Maurício Tragtenberg nasceu em Getúlio Vargas em 4 de
novembro de 1929 e morreu em São Paulo em 17 de novembro de 1998, foi um
sociólogo e professor brasileiro.
Filho de uma família judaica e camponesa, seus avós
emigraram para o Brasil e instalaram-se no interior do Rio Grande do Sul
através de um projeto de colonização que tinha o financiamento da Companhia
Judaica de Colonização. Cultivavam uma agricultura de subsistência e vendiam o
excedente para o mercado.
Maurício começou a “ler, escrever e contar” em uma escola
pública de Erebango (depois Erechim), que funcionava em um galpão. Sua família
muda-se para Porto Alegre e ele passa a frequentar o Grupo Escolar Luciana de
Abreu (em plena época do Estado Novo), mas logo a família transfere-se para São
Paulo, instalando-se no bairro do Bom Retiro. Maurício passa a frequentar uma
escola ortodoxa judaica e além das matérias comuns do primário, estudava o
hebraico e iídiche (que é uma mistura de várias línguas, incluindo o hebraico,
mas surgiu do alemão medieval como forma de comunicação entre os judeus que não
pudessem ser compreendidos pelos cristãos.
O jovem Tragtenberg à direita |
Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde teve
toda a sua experiência prática com a burocracia, posteriormente criticada em
seu livro Burocracia e Ideologia. Neste período frequentava a Biblioteca
Municipal Mário de Andrade, onde lhe foi possível ler o que lhe interessava e
discutir assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentava
a Biblioteca, entre eles Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular
na USP.
Escreveu o ensaio Planificação – Desafio do Século XX, que
seria posteriormente transformado em livro. Com a aceitação desse texto pela
Universidade, habilita-se a prestar o vestibular. Aprovado, começa a frequentar
o curso de Ciências Sociais. Um ano depois prestou novamente vestibular – desta
vez para o curso de História, que concluiu. Durante a Ditadura Militar escreveu
sua tese de doutorado em Política, também pela USP. Começou então a se dedicar
à carreira de professor, lecionando na graduação e pós-graduação de
universidades como PUC-SP, USP, UNICAMP e da Escola de Administração de
Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV).
No meio acadêmico Tragtenberg ficou conhecido como um
autodidata (o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio
costumasse alardear provocativamente, o seu “primário incompleto”). Preferia
definir-se como um Socialista Libertário, ao contrário de “anarquista” e
radical. Irreverente com relação aos símbolos e às artimanhas do poder
autoritário, foi um intelectual independente e crítico em relação à burocracia
acadêmica, que desprezava.
Fumante inveterado, suas classes eram frequentadas não só
por alunos regulares mas também por numerosos ouvintes não matriculados. Por
seu espírito rebelde e senso de humor frequentemente sarcástico, mas sobretudo
por sua profunda generosidade intelectual. A compulsão pela palavra escrita
somada à facilidade de guardar nomes e citações, fizeram-no ser lembrado por um
saber enciclopédico. Para a professora doutora Dóris Accioly e Silva, da UNESP
de Marília, e coorganizadora da biografia de Maurício Tragtenberg, o vasto
conhecimento do filósofo era presenciado em sala de aula. “Ele não era popular
entre os alunos. Falava muito, citava bastante gente e não seguia ordem
cronológica nas explicações”.
Físico Marcelo Tragtenberg |
TRABALHOS PUBLICADOS
Deixou publicados pelo menos 8 livros e inúmeros artigos em
jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos
como educação, política, sociologia, história e administração.
Escreveu por vários anos a coluna “No Batente” para o jornal
Notícias Populares, um tabloide popular de São Paulo.
Sua obra completa que inclui livros, artigos, apresentações,
prefácios e textos esparsos está sendo editada pela Editora da UNESP, tendo
sido publicados quatro volumes da coleção Maurício Tragtenberg – dirigida por
Evaldo Amaro Vieira: Administração, Poder e Ideologia e o mais recente A
Revolução Russa.
TEORIA DA PEDAGOGIA LIBERTÁRIA
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico
burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária, que se
expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida
no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que
essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.
Em sua visão, a própria prática de ensino
pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno ao
papel de mero receptáculo de conhecimento e fica uma hierarquia rígida e
burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa.
E nessa ordem o professor é o “símbolo vivo” da dominação.
Tragtenberg critica duramente a realidade das universidades,
“a delinquência acadêmica”, que a seu ver, acabam exprimindo uma “concepção
capitalista do saber” através da busca desenfreada por titulações, publicações,
pontos. Paga-se para apresentar trabalhos a si mesmo ou aos poucos amigos que
se revezam entre falantes e ouvintes, não interessando o conteúdo e a qualidade
do que se publica, mas sim quantos pontos vale: também não importa se alguém
lerá o artigo; que seja de preferência uma publicação em algum país vizinho,
pois publicações internacionais valem mais pontos.
Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma
série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na:
- · Autogestão, gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a “devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho);
- · Autonomia do indivíduo, “o indivíduo não é um meio, é o fim em si mesmo. No Universo das coisas (mercadorias) tudo tem um preço, porém só o homem tem uma dignidade”, negação total de prêmios ou punições;
- · Solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou fundamentem-se na competição;
- · Crítica a todas as normas pedagógicas autoritárias.
Essa proposta pedagógica pressupõe ainda: educação gratuita
para todos, superação da divisão dos professores em categorias; liberdade de
organização para os trabalhadores da educação.
OBRAS PUBLICADAS
> Burocracia e Ideologia,
1974;
> Administração, Poder e
Ideologia, 1980;
> Reflexões sobre o Socialismo,
1986;
> A Revolução Russa,
1988;
> Memórias de um
Autodidata no Brasil, 1999;
> Escreveu a introdução
do livro “Organismo Econômico da Revolução: a autogestão na Revolução
Espanhola”, de Diego Abad de Santillán.
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