra agentes do aparato
repressor estatal resultaram no niilismo na Rússia e em atentados individuais
(no que, mais tarde, de uma perspectiva legalista, viria a ser chamado de
terrorismo) que serviram apenas com elemento de propaganda e motivo de
repressão empreendidos pelas forças reacionárias contra os anarquistas. Também
com base nesses atos de violência, a propaganda reacionária no final do século
XIX difundira a ideia equívoca de anarquia como sinônimo de caos e assassinato
sem sentido.
Ainda no século XIX, outro grande
pensador libertário russo, Piotr Kropotkin, apresentou importantes críticas às
ideias de Bakunin. Frente à ideia de Bakunin de que a revolução deve acontecer
necessariamente de maneira violenta e espontânea, Piotr Kropotkin escreve em
1891: “Um edifício baseado em alguns anos de história não se destrói com alguns
quilos de explosivo”.
Em contraposição à revolução
violenta, Kropotkin aponta para o papel fundamental que poderia exercer a
educação na transformação de uma sociedade. “Nenhuma revolução social pode
triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e nos corações do
povo”.
Estas ideias influenciaram os
movimentos de educação libertária do século XIX e início do século XX, entre
eles o movimento de Escolas Modernas idealizadas pelo pedagogo catalão
Francisco Ferrer.
Em 1898, Kropotkin propôs a fundação
de um Comitê Pró-Ensino, do qual fizeram parte o anarquista cristão Leon Tostói,
Jean Grave, Charles Malato e os irmãos Réclus, dentre outros grandes pensadores
do movimento anarquista da época. Neste contexto, a ideia de revolução pela
violência de Bakunin foi deixada de lado em prol da transformação através da
educação libertária.
Noção de “Ditadura Invisível”
Bakunin foi também acusado de ser um
autoritário enrustido. Em sua carta para Albert Richard, ele escreveu que:
“(...) existe apenas um poder e uma ditadura que enquanto organização é salutar
e plausível: é aquela que é uma ditadura coletiva e invisível, daqueles que
estão aliados em nome do nosso princípio”.
No entanto, tal qual defendido pelos
apoiadores de Bakunin, essa “ditadura invisível” não é uma ditadura no sentido
convencional da palavra e, esta crítica decorre de um recorte textual que não considera
o fato de esta ser uma linguagem figurativa a rebater posições defendidas por
Richard em outras ocasiões. O próprio Bakunin fora cuidadoso em explicitar que
os membros desta ditadura não poderiam exercer nenhum poder político
institucional, nem contarem com quaisquer privilégios: “(...) essa ditadura
será ainda mais salutar e efetiva se não estiver investida de qualquer poder
oficial ou de caráter extrínseco”.
Pan-eslavismo e Eurocentrismo
O historiador anarquista Max Nettlau
descreveu o pan-eslavismo de Bakunin com sendo o resultado de uma psicose
nacionalista da qual poucos estavam livres. A publicação de suas “Confissões”
de 1851, escritas enquanto Bakunin era prisioneiro do czar na fortaleza de
Pedro e Paulo, foram utilizadas para atacar Bakunin porque, nelas, ele pedia o
imperador por perdão por seus pecados e implorava a ele para que se colocasse à
frente dos eslavos tanto como redentor quanto como pai.
Seu eurocentrismo teve, como
manifestação: um apelo seu pela constituição dos Estados Unidos da Europa; seu
suporte ao colonialismo russo, em particular defendido por seu parente e
patrono conde Nikolay Muravyov-Amursky; e sua indiferença ao Japão e aos
camponeses japoneses durante e depois de sua breve estadia em Yokohama (o Japão
era considerado o pais mais proeminente e revolucionário da Ásia durante a
Restauração Meijii de 1866 a 1869). Estes aspectos de seu
pensamento, no entanto, datam de antes de ele se tornar um anarquista. A
identificação de Bakunin com o anarquismo não aconteceu antes de 1865,
portanto, alguns anos depois de seu exílio na Sibéria e de sua fuga ao Japão.
Antissemitismo
Devido a algumas de suas colocações
com relação ao judaísmo, Bakunin tem sido considerado um antissemita. Este
posicionamento, que nada tem a ver com o anarquismo, tem sido bastante
criticado pelos libertários das gerações seguintes, identificando estas características
como uma falha de caráter mais ou menos comum entre parte dos anarquistas e
socialistas da Europa do século XIX, entre estes também Proudhon.
Durante algumas discussões com Karl
Marx, Bakunin apresentou comentários antissemitas comuns entre os preconceitos
europeus com relação aos judeus, tratando-os como uma nação sem território. Está
fora descrita por Bakunin como:
“(...) um secto de exploradores, um povo de sanguessugas, um
único parasita devorador estreita e intimamente ligado, não só através das
fronteiras nacionais, mas também em todas as divergências de opinião
política... cuja paixão mercantil constitui um dos principais traços de seu
caráter nacional”.
Pode-se afirmar que Bakunin era
contra toda e qualquer forma de autoridade imposta pela religião ou Estado,
conforme trecho do livro “Deus e o Estado”. Seria muito simplista ou equivocado
afirmar que era somente contra o povo semita.
Legado
Inspirador de Revoluções
Diversos acontecimentos políticos do
século XX tiveram grande influência das ideias de Bakunin. Tanto a insurreição
anarquista de 1918 no Rio de Janeiro quanto a Revolução Espanhola de 1936
tiveram, como inspiração, ideias como a rede invisível e conspirações secretas
contra o poder.
Na cidade de Barcelona durante a
Revolução Espanhola, o quartel, de Bruc, em Pedralbes, que fora libertado das
forças golpistas pelos republicanos pela ação da Confederação Nacional do
Trabalho, teve seu nome mudado para Quartel Bakunin. Lá, se encontravam
diversas colunas revolucionárias, e também naquele espaço foram alojados
centenas de caminhões blindados, que, a seu tempo, se tornaram símbolo de
movimentação.
A obra e a vida de Bakunin
influenciaram diversos movimentos também após os anos 1960, como os grupos
ambientalistas, que utilizavam a tática de ação direta descrita em toda a sua
obra. Movimentos cooperativistas, de ocupação e reforma urbana, grupos e locais
de trabalho autogestionados, também carregam em si, o germe da ideologia
anarquista e o pensamento célebre de Bakunin.
Ícone da Revolta
Para além de seu legado político e
filosófico propriamente dito, Bakunin tornou-se ele próprio, um símbolo do
antiautoritarismo no ocidente. Uma figura lendária que inspirou inúmeros
personagens literários ficcionais e pseudônimos de pensadores reais, alguns
deles levando seu nome.
O grande escritor libertário chinês
Ba Jin retirou seu nom de plume (pseudônimo) da primeira sílaba de Bakunin e da
última sílaba de Kropotkin. Domingos Passos, por sua vez ficou conhecido como
Bakunin brasileiro entre os anarquistas do Brasil no início do século XX. O
apelido se deveu tanto por sua audácia e determinação ao enfrentar o patronato,
como pelos seu discursos marcados em igual medida pela agressividade e
coerência.
Assim com Lênin, Marx e Trotsky,
Bakunin é um dos sobrenomes de um dos personagens existentes no romance de
ficção científica de Aldous Huxley “Admirável Mundo Novo”. Bakunin também
empresta nome e história a um dos personagens da trilogia de peças de Tom
Stoppard de 2002, “The Coast of Utopia”.
De forma semelhante a Karl Marx e
Che Guevara em relação ao marxismo e à Revolução Cubana, a imagem de Bakunin
segue servindo de ícone do anarquismo e da revolta, reproduzido em grafites nas
ruas de grandes centros urbanos ou impresso em revistas, camisetas e zines, em
grande medida entre os adeptos da subcultura anarco-punk.
Monumentos, Pinturas e Murais
Na cidade de Moscou, existe um
monumento erigido aos “precursores” do pensamento socialista: juntamente com
nomes dos “socialistas utópicos” Saint-Simon, Charles Fourier e Jean Jaurès,
figura o nome do anarquista Bakunin.
Bakunin aparece representado no
mural “Del Porfirismo a la Revolución” do artista plástico mexicano David Alfaro
Siqueiros, marchando ao lado de Ricardo Flores Magón e Pierre-Joseph Proudhon.
O artista gráfico e têxtil Flávio
Costantini também dedicou uma de suas obras à figura de Bakunin. Numa delas,
Bakunin aparece subindo uma escadaria com um jornal em uma de suas mãos.
Em abril de 2009, o artista plástico
Enrico Baj expôs, na Mostra de Arte Contemporânea, na cidade de Roma, uma de
suas obras criadas em 1996, denominada “Monumento a Bakunin”.
No Cinema, na Televisão e na Música
O livro “O Patriotismo” de Bakunin é
aquele atirado na lama por Mallory (James Coburn) como resultado de uma
discussão com Juan Miranda (Rod Steiger) no filme italiano de Sergio Leone de
1971, “Giùla Testa” (“Abaixo da Cabeça”).
No filme “La Patagonia Rebelde”, de
1974, uma foto de Bakunin junto com imagens de Kropotkin e Proudhon é exibida
atrás da mesa na cena da assembleia dos trabalhadores reunidos na sede da
Sociedad Obrera.
Depois da primeira aparição da banda
Sex Pistols no programa de televisão Granada, em agosto de 1976, a reação
imediata do apresentador Tony Wilson à performance de “Anarchy in the U.K.” foi:
“Bakunin adoraria isso”.
Um dos personagens da série de
tv Lost é um russo cujo nome é Mikhail Bakunin (junto a um lista de diversos
personagens que também recebem nomes de filósofos e/ou cientistas).
Uma das frases mais famosas de
Bakunin é citada na canção “Stray Bullet” da banda KMFDM, de seu álbum Symbols:
“se alguma vez Deus tivesse mesmo existido, seria necessário aboli-lo”. Bakunin
também é nominalmente citado em uma lista de outra figuras políticas históricas
na letra da canção niilista “Nothing” da banda Fugs: “Karlos Marx nothing!
Engels nothing! Bakunin, Kropotkin nothing! Leon Trotsky, lost of nothing!
Stalin lessthanothing!”
Uma breve biografia de Bakunin é
cantada na canção “Bakunin” da banda de ska/punk Against All Authority. Outra
banda punk, a Rancid, traz várias citações famosas de Bakunin em seu álbum
“Life Won’t Wait”, como forma de demonstrar sua filiação aos ideais anarquistas.
Há também uma banda de pós-rock chamada Bakunin’s Bum.
“Distribuiremos
os meios de produção
Entre
os produtores
Associações
urbanas de trabalhadores
Com a
ciência ao nosso lado
Desaparecerão
hierarquias
A mão
paternal do velho Estado
Caminharemos
ombro a ombro
A
devorar estrelas
A
consumir a copa do conhecimento
Juntos,
iguais, avançando.
Camarada
Bakunin”
(Trecho
da canção Camarada Bakunin da banda Aviador Dro)
A banda eletro-punk espanhola
Aviador Dro faz sua homenagem ao velho revolucionário na música “Camarada
Bakunin”, assim como o músico italiano Alessio Lega na canção “La Tomba di
Bakunin”, que fala do fantasma do velho revolucionário a observar entristecido,
de junto de sua tumba, as desigualdade e absurdos da sociedade atual.
Investigação Policial Pós-Morte
Em 2014, duzentos anos após nascer,
Bakunin volta a aparecer na Mídia. Graças aos esforços realizados pela Polícia
Civil do Rio de Janeiro e a partir de um telefonema interceptado de uma
manifestante professora universitária, Mikhail Bakunin passou a figura na
“lista de suspeitos de praticar atos violentos nas manifestações”, segundo a
Revista Fórum em uma reportagem sobre os movimentos contra a Copa do Mundo FIFA
de 2014.
Fonte:
Wikipédia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Bakunin. Acesso em 2
de fev. 2022.