domingo, 3 de junho de 2018

JAINISMO




         O jainismo ou jinismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência de necessidade de deus como criador ou figura central. Considera-se que a sua origem antecede o brahmanismo, embora seja mais provável que tenha surgido na sua forma atual por volta do século V a.C., como o resultado da ação religiosa do Mahavira.

         Vardhamana mais conhecido como Mahavira (traduzido do sânscrito significa “grande herói”) foi o último dos 24 Tirthankaras do jainismo. Numa perspectiva histórica, é considerado o fundador ou reformador deste sistema religioso. Segundo a tradição jaina, teria nascido em 599 a.C. em Kshatriyakundagrama, na Índia e falecido no ano de 527 a.C., em Payapuri embora alguns acadêmicos considerem que as datas 540 - 470 a.C. sejam mais corretas.

         Mahavira pertencia à casta guerreira (xátria), sendo o seu pai Sidarta, o líder de um clã e sua mãe, Devananda, pertencente à casta dos brâmanes; outras tradições apresentam outros nomes para sua mãe, como Trishala Videhadinna ou Priyakarini colocando-a na casta guerreira.
         A narrativa afirma que o Mahavira vivia num ambiente de luxo que mais tarde abandonou, num relato que se assemelha ao da vida de Buda, do qual se julga ter sido contemporâneo. Estes dois homens viveram numa época em que as práticas religiosas tradicionais começavam a entrar em crise, em particular, o sacrifício de animais e o sistema de castas eram postos em causa e que o Mahavira, quer o Buda, rejeitaram-nos.
Por volta dos trinta anos, Mahavira deixou sua vida confortável para se entregar a práticas ascéticas na esperança de alcançar a iluminação espiritual. Durante um ano, usou roupa, mas, depois, passou a andar nu, deixou que insetos o atacassem, sofreu ataques físicos e verbais, dormiu em locais inóspitos, praticou jejuns extremos, num período total de doze anos. Teve, também, particular cuidado em não fazer mal a qualquer forma de vida, desenvolvendo, assim, a teoria ahimsa ou de não violência. O Mahavira dedicou as seguintes décadas da sua vida a ensinar às pessoas as suas doutrinas.
Mahavira ensinou que os humanos podem libertar-se das partículas que se agregam às suas almas, umas crença do jainismo atual, seguindo uma vida de ascetismo extremo. A tradição afirma que ele recomendou aos seus adeptos que tomassem cinco votos (mahavratas) que são os seguintes:
1.      AHIMSA – não causar mal ou sofrimento a qualquer ser (não violência);

2.    SATVA – evitar a mentira;



3.     ASTEYA – não se apropriar do que não foi dado;


4.    BRAHMACHARYA – não faltar à castidade;


5.     APARIGRAHA – não se apegar às posses materiais, não ter apego pelas coisas mundanas.
O Mahavira faleceu aos 72 anos, tendo os seus seguidores organizado a religião jaina nos seus moldes atuais.
Vista durante algum tempo pelos investigadores ocidentais como uma seita do hinduísmo ou uma heresia do budismo, devido à partilha de elementos comuns com estas religiões, o jainismo é contudo um fenômeno original. Ao contrário do budismo o jainismo nunca teve um espírito missionário, tendo permanecido na Índia, onde os jainas constituem cerca de quatro milhões de crentes. Pequenas comunidades jainas existem também na América do Norte e na Europa, em resultado de movimentos migratórios.

A palavra jainismo tem suas origens no verbo sânscrito jin que significa “conquistador”. Os seus adeptos devem combater, através de uma série de estágios, as paixões de modo a alcançar a libertação do mundo.
Sua visão básica é dualista. A matéria e a mônada vital ou jiya são naturezas distintas e durante sua vida o ser vivente (seja humano ou animal) tinge sua mônada como resultado de suas ações. Para se purificar, esta religião propõe um extremo ascetismo e o colocar em prática da doutrina da não violência ou ahimsa.
Os jainas reconhecem que pessoas, animais, plantas, formações rochosas, cursos e quedas de água tem jiva, ou seja, alma ou princípio vital. Todos estes seres têm igual valor e estão interligados na teia de existência por elos kármicos.

ORIGENS DO JAINISMO
         Segundo os historiadores da religião, o jainismo estabeleceu-se na Índia em meados do primeiro milênio antes de Cristo. O seu fundador foi Mahavira, existindo duas propostas para o período em que viveu: 599 a.C. – 527 a.C. (data tradicional apontada pelo jainismo) ou 540 a.C. – 470 a.C. (segundo os acadêmicos). Nasceu perto de Patna naquilo que é hoje o estado de Bihar. Foi um contemporâneo de Buda, tendo pregado na mesma região geográfica, embora não conste que os dois mestres se tenham alguma vez encontrado. Pertencia à casta dos guerreiros (xátrias), casou, viveu no luxo até que por volta dos trinta anos tornou-se um mendigo errante.
         Entregou-se a longos processos ascéticos até obter a iluminação, tendo consagrado os restantes trinta ou quarenta anos da sua vida a pregar a sua doutrina. Faleceu em Payapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais locais de peregrinação jaina.
         De acordo com os jainas a sua religião é eterna, tendo sido a doutrina revelada ao longo de várias eras pelos tirthankaras, palavra que significa “fazedores de vau”, ou seja, alguém que ensinou o caminho. Os tirthakaras foram almas nascidas como seres humanos que alcançaram a libertação (moksha) do ciclo dos renascimentos através da renúncia e que transmitiram os seus ensinamentos aos homens. Na presente era existiram 24 tirthankaras. O último desses tirthankaras foi o Mahavira, que os jainas não consideram como fundador do jainismo mas antes aquele que lhe deu a sua forma atual. O 23.º tirthankara foi Parshva, que os historiadores consideram ter sido provavelmente uma figura histórica que viveu cerca de três séculos antes do Mahavira. Os jainas acreditam que Parshya pregou os 4 grandes princípios do janaismo: a não violência (ahimsa), evitar a mentira (satva), não se apropriar do que não foi dado (asteya) e não apegar-se às posses materiais (aparigraha) sendo que o Mahavira acrescentou o princípio da castidade (brahmacharya).

DIVISÕES INTERNAS
        
Os jainas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara (vestes de céu) e os Svetambara ou Shvetambara (vestes brancas). Cada um desses grupos encontra-se por sua vez dividido em vários subgrupos. A maioria dos jainas pertencem ao grupos Svetambara.
         A origem destes dois grupos situa-se no século I (ou talvez no século III, segundo alguns autores) e deve-se a disputas em torno dos textos que devem constituir as escrituras do jainismo.
 Os svetambara consideram que as suas escrituras estão mais próximas dos ensinamentos originais de Mahavira, enquanto que os Digambara rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Os digambara consideram igualmente que a renúncia pregada pelo Mahavira implica para os monges, a nudez total e que as mulheres devem primeiro renascer como homens para poderem atingir a libertação.
          Ao nível da geografia, os digambara concentram-se no sudoeste da Índia e os svetambara no noroeste (estados de Gujarate, Rajastão e Madhya Pradesh).
         As estátuas dos dois grupos são também diferentes; os tirthankaras dps svetambara estão nuas, estas diferenças fazem com que um adepto do Digambara não possa praticar o culto num templo svetambara.

DOUTRINAS
·        APARIGRAHA (não-posse) – A posse de qualquer bem é vistas como relacionada com a violência, e até uma forma de violência física e psíquica. A violência em todas as suas formas tem origem no desejo de possuir, dominar e controlar. Os ascetas jainas recusam possuir seja o que for, mas para os leigos a posse de algumas coisas é necessária para a realização das tarefas diárias. A possessividade transitória (usar um ser para deitá-lo fora) é uma forma de apego e baseia-se em relações de exploração, de poder, por parte de um dos lados, em vez de amor e equanimidade incondicional.
·        ANEKANTAVADA (não-absolutismo) – Assumir que alguém tem acesso privilegiado à verdade é o mais potente motor de conflito entre os seres humanos. O conceito de não-absolutismo refere-se ao pluralismo de opiniões, e a noção de que os vários pontos de vista sobre a verdade não são a própria verdade. O jainismo encoraja os seus seguidores a considerarem os pontos de vista de outras filosofias, e consideram que quando qualquer uma destas filosofias, incluindo a jaina, se apega demais às suas próprias ideias está a cometer o erro de considerar o seu ponto de vista absoluto. A ideia é representada pela parábola dos homens cegos e do elefante, em que vários cegos tocam em partes do elefante, como as orelhas e as pernas, e descrevem, de forma contraditória, o que pensam ser o animal completo, partindo do pressuposto de que a parte que tocaram representava a verdade completa. O conceito de “svadvada” ou “talvez-ismo” diz que se deve considerar que todas as proposições são apenas parcialmente verdadeiras (e parcialmente falsas). Os pontos de vista parciais da verdade são chamados de “naya”. Segundo o princípio chamado de “nayavada” através da abertura a diversos pontos de vista, o janismo pretende que o praticante integre os diversos pontos de vista parciais, ou “nayas”, numa teoria abrangente.
·        AHIMSA (não-violência) – A não-violência é o cerne do jainismo e o ponto onde todas as doutrinas se intersectam (cruzam). A violência é a agressão intencional ou não-intencional. Os jainistas tentam evitar a agressão em todas as suas formas, seja através de ações, palavras ou pensamentos a todo e qualquer ser vivo, ou aos ecossistemas. O jainismo considera o lacto-vegetarianismo como o mínimo que deve ser feito pelos adeptos e os estudiosos jainas defendem o veganismo porque a produção de leite é agressiva para as vacas. Os jainas também não comem tubérculos. Os jainas também têm um cuidado especial para evitar possíveis danos a pequenos insetos, por exemplo ao colocarem um pano sobre as suas bocas para não os aspirarem ou varrendo o chão à sua frente quando andam para evitar pisá-los.
·        O TEMPO – Os jainas consideram que o tempo é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente (utsarpini), enquanto que a outra um movimento descendente (avasapini). Cada uma destas partes divide-se em seis eras (ara). Durante o período ascendente os seres humanos progridem ao nível do saber, estatura e felicidade, enquanto que o período descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo esquecimento da religião e pela perda de qualidade de vida pelos humanos. Segundo os jainas, vivemos atualmente num período de movimento descendente, numa era de infelicidade (dukham kal), que começou há 2.500 anos e que durará 21 mil anos.
·        O UNIVERSO E OS CINCO MUNDOS – Segundo o jainismo, o universo divide-se em cinco mundos, sendo cada um deles habitado por determinado tipo de seres. O universo é eterno, não tendo sido criado por nenhum ser superior. No topo do universo está a morada suprema (siddhashila), que é o local onde habitam as almas que alcançaram a libertação (estas almas são denominadas siddhas). Abaixo encontram-se trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham para a morada suprema. O mundo médio (madhyvaloka) inclui vários continentes separados por mares. No centro deste mundo encontra-se o continente Jambudyipa, considerado o único continente no qual as almas podem alcançar a libertação. Os seres humanos habitam este continente, bem como um segundo continente ao lado deste e parte do terceiro continente. O mundo inferior (adholoka) consiste em sete infernos, onde os seres são atormentados por demônios e onde se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo inferno encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por inúmeras formas inferiores de vida.

·        KARMA – À semelhança do hinduísmo e do budismo, o janismo partilha da crença no karma, embora de uma forma diferente. O karma no jainismo não é apenas um processo em que determinadas ações produzem reações, mas também um substância física que se agrega a uma alma. As partículas de karma existem no universo e associam-se a uma alma devido às ações dessa alma (por exemplo, quando uma alma mente, rouba ou mata esta provoca a agregação de karma em sua alma). A quantidade e a qualidade destas partículas determinam a existência que a alma terá, a sua felicidade ou infelicidade. Só é possível a uma alma alcançar a libertação quando desta se retirarem todas as partículas de karma. O processo que permite a libertação das partículas de karma de uma alma denominada nirjara e inclui práticas como o jejum, o retiro para locais isolados, a mortificação do corpo e a meditação. Os seguidores do jainismo utilizam para isso um ritual mortuário chamado sallekhana (também conhecido como santhara, samadhi-marana, samnyasa-marana), que consiste em praticar a eutanásia através do jejum. Devido à natureza prolongada da sallekhana, é dado tempo ao indivíduo suficiente para refletir sobre sua vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto de sallekhana é tomado quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar karmas antigos e impedir a criação de novos. Existe uma prática hindu similar conhecido como prayopavesa. De acordo com a revista Press Trust of India, em média, 240 jainista pratica sallekhana até a morte a cada ano na Índia.

FORMAS DE VIDA
 ·        MONGES E MONJAS – O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Entre os svemtambara a entrada na vida monástica é autorizada aos dois sexos a partir dos sete anos mas realiza-se em geral numa idade mais avançada. O noviço deve abandonar todos seus bens; por altura da sua ordenação (diksa) a sua cabeça é raspada e ele toma os cinco votos, que segue numa versão mais rigorosa do que a dos leigos (mahavrata). Os monges jainas levam uma vida itinerante, com exceção da época das monções, altura em que se recolhem numa determinada localidade. Dependem para a sua alimentação da caridade fornecida pelos leigos jainas, a quem oferecem em troca assistência espiritual. Os monges do ramo svetambara podem ser donos de pequenas coisas, como uma fina veste branca, uma tigela onde recebem os alimentos dos leigos e uma máscara de tecido usada sobre a boca (mukhayastrika), cujo objetivo é evitar a ingestão involuntária de pequenos insetos. Os monges digambara interpretam o preceito do desapego de uma forma bastante rigorosa e por esta razão não usam roupas; as monjas deste ramo usam uma veste branca. Os monges digambara não possuem uma tigela e usam as mãos como recipiente dos alimentos. Os monges svetambara costumam se deslocar em pequenos grupos de cinco ou seis monges, enquanto que os Digambara geralmente viajam sozinhos. Todos os monges devem seguir as três regras que evitam a conduta incorreta (guptis – ter cuidado com os pensamentos, as palavras e as ações). Entre os svetambara o número de monjas ultrapassa o de monges. As monjas digambara aceitam a doutrina que afirma que para se avançar no caminho espiritual é necessário nascer com um corpo masculino.

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  LEIGOS – Os jainas que não são monges devem observar oito regras de comportamento e devem tomar doze votos. As oito regras de comportamento variam, mas em geral incluem a prática absoluta e irrestrita de ahimsa (não-violência) que tem seu ponto forte na alimentação: não comer carne de nenhum tipo, não comer certos vegetais (cebola, alho) os quais se acredita serem de origem inferior e não usar nenhum produto de origem animal. Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína, teobromina) e praticar a caridade a todos os seres vivos. Ler sobre as qualidades transcendentais dos tirthankaras e recitar o navkar mantra também fazem parte das principais práticas diárias de um leigo. Quanto aso doze votos, eles podem ser divididos em três classes:
1.      ANUVRATAS – são os cinco votos principais: abster-se de atos violentos, não mentir, não roubar, não cobiçar o parceiro de outra pessoa e limitar possessões pessoais;
2.    GUNAVRATAS – são três votos que reforçam os cinco votos principais: restringir as atividades pessoais a uma área concreta (digvrata), restringir práticas que proporcionam prazer (bhogopabhogavrata), evitar atos que causam sofrimento (anarthadandavrata);
3.     SIKSAVRATAS – são quatro votos de disciplina espiritual: meditar, limitar determinadas atividades a certos momentos, adotar a vida de um monge por um dia, fazer donativos aos monges ou aos pobres.

FORMAS DE CULTO
                   Uma das principais formas de culto dos jainas leigos é prestar homenagem às estátuas dos tirthankaras. Os jainas lavas as estátuas e dedicam-lhes oferendas como mel, flores, arroz, etc. Alguns grupos jainas como os sthanakavasis e os terapanthis são contra o culto de imagens.

                   O crente não adora a estátua em si, mas antes as qualidades associadas a ela, de modo a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas podem ser adoradas nos templos ou então em pequenos santuários existente nas casas. São representadas em posição de meditação, sentadas ou em pé.
                   Não é possível estabelecer qualquer forma de contato com os tirthankaras através desta forma de culto, uma vez que estes, tendo alcançado a libertação, ficam fora do contato humano.  Contudo, durante a Idade Média cada tirthankara foi associado a uma deusa protetora, em relação às quais se desenvolveram formas particulares de devoção. As deusas mais importantes são Ambika (associada ao 22.º Tirthankara Arishtanemi) Padmavati (associada a Parshva), Lakshmi e Sarasvati.

                   As orações jainas fazem referência aos grandes atos dos tirthankaras  e aos ensinamentos do Mahavira sendo ditas num antigo dialeto do Bihar, o ardha magadhi. A principal oração é o Namaskara Sutra, através do qual o jaina presta homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo.
                   O ato de fazer doações para a construção de templos é também considerado uma forma de culto, assim como a prática de peregrinações.

FESTIVAIS
                   Os principais festivais do jainismo são:

 ·        MAHAVIRA JAYANTI – decorre em março ou abril e celebra a data do nascimento do Mahavira. Neste dia estátuas do Mahavira são levadas em procissões pelas ruas e os jainas reúnem-se nos templos para ouvir a leitura dos seus ensinamentos;
 ·        PARYUSHANA – durante o mês de Bhadrapada (agosto – setembro) os membros do ramo svetambara do jainismo celebram um dos seus festivais mais importantes, o Paryushana. Este festival está dedicado ao perdão e consiste na prática do jejum durante oito dias. No último dia do festival (samvatsari) os jainas pedem perdão uns aos outros por ofensas que possam ter causado; aqueles que conseguiram jejuar durante os oito dias seguidos são levados para o templo em procissão. O festival equivalente na tradição digambara denomina-se dashalakshanaparvan, e para além da prática do jejum, é lido nos templos um importante texto, o tattvartha-sutra;

·           DIVALI (festa das luzes) – celebração comum a Índia, é para os jainas a comemoração da altuta em que o Mahavira deu os seus últimos ensinamentos e alcançou a libertação. Ocorre no mês de Kaartika que corresponde no calendário gregoriano a outubor-novembro;
·        KARTIK PURNIMA – ocorre no dia de lua cheia no mês de Kaartika. Após terem permanecido numa determinada localidade durante os meses da monção, os monges e monjas jainas regressam à vida errante, sendo por vezes acompanhados por leigos no percurso que faze para outro local. Neste dia muitos jainas realizam a peregrinação aos templos de Palitana, no estado indiano de Gujarate;

·        MASTAKABHISHEKA – a cada doze anos os jainas (principalmente os do ramo digambara) reúnem-se no santuário de Shrayana Belgola no estado de Karnataka onde se encontra uma estátua de dezessete metros de Bahubali, que é alvo de libações com água, mel, leite, flores, preparados de ervas especiais.

A SUÁSTICA
         O jainismo dá mais ênfase à suástica que o hinduísmo. Representa o sétimo jina (santo), o tirthankara Suparva. É considerada uma das 24 marcas auspiciosas, emblema do sétimo arhat dos tempos atuais. Todos os templos jainista, assim como os livros santos jainistas, contêm a suástica. As cerimônias jainistas começam e terminam com o desenho da suástica feito várias vezes em volta do altar.
Os adeptos também usam o arroz para desenha a suástica (também conhecida por sathiyo no estado indiano de Gujarat) diante dos ídolos no templos. Os jainistas colocam uma oferenda sobre a suástica – geralmente uma fruta, um doce (mithai), uma fruta em passa ou ainda uma moeda ou cédula de dinheiro.

sábado, 2 de junho de 2018

HINDUÍSMO (5)


FILOSOFIA DO HINDUÍSMO


As seis escolas filosóficas ortodoxas hindus, que aceitam a autoridade dos Vedas são 1) Nyaya, 2) Vaisheshika, 3) Sankhya, 4) Purva Mimamsa,  5) Yoga e 6) Uttara Mimamsa (também denominada Vedanta). As escolas não-védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influenciar o hinduísmo hoje são a Purya Mimamsa, Yoga e a Vedanta.

1)    NYAYA – escola de importância ímpar no desenvolvimento da filosofia indiana devido ao seu papel na construção de um sistema lógico e analítico do qual nasceu todo o resto da filosofia lógica indiana, além de influenciar o desenvolvimento paralelo em diversas outras áreas do pensamento. O Nyaya foi fundado por Aksapada Gautama, conhecido como Akpasapada (o de olhos fixos no pé), que escreveu o texto de maior importância dessa escola, o Nyaya Sutra, por volta do século II a.C. Inicialmente vista com suspeita pelo clero hindu, passou logo depois a ser promovido por este como ferramenta de debate contra os heterodoxos – materialistas, budistas e jainistas. A escola teve seu prestígio incrementado, e o seu sistema passou a ser visto como um dos meios para se levar à salvação.

2)    VAISHESHIKA – representa uma linha de pensamento intimamente associada com a da Nyaya e originalmente proposta pelo sábio Kanada (ou Kana-bhuk, literalmente “comedor de átomos”), em torno do século II a.C. Basicamente a Vaisheshika expressa uma forma de atomismo e postula que todos os objetos do universo físico são redutíveis a um número finito de átomos.
Heinrich Zimmer
3)    SAMKHYA – esta filosofia é anterior ao bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o indôlogo Heinrich Zimmer e seu clássico livro Filosofias da Índia. Patandjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tâmil preserva elementos das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema Saámkhya-yoga, indissociável. O Sámkhya foi compilado bem antes de Patandjali (que viveu no século II), por kapila que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre o Samkhya e o bramanismo é que o primeiro é dualista e o segundo monista, mas ambos veem o espírito ou deus como imanente e transcendente ao mesmo tempo. A diferença significante do Samkhya é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou deus pessoal) numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito terreno divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundo dos Upanixades, adotando uma visão vedantica monista. A realização do objetivo do yoga é conhecido como moksha ou samdhi. E como nos Upanaxides busca despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a “verdade suprema”.
 4)    PURVA MIMAMSA – A escola Purva Mimamsa (ou investigação anterior) estabeleceu as bases para a formulação de regras de interpretação dos Vedas. O principal questionamento da Purva Mimamsa se refere à natureza das leis naturais (ou dharma). Segundo esta linha de pensamento, a natureza do dharma não é acessível à razão ou observação e deve ser inferida a partir da autoridade da revelação contida nos Vedas. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda. A Purva Mimamsa, sendo fortemente ligada à exegese textual dos Vedas, deu origem ao estudo da filologia, ou da filosofia da linguagem na Índia. A introdução da noção de shabda (discurso) como unidade indivisível de som e significado é devido ao sábio Bhartrhari (século VII).
5)    YOGA – O sistema do yoga é geralmente considerado como tendo surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o yoga referido aqui, é especialmente o raja-yoga (Raja-Yoga ou união através da meditação). E é baseada em um texto que exerceu grande influência, o Yogas Sutras de Patandjali, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia do Yoga meditacional. Os Upanixades e o Hhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da Yoga.

6)    UTTARA MIMAMSA OU VEDANTA – A escola Uttara Mimamsa (ou investigação posterior), também conhecida como Vedanta é talvez a pedra angular dos movimentos do hinduísmo, e certamente, foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. A maior parte da atual filosofia hindu está relacionada a mudanças  que foram influenciadas pelo pensamento vedanta,  o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no “Eu” uno, ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas. Primeiramente associada com os Upanixades e seus comentários por Badarayana e Vedanta Sutra, o pensamento vedanta dividiu-se em três grupos:

·         PURO MONISMO: ADVAITA VEDÂNTA:  Advaita literalmente significa “não dois”, isto é o que referimos como monteístico, ou sistema não-dualístico, que enfatiza as unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788 – 820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanixades e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação direcionadas a obtenção da paz e compreensão da verdade.
·         MONISMO QUALIFICADO: VISHISTADVAITA VEDANTA – Ramanuja (1040 -1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vishnu), cit (alma) e acit (matéria). Vishnu é a única realidade indepente, enquanto alma e matéria são dependente de deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não-dualístico.
·         DUALISMO: DVAITA VEDANTA – Madhya (1199 – 1278) identificou deus como Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu um diferenciação fundamental entre o deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.
Filósofo Hindu Rabindranath Tagore visita Einstein em 14 de julho de 1930

 FILOSOFIA HINDU: AS ESCOLAS NÃO VÉDICAS
            As principais escolas não védicas ou heterodoxas (Nastika) do pensamento hindu são o budismo, o jainismo e Lokayata ou Carvaka, que veremos no blog do maffei como outras religiões em futuras postagens.

CULTURAS ALTERNATIVAS DE ADORAÇÃO

AS ESCOLAS BHAKTI
            A escola devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a ideia de “amor prazeroso, abnegado e estupetante de deus como pai, mãe, filho amados”, ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração devoto. A filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através de forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como uma forma de Yoga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente é deus que promove toda mudança que é a fonte de todos os trabalhos através do amor e da luz. 
             Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o hinduísmo ao longo da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior onda de mudança em orações e rituais hindus desde tempos remotos.
             A mais popular forma de expressão de amor a deus na tradição hindu é através do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras. Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV – XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual do fogo védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com deus através de meios simbólicos. Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na benção do indiferenciado amor à verdade.

TANTRISMO
            A palavra tantra significa “tratado” ou “série continua”, e é aplicada a uma variedade de trabalhos místico ocultos, médicos e científicos. A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia hindu.


TEMAS E SIMBOLISMOS IMPORTANTES NO HINDUÍSMO
             AHIMSA – o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana, sua exortação ao veganismo e a não violência é simbolizados pelo ahimsa – o termo apareceu primeiramente nos Upanixades, assim, levou a uma influência internamente enraizada e externamente motivada desenvolveu-se numa grande quantidade de hindus que acabaram por abraçar o vegetarianismos numa tentativa de respeitar as formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30 % da população hindu atual, especialmente em comunidades ortodoxas no sul da Índia, em alguns estados do norte como o Guzerate e em vários enclaves brâmanes à volta do subcontinente, é vegetariana. Portanto, enquanto o vegetarianismos não é um dogma, é recomendado com sendo um estilo de vida sátvico (purificador). Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o se estatuto de “cuidadora” espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto govinda (pastor de vacas) como gopala (protetor de vacas), e que o assistente de Shiva é Nandi, o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, sendo que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne tendo também um movimento entre os hindus para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.


FORMAS DE ADORAÇÃO


            MURTIS E MANTRAS – o hinduísmo prático é simultaneamente politeísta e enoteísta, pois professa a crença na existência de 33 milhões de deuses que dividem em graus hierárquicos, crendo na existência de um deus supremo e uma infinidade de deuses secundários. Segundo algumas interpretações de caráter monoteísta a variedade de deuses e avatares que são adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas de “Verdade Única”, algumas vezes vistos como mais do que um mero deus e um último terreno divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo, ou um princípio monoteístico como Vishnu ou Shiva. Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman – sem atributos) ou como um deus pessoal (saguna brahman – com atributos), os hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma de deus ou deusa. Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vishnu (conhecido como Vaishnavs) são 80 % dos hindus aqueles que acredita em Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A maioria dos hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da verdade. Entre o mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Cali e Durga), Ganesh, Skanda e Hanuman. A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas não serem o próprio deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de deus. Eles são símbolos do princípio maior, representando mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira hindu de adoração de imagens as torna apenas como símbolos da divindade, oposto à idolatria geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.

            MANTRA – recitações e mantras originaram-se no hinduísmo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga é realizada através de japa (repetições). Dizem que os mantras através de seus significados, sons e recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que pratica) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou por invocar a força espiritual interior. As últimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao senhor Rama “Hey Ram!”. O mais representativo de todos os mantra hindu é o famoso Gayatri Mantra:

भूर्भुवस्व: | तत् सवितूर्वरेण्यम् | भर्गो देवस्य धीमहि | धियो यो : प्रचोदयात्
Aum Bhūrbhuvasvah | tat savitūrvarenyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo naha pracodayāt

Significa literalmente: Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr o deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações. O mantra Gayatri é considerado o mais universal, o mais importante (maha mantra) de todos os mantras hindus, e invoca o Brahman universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos hindus até os dias de hoje, seguindo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5.000 anos, realizam abluções matinais às margens do rio sagrado (especialmente do rio Ganges), conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do “conhecimento divino” (Veda). E governado pelo princípio Ma (mãe) Gayatri, também conhecido como Veda Mata (mãe dos Vedas) e intimamente associado á deusa do aprendizados e iluminação, Sarasvathi. O maior objetivo da religião védica é alcançar moksha ou liberação através da constante dedicação a Satya (verdade) e uma eventual realização de Atman (alma universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes princípios. Os grandes rishis (sábios, considerados espécies de santos hindus) e também denominados como samsárico (aquele que vive no samsara – plano temporal ou terrestre) aquele que segue um meio de vida honesto e amável (dhármico) é um jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos Upanixades. Tat Twan Asi (assim és tu), e na última aspiração como segue:

Aum Asato mas ad gamaya tamaso ma ivotir gamaya mrityor ma aamritaam gamaya
Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a imortalidade


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