domingo, 3 de abril de 2022

NA GUERRA NÃO EXISTEM SANTOS... SEJA O LADO QUE FOR...

 

     A guerra é uma das relações humanas mais cruéis e, abusando da redundância, mais humanas.

     Não me recordo de ter estudado ou visto uma notícia do tipo: "Formigas saúvas invadem um formigueiro de lava-pés”, ou “Formigas atacam uma colmeia e sequestram a abelha rainha”.


         Logo, com exceção dos seres humanos, que fazem guerra em grande escala, as lutas entre animais estão ligadas principalmente à preservação da espécie, e como já dito, são brigas, lutas e não guerras.


         Já os homens, e principalmente o gênero masculino desta honorável espécie, adoram uma guerrinha. Seus sistemas sociais e econômicos se deleitam com as escaramuças.

         Por trás disto uma nobre indústria, a indústria do capitalismo e também do, então, socialismo real.


         A indústria armamentista no nível da sociedade capitalista revela um dos grandes remédios para as crises que ocorrem ciclicamente neste sistema, sistema da burguesia, classe que lucra com a destruição, com a construção, com a “re-construção” e com novas destruições em nível regional.


         Quem irá reconstruir a Ucrânia? Quais capitais serão utilizados? Quem vai rearmar a Ucrânia? Quem vai ter que forjar novos armamentos para a Rússia?


         Será a classe trabalhadora, é claro, porém sobre as condições impostas pela classe burguesa, ávida de obter o mais valor desta mágica capacidade do trabalho humano e sugar o mais que puder a força de trabalho, pressionada por um exército, este não militar, mas sim de desempregados, ansiosos por venderem-se ao satânico capital.


         As crises cíclicas do capital, uma atrás da outra e cada vez mais constantes, são disfarçadas pela mídia (que também é uma indústria ideológica e de camuflagem da realidade imediata) e são resolvidas a partir do fornecimento de novas mercadorias bélicas aos países agressores e agredidos.

         Contrariando a lógica do capitalismo, não existe possibilidade de canonização de ninguém. Na guerra da Ucrânia, por exemplo, Vladimir Vladimirovitch Putin e Volodymyr Olexandrovytch Zelensky não têm nada de angelicais.

         Se de um lado temos um sujeito que governa a Rússia desde os anos 2000, por outro lado temos um comediante que assumiu o poder, muito seriamente, através de um golpe, a um fantoche de Putin, é vero, Viktor Yanukovych, um governo eleito de 2010 a 2014, ou seja, com mandato com dia e hora para acabar.

         Se Zelensky tem aproximação com o neonazismo, Putin também teve seu namoro com esses cidadãos “muito democráticos” na Rússia, uma diferença pró Putin é que ele não possui esses buldogues em suas tropas regulares.


         Nacionalismo chauvinista os dois defendem parte a parte. Defensores de um Estado forte, e uma sociedade civil fraca e no caso de Zelensky militarizada, sendo que Putin já tem um forte exército para precisar colocar armas nas mãos de seus cidadãos. Ambos possuindo os meios de comunicação estatal nas mãos. Sendo que Zelensky tem toda a imprensa ocidental para lhe dar uma reforçadinha.

        


Pode-se novamente afirmar que neste conflito não existe santidade. A não ser que se chame a São Vladimir...



Cláudio Maffei

03 de abr. de 2022.


SÃO VLADIMIR DE KIEV

  




         No final do século IX, o povo russo começava a viver sob a influência do Cristianismo, depois da conversão da futura santa Olga de Kiev.


         Neto de Santa Olga, Vladimir era o filho mais novo de Sviatoslav de Kiev, com sua empregada Malusha. Malusha, era uma profetisa que viveu até os 100 anos de idade e fora trazida de sua caverna ao palácio para prever o futuro.

Malusha

         O irmão de Malusha, Dobrynya, era tutor de Vladimir e seu conselheiro mais fiel. Uma tradição hagiográfica, liga sua infância ao nome de sua avó, Olga Prekrasa, que era cristã e governava a capital durante as freqüentes campanhas militares de Esviatoslav, seu filho.


         Com a morte do pai, o príncipe Vladimir, hábil e audacioso, começou a governar as terras que herdara. Guerreou contra o irmão que estava em Kiev e o venceu. Subiu ao trono de Kiev em 980. No início, idólatra e animado por um zeloso ardor pelos deuses vikings, chegou a dedicar um templo ao deus do trovão e do relâmpago, Perun, onde sacrifícios humanos eram realizados.

         O príncipe levava uma vida devassa. Ao retornar de uma campanha vitoriosa contra os Jatvagues (983), ele decidiu dar graças aos deuses, por meio de um sacrifício. As vítimas escolhidas foram um mercador varegue, chamado Teodoro, e seu filho João, cristãos, parentes de sua avó Olga. As circunstâncias dessas mortes e a firmeza no testemunho da fé de ambos impressionaram Vladimir.

         A maneira como eles se entregaram à morte, surpreendeu o príncipe Vladimir, tocando-lhe, fortemente, a consciência. Após haver consultado seus conselheiros, ele enviou embaixadores a diversos países, para obter informações de como os povos viviam a religião. Quando os emissários, enviados à capital bizantina assistiram às diversas cerimônias que eram realizadas na Igreja de Santa Sofia, ficaram impressionados: "Nós não conseguíamos entender se estávamos no Céu ou na Terra. Pois, não existe, aqui na Terra, um espetáculo como aquele, nem tamanha beleza. Nós não somos capazes de definir tal magnificência. Sabemos, apenas, que é lá que Deus vive com os homens e que sua cultura ultrapassa a de todos os outros países. Jamais esqueceremos o que vimos em beleza e compreendemos que, doravante, será impossível, para nós, viver na Rússia de forma diferente!"

         Convencido de que a glória manifestada através das celebrações e das liturgias era o resplendor da Verdade, o príncipe Vladimir decidiu tornar-se cristão. Aceitou a Fé Cristã e mudou completamente sua atitude. A mudança ocorreu de forma rápida, mas gradual. Primeiro, ordenou aos sábios da corte que viajassem a diversos países para verificarem qual era a religião verdadeira. Em seguida, chamou religiosos dos diversos países muçulmanos, judeus, budistas e cristãos. O próprio Vladimir questionou todos eles, ouvindo, atento, suas pregações. O que mais o impressionou foi o grego que pregou o evangelho de Cristo. Os sábios voltaram tocados pela graça, com toda a manifestação de fé em Cristo que viram em Constantinopla, no templo de Sofia. Então eles disseram a Vladimir: "Se a religião de Cristo não fosse a verdadeira, então sua avó Olga, que era sábia, não a teria aceitado".


         Vladimir começou a estudar o Evangelho e foi batizado em 989. Logo em seguida, recebeu o sacramento do matrimonio com a princesa Ana, filha de Basílio de Constantinopla. Desde então, chegavam cada vez mais sacerdotes missionários que percorriam seus domínios catequizando o povo e ministrando o batismo. O Cristianismo consolidou-se ainda mais quando Vladimir casou-se com a piedosa neta do imperador da Germânia, após o falecimento da princesa Ana.

         Modificando completamente seu caráter, e adotando a doçura e singeleza das atitudes evangélicas, Vladimir suprimiu a pena de morte e passou a levar uma vida agradável a Deus, que fez com que seu povo passasse a defini-lo como o "Sol resplandecente". Ele substituiu os templos pagãos por Igrejas e mandou erigir um esplêndido santuário dedicado à Dormição da Mãe de Deus, exatamente no local onde foram martirizados São Teodoro e o filho, João.

São Teodoro

         Vladimir morreu em Berestovo, perto de Kiev, em 1015. Seu corpo foi desmembrado em várias partes que foram distribuídas entre numerosas fundações sagradas onde são veneradas como relíquias. Uma das maiores catedrais de Kievan é dedicada a ele.

    As igrejas romanas católicas e ortodoxas orientais comemoram no dia 15 de julho a festa de São Vladimir.


Fonte: Site da Pia Sociedade Filhas de São Paulo – Paulinas: Disponível em: http://www.paulinas.org.br. Acesso em 03 de abr. 2022.

A RÚSSIA IMPEDE OS EUA DE DESENCADEAREM GUERRA BIOLÓGICA A PARTIR DOS SEUS LABORATÓRIOS MILITARES NA UCRÂNIA

            


Laboratórios de Armas Biológicas dos EUA

 na Ucrânia e no mundo


       Considerando a agitação iniciada pelos serviços de inteligência dos EUA nos últimos tempos, quer na Ásia Central, na Transcaucásia ou noutras zonas limítrofes da Rússia e da China, está a aumentar o risco de um desastre biológico proveniente dos múltiplos laboratórios biológicos militares secretos instalados pelos EUA em regiões potencialmente instáveis do ponto de vista político e social.


       Quanto a isso, a questão de os EUA prepararem uma bomba-relógio biológica no Cazaquistão já foi levantada muitas vezes. O risco crescente de o Pentágono iniciar uma guerra biológica utilizando os mais de 400 laboratórios biológicos americanos localizados por todo o mundo e a necessidade de uma resposta clara ao risco de desastre biológico mundial a partir das instalações secretas dos EUA no estrangeiro tem sido repetidamente apontado.


       Afinal de contas, estes laboratórios biológicos têm cerca de 13.000 "empregados" que estão ocupados a criar estirpes de agentes patogênicos assassinos (micróbios e vírus) resistentes a vacinas.

       Hoje em dia já não é segredo que os EUA criaram laboratórios biológicos em 25 países do mundo: no Médio Oriente, África, Sudeste Asiático. Só no seio da antiga União Soviética existem laboratórios biológicos militares americanos na Ucrânia, Azerbaidjão, Armênia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia e Uzbequistão.


       Os americanos tentam negar a natureza militar dos estudos realizados em tais laboratórios. Contudo, segredo que os rodeia só é comparável ao das instalações militares mais importantes. Não há responsabilidade perante o público local e global acerca do "trabalho" que ali é feito. Além disso, nenhuma "proeza" científica foi apresentada publicamente pelos biólogos americanos ao longo dos muitos anos de existência de tais laboratórios secretos no estrangeiro.


       E os resultados das suas investigações não são publicados em parte alguma que seja do domínio público. Entretanto, os laboratórios estão a recolher ativamente informações sobre o patrimônio genético (gene pool) das populações dos países onde estes laboratórios operam. Tudo isto indica que o Pentágono está sem dúvida a preparar-se para travar uma guerra biológica usando bioarmas, as quais os EUA preparam nestes laboratórios biológicos.


       É bem sabido que os EUA já gastaram mais de 100 bilhões de dólares nos últimos anos no desenvolvimento de armas de guerra biológica. Os EUA são o único país do mundo que ainda bloqueia o estabelecimento de um mecanismo de verificação ao abrigo da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas (Biológicas) e Tóxicas e sobre a sua Destruição, de 1972.


       Contudo, tal como os pedidos da Rússia ao Ocidente para um acordo claro sobre medidas de segurança universais e sobre a não proliferação da NATO para o leste, as advertências acerca da prontidão dos EUA para desencadear uma guerra biológica global nunca foram atendidas em Washington e nas capitais ocidentais. Tendo isto em mente, dificilmente se pode recusar o direito de a Rússia, como qualquer outro país, não querer ter tais armas perto das suas fronteiras pondo em risco a segurança de todos.


       Portanto, na atual operação militar de Moscou para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, um dos pontos importantes será livrar-se dos numerosos laboratórios biológicos militares dos EUA no território daquele país.


       A 24 de Fevereiro, a publicação conservadora britânica The Exposé publicou um artigo intitulado "Haverá mais no conflito Ucrânia/Rússia do que aquilo que se vê?   Reconhece que a Rússia deveria ter conduzido a presente operação militar com base nos seus interesses de segurança e confirma que desde há muito existe uma ameaça muito grave para as vidas e saúde da população da Federação Russa provenientes do território da Ucrânia.

       Aquela publicação refere-se a pelo menos 16 laboratórios biológicos militares americanos localizados em Odessa, Vinnitsa, Uzhgorod, Lviv (três), Kharkiv, Kiev (também três), Kherson, Ternopil, Dnepropetrovsk, bem como perto de Lugansk e na fronteira com a Crimeia. Tal "cooperação" entre o Pentágono e o Ministério da Saúde da Ucrânia remonta a 2005.


       Os partidos da oposição conseguiram aprovar no Verkhovna Rada [parlamento] em 2013 o fim desta "cooperação", mas o golpe de estado liderado pelos EUA em Kiev em Fevereiro de 2014 impediu a implementação desta decisão, o que resultou em que esta "cooperação" não só continuasse como também se desenvolvesse ativamente por iniciativa de Washington.


       Muitos dos segredos oficiais do Pentágono e da Casa Branca sobre laboratórios biológicos clandestinos dos EUA no estrangeiro foram revelados por Francis Boyle, professor de direito internacional na Universidade de Illinois em Champaign (EUA) que redigiu a lei Biological Weapons Anti-Terrorism Act of 1989 (BWATA). Como salienta este cientista americano, "Temos agora neste país uma indústria de Armas Biológicas Ofensivas que viola a Convenção sobre Armas Biológicas e a minha Lei Anti-Terrorismo de Armas Biológicas de 1989". De acordo com Boyle, "as universidades americanas têmum longo histórico de permitirem voluntariamente que a sua agenda de investigação... seja cooptada, corrompida e pervertida pelo Pentágono e pela CIA para a ciência da morte". Ele cita como exemplo o grupo do Dr. Yoshihiro Kawaoka da Universidade de Wisconsin, o qual conseguiu aumentar a toxicidade do vírus da gripe por um fator de 200. De acordo com Boyle, o Pentágono e a CIA estão "prontos, dispostos e capazes de lançar a bioguerra quando convém aos seus interesses... Eles têm um estoque daquelas de superarmas antrax que já usaram contra nós em Outubro de 2001".


       A ameaça a pessoas que vivem mesmo à distância de tais laboratórios é evidenciada por uma investigação efetuada pelo jornal USA Today, o qual mostrou que, só entre 2006 e 2013, ocorreram mais de 1.500 acidentes e violações de segurança em 200 laboratórios biológicos militares no território dos EUA.

       Então, e quanto a possíveis incidentes semelhantes em laboratórios biológicos na Ucrânia ou noutras antigas repúblicas soviéticas?


       No Verão de 2019, "o principal laboratório de guerra biológica da América foi mandado parar toda a investigação dos vírus e agentes patogênicos mais mortais por receios de que os resíduos contaminados pudessem escapar para fora das instalações", informou o jornal britânico The Independent. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), a autoridade de saúde pública nos EUA, revogou [a licença] do centro militar de investigação biológica em Fort Detrick para lidar com ébola, varíola e carbúnculo depois de inspetores do CDC terem encontrado "problemas com os procedimentos utilizados para descontaminar águas residuais" em Fort Detrick. A este respeito, é notável que a possibilidade de "vírus e agentes patogênicos mortíferos" que se infiltram nas águas residuais de Fort Detrick fosse detectada pouco antes do surto da COVID-19, que os americanos foram rápidos em atribuir à China. Também é de notar que o Pentágono intensificou significativamente as atividades dos seus laboratórios biológicos no estrangeiro desde 2019, deslocando claramente o "trabalho" sobre estirpes particularmente perigosas e o desenvolvimento de armas biológicas.


       Nestas circunstâncias, a tarefa de pôr termo às atividades dos laboratórios biológicos secretos dos EUA como parte da desmilitarização daquele país justifica-se no programa da operação militar de Moscou na Ucrânia.


       Contra este pano de fundo, deve-se notar que a embaixada dos EUA na Ucrânia removeu todos os documentos acerca dos laboratórios biológicos em Kiev e em Odessa do seu sítio web oficial depois de Moscou ter lançado a sua operação militar. Isto confirma ainda que, para além da ameaça nuclear de Zelensky, a Rússia também estava a ser preparada para bioextinção. Sob estas circunstâncias, compreende-se o anúncio feito em Outubro último pela Agência de Redução de Ameaças da Defesa dos EUA (US Defense Threat Reduction Agency, DTRA) no sítio web de compras do governo dos EUA de um anexo sobre o "combate a agentes patogênicos altamente perigosos". Este documento dizia respeito aos 3,6 milhões de dólares para finalizar o lançamento de dois laboratórios biológicos na Ucrânia – em Kiev e em Odessa, onde maquinaria, equipamento e pessoal já estavam a ser preparados para os Estados Unidos desencadearem uma guerra biológica sob a cobertura da Ucrânia.


Vladimir Platov
03/Março/2022


O original encontra-se em journalneo.org/2022/03/03/russia-prevents-washingtonfrom-unleashing-biological-warfare/. Acesso em 31 de mar. 2022.







sexta-feira, 1 de abril de 2022

A GUERRA DAS SETAS GRANDES – UMA CARTILHA SOBRE A GUERRA DE MANOBRAS( POR SCOTT RITTER*)





1) Guerra das Setas Grandes – uma cartilha. Para todos aqueles que coçam a cabeça em confusão, ou que limpam o pó dos seus uniformes para a parada da vitória ucraniana em Kiev, sobre as notícias da “mudança estratégica” da Rússia, talvez queiram tornar a familiarizar-se com conceitos militares básicos.


2) A guerra de manobras é um bom tópico para começar. Compreenda que a Rússia iniciou a sua “operação militar” com um grave déficit de efetivos – 200 mil atacantes para cerca de 600 mil defensores (ou mais). O clássico conflito de atrito nunca foi uma opção. A vitória russa exigia manobra.


3) A guerra de manobras é mais psicológica do que física e concentra-se mais no nível operacional do que no nível tático. A manobra é um movimento relacional – como desdobrar e mover as suas forças em relação ao seu oponente. As manobras russas na primeira fase da sua operação confirmam isto.


4) Os russos precisavam moldar o campo de batalha em seu proveito. Para tal, precisava controlar a forma como a Ucrânia empregava as forças numericamente superiores, distribuindo ao mesmo tempo o seu próprio poder de combate menor para melhor cumprir este objetivo


5) Estrategicamente, para facilitar a capacidade de manobra entre as frentes sul, central e norte, a Rússia precisava assegurar uma ponte terrestre entre a Crimeia e a Rússia. A captura da cidade costeira de Mariupol era crítica para este esforço. A Rússia cumpriu esta.


6) Enquanto esta complexa operação se desenrolava, a Rússia precisava impedir a Ucrânia de manobrar as suas forças numericamente superiores de uma maneira que perturbasse a operação de Mariupol. Isto implicava na utilização de várias operações estratégicas de apoio – finta, operações de fixação e ataque profundo.


7) O conceito de finta é simples – uma força militar ou é vista como se preparando para atacar um determinado local, ou realmente conduz um ataque, com o objetivo de enganar o adversário para que este comprometa recursos em resposta às ações percebidas ou reais.


8) A utilização da finta desempenhou um papel importante na operação Tempestade do Deserto (Desert Storm), onde forças anfíbias da Marinha ameaçaram a costa do Kwait, forçando o Iraque a defender-se contra um ataque que nunca aconteceu e onde a 1.ª Divisão de Cavalaria realmente atacou Wadi Al Batin para cravar (pin down - fixar) a Guarda Republicana.


9) Os russos fizeram uso extensivo da simulação na Ucrânia, com as forças anfíbias ao largo de Odessa a congelarem as forças ucranianas ali e numa grande finta de ataque rumo a Kiev, obrigando a Ucrânia reforçar suas linhas ali. A Ucrânia nunca foi capaz de reforçar as suas forças no leste.


10) As operações de fixação também foram críticas. A Ucrânia havia reunido cerca de 60 mil a 100 mil homens em suas tropas no leste, em frente ao Donbass. A Rússia levou a cabo um vasto ataque de fixação destinado a manter estas forças totalmente empenhadas e incapazes de manobrar em relação a outras operações russas.


11) Durante a Operação Tempestade do Deserto dos EUA, foi ordenado a duas Divisões de Fuzileiros Navais que executassem ataques semelhantes de fixação contra as forças iraquianas instaladas ao longo da fronteira Kwait/Saudita, amarrando um número significativo de homens e material que não poderiam ser utilizados para contrariar o ataque principal dos estado-unidenses a oeste.


12) O ataque russo de fixação cravou no leste a principal concentração de forças ucranianas e afastou-as de Mariupol, a qual foi investida e submetida. O apoio a operações fora da Crimeia contra Kherson expandiu a ponte terrestre russa. Esta fase foi concluída.


13) A Rússia também se empenhou numa campanha de ataque estratégico profundo concebido para perturbar e destruir a logística, o comando e o controle ucraniano, assim como o poder aéreo e o apoio de fogo de longo alcance. A Ucrânia está cada vez mais sem combustível e munições, não podendo coordenar manobras maiores e não tendo, também, força aérea significativa.


14) A Rússia está a reinstalar algumas das suas principais unidades que estiveram envolvidas em operações de finta no norte de Kiev para onde podem apoiar a fase seguinte da operação, nomeadamente a libertação do Donbass e a destruição da principal força ucraniana no leste.


15) Isto é a guerra de manobras clássica. A Rússia irá deter em seguida a Ucrânia no norte e no sul, enquanto as suas principais forças, reforçadas pelas unidades do norte, Fuzileiros Navais e forças libertadas pela captura de Mariupol, procuram envolver e destruir 60 mil soldados ucranianos no leste.


16) Esta é a Guerra das Grandes Setas no seu melhor estilo, algo que os estado-unidenses costumam saber, mas esqueceram-nas nos desertos e montanhas do Afeganistão e Iraque. Também explica como 200 mil russos foram capazes de derrotar 600 mil ucranianos.



Terminando assim a cartilha sobre a guerra de manobras ao estilo russo.




29 de mar. 2022.


    

(*) Scott Ritter - Analista militar, ex-fuzileiro naval dos Estados Unidos que participou da Operação Tempestade do Deserto.





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