domingo, 29 de julho de 2018

HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO








         A História do Pensamento Geográfico é um ramo da disciplina geográfica, onde se estuda os postulados, pensamentos e correntes dos autores que contribuíram para a sistematização da geografia como disciplina acadêmica no século XIX.




         Na época em que o Império Romano teve seu auge, a geografia deu sua contribuição com uma gama de conhecimentos, como por exemplo o que se chamava de “périplo”, ou seja, o trabalho de descrever portos, rotas e escalas à disposição dos navegantes daquele longínquo tempo para a realização da atividade comercial, que era uma impulsionadora do funcionamento do Império, e também, por outro lado, dando garantia à eficácia de sua proteção militar. Dois exemplos de fontes impressas que se dedicam a este segmento da matéria geográfica foram as publicações sobreviventes aos dias de hoje são “Périplo do Cartaginês Hanão, o navegador”, e outra de autor não identificado, e com difusão de maior amplitude, o “Périplo do Mar Eritreu” (Mar Eritreu é o antigo nome utilizado pelos gregos em referência ao Mar Vermelho).


         As explorações que os portugueses realizaram no século XVI impulsionaram a premissa de explorar e conhecer a diferença entre as regiões do globo. Elas tiveram em grande parte inspiração por obras de marinheiros que viajavam por infinitos mares como Marco Polo, conhecedor da maioria das regiões do Oriente Médio e Extremo Oriente, que impressionou fortemente muitos habitantes, que deram o apelido irônico ao seu trabalho de “Il Millione” (O Milhão), por causa da crença exagerada da presença dos árabes e dos mongóis asiáticos.




         Desde o século XVIII que a geografia teve seu reconhecimento discreto como disciplina, contando com a importância de gênios como Kant, Montesquieu, Goethe, que foram os desenvolvedores daquilo que se chama de “geografia social”. Meio século depois, ter-se-á a Escola Alemã, conceituando o determinismo, que fazia a ligação do clima ao fato de que o homem desenvolvesse seu intelecto. Nos anos de 1930 do século XX, seriam predominantes as ideias que a Escola Francesa tinha e a conceituação de possibilismo [1], dando início ao estabelecimento de que as escolhas que o ser humano fazia teriam levado à respectividade da premissa de desenvolver sua cultura. Desde então, a geografia realiza a adoção de conhecimentos acessórios como a estatística, além de novos equipamentos como o computador, o celular, o GPS e o satélite artificial


ANTIGUIDADE GRECO ROMANA

         Os primeiros registros de conhecimentos geográficos são encontrados em relatos de viajantes no século V a.C. Um conhecido exemplo de viajante daquela época foi o grego Heródoto, o pai da história. O conhecimento dos cidadão da Grécia Antiga a respeito da Terra era avançado. Especialistas em filosofia como Pitágoras e Aristóteles tinham a crença de que a Terra era redonda. No século III a.C., Eratóstenes de Cirene foi o primeiro a utilizar a palavra geografia. O cientista grego fez o cálculo da circunferência da Terra com uma aproximação gigantesca.


         Depois, o geógrafo e historiador grego Estrabão selecionou todo o conhecimento clássico sobre geografia. Todo esse conhecimento encontra-se reunido numa obra de 17 volumes e foram compilados no início do século I de nossa era. Esta publicação tornou-se a única referência sobre obras gregas e romanas desaparecidas. Outra importante contribuição foi do astrônomo e geógrafo Ptolomeu. Ptolomeu viveu no século II da nossa era. Por mais que o astrônomo tivesse grande contribuição, seus estudos apresentavam muitos erros.

 IDADE MÉDIA, RENASCIMENTO E ILUMINISMO

Ibn Khaldun homenageado em uma nota Tunisiana de 10 dinares
       
Ibn Battuta numa legenda de livro egípcio

     Devido à queda do Império Romano do Ocidente, o conhecimento geográfico greco-romano foi perdido na Europa. Porém, entre os séculos XI e XII foi preservado, revisto e ampliado pelos geógrafos muçulmanos da Península Arábica. Mas os acréscimos e acertos feitos pelos geógrafos árabes Edrisi, Ibn Battuta e Ibn Khaldun foram ignorados pelos pensadores europeus. Durante as cruzadas, foram retomadas as primeiras teorias. Assim, os erros de Ptolomeu continuaram no Ocidente até as Grandes Navegações. As Grandes Navegações passaram a reabastecer a Europa de informações detalhadas e exatas sobre o restante do mundo. Em 1570, o cartógrafo flamengo Abraham Ortelius organizou diversos mapas num livro só. Seria este, talvez, o atlas mais antigo do mundo.

Estátua de Gerardus Mercator em Bruxelas

         Uma importante personalidade que retomou os estudos de geografia foi o alemão Bernhardus Varenius (Bernhard Varen). O livro Geographia Generalis (1650; Geografia Geral) sofreu várias revisões. Este livro continuou sendo a principal obra de referência durante um século ou mais. O cartógrafo mais importante do século XVI, também era de Flandres: Gerardus Mercator. Gerardus Mercator ficou famoso por criar um novo sistema de projeções. O então cartógrafo aprimorou os sistemas de projeções que utilizam longitudes e latitudes.


         No século XVIII, James Cook fez a fixação de novos padrões precisos e técnicos em navegação. Foi responsável pelas viagens científicas. Na segunda viagem, circunavegou o globo. Esta viagem científica ocorrida entre 1772 e 1775 foi o mais famoso de seus itinerários. Na França foi criado o primeiro estudo de pesquisadores sobre topografia detalhada de um grande país. Este trabalho intelectual foi realizado entre os séculos XVII e XVIII por quatro gerações de especialistas em astronomia e profissionais de pesquisa da família Cassini. A partir do trabalho, o atlas nacional da França foi publicado pela primeira vez em 1791.


         Como muitos que o antecipavam, Alexandre von Humbolt fez uma proposta de conhecimento sobre as demais partes do mundo. Essa proposta acabou se distinguindo por dois objetivos. Primeiro, pela cautelosa elaboração que antecipava suas viagens bem-sucedidas, e, segundo pela busca e exatidão de suas análises. São de especial interesse seus estudos sobre os Andes. Estes estudos foram feitos numa viagem às Américas Central e do Sul. Isso ocorreu entre 1799 e 1804.

Humbolt na Amazônia

         Os textos sul-americanos de Humbolt compreendem trinta volumes publicados em trinta nos. Compõem-se de livros científicos, atlas, tratados de geografia e economia sobre Cuba e México, uma narrativa de suas viagens e um “Exame Crítico da História e da Geografia do Novo Continente”. Humbolt escreveu seus textos científicos em colaboração com outros cientistas. Dedicou o volume consagrado à geologia a seu amigo Goethe.


         Em seu Kosmos, cujo objetivo era de comunicar a excitação intelectual e a necessidade prática da pesquisa científica, ele descreve em cinco volumes todos os conhecimentos da época sobre os fenômenos terrestres e celestes.
Estátua de Humbolt em Berlim

         Atribui-se a Humbolt a invenção de novas expressões como isodinâmicas[2], isotermas[3], isóclinas[4], jurássico[5] e tempestade magnética[6]. Ele lançou as bases da geografia física e da geofísica, notadamente da sismologia[7]. Ele demonstra que não pode haver conhecimento sem experimentação verificável.

 SURGIMENTO DA GEOGRAFIA MODERNA

Carl Ritter

         Humbolt apresentou as bases da geografia moderna e estas tinham destaque na análise direta e nas medições precisas como base para leis generalistas. O especialista em filosofia Immanuel Kant foi autor da obra Crítica da Razão Pura em 1781. Na obra, Kant definiu de modo satisfatório o lugar da geografia em relação às diferentes áreas do conhecimento. A definição de Kant afirma que a geografia lida com os fenômenos espaciais. É a mesma coisa que dizer que a história lida com os fatos já ocorridos no passado. Tanto Kant quanto Humbolt ensinaram geografia física e eram da mesma época que Carl Ritter. Carl Ritter era professor da primeira cadeira de geografia estabelecida numa instituição de ensino superior dos tempos modernos.


        
Brasão da Sociedade Geográfica de Lisboa
Três inovações institucionais do século XIX também exerceram importante função no surgimento da geografia moderna. Primeiro, o novo retrato das instituições de ensino superior; segundo, a fundação de sociedades geográficas e as perguntas sobre aspectos e recursos naturais que os governos de várias nações patrocinavam e, terceiro, a implantação de estações que se dirigem à análise geográfica sistemática e ajudaram na elaboração de mapas com dados sobre vários fenômenos da natureza.

        
A geografia sendo uma disciplina universitária passou a ser considerada um campo de pesquisas e estudos avançados em diversas instituições de ensino superior. A disciplina geográfica foi estabelecida assim na Prússia nos anos 70 do século XIX. Depois estabeleceu-se na França e nos demais países europeus. Entre os mais importantes conhecedores dessa época de processo expansivo e explicação definitiva do objeto geográfico estavam o especialista em geografia e geologia o alemão Ferdinand von Richthofen que escreveu uma grandiosa enciclopédia de cinco volumes. Esta publicação enciclopédica trata de temas relacionados à Geografia da China, enquanto Ferdinand Paul Wilhelm provocava o desenvolvimento do método geográfico na Alemanha e nas demais nações. Outro alemão, Friedrich Ratzel, líder da escola determinista[8], escreveu trabalhos pioneiros em geografia humana e política. Para Ratzel, o meio natural condiciona a atividade humana.

        
Paul Vidal de La Blache
A quantidade de geógrafos com formação acadêmica avançada cresceu muito. Esse fator fez com que surgissem diferenciadas correntes no interior da área de conhecimento. Diferem quanto aos pontos de vista e na ênfase dada a certas características. Apesar disso, a preocupação de todas as escolas foram as questões próprias da civilização humana e suas diferenças inter-regionais. Paul Vidal de La Blache encabeçava a escola possibilista. A escola possibilista acreditava que a natureza oferece diferentes escolhas possíveis ao ser humano em cada área geográfica. Paul Vidal de La Blache foi um dos principais responsáveis por fazer surgir a disciplina geográfica dos tempos modernos na França. Deve-se a ele a explicação definitiva do campo da geografia regional. Esta explicação definitiva destacava-se no estudo de áreas de menor porte e homogêneas de modo relativo. Foi o primeiro professor de geografia da Sorbonne. La Blache realizou o planejamento de uma obra gigantesca, uma enciclopédia que tratava de temas relacionados à geografia regional no mundo inteiro. Entretanto, a vida de La Blache era muito curta para terminar de publicar a futura enciclopédia. Géographie Universelle (1927 -1948) foi concluída por seu colega de faculdade Lucien Gallois. Esta coleção de livros é uma das melhores publicações impressas sobre geografia regional.


SÉCULO XX
        
William Morris Davis
No século XX, a geografia evoluiu rapidamente. A disciplina geográfica recebeu novas conceituações e métodos. No começo, a geomorfologia foi o campo geográfico de maior atração. Na geomorfologia, predominam as teorias do americano William Morris Davis. Davis na primeira metade do século XX, foi desenvolvedor do conceito de ciclo de erosão. O especialista em geomorfologia constituiu uma geração de profissionais da geografia.

         Até a metade do século XX, focalizou-se em particular a Geografia Regional e a grande quantidade de lugares e povos do mundo. Depois da Segunda Guerra Mundial, os profissionais da geografia regional de modo frequente se associavam com a realização de programas econômicos em áreas subdesenvolvidas. Nos anos 60 do século XX, a atenção se voltou para dois objetivos: primeiro, o aperfeiçoamento de metodologias de quantidade, e, segundo, a ação construtiva de padrões sistemáticos relacionados à natureza e o homem. No final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, voltaram a serem discutidos os cuidados com o meio ambiente. Antes disso, esse tema foi relativamente esquecido por muito tempo.

        
Nos anos 1970 e 1980, surgiram modelos de quantidade que se baseiam em grandes grupos de dados calculados em censos e demais tipologias de pesquisa que foi entendido pro alguns profissionais de geografia como um exagero de ideia fixa, com o espaço abstrato, em consequência ou em virtude do prejuízo ou dano causado à localização terrestre. Exigia-se, então, um tratamento mais comportamental. De acordo com a exigência, o envolvimento do tratamento mais comportamental era de percepções e escolhas únicas. Além disso, os geógrafos desejavam uma geografia mais humanística. Outras facções exigiam que tratassem de assuntos radicais. Porém, permeando todas as alterações, havia a intenção comum de favorecer quatro elementos: primeiro, os seres humanos e suas sociedades; segundo, o meio ambiente físico e biológico; terceiro, o caráter regional de certas ocorrências; e, quarto, as associações e relações que acontecem em todas as regiões. Estas últimas podem ser observadas tanto do ponto de vista ecológico como sistêmico.

        
Ainda no século XX, se espalharam as fontes de dados estatísticos. Em especial, foram realizados censos demográficos de diversos países. A fotografia aérea demonstrou que é um novo e útil instrumento de trabalho. No entanto, ainda mais eficientes e que cumprem os requisitos tecnológicos foram as possibilidades abertas pelo sensoriamento remoto. Isso se favoreceu com duas inovações tecnológicas: primeiro a partir de satélites artificiais; e, segundo pelo uso de computadores na abordagem de grandes quantidades de dados.

        
O objetivo central do estudo da geografia é a superfície da Terra. A superfície da Terra sofreu rápidas alterações na segunda metade do século XX. Os geógrafos começaram se preocupar com vários outros problemas. Esses problemas não são apenas preocupações dos geógrafos, mas também dos cientistas e acadêmicos de diversas outras áreas. Os problemas de maior preocupação dos geógrafos são os seguintes: a desertificação causada tanto pelas frequentes secas quanto pela atividade humana; o desmatamento de florestas equatoriais afeta de maneira negativa o frágil equilíbrio ambiental; o perigo de desastres naturais de todos os tipos são também acidentes que os seres humanos causam, em particular os nucleares; a poluição ambiental, com acidez da chuva e o ar poluído nas cidades; as altas taxas de crescimento populacional fazem com que as pessoas sejam incapazes de sobreviver em certos países de poucos recursos; o problema da desigualdade entre as regiões na divisão dos recursos e das riquezas; a ameaça da fome e da miséria é agravada por problemas econômicos e políticos.
        

Entre os campos possíveis de desenvolvimento da geografia encontram-se três perspectivas: em primeiro lugar, os recursos minerais e outros recursos que possa ser explorados nos oceanos; em segundo lugar, a engenharia genética usada para o crescimento da produtividade agrícola e a solução de problemas que as pragas criaram, sendo que estes atrapalham a expansão dos cultivos em diversas regiões do mundo; e por terceiro e último lugar, a supercondutividade aperfeiçoada para a melhoria da questão da distribuição de energia elétrica. Todos esses problemas e perspectivas envolvem questões geográficas. Estão ligados a fatores naturais e humanos e a sua distribuição espacial. Estas dificuldades e dimensões apresentam sempre novos desafios para os especialistas.


NOVAS PERSPECTIVAS DE ANÁLISE

         Na segunda metade do século XX apareceram recentes maneiras de análise da superfície terrestre e as relações de estabelecimentos do ser humano com o meio em que vive. Entre as principais podemos citar:

                 
  GEOGRAFIA DA PERCEPÇÃO – esta facção tem uma relação com as disciplinas psicológica e sociológica. Leva em conta que qualquer indivíduo tem sua visão apropriada do meio em que vive. Por seu turno, a geografia da percepção é regularizada por mudanças na economia, na sociedade, na cultura e nas pessoas. Como consequência, as ligações entre o ser humano e o meio são diferenciados para cada indivíduo devido à sua compreensão da realidade.

                  
GEOGRAFIA RADICAL – tem fundamento nas obras escritas por Karl Marx (1818 – 1883). Esta tendência é centrada na observação analítica dos processos ocorridos na sociedade. Entre esses processos podemos citar a desigualdade, o subdesenvolvimento e a pobreza. A principal finalidade da geografia radical é o melhoramento da compreensão das ligações homem-meio como mudança anterior para o direito de alteração dos aspectos ruins da vida real. Esta facção, em oposição ao poder político, coloca a geografia ao alcance da sociedade e aparece como uma tentativa de responder às desigualdades sociais que existem no mundo.

                  
GEOGRAFIA DE GÊNERO – esta dimensão foi criada na década de 1980 no Reino Unido e nos Estados Unidos, em curta ligação com o movimento feminista. Fazia a observação analítica de assuntos como a desigualdade feminina no ingresso na política, no trabalho e nos serviços sociais. As relações entre indivíduos dos sexo masculino e feminino em cada área geográfica e a função da mulher na sociedade.

         As metodologias de trabalho da geografia baseados no modo tradicional na observação analítica da vida real; na conquista de dados por intermédio do trabalho de campo; na descrição dos acontecimentos e ambientes geográficos; e na observação analítica por meio de instrumentos estatísticos, tiveram evolução rápida nas recentes décadas graças aos avanços da computação e ao uso de sistemas de análise remota da superfície da Terra, como as imagens de satélite.



GEOGRAFIA NO BRASIL


        
Aziz Ab'Saber e Milton Santos
Quanto ao conhecimento geográfico no Brasil, não se pode deixar de observar a grande importância e influência do geógrafo mais reconhecido do país, Milton Santos, seguido de Aziz Ab’Saber e Josué de Castro. Milton Santos com várias publicações, tornou-se o pai da geografia crítica fazendo análises e fenomenológicas dos fatos e incidências de casos. Isso é importante, visto que a geografia é uma ciência global e abrangente, e somente o olhar geográfico aguçado consegue identificar determinados processos, sejam naturais ou sócio-espaciais. Vale ressaltar também os importantes estudos do professor Jurandyr Ross, que se dedicou a mapear, de forma bastante detalhada, o relevo brasileiro além das inúmeras publicações do professor doutor José William Vesentini que se tornaram referência no estudo da geografia no Brasil.

        Não podendo esquecer de geógrafos como Armen Mamigonian, Berta Becker, Manuel de Correia de Andrade, Roberto Lobato Corrêa, Ruy Moreira, Armando Corrêa da Silva, Antônio Cristofoletti, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, entre outros de outras épocas, não tão conhecidos como os que fizeram suas carreiras na Universidade de São Paulo (USP), como Odair Gomes, geógrafo da Universidade Estadual de Feira de Santana.





GLOSSÁRIO

[1] A escola francesa de geografia, conhecida também como escola “possibilista”, foi criada por Paul Vidal de La Blache e acreditava na possibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e o meio natural. Ela traz o termo POSSIBILISMO, que foi elaborado pelo historiador Lucien Febvre para diferenciar a geografia francesa dos trabalhos influenciados pelo determinismo ambiental, da escola alemã. Assim, o termo passou a designar uma escola de pensamento geográfico que encara a natureza em constante movimento ambiente natural (muitas vezes referido como Natureza) como um mero fornecedor de possibilidades para a modificação humana, não determinando a evolução das sociedades, sendo o homem o principal agente geográfico. Como corolário, o gênero de vida não é uma consequência inevitável das condições ambientais, mas um acervo de técnicas, hábitos e instituições que permitem a um grupo social utilizar os recursos naturais disponíveis. O primeiro a elaborar essa concepção das relações homem-natureza foi Paul Vidal de La Balche de quem Febvre foi aluno. Mesmo que admita a influência do meio sobre o homem, a escola possibilista afirma que o homem, como ser racional é um elemento ativo e, portanto, tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo segundo suas necessidades.

[2] Diz-se de uma linha que une pontos da superfície terrestre onde a intensidade horizontal do campo magnético terrestre tem o mesmo valor. Em mecânica, diz-se de forças iguais que se equilibram.

[3] O estado de um gás é caracterizado pelo valor de três grandezas físicas: a pressão (p), o volume (V) e a temperatura (T). São chamadas variáveis de estado. Frequentemente, a mudança de uma variável ocasiona modificação em pelo menos uma das outras. Dizemos então que o gás sofreu uma transformação. Condições isotérmicas são aquelas nas quais o gás não sofre mudança na variável temperatura (T).

[4] Uma isóclina, linha isóclina ou linha isoclínica pode ser uma reta ou uma curva que tem a mesma inclinação quando comparada a uma outra. A palavra é derivada do grego: isos, significa “o mesmo”, e Klini, significa “inclinação”. Na navegação aérea, isóclinas são linhas que unem pontos de mesma inclinação magnética. Só são representadas em cartas de altas latitudes onde o uso da bússola magnética não é aconselhável para orientação.

[5] Na escala de tempo geológico, o JURÁSSICO é o período da era Mesozoica do éon Fanerozoico. Cobre 65,3 milhões de anos (desde o período Triássico, de 201,3 milhões de anos, até o início do Cretácio, há 145 milhões de anos). Isto é, o período Jurássico precede o Cretáceo e sucede o Triássico, na era em que surgiu o Oceano Atlântico. Dividi-se nas épocas Jurássica Inferior (ou Lias), Jurássica Média (ou Dogger) e Jurássica Superior (ou Maim), da mais antiga para a mais recente. O nome Jurássico é devido às montanhas Jura situada nos Alpes, que contêm grande quantidade de rochas deste período.

[6] TEMPESTADE MAGNÉTICA – ou tempestade geomagnética ou tempestade solar é uma perturbação temporária da magnetosfera da Terra (magnetosfera pode ser considerada como uma região envoltória, constituindo a parte exterior da atmosfera de um astro, em que o campo magnético controla os processos eletrodinâmicos da atmosfera ionizada e de plasma) causado por uma onda de choque do vento solar e/ou nuvem magnética que interage com o campo magnético da Terra. O aumento da pressão do vento solar inicialmente comprime a magnetosfera. O campo magnético do vento solar então interage com o campo magnético da Terra e transfere um aumento de energia na magnetosfera. Ambas as interações causam um aumento na circulação de plasma através da magnetosfera (impulsionado pelo aumento de campos elétricos no interior da magnetosfera) e aumento da corrente elétrica na ionosfera e magnetosfera.

[7] SISMOLOGIA – palavra que vem do grego seismos, abalo e logos, tratado – é o estudo dos sismos (ou terremotos) e, genericamente, dos diversos movimentos que ocorrem na superfície do globo terrestre. Esta ciência busca conhecer e determinar em que circunstâncias ocorrem os sismos naturais assim como suas causas e distribuição sobre o globo terrestre, a fim de prevê-los em tempo e espaço (o que ainda não é possível). Como derivação do estudo da distribuição e causa dos sismos, a sismologia usa métodos sismológicos para realizar estudos da estrutura da Terra, desde a superfície até o seu núcleo. A sismologia é um dos únicos métodos geofísicos utilizado para estudar as camadas mais profundas da Terra para compreender os mecanismos envolvidos na tectônica global do nosso planeta.

[8] DETERMINISMO – é a teoria filosófica de que todo acontecimento (inclusive o mental) é explicado pela determinação, ou seja, por relações de causalidade. Embora em seu sentido mais vulgar, o determinismo se refira a uma causalidade reducionista (redução de todos os fenômenos do universo, por exemplo, à mecânica, à química, ou à economia), não necessariamente é sinônimo de reducionismo. Há vários tipos de determinismo, cada um definido pelo modo como determinação e causalidade são conceituados. Sendo que para nós, interessa o DETERMINISMO GEOGRÁFICO que é a concepção segundo a qual o meio ambiente define ou influencia fortemente a fisiologia e a psicologia humana, de modo que seria possível explicar a história dos povos em função das relações de causa e efeito que se estabeleceriam na interação natureza/homem. Mas, como esse tipo de pensamento já existe desde a Antiguidade Clássica, o mais correto é designá-lo pela expressão determinismo ambiental, posto que a geografia só se constituiu como ciência no século XIX. No processo de formação da geografia científica, o determinismo ambiental foi utilizado como perspectiva teórico-metodológica, de início, por alguns seguidores de Friedrich Ratzel, o que acabou por lhe render a fama de pai do determinismo geográfico.



sábado, 28 de julho de 2018

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA ANTIGUIDADE







         A história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação dos métodos matemáticos e aos registros ou notações matemáticas do passado.




         Anteriormente à modernidade e à expansão mundial do conhecimento, os exemplos escritos de novos progressos matemáticos tornaram-se conhecidos em apenas poucas localidades. Os textos matemáticos mais arcaicos disponíveis que nos são conhecidos são o Plimpton 322 (matemática babilônica, cerca de 1900 a.C.) e o Papiro Matemático de Moscou (matemática egípcia, cerca de 2000 – 1800 a.C.). Todos estes textos versam sobre o então chamado Teorema de Pitágoras, que parece ser o progresso matemático mais amplamente difundido depois da aritmética básica e da geometria.




         A contribuição greco-helênica refinou grandiosamente os métodos (especialmente através da introdução do raciocínio dedutivo e do rigor matemático em provas) e expandiu o tema da matemática, isto é, aquilo de que ela trata. O estudo da matemática como um tópico em si mesmo começa no século VI a.C. com os pitagóricos, os quais cunharam o termo "matemática” a partir do termo “mathema” do grego antigo, significando, então, “tema do esclarecimento”.


         A matemática chinesa fez contribuições já muito cedo, incluindo o sistema de notação posicional. O sistema numérico indo-arábico e as regras para o uso de suas operações, atualmente em uso no mundo todo, foi provavelmente desenvolvido em torno do ano 1000, na Índia e transmitido ao Ocidente através da matemática islâmica. A matemática islâmica, por sua vez, desenvolveu e expandiu a matemática conhecida destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre matemática foram então traduzidos ao latim, o que contribuiu com o desenvolvimento da matemática na Europa medieval.

         Dos tempos antigos à Idade Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente seguida por séculos de estagnação. Começando no Renascimento no século XVI, novos progressos da matemática, interagindo com as novas descobertas científicas, foram realizados de forma crescente, continuando assim até os dias de hoje.

MATEMÁTICA NA PRÉ-HISTÓRIA




         A origem do pensamento matemático jaz nos conceitos de número, magnitude e forma. Estudos modernos da cognição animal mostraram que tais conceitos não são unicamente humanos. Eles teriam sido parte da vida cotidiana de sociedades de indivíduos caçadores-coletores. Ademais, que o conceito de número tenha se desenvolvido paulatinamente ao longo do tempo, isto fica evidente como o fato de que algumas línguas atuais preservam a distinção entre “um”, “dois” e “muitos”, mas não em relação a números maiores que dois.

Suazilândia


         O objeto matemático reconhecido como possivelmente o mais antigo é o osso de lebombo, descoberto nos montes Libombos, na Suazilândia, e datado de aproximadamente 35.000 anos a.C. Tal osso consiste em 29 entalhes feitos em uma fíbula (ou perônio) de um babuíno. Também foram descobertos artefatos pré-históricos na África e na França, datados de entre 35.000 e 20.000 anos atrás, os quais sugerem tentativas arcaicas de quantificação do tempo.


         No livro How Mathematics Happened: The First 50.000 Years, por exemplo, Peter Rudman argumenta que o desenvolvimento do conceito de números primos apenas pôde ter surgido depois do conceito de divisão, a qual é por ele datada de após 10.000 a.C., sendo que os números primos provavelmente não eram entendidos até em torno de 500 a.C. Ele também escreve que “não foi feita nenhuma tentativa de explicar por que razão uma talha de alguma coisa deve apresentar múltiplos de dois, números primos entre 10 e 20 e alguns números que são quase múltiplos de 10”.

MATEMÁTICA EGÍPCIA


         O osso de Ishango, descoberto perto das cabeceiras do rio Nilo, pode possuir algo como 20.000 anos de existência e consiste em uma série de talhas marcadas em três colunas ao longo do comprimento do osso. As interpretações mais habituais a respeito de tal osso dizem que ele mostra ou a mais antiga demonstração conhecida de sequências de números primos ou então um calendário lunar de seis meses. Há também egípcios do período pré-dinástico do quinto milênio a. C., que representam pictoricamente as figuras geométricas. Além disso, reivindica-se que os monumentos megalíticos presentes na Inglaterra e na Escócia, datados do terceiro milênio a. C., incorporam em suas formas ideias tais como a de círculo, a de elipse e os triplos pitagóricos.

MATEMÁTICA GREGA


         Egípcios, babilônicos e chineses, muito antes do século VI a.C., eram já capazes de efetuar cálculos e medidas de ordem prática com grande precisão. Foram os gregos, no entanto, que introduziram as rigorosas provas dedutivas e o encadeamento sistemático de teoremas demonstrativos que tornaram a Matemática uma ciência.




         A palavra “matemática”, que é de origem grega, englobava a aritmética, a geometria, a astronomia e a mecânica. Antigamente, apenas a aritmética e a geometria, as duas áreas teóricas que mais atraíram os gregos antigos, eram consideradas ciências puramente matemáticas.
Demócrito de Abdera

         Alguns filósofos como Tales de Mileto (625 a.C – 545 a.C.), Pitágoras de Samos (570 a.C. – 495 a.C) e Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C.). Outros também eram sofistas, como Hípias de Élisa (século V a.C.); outros dedicavam-se quase exclusivamente à geometria e às suas aplicações mecânicas e astronômicas, como Euclides (295 a.C.), Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) e Apolônio de Perga (200 a.C.). Diofanto de Alexandria notabilizou-se por seus estudos de álgebra.


        
A contribuição dos filósofos pré-socráticos à matemática, enquanto ciência, são discutíveis e em grande parte fruto de tradição mal documentada. As mais antigas evidências concretas sobre as atividades de um matemático propriamente dito referem-se a Hipócrates de Quios (cerca de 470 a.C – 400 a.C.) Nossos conhecimentos sobre Hipócrates de Quios e outros matemáticos anteriores ao século IV a.C., no entanto, baseiam-se em fragmentos de suas obras e em tradições conservadas nos séculos posteriores. O mais antigo tratado matemático que chegou aos dias atuais é o “Da Esfera Móvel”. De Autólico (360 a.C. – 290 a.C.) um estudo a respeito da piramidia da esfera. Dos matemáticos posteriores restam-nos diversas obras de valor desigual, dentre as quais destaca-se Os Elementos de Euclides, cuja influência persiste até hoje.



         O interesse pela História da Matemática iniciou, também, na Grécia Antiga, Eudemo de Rodes (século IV a.C.), um dos discípulos de Aristóteles, escreveu histórias da aritmética, da geometria e da astronomia que, infelizmente, não foram conservadas. Durante o período greco-romano, matemáticos como Papo de Alexandria e Teon, pai da filosofa Hipatia, discutiram e comentaram a obra de seus predecessores.
        


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