domingo, 22 de setembro de 2013

1889

Hoje acabei de ler 1889, muito bom. Recomendo. Sem sombras de dúvidas o Laurentino é uma porta que se abre para estudarmos vários assuntos da História Brasileira.

Após a leitura aproveitei para ver a entrevista do autor no roda viva no seguinte endereço:
http://youtu.be/FFIXmVuWd9U

Notem que esse é o Bloco um, tem mais três.

domingo, 1 de setembro de 2013

1889 - E JÁ LI



Já comprei, estou lendo e de primeira mão, já estou recomendando. Muito bom!

Gostei do que o Laurentino escreveu nas paginas 26 e 27:

   "Durante décadas, o brasileiro relutou, com certa razão, a se identificar com a sua tortuosa história republicana, permeada de golpes militares, ditaduras, intervenções e mudanças bruscas nas instituições e brevíssimos períodos de exercício da democracia. A boa notícia é que essa história mal-amada talvez esteja finalmente mudando. O Brasil exibe hoje ao mundo quase três décadas de exercício continuado da democracia, sem rupturas. Isso nunca aconteceu antes. É a primeira vez que todos os brasileiros estão sendo, de fato, chamados a participar da construção nacional. Apesar das dificuldades óbvias do presente, as promessas republicanas começam a ser postas em prática na forma de mais educação, mais saúde, mais trabalho e mais oportunidades para todos.
   "É curioso observar que este momento de transformação coincide também com um outro fenômeno inteiramente novo na sociedade brasileira. É o interesse pelo estudo da História do Brasil. Ele pode ser observado no mercado editorial de livros, que nunca vendeu tantas obras sobre o tema, e no grande número de títulos de revistas, sites de internet e outras publicações dedicadas ao assunto. Por que História se tornou um tema popular nos últimos anos? Existem várias respostas possíveis, mas uma delas é seguramente que os brasileiros estão olhando o passado em busca de explicações para o país de hoje. Dessa maneira, procuram também se aparelhar mais adequadamente para a construção do futuro. Isso também é uma excelente notícia. Uma sociedade que não estuda História não consegue entender a si própria porque desconhece suas raízes e razões que a trouxeram aqui. E, se não consegue entender a si mesma, provavelmente também não estará preparada para construir o futuro de forma organizada. O estudo de história é hoje, talvez até mais do que qualquer outra disciplina, uma ferramenta fundamental na construção do Brasil dos nossos sonhos em um novo ambiente de democracia."

Concordo com o Laurentino e tenho convicção que suas obras, 1808, 1822 e, agora, este 1889, contribuíram e contribuirão muito para esse retorno as nossas raízes.



O SISTEMA OLIGÁRQUICO DA REPUBLICA VELHA





O regime republicano inaugurado a 15 de novembro de 1889 correspondeu à necessidade de prover-se hegemonia política ao grupo que, desde a segunda metade do século XIX, vinha se afirmando como economicamente dominante: os cafeicultores. O poder político, já na década de 1890, concentrou-se em suas mãos, dentro da dinâmica da ‘política dos governadores’ inaugurada por Campos Sales. Esse esquema de dominação, que alijava os demais grupos do centro decisório, pôde manter-se graças a um sistema eleitoral que permitia manipulações, desde a fraude à violência física.

O setor agroexportador engendrou uma fórmula política que refletia sua estrita dependência em relação ao sistema capitalista internacional. O liberalismo era o manancial ideológico desse poder. Os princípios de livre concorrência, de superioridade da economia de mercado justificavam a divisão internacional do trabalho — que nos reservara o papel ‘natural’ de produtores de matérias-primas — e a dominação do setor agroexportador sob o conjunto da economia nacional. Ao mesmo tempo, o liberalismo impedia qualquer forma de intervenção estatal, garantindo a autonomia dos Estados, que de certa forma se manifestava, juridicamente, na própria Federação. A descentralização administrativa legitimava a hegemonia dos grupos oligárquicos de maior expressão econômica, enquanto os de­mais grupos se articulavam a estes, unidos por uma identidade fundamental: a propriedade da terra. Mantinha-se, assim, o equilíbrio político a nível nacional, pois não havendo antagonismos profundos entre os proprietários de terra, a autonomia federativa garantia os interesses de cada oligarquia em seu âmbito específico. Os atritos e dissidências ocorridos no período apenas retrataram divergências imediatas, conflitos de ambições eleiçoeiras, ou, então, nos momentos de crise, prejuízos dos grupos não vinculados ao café, pelas medidas de defesa do produto.

A própria manutenção da hegemonia dos cafeicultores, entretanto, ao permitir lucros crescentes, implicou no desenvolvimento econômico, na urbanização, na acumulação de capital pelos excedentes da exportação e no incentivo à produção industrial. Surgiram, então, forças econômicas e sociais que iriam, gradualmente, reivindicar participação política e contestar o regime vigente.

O sistema político e econômico estruturado pela oligarquia cafeeira era, porém, muito rígido. Nele não cabiam canais de representação para os novos grupos, nem mecanismos que pudessem neutralizar os efeitos crescentes das flutuações econômicas internacionais. O sistema de defesa do café, primeiramente apoiado na desvalorização de nossa moeda e depois na compra e estocagem do produto, implicava em custo social geral. Em momentos de crise aguda, os grupos sociais não vinculados ao setor tornavam-se antagônicos e a insatisfação crescia nos setores urbanos.

Em geral, porém, até a década de 1920, as camadas médias urbanas, os operários e os trabalhadores urbanos foram mantidos à margem da expressão política. As camadas médias urbanas constituíam um aglomera­do heterogêneo, incapaz de articular contestações além das reivindicações de contenção do custo de vi­da, de melhores moradias ou de ‘verdade eleitoral’. Os trabalhadores rurais, mantidos na ignorância e dentro do rígido círculo do controle coronelístico, não ultra­passavam os limites da violência social expressa no banditismo ou no fanatismo religioso. O operariado urbano, pressionado por baixos salários, por castigos corporais, pela ausência de qualquer proteção, lentamente se articulava.

O desenvolvimento da urbanização e da industrialização, subjacentes ao progresso do setor cafeeiro, faziam, entretanto, avançar a diferenciação social. O aumento gradativo das camadas intermediárias urbanas e, conseqüentemente, seu maior peso político, ao lado do crescimento da capacidade de organização e de mobilização do operariado, evidenciaram as limitações do sistema oligárquico, nos anos vinte. Os setores urbanos, a partir de então, manifestaram-se ativamente, aliando-se às dissidências oligárquicas, apoiando o movimento tenentista e reivindicando efetiva participação política.

O movimento operário crescia e não era mais possível ignorar sua importância, por mais desarticuladas e descontínuas que fossem suas manifestações. A indústria, nascida à sombra dos cafezais, estimulada e nutri­da pelos capitais cafeeiros, organizava-se.

A hegemonia oligárquica entrava em crise. O que fora novo em velho se tornara, ultrapassado pelo desenvolvimento do setor que ele mesmo criara. Era preciso redefinir o pacto social e dissolver o acordo político que sustentava o regime. Era fundamental encontrar saídas para a economia agroexportadora, afogada pela superprodução e pelo desequilíbrio do mercado. Era inadiável atender à questão social e absorver suas reivindicações, regulamentando as relações entre capital e trabalho. A crise interna caminhava, assim, para a redefinição do papel do Estado e para a formulação de soluções que pudessem combater a crise econômica, que se delineava.

Apoiado pela manipulação do voto rural, o sistema oligárquico não podia adaptar-se à estrutura social e econômica do país, que caminhava para a industrialização. O poder dos cafeicultores estava ferido de morte. O sistema partidário que lhe garantira sustentação estava esgotado e as dissidências, agora, eram profundas.

A República oligárquica desabava. Velha, sentia-se sua incapacidade em assimilar as mudanças internas. Débil, era pressionada pela crise econômica mundial. Não era um fim violento, dramático. Era a destruição paulatina de um sistema político-econômico, desencadeada a partir de suas contradições internas e acelera­da pela crise mundial.

Desde 1922 o processo de contestação do regime tinha, em sua vanguarda, o movimento tenentista. Este, se não era, essencialmente, um movimento coeso e de ideologia precisa, representava, de qualquer forma, renovação. E suas manifestações em favor de um regime mais representativo foram endossadas pelas facções descontentes e pela maioria da população urbana.

A solução tenentista não era, porém, a única ver­tente revolucionária do fim da década de 20. Várias eram as propostas políticas que se articulavam para modificar a estrutura de dominação em vigor. Revolução era o tema principal do Partido Democrático de São Paulo e revolução era a aspiração dos setores operários em ascensão.

O processo que culminou com a deposição de Washington Luís, em 1930, foi a revolução vencedora, articulada pelas elites dissidentes. Cabia a estas o papel de reorganizar a sociedade, controlar a crise, neutralizar as forças sociais em conflito questões cruciais que marcarão indelevelmente o quadro histórico aberto com a Revolução de 1930”.


José Jobson de Andrade Arruda

ANÁLISE DE FRIEDRICH ENGELS SOBRE O PAPEL DO TRABALHO NA TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM


O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem

Friederich Engels

1876




Escrito em: 1876

1ª Edição: Neue Zeit, 1896.

Origem da presente transcrição: edição soviética de 1952, de acordo com o manuscrito, em alemão. Traduzido do espanhol.




O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Há muitas centenas de milhares de anos, numa época, ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário, provavelmente em fins desse período, vivia em algum lugar da zona tropical — talvez em um extenso continente hoje desaparecido nas profundezas do Oceano Indico — uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pelo, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas.

É de supor que, como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem.

Todos os macacos antropomorfos que existem hoje podem permanecer em posição ereta e caminhar apoiando-se unicamente sobre seus pés; mas o fazem só em casos de extrema necessidade e, além disso, com enorme lentidão. Caminham habitualmente em atitude semi-ereta, e sua marcha inclui o uso das mãos. A maioria desses macacos apóia no solo os dedos e, encolhendo as pernas, fazem avançar o corpo por entre os seus largos braços, como um paralítico que caminha com muletas. Em geral, podemos ainda hoje observar entre os macacos todas as formas de transição entre a marcha a quatro patas e a marcha em posição ereta. Mas para nenhum deles a posição ereta vai além de um recurso circunstancial.

E posto que a posição ereta houvesse de ser para os nossos peludos antepassados primeiro uma norma, e logo uma necessidade, dai se depreende que naquele período as mãos tinham que executar funções cada vez mais variadas. Mesmo entre os macacos existe já certa divisão de funções entre os pés e as mãos. Como assinalamos acima, enquanto trepavam as mãos eram utilizadas de maneira diferente que os pés. As mãos servem fundamentalmente para recolher e sustentar os alimentos, como o fazem já alguns mamíferos inferiores com suas patas dianteiras. Certos macacos recorrem às mãos para construir ninhos nas árvores; e alguns, como o chimpanzé, chegam a construir telhados entre os ramos, para defender-se das inclemências do tempo. A mão lhes serve para empunhar garrotes, com os quais se defendem de seus inimigos, ou para bombardeá-los com frutos e pedras. Quando se encontram prisioneiros realizam com as mãos várias operações que copiam dos homens. Mas aqui precisamente é que se percebe quanto é grande a distância que separa a mão primitiva dos macacos, inclusive os antropóides mais superiores, da mão do homem, aperfeiçoada pelo trabalho durante centenas de milhares de anos. O número e a disposição geral dos ossos e dos músculos são os mesmos no macaco e no homem, mas a mão do selvagem mais primitivo é capaz de executar centenas de operações que não podem ser realizadas pela mão de nenhum macaco. Nenhuma mão simiesca construiu jamais um machado de pedra, por mais tosco que fosse.

Por isso, as funções, para as quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco suas mãos durante os muitos milhares de anos em que se prolongam o período de transição do macaco ao homem, só puderam ser, a princípio, funções sumamente simples. Os selvagens mais primitivos, inclusive aqueles nos quais se pode presumir o retorno a um estado mais próximo da animalidade, com uma degeneração física simultânea, são muito superiores àqueles seres do período de transição. Antes de a primeira lasca de sílex ter sido transformada em machado pela mão do homem, deve ter sido transcorrido um período de tempo tão largo que, em comparação com ele, o período histórico por nós conhecido torna-se insignificante. Mas já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de geração em geração.

Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini.

Mas a mão não era algo com existência própria e independente. Era unicamente um membro de um organismo íntegro e sumamente complexo. E o que beneficiava à mão beneficiava também a todo o corpo servido por ela; e o beneficiava em dois aspectos.

Primeiramente, em virtude da lei que Darwin chamou de correlação do crescimento. Segundo essa lei, certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação com as primeiras. Assim, todos os animais que possuem glóbulos vermelhos sem núcleo e cujo occipital está articulado com a primeira vértebra por meio de dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para a alimentação de suas crias. Assim também, a úngula fendida de alguns mamíferos está ligada de modo geral à presença de um estômago multilocular adaptado à ruminação. As modificações experimentadas por certas formas provocam mudanças na forma de outras partes do organismo, sem que estejamos em condições de explicar tal conexão. Os gatos totalmente brancos e de olhos azuis são sempre ou quase sempre surdos. O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição ereta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo. Contudo, essa ação se acha ainda tão pouco estudada que aqui não podemos senão assinalá-la em termos gerais.

Muito mais importante é a ação direta — possível de ser demonstrada — exercida pelo desenvolvimento da mão sobre o resto do organismo. Como já dissemos, nossos antepassados simiescos eram animais que viviam em manadas; evidentemente, não é possível buscar a origem do homem, o mais social dos animais, em antepassados imediatos que não vivessem congregados. Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza, que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro.

A comparação com os animais mostra-nos que essa explicação da origem da linguagem a partir do trabalho e pelo trabalho é a única acertada. O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando o animal foi domesticado pelo homem. O contato com o homem desenvolveu no cão e no cavalo um ouvido tão sensível à linguagem articulada que esses animais podem, dentro dos limites de suas representações, chegar a compreender qualquer idioma. Além disso, podem chegar a adquirir sentimentos antes desconhecidos por eles, como o apego ao homem, o sentimento de gratidão, etc. Quem conheça bem esses animais dificilmente poderá escapar à convicção de que, em muitos casos, essa incapacidade de falar é experimentada agora por eles como um defeito. Desgraçadamente, esse defeito não tem remédio, pois os seus órgãos vocais se acham demasiado especializados em determinada direção. Contudo, quando existe um órgão apropriado, essa incapacidade pode ser superada dentro de certos limites. Os órgãos vocais das aves distinguem-se em forma radical dos do homem e, no entanto, as aves são os únicos animais que podem aprender a falar; e o animal de voz mais repulsiva, o papagaio, é o que melhor fala. E não importa que se nos objete dizendo-nos que o papagaio não sabe o que fala. Claro está que por gosto apenas de falar e por sociabilidade o papagaio pode estar horas e horas repetindo todo o seu vocabulário. Mas, dentro do marco de suas representações, pode chegar também a compreender o que diz. Ensinai a um papagaio dizer palavrões (uma das distrações favoritas dos marinheiros que regressam das zonas quentes) e vereis logo que se o irritardes ele fará uso desses palavrões com a mesma correção de qualquer verdureira de Berlim. E o mesmo ocorre com o pedido de gulodices.

Primeiro o trabalho, e depois dele e com ele a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano — que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os Órgãos dos sentidos. A vista da águia tem um alcance muito maior que a do homem, mas o olho humano percebe nas coisas muitos mais detalhes que o olho da águia. O cão tem um olfato muito mais fino que o do homem, mas não pode captar nem a centésima parte dos odores que servem ao homem como sinais para distinguir coisas diversas. E o sentido do tato, que o macaco possui a duras penas na forma mais tosca e primitiva, foi-se desenvolvendo unicamente com o desenvolvimento da própria mão do homem, através do trabalho.

O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade.

Foi necessário, seguramente, que transcorressem centenas de milhares de anos — que na história da Terra têm uma importância menor que um segundo na vida de um homem(1) — antes que a sociedade humana surgisse daquelas manadas de macacos que trepavam pelas árvores. Mas, afinal, surgiu. E que voltamos a encontrar como sinal distintivo entre a manada de macacos e a sociedade humana? Outra vez, o trabalho. A manada de macacos contentava-se em devorar os alimentos de uma área que as condições geográficas ou a resistência das manadas vizinhas determinavam. Transportava-se de um lugar para outro e travava lutas com outras manadas para conquistar novas zonas de alimentação; mas era incapaz de extrair dessas zonas mais do que aquilo que a natureza generosamente lhe oferecia, se excetuarmos a ação inconsciente da manada ao adubar o solo com seus excrementos. Quando foram ocupadas todas as zonas capazes de proporcionar alimento, o crescimento da população simiesca tornou-se já impossível; no melhor dos casos o número de seus animais mantinha-se no mesmo nível Mas todos os animais são uns grandes dissipadores de alimentos; além disso, com freqüência, destroem em germe a nova geração de reservas alimentícias. Diferentemente do caçador, o lobo não respeita a cabra montês que lhe proporcionaria cabritos no ano seguinte; as cabras da Grécia, que devoram os jovens arbustos antes de poder desenvolver-se, deixaram nuas todas as montanhas do pais. Essa “exploração rapace” levada a efeito pelos animais desempenha um grande papel na transformação gradual das espécies, ao obrigá-las a adaptar-se a alimentos que não são os habituais para elas, com o que muda a composição química de seu sangue e se modifica toda a constituição física do animal; as espécies já plasmadas desaparecem. Não há dúvida de que essa exploração rapace contribuiu em alto grau para a humanização de nossos antepassados, pois ampliou o número de plantas e as partes das plantas utilizadas na alimentação por aquela raça de macacos que superava todas as demais em inteligência e em capacidade de adaptação. Em uma palavra, a alimentação, cada vez mais variada, oferecia ao organismo novas e novas substâncias, com o que foram criadas as condições químicas para a transformação desses macacos em seres humanos. Mas tudo isso não era trabalho no verdadeiro sentido da palavra. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos. E que representam os instrumentos mais antigos, a julgar pelos restos que nos chegaram dos homens pré-históricos, pelo gênero de vida dos povos mais antigos registrados pela história, assim como pelo dos selvagens atuais mais primitivos? São instrumentos de caça e de pesca, sendo os primeiros utilizados também como armas. Mas a caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetal à alimentação mista, o que significa um novo passo de sua importância na transformação do macaco em homem. A alimentação cárnea ofereceu ao organismo, em forma quase acabada, os ingredientes mais essenciais para o seu metabolismo. Desse modo abreviou o processo da digestão e outros processos da vida vegetativa do organismo (isto é, os processos análogos ao da vida dos vegetais), poupando, assim, tempo, materiais e estímulos para que pudesse manifestar-se ativamente a vida propriamente animal. E quanto mais o homem em formação se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. Da mesma maneira que o hábito da alimentação mista converteu o gato e o cão selvagens em servidores do homem, assim também o hábito de combinar a carne com a alimentação vegetal contribuiu poderosamente para dar força física e independência ao homem em formação. Mas onde mais se manifestou a influência da dieta cárnea foi no cérebro, que recebeu assim em quantidade muito maior do que antes as substâncias necessárias à sua alimentação e desenvolvimento, com o que se foi tomando maior e mais rápido o seu aperfeiçoamento de geração em geração. Devemos reconhecer — e perdoem os senhores vegetarianos — que não foi sem ajuda da alimentação cárnea que o homem chegou a ser homem; e o fato de que, em uma ou outra época da história de todos os povos conhecidos, o emprego da carne na alimentação tenha chegado ao canibalismo (ainda no século X os antepassados dos berlinenses, os veletabos e os viltses, devoravam os seus progenitores) é uma questão que não tem hoje para nós a menor importância.

O consumo de carne na alimentação significou dois novos avanços de importância decisiva: o uso do fogo e a domesticação dos animais. O primeiro reduziu ainda mais o processo da digestão, já que permitia levar a comida à boca, como se disséssemos, meio digerida; o segundo multiplicou as reservas de carne, pois agora, ao lado da caça, proporcionava uma nova fonte para obtê-la em forma mais regular. A domesticação de animais também proporcionou, com o leite e seus derivados, um novo alimento, que era pelo menos do mesmo valor que a carne quanto à composição. Assim, esses dois adiantamentos converteram-se diretamente para o homem em novos meios de emancipação. Não podemos deter-nos aqui em examinar minuciosamente suas conseqüências.

O homem, que havia aprendido a comer tudo o que era comestível, aprendeu também, da mesma maneira, a viver em qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da Terra, sendo o único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. Os demais animais que se adaptaram a todos os climas — os animais domésticos e os insetos parasitas — não o conseguiram por si, mas unicamente acompanhando o homem. E a passagem do clima uniformemente cálido da pátria original para zonas mais frias, onde o ano se dividia em verão e inverno, criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar habitação e a cobrir seu corpo para proteger-se do frio e da umidade. Surgiram assim novas esferas de trabalho, e com elas novas atividades, que afastaram ainda mais o homem dos animais.

Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades. A caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e mais tarde a fiação e a tecelagem, a elaboração de metais, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram as nações e os Estados. Apareceram o direito e a política, e com eles o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião. Frente a todas essas criações, que se manifestavam em primeiro lugar como produtos do cérebro e pareciam dominar as sociedades humanas, as produções mais modestas, fruto do trabalho da mão, ficaram relegadas a segundo plano, tanto mais quanto numa fase muito recuada do desenvolvimento da sociedade (por exemplo, já na família primitiva), a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela. O rápido progresso da civilização foi atribuído exclusivamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade do cérebro. Os homens acostumaram-se a explicar seus atos pelos seus pensamentos, em lugar de procurar essa explicação em suas necessidades (refletidas, naturalmente, na cabeça do homem, que assim adquire consciência delas). Foi assim que, com o transcurso do tempo, surgiu essa concepção idealista do mundo que dominou o cérebro dos homens, sobretudo a partir do desaparecimento do mundo antigo, e continua ainda a dominá-lo, a tal ponto que mesmo os naturalistas da escola darwiniana mais chegados ao materialismo são ainda incapazes de formar uma idéia clara acerca da origem do homem, pois essa mesma influência idealista lhes impede de ver o papel desempenhado aqui pelo trabalho.

Os animais, como já indicamos de passagem, também modificam com sua atividade a natureza exterior, embora não no mesmo grau que o homem; e essas modificações provocadas por eles no meio ambiente repercutem, como vimos, em seus causadores, modificando-os por sua vez. Nada ocorre na natureza em forma isolada. Cada fenômeno afeta a outro, e é por seu turno influenciado por este; e é em geral o esquecimento desse movimento e dessa interação universal o que impede a nossos naturalistas perceber com clareza as coisas mais simples. Já vimos como as cabras impediram o reflorestamento dos bosques na Grécia; em Santa Helena, as cabras e os porcos desembarcados pelos primeiros navegantes chegados à ilha exterminaram quase por completo a vegetação ali existente, com o que prepararam o terreno para que pudessem multiplicar-se as plantas levadas mais tarde por outros navegantes e colonizadores. Mas a influência duradoura dos animais sobre a natureza que os rodeia é inteiramente involuntária e constitui, no que se refere aos animais, um fato acidental. Mas, quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem dar-se conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará várias vezes o semeado por eles. O homem traslada de um pais para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes em condições artificiais, sofrem tal influência da mão do homem que se tornam irreconhecíveis.

Não foram até hoje encontrados os antepassados silvestres de nossos cultivos cerealistas. Ainda não foi resolvida a questão de saber qual o animal que deu origem aos nossos cães atuais, tão diferentes uns de outros, ou às atuais raças de cavalos, também tão numerosos. Ademais, compreende-se de logo que não temos a intenção de negar aos animais a faculdade de atuar em forma planificada, de um modo premeditado. Ao contrário, a ação planificada existe em germe onde quer que o protoplasma — a albumina viva — exista e reaja, isto é, realize determinados movimentos, embora sejam os mais simples, em resposta a determinados estímulos do exterior. Essa reação se produz, não digamos já na célula nervosa, mas inclusive quando ainda não há célula de nenhuma espécie. O ato pelo qual as plantas insetívoras se apoderam de sua presa aparece também, até certo ponto, como um ato planejado, embora se realize de um modo totalmente inconsciente. A possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolve-se nos animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire já nos mamíferos um nível bastante elevado. Durante as caçadas organizadas na Inglaterra pode-se observar sempre a infalibilidade com que a raposa utiliza seu perfeito conhecimento do lugar para ocultar-se aos seus perseguidores, e como conhece e sabe aproveitar muito bem todas as vantagens do terreno para despistá-los. Entre nossos animais domésticos, que chegaram a um grau mais alto de desenvolvimento graças à sua convivência com o homem podem ser observados diariamente atos de astúcia, equiparáveis aos das crianças, pois do mesmo modo que o desenvolvimento do embrião humano no ventre materno é uma réplica abreviada de toda a história do desenvolvimento físico seguido através de milhões de anos pelos nossos antepassados do reino animal, a partir do estado larval, assim também o desenvolvimento espiritual da criança representa uma réplica, ainda mais abreviada, do desenvolvimento intelectual desses mesmos antepassados, pelo menos dos mais próximos. Mas nem um só ato planificado de nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde fazê-lo.

Resumindo: só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E ai está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta do trabalho.

Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências dessas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com freqüência, anulam as primeiras. Os homens que na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e outras regiões devastavam os bosques para obter terra de cultivo nem sequer podiam imaginar que, eliminando com os bosques os centros de acumulação e reserva de umidade, estavam assentando as bases da atual aridez dessas terras. Os italianos dos Alpes, que destruíram nas encostas meridionais os bosques de pinheiros, conservados com tanto carinho nas encostas setentrionais, não tinham idéia de que com isso destruíam as raízes da indústria de laticínios em sua região; e muito menos podiam prever que, procedendo desse modo, deixavam a maior parte do ano secas as suas fontes de montanha, com o que lhes permitiam, chegado o período das chuvas, despejar com maior fúria suas torrentes sobre a planície. Os que difundiram o cultivo da batata na Europa não sabiam que com esse tubérculo farináceo difundiam por sua vez a escrofulose. Assim, a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.

Com efeito, aprendemos cada dia a compreender melhor as leis da natureza e a conhecer tanto os efeitos imediatos como as conseqüências remotas de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Sobretudo depois dos grandes progressos alcançados neste século pelas ciências naturais, estamos em condições de prever e, portanto, de controlar cada vez melhor as remotas conseqüências naturais de nossos atos na produção, pelo menos dos mais correntes. E quanto mais isso seja uma realidade, mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a natureza, e mais inconcebível será essa idéia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, o homem e a natureza, a alma e o corpo, idéia que começa a difundir-se pela Europa sobre a base da decadência da antigüidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no cristianismo.

Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse, em certo grau, a prever as remotas conseqüências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprender a calcular as remotas conseqüências sociais desses mesmos atos. Falamos acima da batata e de seus efeitos quanto à difusão da escrofulose. Mas que importância pode ter a escrofulose, comparada com os resultados que teve a redução da alimentação dos trabalhadores a batatas puramente sobre as condições de vida das massas do povo de países inteiros, com a fome que se estendeu em 1847 pela Irlanda em conseqüência de uma doença provocada por esse tubérculo e que levou à sepultura um milhão de irlandeses que se alimentavam exclusivamente, ou quase exclusivamente, de batatas e obrigou a que emigrassem para além-mar outros dois milhões? Quando os árabes aprenderam a destilar o álcool, nem sequer ocorreu-lhes pensar que haviam criado uma das armas principais com que iria ser exterminada a população indígena do continente americano, então ainda desconhecido. E quando mais tarde Colombo descobriu a América não sabia que ao mesmo tempo dava nova vida à escravidão, há muito tempo desaparecida na Europa, e assentado as bases do tráfico dos negros. Os homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais do que nenhum outro, haveria de subverter as condições sociais em todo o mundo e que, sobretudo na Europa, ao concentrar a riqueza nas mãos de uma minoria e ao privar de toda propriedade a imensa maioria da população, haveria de proporcionar primeiro o domínio social e político à burguesia, e provocar depois a luta de classe entre a burguesia e o proletariado, luta que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição de todos os antagonismos de classe. Mas também aqui, aproveitando uma experiência ampla, e às vezes cruel, confrontando e analisando os materiais proporcionados pela história, vamos aprendendo pouco a pouco a conhecer as conseqüências sociais indiretas e mais remotas de nossos atos na produção, o que nos permite estender também a essas conseqüências o nosso domínio e o nosso controle.

Contudo, para levar a termo esse controle é necessário algo mais do que o simples conhecimento. É necessária uma revolução que transforme por completo o modo de produção existente até hoje e, com ele, a ordem social vigente.

Todos os modos de produção que existiram até o presente só procuravam o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e Imediata. Não faziam o menor caso das conseqüências remotas, que só surgem mais tarde e cujos efeitos se manifestam unicamente graças a um processo de repetição e acumulação gradual. A primitiva propriedade comunal da terra correspondia, por um lado, a um estádio de desenvolvimento dos homens no qual seu horizonte era limitado, em geral, às coisas mais imediatas, e pressupunha, por outro lado, certo excedente de terras livres, que oferecia determinada margem para neutralizar os possíveis resultados adversos dessa economia primitiva. Ao esgotar-se o excedente de terras livres, começou a decadência da propriedade comunal. Todas as formas mais elevadas de produção que vieram depois conduziram à divisão da população em classes diferentes e, portanto, no antagonismo entre as classes dominantes e as classes oprimidas. Em conseqüência, os interesses das classes dominantes converteram-se no elemento propulsor da produção, enquanto esta não se limitava a manter, bem ou mal, a mísera existência dos oprimidos.

Isso encontra sua expressão mais acabada no modo de produção capitalista, que prevalece hoje na Europa ocidental. Os capitalistas individuais, que dominam a produção e a troca, só podem ocupar-se da utilidade mais imediata de seus atos. Mais ainda: mesmo essa utilidade — porquanto se trata da utilidade da mercadoria produzida ou trocada — passa inteiramente ao segundo plano, aparecendo como único incentivo o lucro obtido na venda.

* * *

A ciência social da burguesia, a economia política clássica, só se ocupa preferentemente daquelas conseqüências sociais que constituem o objetivo imediato dos atos realizados pelos homens na produção e na troca. Isso corresponde plenamente ao regime social cuja expressão teórica é essa ciência. Porquanto os capitalistas isolados produzem ou trocam com o único fim de obter lucros imediatos, só podem ser levados em conta, primeiramente, os resultados mais próximos e mais imediatos. Quando um industrial ou um comerciante vende a mercadoria produzida ou comprada por ele e obtém o lucro habitual, dá-se por satisfeito e não lhe interessa de maneira alguma o que possa ocorrer depois com essa mercadoria e seu comprador. O mesmo se verifica com as conseqüências naturais dessas mesmas ações. Quando, em Cuba, os plantadores espanhóis queimavam os bosques nas encostas das montanhas para obter com a cinza um adubo que só lhes permitia fertilizar uma geração de cafeeiros de alto rendimento pouco lhes importava que as chuvas torrenciais dos trópicos varressem a camada vegetal do solo, privada da proteção das arvores, e não deixassem depois de si senão rochas desnudas! Com o atual modo de produção, e no que se refere tanto às conseqüências naturais como às conseqüência sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis. E logo até se manifesta estranheza pelo fato de as conseqüências remotas das ações que perseguiam esses fins serem multo diferentes e, na maioria dos casos, até diametralmente opostas; de a harmonia entre a oferta e a procura converter-se em seu antípoda, como nos demonstra o curso de cada um desses ciclos industriais de dez anos, e como puderam convencer-se disso os que com o “crack” viveram na Alemanha um pequeno prelúdio; de a propriedade privada baseada no trabalho próprio converter-se necessariamente, ao desenvolver-se, na ausência de posse de toda propriedade pelos trabalhadores, enquanto toda a riqueza se concentra mais e mais nas mãos dos que não trabalham; de [...](2)




Notas:

(1) Notas Sir William Thomson. grande autoridade na matéria, calculou em pouco mais de cem milhões de anos o tempo transcorrido desde o momento em que a Terra se esfriou o suficiente para que nela pudessem viver as plantas e os animais.

(Nota de Engels) Engels refere-se à crise econômica de 1873/1874. (N. da R)

(2) Aqui se interrompe o manuscrito. (N. da R.)

domingo, 2 de junho de 2013

GALILEU GALILEI



(artigo publicado no jornal jpporto)


É muito bom ser professor de História. Essa polêmica Ciência nos dá muita tranqüilidade (a chamada paciência histórica) porque os exemplos que dela emana vindos do passado muito nos revelam e ensinam.


Como o de Galileu Galilei nascido em Pisa em 15 de fevereiro de 1564 e morto em Florença em 8 de janeiro de 1642, foi um dos mais notáveis entre os físicos e astrônomos renascentistas e é considerado um dos maiores gênios da humanidade juntamente com Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Einstein.

Em Florença, Itália, um dos maiores estudos de Galileu levou-o a conclusão que o “Centro Planetário” era o Sol e não a Terra, que nosso planeta azul girava ao redor do Sol como os outros planetas, conforme a teoria do grande Nicolau Copérnico.

Na segunda década de 1600 Galileu Galilei esteve em Roma onde enfrentou drástica oposição as suas opiniões, principalmente advindas do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) que pronunciou que a teoria Heliocêntrica que declarava que o Sol era o centro do universo era heréticaue declarava que o Sol era o centro do universo era herin.

 (ou seja, contra os princípios da Igreja Católica) e que a idéia de que a Terra se move estava "teologicamente" equivocada.

         Galileu era católico fervoroso, mas tinha um temperamento conflituoso, vivendo numa época atribulada na qual a Igreja Católica endurecia sua doutrina para fazer frente à Reforma Protestante. O Papa sentiu que a aceitação do modelo Heliocêntrico como ferramenta tinha sido abusada e convocou Galileu a Roma para ser julgado. Após um julgamento longo e atribulado foi condenado a abjurar publicamente as suas idéias e a prisão domiciliar para não ser levado a fogueira. A prisão de Galileu tornou-se um exemplo muito citado da "luta entre fé e ciência". Enquanto que na Itália e nas zonas católicas seus livros eram proibidos, Galilei publicou sem quaisquer problemas nos Países Baixos, onde o protestantismo se tinha sobreposto ao catolicismo. Reza a lenda que, ao sair do tribunal após sua condenação, disse uma frase célebre: "Eppur si muove!", ou seja, "contudo, ela se move", referindo-se a Terra.

         Galileu morreu cego condenado pela Igreja, longe do convívio público. Obras de Galileu foram censuradas e proibidas pela Igreja Católica Romana. 341 anos após a sua morte, em 1983, num gesto de humildade, a Igreja Católica acabou revendo o processo e decidiu pela absolvição de Galileu que ocorreu em 1999.

         Casos históricos como o de Galileu demonstram a ironia do destino em relação àquelas pessoas que pretendem fazer mudanças, que não aceitam de braços cruzados o mundo injusto como ele está e procuram lutar para modificá-lo.

         Hoje os tempos são outros, porém os inquisidores de plantão continuam a solta, alguns disfarçados, outros mais descarados, porém continuam em busca daqueles que ousam querer mudar o “status quo” para enviá-los as fogueiras.

         Em homenagem a esses neo-inquisidores prometo se um dia eu voltar a ter um cachorro ou um gato de estimação (cachorrinho este, que a minha filha Luíza, muito tem me cobrado) se chamará Galileu Galilei, e ao latir, tentarei ensiná-lo a dizer: “Eppur si muove!
 Este é o meu gato Galileu (promessa feita promessa cumprida)

REVOLTA SOCIAL DE CANUDOS: COM SUA ANALISE VOCABULAR, TEMÁTICA E AUTORAL/TEMPORAL/GEOGRÁFICA


UTOPIA DO SERTÃO

(Cláudio Maffei)


O ano de 1993 foi festejado com muita reverência no norte da Bahia, principalmente em Canudos, cuja fundação completou um século. Foi ali que floresceu a utopia criada pelo Bom Jesus – como o povo do sertão chamava Antônio Vicente Mendes Maciel -, conhecido pela História como Antônio Conselheiro.

Hoje, a Canudos (ex-Belo Monte) de Conselheiro repousa irrequieta sob o açude de Cocorobó, construído pelo governo militar em 1968, numa tentativa de apagar a memória da guerra e da ferrenha resistência do povo do sertão.

Escreve Edmundo Moniz, autor que bem retratou a verdadeira História de Canudos: “A primeira expedição contra Canudos foi comandada por um tenente; a segunda, por um major; a terceira por dois coronéis que perderam a vida; a quarta, por quatro generais, numerosos coronéis, majores, capitães e tenentes. A primeira expedição compunha-se de 100 soldados; a segunda, de 600; a terceira, de 1.200; a quarta de cerca de 10 mil, num exército de 20 mil”. Continua Moniz: “A primeira, a segunda e a terceira foram abatidas em combates de horas; a quarta durou quatro meses e, por várias vezes, esteve prestes a ser destroçada. Salvou-se graças ao grande reforço que recebeu quando se achava em perigo, o que representou, pode-se dizer, uma quinta expedição. Entre a preparação das expedições e as batalhas travadas, a campanha de Canudos durou de 4 de novembro de 1896 a 6 de outubro de 1897. Não se tratava de uma simples insurreição de sertanejos, e sim uma guerra civil.”

Como puderam os sertanejos vencer ou enfrentar metade do Exército brasileiro? O que Antônio Conselheiro tinha que fascinava os sertanejos? Por que o interesse em destruir Canudos?

Conselheiro nasceu em Quixeramobim, no Ceará. Seu pai era comerciante, sua mãe faleceu quando ele tinha seis anos e três irmãs menores. O pai se casou novamente e o pequeno Antônio sofreu muito com a madrasta autoritária e agressiva. De gênio quieto, aprendeu a ler e começou a ter aulas com o professor Manuel Antônio Ferreira Nobre, aprendendo, com afinco, matemática, geografia, francês e latim. Sua educação foi muito importante para seu futuro fascínio. Quando estava com 27 anos, Antônio Maciel perdeu o pai, assumindo a tutela das irmãs e dos negócios, cuja dívida deixada o levou à falência. Casou as três irmãs e mais tarde fez o mesmo, mas foi infeliz no casamento. Depois de muitas mudanças, empregando-se como advogado, professor, juiz, entre outros, em cidades do Ceará foi acometido de tremendo desgosto quando sua mulher, Brasilina, fugiu com um sargento.

A partir daí, Conselheiro tornou-se peregrino e passou a vestir-se como ficou conhecido: bata azul, cabelos e barbas longas, com um bordão na mão sempre a caminhar e pregar, construindo e reformando igrejas, capelas e cemitérios.

Em suas prédicas mostrava ser um grande intelectual, contrariando a historiografia conservadora que o chamava de demente e ignorante. Conhecia Santo Agostinho e a Utopia de Thomas More, Homero e Campanela, entre outras obras e autores, das quais provavelmente não tinham conhecimento os militares que o atacavam.

Após várias perseguições por parte das autoridades, tanto civis e militares quanto religiosas, já peregrinando pelo norte da Bahia e com um grande séqüito de seguidores, Conselheiro decidiu construir a Utopia. Sabia de antemão que não o deixariam em paz pelas suas pregações populares, antilatifúndio e antiinjustiças cometidas pela República que acabava de ser proclamada.

O ascetismo e a promessa de construção do Reino de Deus na terra fascinava o homem do sertão que vivia deserdado pela sociedade. Os que seguiam Conselheiro eram sertanejos pobres, jagunços estropiados, caboclos, negros ex-escravos, enfim, os sem-terra que sofriam humilhações e eram explorados pelos coronéis proprietários do latifúndio – até hoje o grande problema do Nordeste e do Brasil.

Em Belo Monte todos eram bem acolhidos todos eram irmãos, os que chegavam despojavam-se da ganância e quando tinham alguma coisa doavam para ser repartida pela sociedade. Uma cidade assim no Nordeste só poderia ser vista como um paraíso para os filhos do sertão. Logo o pequeno arraial passou a ser a segunda cidade da Bahia, com 30 mil habitantes, só atrás da capital, Salvador. Sua economia baseava-se principalmente na criação de cabras, cuja pele era exportada até para a Alemanha.

Exemplo único de justiça no sertão, Canudos incomodava a ordem político-religiosa estabelecida pela República. Assim como Cuba hoje, Canudos era, para as elites, um mal exemplo que poderia ser seguido e, por isso, tinha que ser destruído.

As autoridades religiosas invejavam Conselheiro (ele continuou respeitando a religião católica, seus dogmas e sua hierarquia, sem nunca se autoproclamar ou servir como sacerdote), que arrebanhava mais ovelhas que os pastores da Igreja.

As autoridades políticas, insufladas pelos latifundiários e envolvidas com os interesses dos militares no jogo da sucessão presidencial, viram em Canudos uma chance de realçar as atitudes heróicas do Exército, demonstrando superioridade sobre os Casacas – termo que o general Floriano Peixoto usava para designar os civis. Derrotar um bando de sertanejos “fanáticos” e mal armados seria uma oportunidade para destacar-se daí um líder em condições de assumir o poder.

O engano foi gigantesco. Canudos resistiu, desbancando vários chefes militares arrogantes, mostrando-se Conselheiro um estrategista militar que não tinha comparação com os melhores alunos da academia. A pretensa superioridade das forças da legalidade foi batida por uma estratégia superior: a guerra de guerrilhas na caatinga.

O total conhecimento do terreno e seu conseqüente aproveitamento, a utilização da superioridade tática em detrimento da superioridade estratégica possuída pelo Exército e seus canhões levaram Conselheiro a uma concepção de guerra que deixou estarrecidos os coronéis, majores e generais. A “fraqueza do governo” como gritavam os sertanejos aos soldados, demonstrou a importância da utilização da guerra psicológica. Canudos não se rendeu, foi esmagada pela superioridade técnica e quantitativa do Exército que a combateu.

A exemplar resistência do sertanejo, a viabilidade de uma sociedade justa, sem classes, em pleno sertão nordestino e a concretização da utopia conselheirista são a prova mais fiel da mentira que as elites colocam nas costas dos brasileiros:  a de que somos um povo pacífico e acomodado. A utopia de Canudos é a negação desta mentira e a afirmação da resistência popular do povo brasileiro, que sempre lutou e continuará a lutar por sua libertação.


Artigo publicado na revista Cadernos do Terceiro Mundo n.º 169 de Janeiro de 1994 pp. 21 e 22.



Análise do texto UTOPIA DO SERTÃO


I - Análise Vocabular:


  1. UTOPIA

u.to.pi.a

s. f. 1. O que está fora da realidade, que nunca foi realizado no passado nem poderá vir a sê-lo no futuro. 2. Plano ou sonho irrealizável ou de realização num futuro imprevisível; ideal. 3. Fantasia, quimera.


(Dicionário Houaiss) Utopia - s. f. 1. qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. 2. p. ext. projeto de natureza irrealizável; idéia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia.


u.tó.pi.co

adj. 1. Relativo a utopia. 2. Que encerra utopia; fantasioso, irrealizável.


  1. AÇUDE

a.çu.de

s. m. Construção destinada a represar águas pluviais com finalidade econômica.


  1. INSURREIÇÃO

in.sur.rei.ção

s. f. 1. Ato ou efeito de se insurgir; rebelião, revolta. 2. Oposição ou reação vigorosa.


  1. GUERRA CIVIL

Conflito travado entre cidadãos de um mesmo país; guerra intestina. (Dicionário Houaiss)


  1. LATIM

la.tim

s. m. 1. A língua do grupo indo-europeu, falada antigamente no Lácio e, pois, em Roma. 2. O estudo dessa língua. 3. Coisa de difícil compreensão. — L. vulgar: latim popular, base das línguas neolatinas modernas.


  1. BATA

ba.ta

s. f. 1. Ant. Roupão de homem. 2. Espécie de roupão com a frente abotoada até a cintura.


  1. BORDÃO

bor.dão

s. m. Pau grosso, de arrimo; bastão, cajado, cacete.


  1. PRÉDICAS

pré.di.ca

s. f. Pregação, sermão, predicação.


  1. HISTORIOGRAFIA

his.to.ri.o.gra.fi.a

s. f. 1. Arte de escrever a história. 2. Estudos críticos acerca da história ou dos historiadores.


  1. SÉQUITO

sé.qüi.to

s. m. Conjunto de pessoas que acompanha outra ou outras por cortesia ou por dever oficial; acompanhamento, comitiva, cortejo. Var.: séquito.


  1. ASCETISMO

as.ce.tis.mo

s. m. 1. Moral filosófica ou religiosa, baseada no desprezo do corpo e das sensações corporais, e que tende a assegurar, pelos sofrimentos físicos, o triunfo do espírito sobre os instintos e as paixões. 2. Profissão de vida ascética; ascese. Sin.: asceticismo.


  1. JAGUNÇOS

ja.gun.ço

s. m. 1. Cangaceiro, sertanejo aguerrido e valente. 2. Capanga, guarda-costas, valentão.


  1. ESTROPIADOS

es.tro.pi.a.do

adj. 1. Aleijado, mutilado. 2. Invalidado. 3. Diz-se do cavalo trôpego, com os cascos gastos por longa viagem. 4. Alterado, desfigurado.


  1. LATIFÚNDIO

la.ti.fún.dio

s. m. Propriedade rural de grande extensão, cuja maior parte aproveitável não é aplicada à cultura ou utilizada em exploração econômica.


  1. DOGMAS

dog.ma

s. m. 1. Ponto ou princípio de fé definido pela Igreja. 2. Fundamento de qualquer sistema ou doutrina. 3. O conjunto das doutrinas fundamentais do cristianismo.


  1. HIERARQUIA

hi.e.rar.qui.a

s. f. 1. Ordem, graduação, categoria existente numa corporação qualquer, nas forças armadas, nas classes sociais. 2. Rel. catól. Totalidade de clero e a sua graduação.


  1. TÁTICA

tá.ti.ca

s. f. 1. Arte de empregar as tropas no campo de batalha com ordem, rapidez e recíproca proteção, segundo as condições de suas armas e do terreno. 2. Maneira hábil de conduzir um negócio, uma empresa etc.


  1. ESTRATÉGIA

es.tra.té.gia

s. f. 1. Arte de conceber operações de guerra em planos de conjunto. 2. Ardil, manha, estratagema.



II - Análise Temática:

  1. GOVERNO MILITAR (DITADURA MILITAR)

Ditadura, modalidade de Governo que, invocando um suposto interesse público, identificado na realidade com interesses de um grupo, prescinde da vontade dos governados. É um poder exercido por uma pessoa ou um grupo à margem ou acima das leis, sem submissão à fiscalização ou controle.


Governo militar, administração de um território inimigo ocupado no qual impera a lei marcial. Por extensão, aplica-se também ao governo de um militar, ou grupo de militares, alcançado através de um golpe de estado.


Movimento militar de 1964, movimento deflagrado na noite de 31 de março de 1964, em Minas Gerais, sob o comando do general Olímpio Mourão Filho, contra o governo instituído do presidente João Goulart, que foi derrubado no dia seguinte. O movimento estendeu-se até 1985. Embora a abertura política tenha sido instaurada a partir de 1979, só em 1985 tomou posse um presidente civil, José Sarney, ainda eleito pelo Congresso Nacional de forma indireta. Apoiado por empresários, proprietários rurais e setores da classe média, o movimento reagiu principalmente às “reformas de base” propostas pelo governo com o apoio de partidos de esquerda, acusando o presidente de pretender estabelecer uma “república sindicalista”. O período caracteriza-se pelo autoritarismo, supressão de direitos constitucionais, perseguição policial e militar, e utilização da tortura para obter a confissão dos presos e seqüestrados que se opunham ao regime. A liberdade de expressão nos meios de comunicação foi suprimida mediante a adoção da censura prévia. Foi de extrema importância para os governos militares o papel desempenhado pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), criado pelo general Golbery do Couto e Silva.

Chegando ao poder, os militares realizaram profunda alteração constitucional, promulgaram o Ato Institucional nº 1 — que cassou mandatos, suspendeu a imunidade parlamentar e direitos políticos — e promoveram a eleição, pelo Congresso Nacional, de um novo presidente, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que governou até 1967. Os partidos políticos foram abolidos e instalado o bipartidarismo.

No campo econômico foi definido um modelo baseado no binômio desenvolvimento/segurança. O planejamento centralizado contribuiu para a estatização da economia, desempenhando o Estado atividades de gerenciamento da produção. Como ocorreu em outros países, a crise mundial da década de 1970 agravou o problema econômico brasileiro, acentuando a concentração de renda e os problemas das populações mais pobres.

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  1. SANTO AGOSTINHO

Agostinho de Hipona, Santo (354-430), padre e um dos eminentes doutores da Igreja Católica ocidental. Filho de Santa Mônica, nasceu em Tagasta, Numídia (hoje Souk-Ahras, Argélia). Inspirado no tratado filosófico, Hortensius, de Cícero, converteu-se em ardoroso pesquisador da verdade e aderiu ao maniqueísmo. Em Milão, conheceu Santo Ambrósio que o converteu ao cristianismo.

Agostinho voltou ao norte da África, foi ordenado sacerdote e, mais tarde, consagrado bispo de Hipona. Combateu a heresia maniqueísta e participou de dois grandes conflitos religiosos: o donatismo e o pelagianismo. Nesta época, desenvolveu as doutrinas do pecado original, graça divina, soberania divina e predestinação. Os aspectos institucionais de suas doutrinas foram especialmente proveitosos para a Igreja Católica Apostólica Romana. Santo Agostinho sustenta que homens e mulheres foram salvos pela graça divina e defende o papel do livre-arbítrio em união com a graça.

Sua obra mais conhecida é a autobiografia Confissões, escrito, possivelmente, em 400. Em A Cidade de Deus (413-426) formulou uma filosofia teológica da história.


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  1. UTOPIA

Utopia, obra do político e pensador inglês canonizado como São Thomas More, publicada na cidade belga de Louvain, em 1516, com o título De optimo reipublicae statu de que nova insula Utopia. Na Inglaterra foi publicada em 1551. Escrita em latim, é um dos textos mais significativos do humanismo inglês, concebido como uma prosa satírica de caráter social e político. Thomas More não apenas criou uma nova palavra (utopia, “lugar que não existe”), como também inaugurou um gênero literário e filosófico baseado na planificação ideal de uma forma de governo perfeita, na qual se acrescentou posteriormente a acepção de “irrealizável” (utópica). Dividido em duas partes, dedica a primeira delas às críticas que um viajante faz da situação social e política da Inglaterra da época, enquanto a segunda descreve a organização de um Estado, situado na imaginária ilha de Utopia, onde as reformas necessárias para remediar os males descritos já foram realizadas. A Utopia de Thomas More é a denúncia dos comportamentos deplorados pelo autor, escrita com um fino toque de humor, com uma dramaticidade especialmente notável na composição dos diálogos. Sua invenção de uma república ideal, governada por meio da razão e sob a mais profunda tolerância religiosa, obteve uma importante e imediata ressonância no âmbito do humanismo renascentista, tanto em seu próprio país, como no resto da Europa.


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  1. THOMAS MORE

More, Thomas (1478-1535), político e escritor inglês, conhecido por sua postura religiosa contrária à do rei Henrique VIII, o que lhe custou a vida.

Em 1518, chegou a ser membro do Conselho Privado do rei, que o transformou em um de seus favoritos. Entretanto, sua sorte mudou quando não apoiou a petição de Henrique VIII para divorciar-se de Catarina de Aragão. As convicções religiosas de More fizeram que se negasse a concordar com qualquer tipo de desafio à autoridade papal e, diante disso, se retirou da vida pública. Mas, Henrique VIII o mandou prender em 1534, sendo julgado no ano seguinte. More reafirmou que o Parlamento não tinha o direito de usurpar a autoridade papal em favor do rei. Foi condenado e decapitado em 1535. Em 1935, foi canonizado pela Igreja Católica. É o autor de Utopia (1516).


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  1. HOMERO

Homero, nome tradicionalmente atribuído ao famoso autor da Ilíada e da Odisséia, as duas grandes epopéias da Antigüidade na Grécia.

A Ilíada situa-se no último ano da guerra de Tróia e narra a história do herói grego Aquiles e a derrota de Heitor, filho do rei Príamo

A Odisséia narra a viagem de retorno do herói grego Odisseu até sua ilha natal, Ítaca, os diversos perigos que enfrentou e sua vingança sangrenta contra os pretendentes de sua esposa Penélope.

Homero é, sem dúvida, o pai de toda literatura grega posterior. O teatro, a historiografia e, inclusive, a filosofia levam a marca dos temas cômicos e trágicos cantados nessas epopéias.


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  1. CAMPANELA

Campanella, Tommaso (1568-1639), filósofo italiano. Educado na ordem dos predicadores dominicanos, foi perseguido por suas idéias. Passou 27 anos no cárcere, onde escreveu A cidade do Sol (1623), no qual descreve uma sociedade ideal que reflete o modelo de A República de Platão.


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  1. CUBA

Cuba,  maior ilha das Antilhas, situada ao sul da Flórida e a leste da península de Yucatán. Junto com várias pequenas ilhas adjacentes forma a República de Cuba. A leste, está separada da ilha Hispaniola pela Passagem de Barlovento, uma rota que une o oceano Atlântico ao mar do Caribe. Os Estados Unidos mantêm uma base naval na baía de Guantánamo. Havana é a capital. Com a ilha da Juventude (antes ilha de Pinos) e outras ilhas menores, tem 114.524 km² de superfície


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  1. FLORIANO PEIXOTO

Peixoto, Floriano (1842-1895), militar e político brasileiro, nasceu em Ipióca, Alagoas, e faleceu no Rio de Janeiro.

Atuou com destaque na Guerra do Paraguai, realizando toda a sua carreira militar durante o império, sem atuação política.

Com a queda da monarquia tornou-se vice-presidente do marechal Deodoro da Fonseca, a quem sucedeu quando este renunciou, após uma tentativa de golpe de Estado.

Presidente de 1891 a 1894, enfrentou a Revolta da Armada, em que parte da marinha sublevou-se contra o governo, e a Revolução Federalista no sul do país.

Figura controvertida e carismática, não conseguiu pacificar o país, o que realizou seu sucessor Prudente de Morais, em 1895.

Sua liderança estava identificada com um nacionalismo exacerbado, o chamado “jacobinismo florianista”.


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  1. GUERRA DE GUERRILHAS

Guerrilha, forma de confronto bélico baseada em ações dispersas, orientadas para debilitar e desarticular o inimigo. Requer um forte apoio popular, já que sua estratégia de luta se fundamenta na ajuda e na proteção da população civil. É uma forma de luta freqüentemente utilizada nas guerras de independência americanas e depois da II Guerra Mundial na América Latina, África e Ásia para enfrentar inimigos estrangeiros ou nacionais.


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  1. CAATINGA

Caatinga, nome comum que recebe no nordeste do Brasil um tipo de mata baixa, pouco desenvolvida, formada por arbustos espinhosos e árvores de folhas frágeis, que também se encontra no sul da África, Austrália e Índia. O clima é de tipo tropical semi-árido, com um período de seca seguido por chuvas irregulares, o que provoca que a vegetação perca suas folhas durante a estação seca. A paisagem da caatinga varia desde as zonas mais arborizadas até áreas mais abertas, com árvores e arbustos muito esparsos. Entre as plantas deste tipo de formação se pode encontrar a árvore barril (Chorizia ventricosa), com seu tronco volumoso, algumas cactáceas como Cereus squamosus, ou bromeliáceas como a Bromelia laciniosa. Entre os mamíferos deve-se mencionar o mocó ou moco (Kerodon rupestris), roedor endêmico do nordeste do Brasil; o sagui (Callithrix jacchus) e o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus). Um exemplo de ave característica desta zona é a arara azul de Lear (Anodorhynchus leari), da qual, entretanto, restam menos de cem indivíduos na natureza. Ver também Sertão e Campos abertos.


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  1. GUERRA PSICOLÓGICA

Uso de propaganda, ameaças e outras estratégias psicológicas (através da mídia, agentes secretos etc.) a fim de enfraquecer o espírito de luta de uma população ou de um exército inimigo.


  1. CLASSES (SOCIAIS)

Classe social, em sociologia, termo que indica uma camada social numa sociedade e seu status correspondente. O princípio da organização é diferente do adotado nas sociedades de castas e discorda da ideologia igualitária associada à cidadania nos estados de direito. A classe social é regida fundamentalmente por uma estrutura do tipo econômico.

Karl Marx é considerado o criador deste conceito. Segundo Marx, os indivíduos numa sociedade civil lutam pela propriedade dos meios de produção (os recursos para extrair produtos da natureza), conflito que divide a sociedade em duas classes antagônicas, a burguesia e o proletariado.

As idéias de Marx e o desenvolvimento da sociedade industrial modificaram a terminologia com respeito às classes sociais, ao incluírem a noção de burguesia e proletariado. Antes, o conceito só era aplicado a aristocratas, comerciantes e grupos inferiores. Atualmente, com o desenvolvimento da sociedade pós-industrial, os pensadores debatem se o conceito de classe social continua tendo validade e se a visão marxista da história chegou ao fim.


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III - Análise Autoral - Temporal - Geográfica:


·        NOME DO TEXTO

Utopia do Sertão.

·        AUTOR DO TEXTO

Cláudio Maffei

·        OBRA DA QUAL FOI EXTRAÍDA

Revista Cadernos do Terceiro Mundo n.º 169 de Janeiro de 1994 pp. 21 e 22.

·        ANO DA OBRA

1994

·        ASSUNTO DO TEXTO:

Guerra de Canudos

·        ANO QUE TRATA O TEXTO:

De 1893 a 1897.

·        LOCAIS:

Arraial de Canudos, as margens do Rio Vaza Barris, norte da Bahia.

·        DEFINIÇÃO:
            Movimento Messiânico ocorrido no sertão baiano que tinha como líder o peregrino Antônio Conselheiro que fundou o arraial de Canudos que chegou a ter uma população de 30 mil habitantes e que foi tremendamente reprimida pelo exército brasileiro.        

Veja também:

ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

Quando falamos em escavar o solo em busca de vestígios do passado, muitas pessoas imediatamente pensam em fósseis de dinossauros e utensílio...

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