Minha filha Luíza Jonadyr está estudando para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e propôs que juntos pudéssemos ler os livros solicitados pelo exame nacional. É claro que não podia deixar de topar. Ela ainda sugeriu que fizéssemos um podcast, também não poderia eu deixar de topar. Os livros que leremos (alguns eu vou reler) são:
E a garota esperta já fez até um poster para nosso podcast:
Começaremos com o Livro abaixo, aproveito aqui para dar um contexto bibliográfico, histórico-social da obra. Se quiser ter a mesma em pdf, basta clicar aqui.
“Abri a janela e vi as mulheres que passam rápidas com seus agasalhos descorados e gastos pelo tempo. Daqui a uns tempos estes palitol que elas ganharam de outras e que de há muito devia estar num museu, vão ser substituídos por outros. E os políticos que há de nos dar. Devo incluir-me, porque eu também sou favelada. Sou rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se no lixo”.
Primeira edição em 1960.
Além de instrumento de denúncia social
produzido por alguém que efetivamente vivia em condições de vida precária, suas
mais de cinco mil páginas manuscritas, entre romances, contos, crônicas e
poemas, peças de teatro, canções e textos de gênero híbrido, dotadas de estilo
próprio, confrontam os ditames da tradição literária e da norma padrão culta da
língua. Carolina foi publicada em mais de 40 países e traduzida para 14
línguas.
Biografia de Carolina Maria de Jesus
Foi no Canindé que seu talento foi
descoberto: Audálio Dantas, um jornalista que visitava o local, em busca de
material para uma reportagem sobre a favela, que crescia acentuadamente, viu Carolina
ralhando com um bando de marmanjos que não queriam desocupar o parquinho,
ameaçando colocar o nome deles em seu livro. O jornalista quis saber que livro
era esse e percebeu que ali o talento da escritora. Publicou algum dos escritos
no jornal e reuniu os outros em Quarto de
Despejo, lançado em 1960.
Audálio Dantas com Carolina Maria de Jesus na favela Canindé |
Carolina Maria de Jesus morreu no dia 13
de fevereiro de 1977, com 63 anos, cansada, asmática, esquecida pelo mercado
editorial, morando num sítio em Parelheiros. Os livros publicados depois de Quarto de Despejo não tiveram o sucesso
do primeiro. O descaso fez com que a autora fosse preterida pelo cânone literário,
mas a magnitude de seu trabalho criativo ressurge nos últimos anos,
devolvendo-lhe o epíteto de grande escritora que ela sempre soube ser seu.
Carolina Maria de Jesus entrega livro ao Presidente João Goulart |
Obras publicadas
·
Em vida
Quarto de despejo: diário de uma
favelada (1960)
Casa de alvenaria: diário de uma
ex-favelada (1961)
Pedaços da fome (1963)
Provérbios (1965)
·
Publicações póstumas
Diário de Bitita (1986)
Meu estranho diário (1996)
Antologia pessoal (1996)
Onde estaes felicidade? (2014)
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada
Livro de estreia da autora
foi o que lhe rendeu a fama e a importância em nossa literatura. Escrito em
papéis que coletava dos lixos e das ruas da metrópole, separados entre os
outros materiais recicláveis que garantiam seu parco sustento, Quarto de
Despejo é um compilado dos diários da vida de Carolina, e reverbera em suas páginas
a dureza da fome, o cheiro do lixo, a existência de tantos brasileiros que
vivem em meio à miséria e aos dejetos:
“Eu sou negra, a fome é amarela e dói muito (...). E assim no dia 13 de
maio eu lutava contra a escravatura atual – a fome!”, diz a autora. A luta
constante para conseguir dar de comer aos filhos e alimentar se repete
incessantemente, dividindo espaço com os acontecimentos da favela: a
prostituição, os efeitos destruidores do álcool, a constante violência de
homens que espancam suas esposas e o quanto essas mesmas esposas espancadas
criticavam Carolina por esta não querer se casar.
Texto adaptado de UOL educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/carolina-maria-de-jesus.htm.
acesso em 10 de abr. de 2022.