sexta-feira, 9 de junho de 2017

LUTE VOCÊ TAMBÉM PELA DEMOCRACIA NO BRASIL, LEIA E SE CONCORDAR ASSINE ESSE MANIFESTO



Manifesto: Frente Antifascista pelas Liberdades Democráticas

Para: sociedade civil 

A ideia do presente manifesto é, em primeiro lugar, entender as atuais manifestações de ódio e intolerância e, num segundo momento, identificar a dimensão e as consequências desse modo de agir para, ao final, manifestar-se contra estas práticas perniciosas e fascistas, as quais corroem as relações sociais.
A partir dessa ideia – existência de um ódio incontido e irracional – é possível perceber na vivência cotidiana, em especial nos centros urbanos brasileiros, importantes demandas sociais, decorrentes das transformações produzidas pelas novas estruturas sociais e a consequente e radical polarização social.
O Brasil tem vivido nos últimos anos, em especial desde meados de 2013, um acelerado processo de polarização política e ideológica em que as históricas características autoritárias e antidemocráticas de elitismo e exclusão passam a ser bandeiras desfraldadas por segmentos ultraconservadores da sociedade brasileira.
Do ponto de vista histórico é necessário dizer que o advento da modernidade industrial e suas consequentes transformações permitiram o estabelecimento de novas formas de produção e relações sociais entre os indivíduos. E é exatamente nesta efervescência de transformações sociais, umbilicalmente ligada à produção de desigualdades, que vai se caracterizar o sujeito atual pela marca do individualismo, justamente porque os interesses do grande capital intensificaram a perversa e excludente política social e humanitária, danificando sobremaneira os ideais revolucionários da modernidade.
Em todos os cantos do planeta, crescem as manifestações de intolerância, de ódio ao diferente e às diferenças, de preconceito racial, religioso, de gênero, cultural, comportamental, sexual. A alteridade é negada, o “outro” é invisibilizado, o diálogo é substituído por verdades naturalizadas presentes no senso comum que aparecem como absolutas e incontestáveis. A prática democrática, que exige respeito ao outro diferente e reconhecimento a sua existência social e política, é abandonada e toda a diferença e dissensão são consideradas uma ameaça ao pensamento autoritário destes segmentos que passam a ocupar o espaço público.
O ambiente social vivido no Brasil neste quadro de polarização indica o avanço de um senso comum “fascistizante”, o que foi chamado pelo pensador Boaventura de Sousa Santos de “fascismo societal”, como uma das marcas das sociedades contemporâneas em crise. E tal ambiente social produz práticas de violência e ódio que impossibilitam o diálogo político e, portanto, o exercício das práticas democráticas.
O estreitamento de práticas democráticas alarga, de outro lado, as margens da intolerância, do preconceito e do ódio, enfim, de todo o medo daquilo que lhe é desconhecido. Em verdade, é a partir de um modelo de sociedade perpassado pelos graves problemas do desemprego em massa, da pobreza, dos preconceitos racial, religioso e sexual e, fundamentalmente, da xenofobia, visualizada pela intolerância ao fluxo de pessoas (imigração) que deixam seus países por conta das guerras, miséria e catástrofes naturais, para se abrigar em diversos outros países da Europa e América do Sul, em especial no Brasil, que produz o medo da existência do outro e o sentimento social da necessidade de exclusão e separação das pessoas.

A imagem desse terror social produz uma espécie de necessidade de ação disciplinar, própria dos estados totalitários, a qual garante a manutenção dessa massa de indesejados e diferentes, desempregados e “subempregados” – consequências diretas do capitalismo globalizado – preferencialmente longe dos centros urbanos, tanto por meio do sistema de justiça criminal como, de outro lado, pelas práticas fascistas, justamente para manter distante as classes sociais “subalternas”, produzindo, cada vez mais, as guetificações sociais.
É a retomada do “Estado punitivo” e do “Estado Primitivo”, com o predomínio do vazio, da indiferença e ignorância em relação ao “outro”, pois ao não conseguir ver o mundo com a lógica da alteridade, não se consegue pensar o mundo fora da lógica do consumo.
Este não reconhecimento da existência do outro está a produzir certa incapacidade de perceber e reconhecer os mais variados tipos de violência e buscar soluções possíveis ao problema, isto porque a massificação das cenas de violência tem causado menos indignação e, em certa medida, a naturalização torna estas violências em profundas violações à dignidade, sem que isto seja percebido como tal. São as situações mais comuns e as paisagens quase obrigatórias nos centros urbanos que produzem, ao fim e ao cabo, as práticas fascistas tão corriqueiras de nosso cotidiano.
É preciso, portanto, atentarmo-nos ao fascismo que habita nosso dia a dia e lembrar que determinadas práticas cotidianas não podem ser banalizadas, pois apenas fragilizam as relações, exacerbando o indivíduo enquanto uma mônada (organismo ou unidade orgânica diminuta e muito simples) antissocial, práticas estas impregnadas de reatividade àquilo que o retira de sua zona de indefectividade, justamente porque o equipara àquele “outro” indesejável e desconhecido. Nesta experiência reside o inexorável: não desejar o desconhecido, isto é, a racionalidade do irracional. As práticas fascistas são repletas de irracionalidade, sobretudo porque, na atual quadra de conflitos e demandas sociais, as classes sociais subalternas, as diferenças sexuais, religiosas, raciais e, principalmente, posturas ideologias e políticas partidárias, estão subjugadas pela violência e pelo ódio, ao invés da convivência respeitosa e pacífica. 
Quando se fala de direita no Brasil não significa que ela não existisse ou que estivesse escondida, antes de 2013. Na era neoliberal, a direita brasileira está representada nos meios de comunicação e nas instituições políticas. A novidade, a partir de 2013, é a consolidação de um segmento de extrema direita nas classes médias, defendendo propostas fascistas de forma aberta, sem ter vergonha de suas posições retrógradas e assumindo uma postura quase caricata.
O acirramento dos conflitos políticos e ideológicos se deu, no caso brasileiro, por uma conjugação de fatores. Por um lado, alguns avanços relativos no campo dos direitos sociais, resultado das lutas dos movimentos populares e de algumas políticas públicas de inclusão de segmentos historicamente explorados, oprimidos, marginalizados e excluídos (população pobre; trabalhadores da cidade e do campo; população negra; população indígena; mulheres; homossexuais etc.). As mudanças ocorridas no país na última década, mesmo com suas limitações reais, incorporaram cerca de 40 milhões de brasileiros à uma existência de reconhecimento e melhoria das condições de vida (bolsa família; políticas de ação afirmativa; ampliação do direito à educação; direitos trabalhistas para as empregadas domésticas etc.). Por outro lado, a presença nos espaços públicos de direitos de milhões de pessoas que antes eram consideradas subalternas mexeu nas estruturas seculares de classes e privilégios da sociedade brasileira. Tais transformações, com a presença de população negra nas universidades, de população pobre em espaços antes vedados à sua presença, como no mercado de bens de consumo e serviços, nos shoppings centers, usando o transporte aéreo (a síndrome do “aeroporto que virou rodoviária”), entre outras coisas, acirraram os ânimos.

Por fim, outro fator importante para a polarização política e ideológica foi o longo e persistente papel desempenhado pelos meios de comunicação social, especialmente por meio dos grandes jornais e revistas semanais e grupos televisivos. Constantemente, de forma irresponsável, os meios de comunicação social buscam desprestigiar todas as políticas públicas de inclusão social e de ampliação de direitos, como também de estimulam nos segmentos mais conservadores das tradicionais classes médias um clima de medo e de oposição irracional a toda e qualquer conquista de direitos e bem-estar social.
A conjuntura aberta com o resultado das eleições de 2014 e com o novo Congresso representou um retrocesso com a apresentação e aprovação de uma série de propostas retrógradas, como a terceirização das relações de trabalho, a redução da maioridade penal para 16 anos de idade, privatização do sistema penitenciário e das instituições de medidas socioeducativas para crianças e adolescentes, projeto de lei sobre assédio ideológico, aumento da influência política e legislativa das bancadas conservadoras no Congresso Nacional – bancada punitivista da bala, bancada ligada aos interesses do agronegócio, etc.

Assim, o contexto atual, no Brasil e no mundo, é de retrocesso, de presença de concepções ultraconservadoras e de soluções antidemocráticas e de ameaça às conquistas civilizatórias que se acumularam a partir do Século XVIII com as lutas sociais de ampliação de direitos e democratização da existência.
O avanço das forças de direita, especialmente da ultradireita, exige a criação de organizações de defesa dos direitos humanos em sua plenitude (direitos civis e políticos; direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais), dos espaços de liberdades democráticas e da ampliação dos direitos de todos os setores oprimidos, explorados ou excluídos da sociedade, garantindo as práticas democráticas, a democratização da informação, e a justiça social.
Portanto, diante de todas estas inúmeras práticas fascistas que corroem as atuais relações sociais cotidianas, é fundamental a criação de uma Frente Antifascista que garanta as Liberdades Democráticas com o firme propósito de congregar a diversidade dos segmentos sociais, das entidades, dos cidadãos e instituições que lutam por uma sociedade mais solidária, igualitária, democrática, fundada nos princípios de direitos humanos, respeito e reconhecimento da alteridade, da diversidade e da pluralidade sociocultural.








No face: https://www.facebook.com/groups/726292107502240/


quinta-feira, 8 de junho de 2017

POST SÓ PARA RADIOAMADORES - VALE A PENA OLHAR ATÉ O FIM


SÓ PARA RADIOAMADORES

                Estou preparando um novo projeto e preciso vender alguns dos meus equipamentos. Por isso, você que é radioamador pode aproveitar algumas das oportunidades que coloco abaixo:


RADIO HF - ICOM 718 (10 - 180 m) - 100 Watts, Fechado, se abrir transmite também em 11 m, seminovo e com pouquíssimo uso;

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RÁDIO VHF – ICOM 2.200 (2m) 65 W ouve aviação.


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ACOPLADOR LDG Z-100 PLUS – acoplador automático                                                   de antenas de 0,1 a 125 W.


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Antena Vertical Maldol HV-8 (80 – 40 – 20 – 15 – 10 – 6 -2 – 0,70cm)


 
Esquema de montagem e bandas da HVU-8


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TABELA DE VALOR:


EQUIPAMENTO


VALOR
RÁDIO HF – ICOM 718
R$ 3.300,00
RÁDIO VHF – ICOM 2200
R$ 700,00
ACOPLADOR Z-100 PLUS
R$ 700,00
ANTENA VERTICAL MALDOL HV-8
R$ 1.200,00


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R$ 5.000,00


Observação: frete por conta do comprador.

LEANDRO KARNAL ESCREVE SOBRE O EGO DO PROFESSOR E A TENSÃO NOS DIAS DE AVALIAÇÃO



ERRO 2: AGORA VOCÊS VÃO VER...

            Em São Paulo, dei aula numa escola de ensino médio que tinha algumas dificuldades. Uma delas era estar começando e formada, por consequência, por dezenas de alunos com origens distintas. Era um espaço desafiador, mas muito difícil.
            O começo de tudo lá foi um caos. Não havia filosofia ou linha clara de ação e todos pareciam muito perdidos. A liberdade concedida aos alunos era digerida com leituras muito diversas, muitas ruins.
            Após dois meses de luta intensa com tudo, inclusive a disciplina, chegamos ao período das provas bimestrais. Elaborei provas particularmente difíceis. Estava claro para mim que eu queria mostrar um padrão alto e chamar a atenção deles para a seriedade do trabalho. O resultado era a “crônica de uma morte anunciada”. A prova foi um desastre quanto aos resultados.
            Consegui o que queria. Chamei a atenção. Imediatamente, após alguma revolta, eu tinha muito mais atenção dos alunos do que antes. Eu era um professor de quem era preciso assistir a todas as aulas. O respeito tinha sido estabelecido.
            Nunca duvidei de que as provas devem ser as mais pensadas possíveis. (...) Mas, olhando aquela primeira prova bimestral naquela escola, percebi que ao lado do respeito estava meu ego. Meu objetivo não era, de forma líquida e clara, o aprendizado ou sua medida. Meu objetivo estava em mim. Nessa e tantas ocasiões, percebi que eu tinha agido mal porque não tinha mirado no meu objeto.
            Ao contrário de alguns colegas, nunca fui de ameaçar alunos. Minha ameaça existia, mas não era enunciada dessa forma. Era colocada devolvendo as provas bem corrigidas, cheias de observações. O trabalho era sério, muito sério. Mas suponho, cada vez mais, que era um trabalho de me valorizar.
            Eu entrava tenso em dia de prova. Separava bem todos os alunos, elaborava muitos modelos de provas. Tornava todos semelhantes. Dezenas de alunos colaram de provas erradas comigo a vida inteira. Andava pela sala e dava viradas rápidas. Ficava atrás deles esperando se algum me buscava com olhar, sinal claro de intenção criminal... Dentro de mim a ideia: agora vocês vão ver...

            Somos seres portadores de uma habilidade terrível. Raramente enunciamos nossos medos e maldades sem revesti-los de uma cândida camada de boas intenções. Nossa tradição moral e religiosa causa estranhamento com ações claramente egoístas. Preferimos dizer: “Eu vou denunciar isto, mas é pelo bem desta pessoa.” Travestimos covardias com elaborações morais belíssimas.
            A questão mais difícil para trabalhar como professor já estava enunciada antes, no problema n.º 1. Meu eu fala mais algo do que qualquer outra coisa. O exercício do professor, do médico, do psicólogo é sempre estar sensível ao outro e não a si. Não é algo superficial nem um detalhe.

            Ghandi dizia que só as formas pacíficas elaboram coisas duradouras. Significa que a violência pode, perfeitamente, construir coisas. Aliás, suponho até que as formas violentas construam de modo mais rápido do que qualquer outro recurso. Mas não é duradouro.
            O dia da prova é um dia de tensão. Tudo que estiver ao meu alcance deve ser feito para diminuir essa tensão. Não se trata de pedagogia do coitadinho. Não estou defendendo que nunca devemos provocar nenhuma tensão ou que os alunos ficam traumatizados por qualquer coisa. Defendo que o ambiente seja o mais tranquilo possível para que cada aluno possa colocar a maior quantidade de informações e processos mentais que ele acumulou. Defendo a tranquilidade para que eu possa dar zero ou dez, sabendo que o zero ou o dez correspondem, dentro do possível, ao que meu aluno aprendeu, e não a sua pane na hora da prova.

            Volto ao nosso hábito de durar a pílula. Haverá colegas que dirão: é preciso treinar o aluno para a tensão da vida e a prova é parte dessa tensão. Fazem o que eu sempre fiz: disfarçam algo que mira em outro vetor.
            Muito curioso o magistério. Se um médico consegue curar todos os pacientes de um hospital e todos retornam as suas casas com saúde integral, ele é saudado como um gênio habilidoso e louvado universalmente. Se eu conseguir dar nota máxima ou alta a todos os meus alunos porque genuinamente aprenderam, eu, os colegas e todo o sistema vamos desconfiar de que há algo errado.

            Aqui se revela o eu. Nosso eu é forte ao dar aula. As provas fazem parte desse processo. Não acho que a avaliação deva ser um exercício lúdico sempre. Mas, se a injeção já é ardida por natureza, enfiá-la de uma só vez e aos gritos de que será terrível não melhora em nada a eficácia do medicamento, pelo contrário.
            Percebo, hoje, que se aposta numa natureza essencialmente má do ser humano. Apostando numa “natureza má”, acreditamos que ele só fará coisas quando for coagido. Estas são dúvidas clássicas dos professores: Por que eles estudarão? Porque a prova é difícil. Por que eles ficarão em silêncio? Porque eles sabem que tudo o que eu disser é importante para a avaliação. Os meios são errados e o fim também. Mas a força é mais rápida que a sedução.

            Quando jovens – já disse e direi de novo – ensinamos mais do que sabemos e queremos ser importantes para nossos alunos. Quando mais velhos, por vezes, ensinamos menos do que sabemos e deixamos de querer ser importantes. Nos dois casos, o eu do professor é o objetivo de tudo: querendo atenção ou sendo indiferente a ela.
LEANDRO KARNAL (Conversas com um Jovem Professor, Editora Contexto, 2012, pp.33-35)
                

quarta-feira, 7 de junho de 2017

PARA UMA HISTÓRIA DAS SOCIEDADES PROTETORAS DOS ANIMAIS


            Consta que por volta de 1860, o célebre fisiologista francês Charles Bernard(1) em suas aulas não tinha mais em seu estoque nenhum animal para dissecar e fazer seus experimentos perante uma sala repleta de curiosos discípulos. Tão nobre causa não podia esperar algum garoto da rua trazer um forçado e involuntário bichinho. Resolveu o problema o grande fisiologista usando o cachorro da sua filha e dando uma magnifica explanação perante seus radiantes pupilos.
            Porém ao chegar em casa, encontrou a filha aos prantos e a sua esposa muito brava. Essa braveza transformou-se em ação concreta quando a digníssima Sra. Bernard resolveu fundar a primeira associação para a defesa dos animais de laboratório.

            Mas mesmo sobre o abstêmico e intenso protesto da esposa, o doutor Bernard persistiu com suas experiências com animais e em seu famoso livro “An Introducition to the Study of Experimental Medicine, publicado em 1865, justificou a utilização de animais em pesquisas com a seguinte alegação, bastante respeitada para a época:
“Nós temos o direito de fazer experimentos animais e vivissecção? Eu penso que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se reconhecêssemos o direito de usar os animais para serviços caseiros, para comida e proibir o seu uso para a instrução em uma das ciências mais úteis para a humanidade. Nenhuma hesitação é possível; a ciência da vida pode ser estabelecida somente após sacrificar outros. Experimentos devem ser feitos tanto no homem quanto nos animais. Penso que os médicos já fazem muitos experimentos perigosos no homem, antes de estuda-los cuidadosamente nos animais. Eu não admito que seja moral testar remédios mais ou menos perigosos ou ativos em pacientes em hospitais, sem primeiro experimentá-los em cães; eu provarei, a seguir, que os resultados obtidos em animais podem ser todos conclusivos para o homem quando nós sabemos experimentar adequadamente.”
 
Uma das muitas charges com o "Humanity Dick"
            Contrariamente aos critério do Dr. Claude Bernard, a primeira lei a regulamentar o uso de animais em pesquisa foi proposta no Reino Unido, em 1876, através do British Cruelty to Animal Act. Esta lei também ficou conhecida por Martin Act, em memória do intransigente defensor Richard Martin(2). Ela era aplicável apenas para animais domésticos de grande porte.
            Todavia comenta-se que havia na Colônia de Massachussets Bay, uma lei mais antiga que propunha que ninguém poderia exercer crueldade para qualquer criatura animal que fosse usada para auxiliar nas tarefas do homem em 1641.

Com o exemplo do “Humanity Dick” e do Reverendo Broone, na fundação da Society for the Preservation of Cruelty to Animals, começaram a surgir várias sociedades protetoras de animais, sendo que esta primeira, criada na Inglaterra, em 1824, foi adotada pela Rainha Vitória em 1840, passando daí em diante a chamar-se, realmente, Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals. Em 1845 foi criada na França a Sociedade para a Proteção dos Animais. E anos posteriores foram fundadas sociedades na Alemanha, Bélgica, Áustria, Holanda e Estados Unidos.

ENQUANTO ISSO NO BRASIL:
Andava tranquilamente pelo centro da, então, provinciana São Paulo do final do século XIX, o senhor Henri Ruigger, um cidadão suíço, otimista com o Brasil, que acabava de por fim, oficialmente, a abominável escravidão. Quando, de repente, em plena luz do dia, numa das principais ruas da futura metrópole, um carreteiro submetendo seu cavalo a chicotadas, chutes e outras violências. O civilizado suíço procurou saber das leis locais contra maus-tratos à animais e teve ciência da inexistência de tal leis no país.

Da indignação iniciou uma campanha para que o Brasil passasse a ter um lei anticrueldade, os ecos dessa insatisfação acabou inspirando o jornalista Furtado Filho que publicou um artigo no “Diário Popular”, dando ensejo a inúmeras manifestações da então jovem classe média urbana paulistana. O jornalista conclamava a sociedade paulistana a erguer a voz contra aqueles que maltratavam e usavam animais de forma cruel. O jornalista lançou então, a ideia de se criar no Brasil, assim como nos “rincões mais civilizados” uma associação protetora dos animais.
Após uma série de debates panfletários constitui-se uma comissão para criar a UIPA (União Internacional Protetora dos Animais) que será fundada em 30 de maio de 1895.
            A primeira Diretoria teve como presidente Ignácio Wallace da Gama Cochrane, descendente de nobres ingleses e Superintendente das Obras Pública de São Paulo, Senador da República, fundador do Instituto Pasteur e da Companhia Telefônica de São Paulo, anteriormente sendo deputado provincial em São Paulo e deputado geral havia referendado a Lei Áurea.

Por ocasião da Fundação da UIPA, Cochrane traçou o perfil jurídico e os objetivos da instituição: “Frequentes e repetidos são ainda, infelizmente, os maus-tratos, os atos de verdadeira crueldade infligidos aos animais...Por honra nossa, cumpre afirma-lo, não tem cessado a imprensa local de clamar contra esses abusos, profligando-os com máxima energia. Promover, portanto, não só a decretação de outras leis e medidas complementares, mas auxiliar eficazmente, o Poder Público para que, fiel e rigorosamente, sejam observadas e respeitadas as disposições legais, é uma necessidade que se impões e que só, por meio da associação, interessando o maior número, poder-se-á conseguir”.
Em 1943 foi criada a segunda associação anticrueldade animal, a SUIPA, Sociedade União Internacional Protetora dos Animais. Entidade sem fins lucrativos que visaria a proteção dos direitos dos animais, e, apesar de ser particular, teria utilidade pública. Ativa até os dias atuais está sediada no Rio de Janeiro com reconhecimento nacional e internacional, serviu de exemplo para várias outras sociedades protetoras por todo o país.

No início, a SUIPA chamava-se Sociedade União Infantil Protetora dos Animais, pois eram os filhos dos associados que cuidavam do tratamento de cães doentes recolhidos na rua. Os animais eram atendidos em um pequeno barracão localizado numa região rural, desprovida de qualquer recurso. No final dos anos 50, as crianças interromperam a colaboração no atendimento aos cães recolhidos nas ruas, e os novos diretores registraram a SUIPA com o nome atual. Neste período, Carlos Drummond de Andrade, Nise da Silveira, Roberto Marinho, Paschoal Carlos Magno, Raquel de Queiroz e outras figuras importantes e protetores dos animais associaram-se a SUIPA.

As reuniões da entidade procurava tecer ações e reivindicações para a efetuação do Decreto-Lei n.º 24.645 – 1934, acerca de medidas de proteção aos animais, assinado pelo presidente Getúlio Vargas.
Com o passar do tempo, os membros da SUIPA tornaram-se cada vez mais presentes na sociedade: cães capturados pela Prefeitura foram libertos de carrocinhas, dado que estavam destinados a morte; tartarugas foram retiradas de restaurantes, reivindicaram a favor de um santuário para as baleias, aves silvestres foram retiradas de locais inapropriados, cavalos maltratados foram libertos da agressão de criadores e foram escritas cartas para governantes brasileiros e estrangeiros a favor da defesa dos animais, entre outras ações.
Em abril de 2015, a agora ONG SUIPA, completou 72 anos de existência e por meio de um documento foi lhe devolvido o título de Utilidade Pública que havia sido tirado em 1995 pelo, então presidente, Itamar Franco, que alegava que o serviço era apenas para animais e não para pessoas, logo não era Público. Sendo assim, a entidade perdeu a isenção de impostos, e acumulou uma série de dívidas. Após ganhar o documento novamente, a instituição agora é reconhecida pelo governo e pode receber doações federais, assim como, os doadores da ONG têm direito a dedução de 2% do imposto de renda de pessoas jurídicas e até 6% de pessoas físicas que podem ser destinado à entidade, que corre sérios riscos pela sua inadimplência, problema esse que tanto Richard Martin, quanto o Reverendo Broone tiveram na velha Inglaterra.
E já que estamos voltando no passado lembram-se daquele senhor suíço indignado pelos maus-tratos nas ruas de São Paulo? As autoridades municipais poderiam ter evitado o barraco estrangeiro e demonstrado que nós erramos um país “em civilização” se usassem o artigo 220 do Código de Posturas do Município de São Paulo, de 1886, artigo este que coibia atos de maus-tratos, como castigos bárbaros e imoderados, em animais utilizados por cocheiros, ferradores, cavalariços ou condutores de veículo de tração animal.

SITUAÇÃO ATUAL
Em reunião realizada em Bruxelas em 1978, a UNESCO estabeleceu a DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS. Neste documento estão lançados os grandes temas de discussão da luta anticrueldade aos animais.
No Brasil, a Lei 6.638-1979, estabeleceu as normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais. Estas normas, que nunca foram regulamentadas, estimulam somente estabelecimentos de Ensino Superior podem realizar atividades didáticas com animais. Esta lei estabelece que as pesquisas devem ser realizadas sempre dentro do critério de não causar sofrimento aos animais envolvidos.
Durante a década de 80, alguns movimentos de defesa dos direitos animais, especialmente na Inglaterra, praticaram alguns atentados contra laboratórios, biotérios, instalações universitárias e até mesmo contra residências de pesquisadores. Estas ações atingiram tal magnitude, que a Associação Mundial de Medicina publicou uma declaração específica sobre a necessidade de serem estabelecidas garantias de vida para os pesquisadores e seus familiares.
Em 1986, a lei inglesa, do tempo do “Humanity Dick”, foi atualizada, porém preservando todo o seu corpo doutrinário. Foram publicadas novas normas técnicas para os procedimentos que envolvam animais em projetos de pesquisa.
Antônio Sérgio da Silva Arouca
No Brasil em 1996 foram apresentados vários projetos estabelecendo normas para as pesquisas com animais, que culminaram em 2008 na Lei 11.794 – Lei Arouca(3), que normatizou os procedimentos para uso científico de animais. Com a publicação desta lei, obrigou-se a criar comissões de ética para uso de animais, as CEUAs, em cada instituição de pesquisa, assim como o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Consea), que passou a ser o responsável por todas as discussões referentes à criação e ao uso de animais em laboratórios científicos.

A UIPA NOS DIAS ATUAIS

Embora a defesa dos animais tenha se intensificado apenas a partir da década de 1970, entrando definitivamente na pauta da proteção aos direitos dos seres vivos, o tema já é alvo de discussão há mais de um século. Regimentalmente a UIPA, da mesma foram que todas as sociedade protetoras dos animais, se dedica a:
·         promover o reconhecimento dos direitos animais;
·         zelar pela execução e pelo aperfeiçoamento da legislação pertinente;
·         denunciar os maus tratos às autoridades competentes;
·         reduzir estes mesmos danos e os seus impactos;
·         lutar contra o extermínio de cães e gatos perpetrado pelas autoridades sanitárias (a ação das famosas “carrocinhas”);
·         evitar a morte de animais saudáveis;
·         eliminar a visão utilitarista dos animais, que os considera “feitos para prazer e deleite da humanidade”;
·         lutar contra a vivissecção;
·         abrigar animais abandonados, acidentados ou vítimas de maus tratos;
·         promover campanhas de esterilização e adoção de animais domésticos, com ênfase nos animais de estimação.
Mesmo com uma história tão longa a legislação do Brasil deixa muito a desejar. O Código Brasileiro penaliza os maus tratos em diversas situações como:
·         exploração de espécies nativas ou exóticas, para apresamento ou recolhimento (utilização como alimento, decoração, emprego não autorizado em pesquisas e estudos, etc.);
·         aplicação de castigos físicos ou tratamentos dolorosos ou degradantes;
·         extermínio de espécies (ou exposição a riscos de extinção).
As penalidades impostas, no entanto, variam de três meses a um ano de reclusão, acrescidos ou não de multa pecuniária. As leis brasileiras, no entanto, permitem a conversão de penas inferiores a quatro anos em “prestação de serviços comunitários” _ e mesmo quando são superiores, não são aplicáveis no caso de réus primários com bons antecedentes e endereço fixo.
      A atual lei de Crimes Ambientais, contém avanços, porém apresenta um caráter diferenciado, por ter sido outorgada em discrepância com o Código Penal, sendo por isso difícil a efetivação de um castigo, mesmo em caso de morte ou invalidez permanente de animais.

(1)    Claude Bernard nasceu em Saint Julien no ano de 1813 e morreu em Paris em 1878, foi médico e fisiologista francês, entre várias qualidades como a de dramaturgo, ficou mundialmente conhecido por ser um dos precursores da medicina experimental. Deu aulas no Collège de France, Sorbonne depois no Museu Nacional de História Natura, foi um dos principais iniciadores da linha: observação – hipótese – experiência – resultado – interpretação – conclusão.
(2)    Richard Martin nasceu na Irlanda no condado de Galgway em 1754 e morreu em 1834 na França, foi um político da Câmara dos Comuns que lutou bravamente pela implantação de leis de proteção aos animais que focou conhecida como Martin Act, tanto que o Rei George IV o apelidou de “Humanity Dick”, que significava o nada nobre apelido de Pênis(pau) da Humanidade. Juntamente com o Reverendo Arthur Broone criou a primeira sociedade instituída legalmente de proteção aos animais a RSPCA – Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals.
(3)    Antônio Sérgio de Silva Arouca, nasceu em 1941, formou-se como médico sanitarista e militante do partidão até o mesmo transformar-se em PPS, como parlamentar médico, Arouca, como era mais conhecido, procurou debater predominantemente em questões das áreas de Saúde, Ciência e Tecnologia, foi deputado federal por dois mandatos, faleceu em 2003 com 61 anos de um câncer no intestino.

Fontes:
WIKIPEDIA
GOLDIM,José Roberto & RAYMUNDO, Marcia Mocelin. Pesquisa em Saude e os Direitos dos Animais. 2 ed. Porto Alegre, HPCA, 1997.
http://www.uipa.org.br/


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ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

Quando falamos em escavar o solo em busca de vestígios do passado, muitas pessoas imediatamente pensam em fósseis de dinossauros e utensílio...

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