A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais célebres
bibliotecas da história e um dos maiores centros do saber da Antiguidade.
Ficava situada na região portuária da cidade de Alexandria, no Egito. Nasceu
durante o período helenístico, com o propósito de refletir os valores de sua
época, ou seja, de apoio a difusão do saber grego clássico para o Oriente. A
sua construção foi patrocinada pelo sátrapa do Egito, Ptolomeu, que, sendo um
apreciador da filosofia grega – tal como o seu antecessor, Alexandre, o Grande –
apoiou a criação de diversas escolas sediadas na Biblioteca, além de museus e
coleções permanentes, que atraíram diversas figuras eminentes de todo o mundo
antigo para Alexandria.
O conhecimento popular da Biblioteca de Alexandria reside,
contudo, no conhecimento popular da sua mítica devastação devido a um incêndio,
resultando na destruição de diversos artefatos historicamente valiosos. O
conhecimento da datação e das causas do incêndio é limitado, contudo, presentemente,
há diversos debates em relação à verdadeira causa da aniquilação da Biblioteca.
Nesse sentido, inúmeros historiadores acreditam que o incêndio foi
provavelmente um dos diversos fatores que contribuiu para a sua destruição.
Recentemente, o governo egípcio construiu uma nova
biblioteca em Alexandria, inaugurada em 2002, perto do presumível local da
antiga. Apesar de ter sido alvo de duras reprimendas pelo seu orçamento
elevado, esta introduziu, como a sua antecessora também o fez, uma nova era de
apoio ao conhecimento no norte da África.
FUNCIONAMENTO E COLEÇÃO DA
BIBLIOTECA
São quase inexistentes os vestígios arqueológicos do que um
dia foi ou como funcionava a Biblioteca (e o Museu) de Alexandria.
Acreditava-se que estava localizada próximo ao porto, local que por ser em um
primeiro momento submerso e posteriormente tomado por construções, não deixou
pistas de sua arquitetura. Dessa forma, resta apenas confiar nos relatos de
historiadores, como os de Estrabão, pois não há outra forma de se ter uma ideia
de sua estrutura e funcionamento.
ESTRUTURA
Não existem indícios arqueológicos de nenhum tipo da
Biblioteca de Alexandria, apenas rumores que levam a acreditar ter sido essa um
salão composto por uma série de prateleiras, construídas conforme aumentava o
número de rolos de papiros. Ela é conhecida por possuir também um departamento
de aquisições e um de catalogações. Devido à política de caça a manuscritos, a
Biblioteca de Alexandria, no período de Ptolomeu II Filadelfo, já não
comportava mais exemplares, quando foi construída a Biblioteca de Serapeu.
Existem alguns escritos que mencionam a Biblioteca de Serapeu como uma sala de
leitura com algumas estantes.
Junto da Biblioteca de Alexandria existia também o Museu de
Alexandria, sobre o qual foram deixados maiores relatos, que funcionava como um
instituto de pesquisa. Sabe-se que ele incluía um passeio (peripatos), uma
galeria (exedera), jardins, paredes com pinturas coloridas, um zoológico e um
santuário às Musas (mouseion), local onde os que ali frequentavam buscavam
inspiração artística, científica e filosófica. Os intelectuais que estudavam na
Biblioteca de Alexandria recebiam alojamento, alimentação, salários altos e
isenção de impostos. Todo o conjunto era administrado por um sacerdote nomeado
pelo rei.
COLEÇÃO
O objetivo da biblioteca era conter em sua coleção “os
livros de todos os povos da Terra”, ou seja, dispor 500 mil rolos de
manuscritos. Ptolomeu foi o precursor dessa ideia, pois primava pela plena integração
dos povos em torno do saber. Além de adquirir os maiores trabalhos intelectuais
de sua época, a biblioteca disponibilizava obras traduzidas para o grego e
diversas outras línguas.
O instrumento utilizado para catalogar a gigantesca coleção
era chamado de Pinakes (lâminas), que continha 120 livros com análises e lista
cronológicas. Todos os bibliotecários – matemáticos, médicos, historiadores,
poetas, geólogos, astrônomos, filólogos e críticos textuais – contribuíram na
composição da coleção da biblioteca. Obras literárias de todos os tipos podiam
ser encontradas nela, contudo, os livros sagrados ganharam maior destaque.
BIBLIOTECÁRIOS
Na Biblioteca de Alexandria o cargo de bibliotecário chefe
era nomeado pelos próprios reis. Um documento chamado Carta de Aristeu, datado
do século II a.C., cita Demétrio como o presidente da biblioteca do rei. A
partir disso, alguns historiadores acreditam que ele detinha grande poder
dentro do palácio de Alexandria e consequentemente da biblioteca. Não há
evidências, contudo, que ele tenha exercido o cargo de primeiro bibliotecário
chefe ou participado da direção da Biblioteca de Alexandria. Tal classificação
é mais comumente dada a Zenódoto de Éfeso.
Zenódoto (325 a.C. – 260 a.C.), foi um filólogo e gramático
grego, nativo de Éfeso, cidade jônica situada na atual Turquia. Especialista em
Homero, produziu a primeira edição crítica da Ilíada e da Odisseia além da
Teogonia de Hesíodo. Mesmo sendo criticado pela qualidade de suas produções,
atribui-se a ele um papel fundamental na história dos estudos homéricos, uma
vez que teve acesso a textos posteriormente desaparecidos.
Apolônio de Rodes (295 a.C.- 230 a.C.), discípulo de
Zenótodo, foi que o sucedeu no comando da biblioteca. Entretanto, por ter
ofendido seu mestre, foi destituído do cargo.
Em 245 a.C., sucedendo Apolônio, foi nomeado
bibliotecário-chefe o poeta, filósofo, filólogo, matemático, astrônomo,
cientista, geógrafo, crítico literário, gramático e inventor, Erastóstenes de
Cirene. Ele permaneceu no cargo por quarenta anos.
Não existe um consenso a respeito de Calímaco de Cirene (310
a.C. – 240 a.C.) ter sido outro importante bibliotecários da Biblioteca de
Alexandria. No entanto, Calímaco ficou conhecido por catalogar toda a coleção
de papiros da biblioteca em 120 livros.
Convidado ao cargo após a demissão de Eratóstenes, 204 a.C.
assume Aristófanes de Bizâncio. Ele ficou lembrado por produzir melhores
adaptações de Homero, continuando o trabalho de Zenódoto bem como o de
Calímaco, uma vez que atualizou as catalogações da biblioteca.
Aristarco de Samotrácia assume o posto de bibliotecário em
174 a.C., ocupando-o por trinta anos, sendo o último bibliotecário que se tem
notícia. Sua principal contribuição resultou nos fundamentos do que se tornou o
texto moderno de Homero, uma vez que organizou a Ilíada e a Odisseia nos 24
livros que conhecemos. Além disso, seus estudos gramaticais sobre os poetas
gregos antigos o tornaram fundador do que hoje chamamos de linguística.
DESTRUIÇÃO
Ao longo da história, diversas narrações foram desenvolvidas
para explicar o que aconteceu no primeiro grande incêndio que tomou conta da
Biblioteca de Alexandria. Todas elas tomam como ponto de partida a perseguição
que Júlio César operava sobre seu inimigo Pompeu, em 48 a.C. A ordem de César
para incendiar o porto, durante o embate com os egípcios, é interpretada de
diversas formas, entretanto elas não alteram o fato de que essa atitude
resultou no incêndio da biblioteca. Outro aspecto que colabora com a imprecisão
sobre a destruição da biblioteca é a contribuição dos cristãos e muçulmanos com
a sua destruição. Essa destruição, além de extinguir os recursos culturais da
época, desestabilizou as escolas da cidade.
LEGADO
A Biblioteca de Alexandria, após momentos de ascensão e
decadência, teve grande parte do material que compõe sua estrutura física
destruído. Nas décadas finais do século XX, a memória começou a se tornar uma
preocupação dominante na política dos países da região do Oriente Médio,
criando uma “Musealização da Região” através de práticas que procuram recuperar
o passado e dar um maior valor àquilo que sido realizado.
Nesse contexto, o arqueólogo subaquático inglês Honor Frost,
em 1950, estava convencido de que vestígios do grande Farol de Alexandria
encontravam-se espalhados no leito do oceânico ao redor do Fort Qaitbey.
Consequentemente, começou a sua busca atrás de evidências. Desde então, os
arqueólogos têm trazido à luz vestígios da Alexandria Ptolomaica. A maior
descoberta foi feita pela equipe de Jean Yves Empereur, que encontraram enormes
blocos de pedra nas águas do porto Oriental (certamente caíram no mar quando o
farol desmoronou), além de estátuas e esculturas que adornariam a estrutura. Ao
mesmo tempo, Franck Goddio mapeando parte da antiga Alexandria, afundada abaixo
do nível do mar, trouxe à luz o que provavelmente era um palácio de Cleópatra
na Ilha de Antirodes.
Mesmo com esforços notáveis de diversas equipes, não há uma
localização exata do museu e da biblioteca, havendo uma margem de erro de cem
metros.
Sobre os livros, pode-se afirmar que, durante o reinado de
Teodósio, muitos deles tenham sido destruídos, os manuscritos mais preciosos
foram levados para o Egito ou permaneceram escondidos em Alexandria. É
possível, também, que muitos manuscritos tenham sido acumulados e guardados por
Amr, durante a dominação muçulmana.
A NOVA BIBLIOTECA
Construída em 2002, a Nova Biblioteca de Alexandria, também
chamada de Biblioteca Alexandrina, é a maior do Egito. Ao custo de 65 milhões
de dólares, tornou-se referência no norte da África. Não somente um mero local
de armazenamento de livros, a edificação abriga museus, auditórios,
laboratórios e um planetário.
Seu design arquitetônico foi internacionalmente elogiado e é
considerado uma das mais belas edificações da cidade de Alexandria, abrigando a
maior coleção de livros na África e a maior coleção de livros em francês no
mundo árabe.
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