sábado, 22 de setembro de 2018

ETIQUETA: UM POUCO DE HISTÓRIA E UMA DEFINIÇÃO





         Etiqueta vem do francês étiquette é o conjunto de regras cerimoniais que indicam a ordem de procedência e de usos a serem observados pela corte em eventos, públicos ou não, onde estiverem presentes chefes de estados e/ou alta autoridades tais, como solenidades e datas oficiais; por extensão, são ainda as normas a serem observadas entre particulares, no trato entre si.

         Para Norbert Elias são normas de conduta que denotam boa educação, a partir da ideia de autocontrole como indicador de civilidade; essas mudanças de comportamento forma mesmo a base do Estado Nacional Moderno, a partir da instalação das monarquias absolutas. Segundo ele “o controle mais complexo e estável da conduta passou a ser cada vez mais instigado no indivíduo desde seus primeiros anos, como uma espécie de automatismo, uma autocompulsão à qual ele não poderia resistir, mesmo que desejasse” (...) “Nessa sociedade aquele que melhor conseguir moderar suas paixões é aquele que terá melhores vantagens, conseguirá e manterá favores”.
        
Estas regras passaram a ser escritas em manuais na Europa, a partir do século XVI, que retratavam formas de “bom-tom” ou de “polidez” no trato social. Era originalmente destinada às classes abastadas mas, com o advento das mídias de comunicação em massa no século XX e a ampliação da sociedade de consumo, passaram a se dirigir também às camadas inferiores da sociedade.
         


O primeiro filósofo a ocupar-se da etiqueta foi Erasmo de Roterdam que, em 1530 publicou De Civilitate Morum Puerilium (Da Civilidade dos Costumes das Crianças), sendo a primeira obra que se tem conhecimento sobre o assunto; ali Erasmo procura orientar a formação infantil, no que toca ao gestual, vestimentas, expressões faciais, dentre outras, para delimitar o comportamento e demonstrando as boas e más condutas; dá grande ênfase na etiqueta à mesa, onde verdadeiramente se reconhece que é ou não nobre.
         Um segundo manual surge em 1558, na Itália, de autoria de Giovanni dela Casa, intitulado Galateo, onde o autor descreve em narrativa um idoso a ensinar boas maneiras a um jovem. A etiqueta passara a ser o modulador do status quo, a distinguir o “civilizado” do “bruto” ou “bárbaro”.

        


Foi no reinado de Luís XIV de França, contudo, que proliferaram as “sociedades da corte”, e as normas de etiqueta ganharam grande divulgação e importância, ganhando a adesão da classe burguesa.

         No Brasil o uso e aprendizado da etiqueta parece haver ganhado impulso com a Vinda da Corte Real, em 1808; no final do século XIX e começo do seguinte é que finalmente obras variadas foram publicadas, e adotadas inclusive no ensino público.
        












quarta-feira, 19 de setembro de 2018

FAROL DE ALEXANDRIA: UMA DAS SETE MARAVILHAS DA ANTIGUIDADE QUE UM TERREMOTO TOMBOU



        
Farol de Alexandria foi uma obra construída pelo Reino Ptolomaico entre 280 e 247 a.C. na cidade de Alexandria. Ele tinha entre 120 e 137 metros de altura e era uma das sete maravilhas do mundo antigo, sendo que por muitos séculos foi uma das estruturas mais altas do mundo. Danificado por três terremotos entre os anos de 956 e 1323, tornou-se uma ruína abandonada. Até 1480, era a terceira maravilha antiga sobrevivente (depois do Mausoléu de Halicarnasso e da Grande Pirâmide de Gizé), quando então a última de suas pedras remanescentes foi usada para construir a cidadela de Qaibay no mesmo local. Em 1994, os arqueólogos franceses descobriram parte dos restos do farol no Porto Oriental de Alexandria. Em 2015, o Ministério de Estado das Antiguidades do Egito planejou transformar as ruínas submersas da antiga Alexandria, incluindo as de Faros, em um museu subaquático. Em maio do mesmo ano, o Comitê Permanente do Egito para Antiguidades anunciou planos de reconstruir o monumento.




ORIGEM

         Faros era uma pequena ilha localizada na margem ocidental do Delta do Nilo. Em 332 a.C., Alexandre, o Grande fundou a cidade de Alexandria em um istmo oposto a Faros. Alexandria e Faros foram conectadas depois por um molhe que media mais de 1.200 metros e era chamado de Heptastádio (sete estádios – um estádio era uma unidade de comprimento da Grécia Antiga que media aproximadamente 180 m). O lado leste do molhe se tornou o Grande Porto, agora uma baía aberta; no lado ocidental estava o porto de Eunosto, com sua bacia interior Cíboto, agora vastamente ampliada para formar o porto moderno.



CONSTRUÇÃO

        
Ptolomeu II Filadelfo
O farol foi construído no século III a.C. Depois que Alexandre, o Grande morreu de uma febre aos 32 anos, o primeiro Ptolomeu (Ptolomeu I Sóter) anunciou-se rei em 305 a.C. e comissionou a sua construção pouco depois. O edifício foi terminado durante o reinado de seu filho, o segundo Ptolomeu (Ptolomeu II Filadelfo). Levou doze anos para completar, com um custo total de 800 talentos e serviu como um protótipo para todos os faróis posteriores no mundo. A luz era produzida por uma tocha no topo e a torre teria sido construída principalmente com blocos sólidos de calcário.
        
Estrabão
Estrabão relatou que Sóstrato de Cnido tinha uma dedicação inscrita em letras de metal aos “Deuses do Salvador”. Mais tarde, Plínio, o Velho escreveu que Sóstrato era o arquiteto da estrutura, o que ainda é disputado. No século II d.C., o satíro Luciano de Samósata relatou que Sóstrato escreveu seu nome em gesso com o nome      Ptolomeu. Sendo assim, quando o emplastro com o nome de Ptolomeu caísse, o nome de Sóstrato seria visível na pedra.


DESCRIÇÃO

        
Judith Mckenzie escreve que “as descrições árabes do farol são notavelmente consistentes, embora tenha sido reparado várias vezes, especialmente após danos causados por terremotos. A altura que dão varia apenas 15%, de 103 a 118 metros, em uma base de cerca de 30 metros quadrados.

         A descrição mais completa do faros vem do viajante árabe Abou Haggah Youssef Ibn Mohammed el-Balawi el-Andaloussi, que visitou Alexandria em 1166.
        
Os autores árabes indicam que o faros foi construído a partir de grandes blocos de pedra clara, a torre era composta de três grades cônicas: uma seção quadrada inferior com um núcleo central, uma seção octogonal central e, no topo, uma seção circular. No seu ápice foi posicionado um espelho que refletia a luz solar durante o dia; enquanto o fogo iluminava à noite. Moedas romanas encontradas no mosteiro alexandrino mostram que uma estátua de um Tritão ficava posicionada em cada um dos quatro cantos do edifício. Uma estátua de Poseidon ou de Zeus ficava no topo do farol. Os blocos de alvenaria do Faros estavam interligados, selados com chumbo derretido, para resistir às ondas do mar.
         Almaçudi escreve que o lado oriental virado para o mar apresentava uma inscrição dedicada a Zeus.

DESTRUIÇÃO
        
O farol foi gravemente danificado por um terremoto de 956 e novamente em 1303 e 1323. Finalmente o restante da estrutura desapareceu em 1480, quando o então Sultão do Egito, Qaitbay, construiu uma fortaleza medieval na plataforma do local do faros usando algumas pedras caídas.
        
O escritor do século X Almaçudi relata um conto lendário sobre a destruição do farol, segundo o qual no tempo do califa Abdal Malique (705 -715) os bizantinos enviaram um agente eunuco que adotou o islamismo e a confiança do califa, o que lhe garantiu a permissão para procurar o tesouro escondido na base do farol. A busca foi feita astutamente, de tal maneira que os fundamentos foram minados e Faros entrou em colapso. O agente conseguiu escapar em um navio que esperava por ele.



PESQUISA ARQUEOLÓGICA E REDESCOBERTA

        
Honor Frost
Em 1968 o farol foi redescoberto. A UNESCO patrocinou uma expedição para enviar uma equipe de arqueólogos marinhos, liderada por Honor Frost, para o local. Ela confirmou a existência das ruínas que representam parte do farol. Devido à falta de especialistas e a área ter tornado uma zona de conflito, a exploração foi suspensa.
         No final de 1994, arqueólogos gregos liderados por Jean-Yves Empereur redescobriram os restos físicos do farol no piso do Porto Oriental de Alexandria. Alguns destes restos foram trazidos acima e ficaram em exposição pública até o fim de 1995. Subsequentes imagens de satélite revelaram mais vestígios. É possível mergulhar e ver as ruínas. O Secretariado da Convenção da Unesco para Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático está trabalhando atualmente com o Governo do Egito em uma iniciativa para adicionar a Baía de Alexandria (incluindo os restos do farol) em uma lista do Patrimônio Mundial de locais culturais submersos.


                 



terça-feira, 18 de setembro de 2018

BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA: TÃO FAMOSA QUANTO POLÊMICA






         A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais célebres bibliotecas da história e um dos maiores centros do saber da Antiguidade. Ficava situada na região portuária da cidade de Alexandria, no Egito. Nasceu durante o período helenístico, com o propósito de refletir os valores de sua época, ou seja, de apoio a difusão do saber grego clássico para o Oriente. A sua construção foi patrocinada pelo sátrapa do Egito, Ptolomeu, que, sendo um apreciador da filosofia grega – tal como o seu antecessor, Alexandre, o Grande – apoiou a criação de diversas escolas sediadas na Biblioteca, além de museus e coleções permanentes, que atraíram diversas figuras eminentes de todo o mundo antigo para Alexandria.

         O conhecimento popular da Biblioteca de Alexandria reside, contudo, no conhecimento popular da sua mítica devastação devido a um incêndio, resultando na destruição de diversos artefatos historicamente valiosos. O conhecimento da datação e das causas do incêndio é limitado, contudo, presentemente, há diversos debates em relação à verdadeira causa da aniquilação da Biblioteca. Nesse sentido, inúmeros historiadores acreditam que o incêndio foi provavelmente um dos diversos fatores que contribuiu para a sua destruição.
        
Recentemente, o governo egípcio construiu uma nova biblioteca em Alexandria, inaugurada em 2002, perto do presumível local da antiga. Apesar de ter sido alvo de duras reprimendas pelo seu orçamento elevado, esta introduziu, como a sua antecessora também o fez, uma nova era de apoio ao conhecimento no norte da África.

FUNCIONAMENTO E COLEÇÃO DA BIBLIOTECA
        
São quase inexistentes os vestígios arqueológicos do que um dia foi ou como funcionava a Biblioteca (e o Museu) de Alexandria. Acreditava-se que estava localizada próximo ao porto, local que por ser em um primeiro momento submerso e posteriormente tomado por construções, não deixou pistas de sua arquitetura. Dessa forma, resta apenas confiar nos relatos de historiadores, como os de Estrabão, pois não há outra forma de se ter uma ideia de sua estrutura e funcionamento.

ESTRUTURA
        
Não existem indícios arqueológicos de nenhum tipo da Biblioteca de Alexandria, apenas rumores que levam a acreditar ter sido essa um salão composto por uma série de prateleiras, construídas conforme aumentava o número de rolos de papiros. Ela é conhecida por possuir também um departamento de aquisições e um de catalogações. Devido à política de caça a manuscritos, a Biblioteca de Alexandria, no período de Ptolomeu II Filadelfo, já não comportava mais exemplares, quando foi construída a Biblioteca de Serapeu. Existem alguns escritos que mencionam a Biblioteca de Serapeu como uma sala de leitura com algumas estantes.
        
Junto da Biblioteca de Alexandria existia também o Museu de Alexandria, sobre o qual foram deixados maiores relatos, que funcionava como um instituto de pesquisa. Sabe-se que ele incluía um passeio (peripatos), uma galeria (exedera), jardins, paredes com pinturas coloridas, um zoológico e um santuário às Musas (mouseion), local onde os que ali frequentavam buscavam inspiração artística, científica e filosófica. Os intelectuais que estudavam na Biblioteca de Alexandria recebiam alojamento, alimentação, salários altos e isenção de impostos. Todo o conjunto era administrado por um sacerdote nomeado pelo rei.

COLEÇÃO
        
O objetivo da biblioteca era conter em sua coleção “os livros de todos os povos da Terra”, ou seja, dispor 500 mil rolos de manuscritos. Ptolomeu foi o precursor dessa ideia, pois primava pela plena integração dos povos em torno do saber. Além de adquirir os maiores trabalhos intelectuais de sua época, a biblioteca disponibilizava obras traduzidas para o grego e diversas outras línguas.
        
O instrumento utilizado para catalogar a gigantesca coleção era chamado de Pinakes (lâminas), que continha 120 livros com análises e lista cronológicas. Todos os bibliotecários – matemáticos, médicos, historiadores, poetas, geólogos, astrônomos, filólogos e críticos textuais – contribuíram na composição da coleção da biblioteca. Obras literárias de todos os tipos podiam ser encontradas nela, contudo, os livros sagrados ganharam maior destaque.

BIBLIOTECÁRIOS
        
Na Biblioteca de Alexandria o cargo de bibliotecário chefe era nomeado pelos próprios reis. Um documento chamado Carta de Aristeu, datado do século II a.C., cita Demétrio como o presidente da biblioteca do rei. A partir disso, alguns historiadores acreditam que ele detinha grande poder dentro do palácio de Alexandria e consequentemente da biblioteca. Não há evidências, contudo, que ele tenha exercido o cargo de primeiro bibliotecário chefe ou participado da direção da Biblioteca de Alexandria. Tal classificação é mais comumente dada a Zenódoto de Éfeso.
         Zenódoto (325 a.C. – 260 a.C.), foi um filólogo e gramático grego, nativo de Éfeso, cidade jônica situada na atual Turquia. Especialista em Homero, produziu a primeira edição crítica da Ilíada e da Odisseia além da Teogonia de Hesíodo. Mesmo sendo criticado pela qualidade de suas produções, atribui-se a ele um papel fundamental na história dos estudos homéricos, uma vez que teve acesso a textos posteriormente desaparecidos.
        
Apolônio de Rodes (295 a.C.- 230 a.C.), discípulo de Zenótodo, foi que o sucedeu no comando da biblioteca. Entretanto, por ter ofendido seu mestre, foi destituído do cargo.
         Em 245 a.C., sucedendo Apolônio, foi nomeado bibliotecário-chefe o poeta, filósofo, filólogo, matemático, astrônomo, cientista, geógrafo, crítico literário, gramático e inventor, Erastóstenes de Cirene. Ele permaneceu no cargo por quarenta anos.
         Não existe um consenso a respeito de Calímaco de Cirene (310 a.C. – 240 a.C.) ter sido outro importante bibliotecários da Biblioteca de Alexandria. No entanto, Calímaco ficou conhecido por catalogar toda a coleção de papiros da biblioteca em 120 livros.



         Convidado ao cargo após a demissão de Eratóstenes, 204 a.C. assume Aristófanes de Bizâncio. Ele ficou lembrado por produzir melhores adaptações de Homero, continuando o trabalho de Zenódoto bem como o de Calímaco, uma vez que atualizou as catalogações da biblioteca.
        
Aristarco de Samotrácia assume o posto de bibliotecário em 174 a.C., ocupando-o por trinta anos, sendo o último bibliotecário que se tem notícia. Sua principal contribuição resultou nos fundamentos do que se tornou o texto moderno de Homero, uma vez que organizou a Ilíada e a Odisseia nos 24 livros que conhecemos. Além disso, seus estudos gramaticais sobre os poetas gregos antigos o tornaram fundador do que hoje chamamos de linguística.

DESTRUIÇÃO
        
Ao longo da história, diversas narrações foram desenvolvidas para explicar o que aconteceu no primeiro grande incêndio que tomou conta da Biblioteca de Alexandria. Todas elas tomam como ponto de partida a perseguição que Júlio César operava sobre seu inimigo Pompeu, em 48 a.C. A ordem de César para incendiar o porto, durante o embate com os egípcios, é interpretada de diversas formas, entretanto elas não alteram o fato de que essa atitude resultou no incêndio da biblioteca. Outro aspecto que colabora com a imprecisão sobre a destruição da biblioteca é a contribuição dos cristãos e muçulmanos com a sua destruição. Essa destruição, além de extinguir os recursos culturais da época, desestabilizou as escolas da cidade.

LEGADO
        
A Biblioteca de Alexandria, após momentos de ascensão e decadência, teve grande parte do material que compõe sua estrutura física destruído. Nas décadas finais do século XX, a memória começou a se tornar uma preocupação dominante na política dos países da região do Oriente Médio, criando uma “Musealização da Região” através de práticas que procuram recuperar o passado e dar um maior valor àquilo que sido realizado.
        
Nesse contexto, o arqueólogo subaquático inglês Honor Frost, em 1950, estava convencido de que vestígios do grande Farol de Alexandria encontravam-se espalhados no leito do oceânico ao redor do Fort Qaitbey. Consequentemente, começou a sua busca atrás de evidências. Desde então, os arqueólogos têm trazido à luz vestígios da Alexandria Ptolomaica. A maior descoberta foi feita pela equipe de Jean Yves Empereur, que encontraram enormes blocos de pedra nas águas do porto Oriental (certamente caíram no mar quando o farol desmoronou), além de estátuas e esculturas que adornariam a estrutura. Ao mesmo tempo, Franck Goddio mapeando parte da antiga Alexandria, afundada abaixo do nível do mar, trouxe à luz o que provavelmente era um palácio de Cleópatra na Ilha de Antirodes.
        
Mesmo com esforços notáveis de diversas equipes, não há uma localização exata do museu e da biblioteca, havendo uma margem de erro de cem metros.
         Sobre os livros, pode-se afirmar que, durante o reinado de Teodósio, muitos deles tenham sido destruídos, os manuscritos mais preciosos foram levados para o Egito ou permaneceram escondidos em Alexandria. É possível, também, que muitos manuscritos tenham sido acumulados e guardados por Amr, durante a dominação muçulmana.

A NOVA BIBLIOTECA
        
Construída em 2002, a Nova Biblioteca de Alexandria, também chamada de Biblioteca Alexandrina, é a maior do Egito. Ao custo de 65 milhões de dólares, tornou-se referência no norte da África. Não somente um mero local de armazenamento de livros, a edificação abriga museus, auditórios, laboratórios e um planetário.
        
Seu design arquitetônico foi internacionalmente elogiado e é considerado uma das mais belas edificações da cidade de Alexandria, abrigando a maior coleção de livros na África e a maior coleção de livros em francês no mundo árabe.



segunda-feira, 17 de setembro de 2018

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ALEXANDRIA: A AGITADA HISTÓRIA DE UMA CIDADE HISTÓRICA





         Alexandria é uma cidade do Egito, a segunda mais populosa do país, com uma população de cerca de 4,1 milhões de habitantes. É o maior porto do Egito, servindo 80% das importações e exportações do país, e um importante ponto turístico do Egito.
        
Alexandria se estende por 32 quilômetros na costa mediterrânica do centro-oeste do Egito. É o local onde fica a famosa Biblioteca de Alexandria e é um importante centro industrial por causa do gás natural da cidade e dos poços de petróleo em Suez, uma outra cidade egípcia. Alexandria também foi um grande ponto de encontro entre a Europa, a África e a Ásia, porque a cidade beneficiou da ligação entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho.
        
Nos tempos antigos Alexandria foi uma das cidades mais importantes do mundo. Foi fundada em torno de um pequeno vilarejo em 331 a.C. por Alexandre, o Grande. Permaneceu como capital do Egito durante mil anos, até a conquista muçulmana do Egito quando a capital passou a ser Fosfate (que foi depois incorporada no Cairo).
         Alexandria era conhecida pelo Farol de Alexandria (uma das sete maravilhas do mundo antigo), pela Biblioteca de Alexandria (a maior do mundo antigo) e pelas catacumbas de Kom el Shogafa (uma das sete maravilhas do mundo medieval). A arqueologia marinha em Alexandria estava em curso no porto da cidade em 1994, e tem revelado detalhes de Alexandria antes da chegada de Alexandre, quando aí existia uma cidade chamada Rhakotis.



ANTIGUIDADE
        
Em 332 a.C., o Egito estava sob domínio persa. Nesse mesmo ano, Alexandre, o Grande entrou triunfalmente como vencedor do rei Persa Dario III e os egípcios aceitaram-no, aclamando-o como libertador. Há que ter em conta que no Egito havia desde há muito tempo uma grande quantidade de colônias gregas, e que portanto os gregos não eram considerados como estrangeiros.
        
No anos seguinte, a cidade que levaria o seu nome foi fundada no delta do Nilo, sobre um antigo povoado chamado Rakotis habitado por pescadores. A escolha do local foi muito afortunada, pois estava ao abrigo da variações que o rio Nilo apresentava, e por outro lado, suficientemente perto do rio para que se pudesse chegar através das águas às mercadorias destinadas ao porto, através de um canal que unia o rio com o lago Mareotis e o porto.
        
O lugar escolhido ficava de frente a uma ilha chamada Faros, que com o tempo e as múltiplas melhorias que se fariam ficaria unida por um longo dique à cidade de Alexandre. O arquiteto que realizou esta obra chamava-se Dinócrates de Rodes. O dique tinha um comprimento de sete estádios (185 metros é a medida de um estádio), pelo que se lhe chamou Heptastadio. A construção do dique formou dois portos, de ambos os lados: o Grande Porto, a leste, o mais importante; e o Porto do Bom Regresso, a oeste, que é o que ainda hoje se usa.
         
Nos amplos molhes do Grande Porto atracavam barcos que tinham sulcado o mar Mediterrâneo e as costas do oceano Atlântico. Traziam mercadorias que se empilhavam nos cais: lingotes de bronze da Hispânia, barras de estanho da Bretanha, algodão das Índias, sedas da China. O famoso farol construído na ilha de Faros por Sostral de Cnido, em 280 a.C., dispunha na alta cúspide de um fogo permanentemente alimentado que guiava os navegantes, até 1340, quando foi destruído.
         O arquiteto Dinócrates ocupou-se também do traçado da cidade e fê-lo segundo um plano hipodâmico, sistema que vinha utilizando desde o século V a.C., uma grande praça, uma rua maior com trinta metros de largura e seis quilômetros de comprimento que atravessava a cidade, com ruas paralelas e perpendiculares, cruzando-se sempre em ângulo reto. Construíram-se bairros em quadrícula. As ruas tinham condutas de água para escoamento.
         Administrativamente era dividida em cinco distritos, cada um dos quais tinha como nome uma das cinco primeiras letras do alfabeto grego. Quando Alexandre saiu do Egito para continuar as suas lutas contra os persas deixou como administrador de Alexandria Cleómenes de Náucratis.
        
Alexandria foi uma cidade opulenta. Os Ptolomeus construíram um palácio de mármore com um grande jardim no qual havia fontes e estátuas. Do outro lado desse jardim havia outro edifício construído em mármore a que se chamava Museu. Foi uma inovação do rei Ptolomeu I Sóter e nele se reunia todo o saber da época. O museu tinha uma grande biblioteca. Perto deste edifício erguia-se o Serapeu, dedicado a Serápis, a nova divindade greco-egípcia. No centro da cidade encontravam-se a assembleia, as praças, os mercados, as basílicas, os banhos, os ginásios, os estádios e demais edifícios públicos necessários para os costumes da época.
         Os habitantes desta magnífica cidade eram na sua maioria gregos de todas as procedências. Também havia uma colônia judaica e um bairro egípcio, de pescadores, o mais pobre e abando nado da grande urbe.
        
Alexandria cedo se converteria no centro da cultura grega na época helenística e contribuiu para helenizar o resto do país de tal modo que quando chegaram os romanos todo o Egito era bilíngue. A arte e a arquitetura eram os únicos campos que se mantinham propriamente egípcios. Tão importante chegou a ser e tão grandiosa que a chamaram Alexandria ad Aegyptun, ou seja, Alexandria que está perto do Egito, perdendo importância o resto do país.

ESCOLA DE ALEXANDRIA
        
A Escola de Alexandria durou vários séculos (do final do século IV a.C. até o século VII), e durante esse período teve alguns momentos de glória. Alexandre, o Grande morreu no ano de 323 a.C., e nessa data se estabeleceu o início da dinastia dos Ptolomeus (iniciada por Ptolomeu I, um general de Alexandre que proclamou a sim mesmo imperador). O maior promotor da Escola, entretanto, foi Ptolomeu II (que governou o Egito de 285 a 246 a.C. Ele é tido como o protetor das letras e um administrador eficiente (a ele se atribui a construção do farol. Foi depois dele, em 145 a.C., que ocorreu a primeira depredação da Escola. Ela foi saqueada, como represália, em uma guerra civil. Reestruturada, reencontrou um novo auge, e também o seu infortúnio, no século I a.C. Nesse período, foi comandada por Cleópatra (69 -30 a.C.), que foi da última linhagem dos Ptolomeus a governar o Egito.

ALEXANDRIA ROMANA
        
Júlio César tomou a cidade em 46 a.C., para pôr fim à guerra dinástica entre Cleópatra e o seu irmão e co-regente Ptolomeu XIII, e durante a batalha no mar ocorreu o incêndio de Alexandria, no qual arderam alguns sítios de armazenamentos de livros no porto, mas não a Grande Biblioteca. Depois de assegurar que Cleópatra estava no trono egípcio e casada com seu irmão mais novo, Ptolomeu XIV, Júlio César regressou para Roma. Durante a guerra que surgiu depois da morte de César, Marco Antônio viajou para o Egito para convencer a rainha-faraó a apoiá-lo. A entrada do Egito na guerra implicou a tomada da cidade em 30 a.C. por Augusto, que converteu o Egito em propriedade particular sua, acabando assim com a independência do país.
        
Os romanos converteram o país no celeiro do império, o que aumentou a importância da cidade, em cujos armazéns deveria ser depositada a colheita: todos os anos devia enviar-se para Roma uma quantidade de trigo que era equivalente à terça parte do seu abastecimento, quantidade e preço, que era fixo na bolsa de Alexandria. Para manter isolado o país, proibiu-se o uso da moeda romana, que devia ser trocada pela moeda local de Alexandria. Todas estas disposições converteram a cidade numa próspera metrópole com várias centenas de milhares de habitantes, centro cosmopolita e centro financeiro da região.
        
Pilar de Pompeu
Durante o período romano, Alexandria sofreu numerosos desastres: em primeiro lugar, a chamada Guerra Bucólica (172 – 175); depois foi saqueada por um capricho de Caracala (215), e destruída por Valeriano em 253, pelas tropas de Zenóbia, rainha de Palmira, em 269, e por Aureliano em 273. Este último saqueou e destruiu completamente o Bruchion, desastre que danificou o Museu e a Biblioteca. Diz-se que naquela ocasião os sábios gregos se refugiaram no Serapeu, que nunca sofreria com tais desastres, e outros emigraram para o Império Bizantino. Finalmente, em 297, a revolta do usurpador Domício Domiciano acabou com Alexandria tomada e saqueada pelas tropas de Diocleciano, ao fim de um cerco de oito meses (vitória comemorada pelo chamado “Pilar de Pompeu”). Dizia-se que depois da capitulação da cidade, Diocleciano ordenou que o massacre continuasse até que o sangue chegasse aos joelhos do seu cavalo, livrando-se os alexandrinos da morte quando Diocleciano caiu do cavalo, ao resvalar num charco de sangue.
        
Além disso, houve nessa época vários terremotos violentos, tendo sido o de 21 de julho de 365 particularmente devastador. Segundo fontes, houve 50 mil mortos em Alexandria, e a equipe de Franck Goddio, do Instituto Europeu de Arqueologia Submarina, encontrou no fundo das águas do porto centenas de objetos e pedaços de colunas que demonstram que pelo menos cerca de vinte por cento da cidade dos Ptolomeus foi afundada, incluindo o Bruchion, suposto enclave da Biblioteca.

OS JUDEUS DE ALEXANDRIA
        
Os papiros de Elefantina nos informam sobre uma comunidade judia que se instalou no Egito depois da tomada de Jerusalém em 586 a.C. por Nabucodonosor II, já que existem dados de assentamento na época de Moisés. Desde os reis ptolomaicos, os judeus da Diáspora se estabeleceram na cidade atraídos pelo Museu, protegidos pela tolerância do mundo pagão em matéria de diversidade religiosa, e criaram um foco intelectual ativo com um centro de estudos hebraicos.
        
Os judeus gozavam de todos os direitos civis, como qualquer cidadão grego, mas mantinham as prerrogativas concedidas pelos reis persas, e constituíam uma comunidade política independente e autônoma, limitada apenas pela subordinação aos Ptolomeus primeiramente e aos romanos depois. À sua frente tinham os cargos das comunidades da Diáspora: arcontes, que regiam os assuntos administrativos e judiciais, e o arquisinagogo a que correspondia tudo o referente ao culto, além de um etnarca com grandes poderes civis que lhe permitiam tratar com os funcionários do Egito ou do Império Romano. Constituíram assim um grupo étnico apartado da população de Alexandria, com um isolamento linguístico, econômico e cultural que lhes permitiu conservar sua etnia e religião, fiéis à lei e às tradições ancestrais.
         Os romanos, que antes do Império tinham sido aliados dos judeus, outorgaram-lhes mais alguns privilégios, como a celebração do shabat. No entanto, o sentimento antijudaico foi alentado pelos escritores gregos alexandrinos, que os acusavam de exclusivismo, grosseria e deslealdade.
        
Provavelmente os egípcios eram irritados pela tolerância que o Império tinha com os judeus, e não faltava entre eles o descontentamento pelo domínio estrangeiro, primeiro grego e depois romano. Este ressentimento traduziu-se numa xenofobia que terminou por se descarregar contra o povo hebreu, isto, mais a inveja social frente ao florescimento da coletividade judaica, permitiu as primeiras agressões escritas, como as de Apião, iniciador das agitações antijudaicas que em 38 d.C. provocaram dezenas de milhares de judeus assassinados. Duas personagens enfrentaram Apião: Flávio Josefo, que intitulou uma das suas obras Contra Apião, e o filósofo Filón de Alexandria, que chefiou uma delegação para falar com Calígula, tentando acabar com a violência na cidade.

ESCOLA JUDAICA DE ALEXANDRIA
        
Muitos judeus, helenizados na época macedônica, tiveram grande influência sobre os seus correligionários na época dos selêucidas e asmoneus. Traduziram para grego a bíblia hebraica, a chamada versão dos setenta ou septuaginta nos séculos III e II a.C., além de produzir uma abundante literatura hebraica em língua grega: epopeias, dramas, obras moralizantes. As mais conhecidas são a Carta de Aristeia, os Oráculos sibilinos, e o Livro da Sabedoria de Salomão. Entre os autores conhecidos, pode citar-se Eupolemo, Ártipo Demétrio, Aristeu e Fílon de Alexandria.

O CRISTIANISMO
        
Uma tradição muito antiga assegura que o primeiro cristão que chegou a Alexandria para predicar a nova religião foi São Marcos, no ano 61 da nossa era. A mesma tradição conta que o primeiro cristão convertido foi Aniano, de ofício sapateiro. São Marcos curou-lhe a ferida de uma mão e ao mesmo tempo falou-o do significado do cristianismo. Desde esses tempos de predicação, os cristãos de Alexandria e do resto do Egito mantiveram uma grande tradição evangélica. São Marcos foi perseguido sob o mandato do imperador Nero que no ano de 62 foi martirizado e morto. Desde então até a época do imperador Trajano (começo do século II), os cristãos tiveram que ocultar suas crenças, ameaçados pelas perseguições. A partir deste momento se permitiu com tolerância estender-se por toda a cidade de Alexandria e pouco a pouco, ao longo de todo vale do Nilo.
        
No século II, Panteno e, posteriormente, Clemente de Alexandria e seu discípulo Orígenes estabeleceram nesta cidade um verdadeiro seminário de teólogos, até tal ponto que o resto da cristandade os olhava com certo receio. É o que se conhece como Escola Catequética de Alexandria. Ao chegar o século IV, com o imperador Constantino I, o Grande; existiam graves dissensões cristãs no Norte da África e em Alexandria. As tensões com o resto da comunidade cristã conduziram ao cisma com a aparição demasiada do presbítero Ário e sua doutrina o arianismo. Por esta razão, o imperador convocou o Concílio de Niceia, onde se estabeleceram as bases do credo (declaração resumida da fé cristã).
         Por outra parte, se desencadeou uma rivalidade entre as duas cidades mais importantes no momento: Constantinopla e Alexandria. Esta rivalidade afetou bastante aos eternos debates teológicos sobre a natureza ou naturezas de Cristo. Era a “guerra” entre os monofisistas e os ortodoxos da Calcedônia.
        

Porém as lutas e disputas entre cristãos continuaram sem retificação e já no século VI, no ano 553, no segundo Concílio de Constantinopla, com o Imperador Justiniano (reinou de 527 – 565) à frente, foi declarada herética a ortodoxia dos cristãos de Alexandria que seguiam enfrentando os cristãos da Calcedônia. Nos últimos anos de mandato deste imperador, os monofisistas da Síria começaram a organizar sua igreja separada do resto dos cristãos, com uma estrutura própria.
         
Quando o povo árabe muçulmano chegou ao plano de conquista do Egito no ano 641, deram o nome de qubt ao cristão de Alexandria. Esta é a palavra que conhecemos como copta. O símbolo da cruz de Cristo começou a se usar em Alexandria, entre os cristãos coptas. Foi um costume que nasceu ali; o qual se sabe que não existia nas catacumbas nem no lábaro de Constantino, que levava um cristograma.

O ISLAMISMO
        
Alexandria seguia sendo uma das maiores metrópoles mediterrânicas no momento da conquista muçulmana. Seu patriarca, Ciro, capitulou ante os invasores em abril de 641, ao ser derrotadas as forças imperiais locais. Contudo, o governo imperial não reconheceu a capitulação, e os seus habitantes alçaram-se contra os muçulmanos. Após 14 meses de assédio, a cidade foi conquistada pelos muçulmanos em finais de 642. O historiador Eutíquio de Alexandria cita uma carta escrita a 22 de dezembro de 642, na qual o comandante muçulmano Amir Ibn Alas, ao entrar na cidade, dirigiu-se ao segundo sucessor de Maomé, o califa Omar e fez um inventário do encontrado na cidade de Alexandria: 4.000 palácios, 4.000 banhos, 12.000 mercadores de azeite, 12.000 jardineiros, 40.000 judeus e 400 teatros e lugares de espairecimento”. O cronista Ibn al-Kifti afirmou na sua Crônica dos Sábios que naquele momento foi destruída a Grande Biblioteca. Embora os árabes pudessem ter destruído numerosos livros, o certo é que nem a Grande Biblioteca nem a biblioteca do Serapeu existiam naquele tempo, vítimas de guerras civis entre romanos, dos desastres naturais e o fanatismo dos coptas.
        
Uma frota imperial bizantina desembarcou na cidade a princípios de 645 para reconquistar o Egito, mas o exército que transportava foi derrotado pelas superiores forças árabes, e acabou por se retirar. Após um novo e longo assédio, em 646, os árabes tomaram a cidade pela terceira vez, destruindo-a em grande parte para evitar que os bizantinos voltassem a entrincheirar-se nela pela via marítima. Finalizaram assim 975 anos de pertença ao mundo greco-latino.
         Entre 811 e 827, a cidade esteve nas mãos de piratas andalusies, de certa forma antecedentes aos almogavares, para retornar depois às mãos árabes,
         Em 828, o cadáver de São Marcos foi roubado da cidade por navegantes venezianos, que o depositaram na Basílica de São Marcos, construída expressamente para albergar os seus restos.
        
Após um longo declínio, Alexandria ressurgiu como grande metrópole à época das Cruzadas e viveu um período florescente graças ao comércio, com convênios com os aragoneses, genoveses e venezianos que distribuíam os produtos chegados do Oriente através do mar Vermelho. Em 1365, a cidade foi brutalmente saqueada após ser tomada pelos cruzados, dirigidos pelo rei Pedro do Chipre. Nos séculos XIV e XV, Veneza eliminou a concorrência e o seu armazém alexandrino tornou-se o centro da distribuição de especiarias até os portugueses abrirem a rota do Cabo em 1498, data que marca o declínio comercial, agravado pela invasão turca. Quando Napoleão entrou na cidade, era uma povoação meio arruinada, de apenas 7.000 habitantes. Maomé Ali reconstruiu-a no século XIX, tornando-se novamente no grande porto egípcio. A frota britânica bombardeou o porto em 1882, o qual provocou um grande incêndio e o posterior saque das ruínas por parte dos beduínos. Ao cabo de um mês desembarcou um grande exército britânico que restaurou a ordem e deu começo ao protetorado britânico sobre o Egito.


        



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