Esta é a última semana da Ação entre Amigos Radioamadores! Aproveitem e adquira um ou vários números!
sábado, 30 de setembro de 2017
domingo, 16 de julho de 2017
LEANDRO KARNAL COMPARA A AULA A UM TEATRO
Quase todos os professores dão a mesma aula muitas vezes. Em
algumas escolas públicas e privadas, há muitas salas da mesma série. Um
professor de baixa carga horária pode, por exemplo, entrar em dez salas da
mesma série numa semana. Isso significa repetir o mesmo conteúdo muitas vezes.
Você notará que a primeira aula de um conteúdo novo é um teste, uma
experiência. Na segunda você vai acelerar tal coisa ou explicar melhor o que
despertou muitos problemas na aula inaugural. É um aperfeiçoamento. A terceira
aula de um mesmo conteúdo é, em geral, a melhor. É o apogeu. Você já saberá até
qual piadinha funciona. Mas poderá existir a quarta, a quinta, a sexta. Você
perceberá que a aula vai ficando mais curta e mais rápida. É o declínio.
É o problema de todo ator que deve encenar a mesma peça
diversas vezes. Quando eu cheguei a São Paulo para fazer pós-graduação, fui ver
uma comédia de grande sucesso na época. O texto era leve e divertido e os dois
atores trocavam muitas vezes de roupa no palco. Talentosos e com timing de
humoristas profissionais, eles eram tão bons, que por vezes, interrompiam o
texto para rirem de si mesmos, não aguentando os trejeitos um do outro. Achei
aquilo o máximo: tudo era tão divertido que mesmos os atores paravam para rir.
Passados alguns dias, recebi visita e levei meus convidados
para verem a peça. Eu também queria rever. Lá estava tudo de novo: o bom texto,
o talento dos atores, a risada fácil. O que me espantou era que eles paravam
para rir nos mesmos lugares da primeira vez. O riso, tão natural e quase
inesperado que interrompia o texto, era o mesmo da primeira vez e nos mesmos
lugares. O que tinha me encantado pelo tom espontâneo, era pensado, marcado e
repetido à exaustão.
Os atores sabem que devem pensar nessas coisas e que há
pouco espaço para o improviso no teatro profissional. A aula não é um teatro,
mas, certamente, ser professor tem algo em comum com ser ator. Estamos diante
de uma plateia. Temos algo a dizer e o público espera que o façamos. Devemos
seduzir, encantar, realizar. O texto tem momentos mais rápidos e mais lentos.
Os atores sabem que, quando há duas sessões, o público das
21 horas não quer saber se já houve tudo aquilo às 19 horas. Quem veio ver às
21 horas quer a experiência total e profunda e não deseja perguntar se as
pessoas que encenam estão cansadas ou não. O aluno da terceira vez também não.
Atores profissionais sabem guardar a voz. A voz humana é
relaxante, quase sempre. Ouvir alguém induz ao sono. Se esta voz for continua e
no mesmo tom o tempo todo, funciona como um processo de hipnose. O que fazer?
Fale mais alto e mais baixo de acordo com o que você quer
demonstrar. Reforce conceitos centrais ou conclusões com voz mais forte e mais
pausada. Treine isso em casa algumas vezes. Levante-se e ande em direção aos
vários pontos da sala. Movimente o corpo. Caminhe até os grupos que pareçam
mais dispersos, sonolentos ou conversando. Faça pausas dramáticas. Um súbito
silêncio pode chamar a atenção de alguns alunos. Aprenda a gesticular. Nunca
deixe parecer que está numa sala de ginástica, mas jamais transmita o ritmo de
um cortejo fúnebre.
Seria irritante para a plateia se os atores demonstrassem
que não sabem o texto. Para subir ao palco, eles decoram coisas por meses. Uma
boa aula deve ser preparada. Esqueça aquelas bobagens de longos planos de aula
com objetivos, meios, recursos etc., que ensinam em tantos lugares. Você não
conseguirá manter esses planos detalhados ao longo dos meses. Pior, não
conseguindo mais fazer de forma “arrumadinha” seu plano, a tendência será parar
de fazer qualquer planejamento. É um erro fatal.
FONTE: Leandro Karnal - Conversas com um Jovem Professor,pp.23-25
sexta-feira, 14 de julho de 2017
ORIGEM DA VIDA: HIPÓTESE HETEROTRÓFICA E HIPÓTESE AUTOTRÓFICA
A EVOLUÇÃO DO METABOLISMO
As características fundamentais de um ser vivo é possuir
compostos orgânicos na constituição da sua estrutura (ou são formados por uma
célula – unicelulares, ou várias células – pluricelulares) e ter a capacidade
de reprodução.
Todo ser vivo precisa de alimentos, que são
degradados nos processos metabólicos para a liberação de energia e realização
de funções. Esses alimentos degradados também podem ser utilizados como
matéria-prima na síntese de outras substâncias orgânicas, possibilitando o
crescimento e a reposição de perdas.
Existem
duas hipóteses para explicar como os primeiros seres conseguiram obter e
degradar o alimento para sua sobrevivência: a hipótese heterotrófica e a hipótese
autotrófica.
HIPÓTESE HETEROTRÓFICA
Segundo essa hipótese, os primeiros organismos eram
estruturalmente muito simples, sendo de se supor que as reações químicas em
suas células também eram simples. Eles viviam em um ambiente aquático, rico em substâncias
nutritivas, mas provavelmente não havia oxigênio na atmosfera, nem dissolvido
na água dos mares. Nessas condições, é possível supor que, tendo alimento
abundante ao seu redor, esses primeiros seres teriam utilizado esse alimento já
pronto como fonte de energia e matéria-prima. Eles seriam Heterótrofos (hetero
= diferente, trofos = alimento): organismos que não são capazes de sintetizar
seus próprios alimentos a partir de compostos inorgânicos, obtendo-os prontos
do meio ambiente.
Os seres capazes de sintetizar seus próprios alimentos a
partir de substância inorgânicas simples são chamados autótrofos (auto =
próprio, trofos = alimento), como é o caso das plantas.
Uma vez dentro da célula, esse alimentos precisa ser
degradado. Nas condições da Terra atual, a via metabólica mais simples para se
degradar o alimento sem oxigênio é a fermentação, um processo anaeróbio (an =
sem, aero = ar, bio = vida). Um dos tipos mais comuns de fermentação é a
alcoólica. O açúcar glicose é degradado em álcool etílico (etanol) e gás
carbônico, liberando energia para as várias etapas do metabolismo celular.
Esses organismos começaram a aumentar em número por
reprodução. Paralelamente a isso, as condições climáticas da Terra também
estavam mudando a ponto de não mais ocorrer síntese pré-biótica da matéria
orgânica. Desse modo, o alimento dissolvido no meio teria começado a ficar
escasso.
Com o alimento reduzido e um grande número de indivíduos
nos mares, deve ter havido muita competição, e muitos organismos teriam morrido
por falta de alimento. Acredita-se que nesse novo cenário teria ocorrido o
surgimento de alguns seres capazes de captar a luz solar com o auxílio de
pigmentos como a clorofila. A energia da luz teria sido utilizada para a
síntese de seus próprios alimentos orgânicos, a partir de água e gás carbônico.
Teriam surgido assim os primeiros seres autótrofos: os seres fotossintetizantes
(foto = luz, síntese = em presença de luz), que não competiam com os
heterótrofos e proliferaram muito.
Esses primeiros seres fotossintetizantes foram
fundamentais na modificação da composição da atmosfera: eles introduziram o
oxigênio no ar, e a atmosfera teria passado de redutora a oxidante. Até os dias
de hoje, são principalmente os seres fotossintetizantes que mantêm os níveis de
oxigênio na atmosfera, o que é fundamental para a vida no nosso planeta.
Havendo disponibilidade de oxigênio, foi possível a
sobrevivência de seres que desenvolveram reações metabólicas complexas, capazes
de utilizar esse gás na degradação do alimento. Surgiram, então, os primeiros
seres aeróbios, que realizavam a respiração. Por meio da respiração, o
alimento, especialmente o açúcar glicose, é degradado em gás carbônico e água,
liberando muito mais energia para a realização das funções vitais do que na
fermentação.
A fermentação, a fotossíntese e a respiração permaneceram
ao longo do tempo e ocorrem nos organismos que vivem atualmente na Terra.
HIPÓTESE HETEROTRÓFICA
FERMENTAÇÃO à FOTOSSÍNTESE à RESPIRAÇÃO
HIPÓTESE AUTOTRÓFICA
Alguns cientistas têm argumentado que os seres vivos não
devem ter surgido em mares rasos e quentes, como proposto por Oparin e Haldane,
pois a superfície terrestre, na época em que a vida surgiu, era um ambiente
muito instável. Meteoritos e cometas atingiam essa superfície com muita
frequência, e a vida primitiva não poderia se manter em tais condições.
Logo no início da formação da Terra, meteoritos colidiam
fortemente com a superfície terrestre, e a energia dessas colisões era gasta no
derretimentos ou até mesmo na vaporização da superfície rochosa. Os meteoritos
fragmentavam-se e derretiam, contribuindo com sua substância para a Terra em
crescimento. Um impacto especialmente violento pode ter gerado a Lua, que
guarda até hoje em sua superfície o registro desse período, que na superfície
da Terra foi apagado, ao longo do tempo pela erosão.
A maioria dos meteoritos se queima até desaparecer quando
entra na atmosfera terrestre atual e brilha no céu como estrelas cadentes. Nos
primórdios da Terra, os meteoritos eram maiores, mais numerosos e mais
frequentes.
Alguns
cientistas especulam que os primeiros seres vivos não poderiam ter sobrevivido
a esse bombardeio cósmico, e propõem que a vida tenha surgido em locais mais
protegidos, como o assoalho dos mares primitivos.
Em
1977, foram descobertas nas profundezas oceânicas as chamadas fontes termais
submarinas, locais de onde emanam gases quentes e sulfurosos que saem de
aberturas no assoalho marinho. Nesses locais a vida é abundante. Muitas
bactérias que aí vivem são autótrofas, mas realizam um processo muito distinto
da fotossíntese. Onde essas bactérias vivem não há luz, e elas são a base de
uma cadeia alimenta peculiar. Elas servem de alimento para os animais ou então
são mantidas dentro dos tecidos deles. Nesse caso, tanto os animais como as
bactérias se beneficiam: elas têm proteção dentro do corpo dos animais, e estes
recebem alimentos produzidos pelas bactérias.
A
descoberta das fontes termais levantou a possibilidade de que a vida teria
surgido nesse tipo de ambiente protegido e de que a energia para o metabolismo
dos primeiros seres vivos teria ocorrido por um mecanismo autotrófico
denominado quimiossíntese. Alguns cientistas acreditam que os primeiros seres
vivos foram bactérias, que obtinham energia para o metabolismo a partir da
reação entre substâncias inorgânicas, como fazem as bactérias encontradas
atualmente nas fontes termais submarinas e em outros ambientes muito quentes
(com cerca de 60 a 105̕
) e sulfurosos. Segundo
essa hipótese que toda a vida que conhecemos descende desse tipo de bactéria
que devia ser autotrófica.
Os
que argumentam a favor dessa hipótese baseiam-se em evidências que sugerem
abundância de sulfeto de hidrogênio (gás sulfídrico, H2S que tem cheiro de ovo
podre) e compostos de ferro na Terra primitiva. As primeiras bactérias devem
ter obtido energia de reações que tenham envolvido esses compostos para a
síntese de seus compostos orgânicos.
Algumas
bactérias que vivem atualmente em fontes quentes e sulfurosas podem realizar a
reação química a seguir, que pode ter sido a reação fundamental fornecedora de
energia para os primeiros seres vivos:
FeS
|
+
|
H2S
|
à
|
FeS2
|
+
|
H2
|
+
|
Energia
|
Sulfato Ferroso
|
+
|
Gás Sulfídrico
|
à
|
Sulfeto Ferroso
|
+
|
Hidrogênio
|
+
|
Energia
|
A
energia liberada por essa reação pode ser usada pelas bactérias para quebrar o
CO2
do meio e aproveitar o carbono na produção de compostos orgânicos essenciais
para a vida.
Assim,
segundo essa hipótese, a quimiossíntese – um processo autotrófico – teria surgido
primeiro. Depois teriam surgido a fermentação, a fotossíntese e finalmente a
respiração.
Os
debates sobre a origem da vida são apaixonantes e existem opiniões diversas,
porém a hipótese mais aceita nos meios científicos é a do metabolismo pela via
heterotrófica, embora a hipótese autotrófica venha ganhando cada vez mais
adeptos.
Fonte: Sônia Lopes_Bio Volume Único, Editora Saraiva, 2004
Fonte: Sônia Lopes_Bio Volume Único, Editora Saraiva, 2004
quinta-feira, 13 de julho de 2017
HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA: CRIANDO AS CONDIÇÕES DA TERRA ANCESTRAL
Stanley Lloyd Miller e Harold Clayton Urey |
O EXPERIMENTO DE MILLER:
A
hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi testada pela primeira
vez pelo químico americano Stanley Lloyd Miller, em 1953. Na época, Miller
trabalhava com Harold Clayton Urey, na Universidade de Chicago, razão pela qual
muitos preferem dizer experimento de Miller-Urey.
Miller
construiu um aparelho que simulava as condições da Terra primitiva e introduziu
nele os componentes que provavelmente constituíam a atmosfera naquela época:
amônia(NH3), Hidrogênio (H2), metano (CH4)
e vapor d’água.
A água,
ao ser fervida, forma vapor e promove a circulação em todo o sistema, em um só
sentindo. No balão em que se encontra a mistura gasosa ocorrem descargas
elétricas, simulando os raios que, na Terra primitiva, deviam ocorrer com frequência.
Após as descargas elétricas, os materiais são submetidos a um resfriamento para
simular a condensação nas altas camadas da atmosfera, que provoca as chuvas. A
parte em U desse sistema simula os mares primitivos, que recebiam as chuvas e
os compostos formados na atmosfera.
Pela
análise da água contida nessa parte em U pode-se verificar a formação de
moléculas orgânicas, dentre elas alguns aminoácidos, substâncias que formam as
proteínas.
Moléculas Orgânicas |
Fonte: Sônia Lopes_Bio Volume Único, Editora Saraiva, 2004
HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA
Aleksander I.Oparin e John S. Haldane cientistas que desenvolveram hipóteses sobre a origem da vida |
HIPÓTESE DE OPARIN E HALDANE
Trabalhando
independentemente, o cientista russo Aleksander Ivanovich Oparin (1894-1980) e
o cientista inglês John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964) propuseram, na
década de 1920, hipóteses semelhantes sobre como a vida teria se originado na
Terra. Apesar de existirem pequenas diferenças entre as hipóteses desses
cientistas, basicamente eles propuseram que os primeiros seres vivos surgiram a
partir de moléculas orgânicas que teriam se formado na atmosfera primitiva e
depois nos oceanos, a partir de substâncias inorgânicas.
Vamos,
de modo, simplificado, apresentar uma síntese dessas ideias: as condições da
Terra antes do surgimento dos primeiros seres vivos eram muito diferentes das
atuais. A Erupções vulcânicas eram muito abundantes, liberando grande
quantidade de gases e de partículas para a atmosfera. Esses gases e partículas
ficaram retidos por ação da força da gravidade e passaram a compor a atmosfera
primitiva.
Embora
ainda não exista um consenso sobre a composição da atmosfera primitiva, muitos
cientistas consideram que provavelmente ela era composta principalmente de
metano (CH4), amônia (NH3), gás hidrogênio (H2) e vapor d’água (H2O). Não
havia o gás oxigênio (O2) ou ele estava
presente em baixíssima concentração; por isso se fala em ambiente redutor. Nessa
época, a Terra estava passando por um processo de resfriamento, que permitiu o
acúmulo de água nas depressões da sua crosta, formando os mares primitivos.
As
descargas elétricas e as radiações eram intensas e teriam fornecido energia
para que algumas moléculas presentes na atmosfera se unissem, dando origem a
moléculas maiores e mais complexas: as primeiras moléculas orgânicas. É
importante lembrar que na atmosfera daquela época, diferentemente do que ocorre
hoje, não havia o escudo de ozônio (O3)
contra as radiações, especialmente a ultravioleta, que, assim, atingiam a Terra
com grande intensidade.
As
moléculas orgânicas formadas eram arrastadas pelas águas das chuvas e passavam
a se acumular nos mares primitivos, que eram quentes e rasos. Esse processo,
repetindo-se ao longo de muitos anos, teria transformado os mares primitivos em
verdadeiras “sopas nutritivas”, ricas em matéria orgânica. Essas moléculas
orgânicas poderiam ter-se agregado, formando coacervados, nome derivado do
latim coacervare, que significa formar grupos. No caso, o sentido de
coacervatos é o de conjuntos de moléculas orgânicas reunidas em grupos envoltos
pro moléculas de água.
Esses
coacervatos não eram seres vivos, mas uma primitiva organização das substâncias
orgânicas em um sistema semi-isolado do meio, podendo trocar substância com o
meio externo e havendo possibilidade de ocorrerem inúmeras reações químicas em
seu interior.
Não se
sabe como a primeira célula surgiu, mas pode-se supor que, se foi possível o
surgimento de um sistema organizado como os coacervatos, podem ter surgido
sistemas equivalentes, envoltos por uma membrana formada por lipídios e
proteínas e contendo em seus interior a molécula de ácido nucleico. Com a
presença do ácido nucleico, essas formas teriam adquirido a capacidade de
reprodução. Nesse momento teriam surgido os primeiros seres vivos que, apesar
de muitos primitivos, eram capazes de se reproduzir, dando origem a outros
seres semelhantes a eles.
Fonte: Sônia Lopes_Bio Volume Único, Editora Saraiva, 2004
LEANDRO KARNAL E AS QUATRO LINHAS DE FORÇA: 4.ª O ALUNO
Leandro Karnal, em seu livro Conversas
com um Jovem Professor nos sugere que o profissional da educação deve
pensar em quatro linhas de força que devem cruzar quando falamos de uma boa
aula, vamos verificar cada uma delas no Blog do Maffei, mas uma por dia:
A última linha de força de uma aula é o aluno. É a linha
mais importante. O aluno é para o professor e que o paciente é para o médico. É
o objetivo da sua existência profissional. Há uma inversão tradicional da
função pedagógica: considerar o aluno um problema para a escola. O
comportamento do aluno pode ser um problema: ele não é um problema. Voltamos à
metáfora médica: a doença é o problema, o doente não é.
Estamos diante de um dos dilemas mais curiosos do ensino: você
pode combater o mau comportamento, mas sempre lembrando que o aluno é seu
objetivo maior. Separar essas coisas é difícil e, como eu, provavelmente você
vai errar nesse campo.
Os cristão medievais tinham uma regra que podemos adaptar
com sucesso: odiar o pecado e amar o pecador. Sabe a consequência disso? Se
entendermos a ideia bem, significaria deixar claro que eu não admito a bagunça
porque ela é inimiga do aluno e não exatamente minha. Do ponto de vista ideal,
que o aluno sinta que nunca é pessoal, que ele não é o problema, que eu posso
até pedir que ele se retire da sala, mas porque, e unicamente, ele está
impedindo a ele e à turma de atingirem o resultado. É preciso muita maturidade
para isso. Quase ninguém tem. Eu não tive muitas vezes.
Acho que a coisa mais óbvia de todas eu levei muitos anos
para entender. Existem fichas de avaliação, padrões, tabelas e até notas para
se dar ao professor. A mais importante sempre esteve bem diante de mim: o olhar
dos alunos. Eles dizem, com absoluta naturalidade, sobre o andamento de tudo.
Aprender a ler seus olhos. Os olhos dos seus alunos são o espelho da Branca de
Neve: dizem tudo o que você perguntar. “Não estamos entendendo, não tenho
interesse, estou adorando, você fala alto demais, não estou ouvindo”: tudo está
lá. Passei muitos anos achando que eu deveria falar mais e agir mais. Hoje acho
que devo ver e ouvir mais.
Há poucos bons professores. Há muita gente que dá aula bem.
Acho que o ponto principal que diferencia um do outro é a capacidade de olhar
para seu aluno e se sentir junto com ele. Não confundam essa reflexão, por
favor, com a ideia de que você deve oscilar tudo que faz em função do olhar de
agrado e desagrado do aluno. Aqui vem a parte mais importante (e difícil):
conhecer o olhar do meu aluno é conhecer meu ponto de partida, não meu objetivo
final. Educar pode ser (e com frequência é) contrariar a vontade imediata do
aluno. O olhar dele, a sensibilidade para com ele é seu ponto de partida. É
quem diz quanta energia, quanta imaginação, quantos recursos você terá de
realizar para que o olhar dele chegue ao ponto que você deseja. O olhar dele
não é seu horizonte, mas sua possibilidade.
quarta-feira, 12 de julho de 2017
SARAMAGO NOS FALA SOBRE A MEMÓRIA
Sobre a memória:
"A memória é um espelho velho, com falhas no estanho e sombras paradas: há uma nuvem sobre a testa, um borrão no lugar da boca, o vazio onde os olhos deviam estar. Mudamos de posição, ladeamos a cabeça, procuramos, por meio de justaposições ou de lateralizações sucessivas dos pontos de vista, recompor uma imagem que nos seja possível reconhecer como ainda nossa, parecida com esta que hoje temos, quase já de ontem.
A memória é também uma estátua de argila. O vento passa e leva-lhe, pouco a pouco, partículas, grãos, cristais. A chuva amolece as feições, faz descair os membros, reduz o pescoço. Em cada minuto, o que era deixou de ser, e da estátua não restaria mais do que um vulto informe, uma pasta primária, se também em cada minuto não fôssemos restaurando, de memória, a memória. A estátua vai manter-se de pé, não é a mesma, mas não é outra, como o ser vivo é, em cada momento, outro e o mesmo. Por isso deveríamos perguntar-nos quem, de nós, ou em nós, tem memória, e que memória é ela. Mais ainda: pergunto-me que inquietante memória é a que às vezes me toma de ser eu a memória que tem hoje alguém que já fui, como se ao presente fosse finalmente possível ser memória de alguém que tivesse sido."
(Excerto, com modificações, de um texto que publiquei algures, não sei quando. Ah, esta memória.)"
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