Alexandria é uma cidade do Egito, a segunda mais populosa do
país, com uma população de cerca de 4,1 milhões de habitantes. É o maior porto
do Egito, servindo 80% das importações e exportações do país, e um importante
ponto turístico do Egito.
Alexandria se estende por 32 quilômetros na costa
mediterrânica do centro-oeste do Egito. É o local onde fica a famosa Biblioteca
de Alexandria e é um importante centro industrial por causa do gás natural da
cidade e dos poços de petróleo em Suez, uma outra cidade egípcia. Alexandria
também foi um grande ponto de encontro entre a Europa, a África e a Ásia,
porque a cidade beneficiou da ligação entre o mar Mediterrâneo e o mar
Vermelho.
Nos tempos antigos Alexandria foi uma das cidades mais
importantes do mundo. Foi fundada em torno de um pequeno vilarejo em 331 a.C.
por Alexandre, o Grande. Permaneceu como capital do Egito durante mil anos, até
a conquista muçulmana do Egito quando a capital passou a ser Fosfate (que foi depois
incorporada no Cairo).
Alexandria era conhecida pelo Farol de Alexandria (uma das
sete maravilhas do mundo antigo), pela Biblioteca de Alexandria (a maior do
mundo antigo) e pelas catacumbas de Kom el Shogafa (uma das sete maravilhas do
mundo medieval). A arqueologia marinha em Alexandria estava em curso no porto
da cidade em 1994, e tem revelado detalhes de Alexandria antes da chegada de
Alexandre, quando aí existia uma cidade chamada Rhakotis.
ANTIGUIDADE
Em 332 a.C., o Egito estava sob domínio persa. Nesse mesmo
ano, Alexandre, o Grande entrou triunfalmente como vencedor do rei Persa Dario
III e os egípcios aceitaram-no, aclamando-o como libertador. Há que ter em
conta que no Egito havia desde há muito tempo uma grande quantidade de colônias
gregas, e que portanto os gregos não eram considerados como estrangeiros.
No anos seguinte, a cidade que levaria o seu nome foi
fundada no delta do Nilo, sobre um antigo povoado chamado Rakotis habitado por
pescadores. A escolha do local foi muito afortunada, pois estava ao abrigo da
variações que o rio Nilo apresentava, e por outro lado, suficientemente perto
do rio para que se pudesse chegar através das águas às mercadorias destinadas
ao porto, através de um canal que unia o rio com o lago Mareotis e o porto.
O lugar escolhido ficava de frente a uma ilha chamada Faros,
que com o tempo e as múltiplas melhorias que se fariam ficaria unida por um
longo dique à cidade de Alexandre. O arquiteto que realizou esta obra
chamava-se Dinócrates de Rodes. O dique tinha um comprimento de sete estádios (185
metros é a medida de um estádio), pelo que se lhe chamou Heptastadio. A
construção do dique formou dois portos, de ambos os lados: o Grande Porto, a
leste, o mais importante; e o Porto do Bom Regresso, a oeste, que é o que ainda
hoje se usa.
Nos amplos molhes do Grande Porto atracavam barcos que
tinham sulcado o mar Mediterrâneo e as costas do oceano Atlântico. Traziam
mercadorias que se empilhavam nos cais: lingotes de bronze da Hispânia, barras
de estanho da Bretanha, algodão das Índias, sedas da China. O famoso farol
construído na ilha de Faros por Sostral de Cnido, em 280 a.C., dispunha na alta
cúspide de um fogo permanentemente alimentado que guiava os navegantes, até
1340, quando foi destruído.
O arquiteto Dinócrates ocupou-se também do traçado da cidade
e fê-lo segundo um plano hipodâmico, sistema que vinha utilizando desde o
século V a.C., uma grande praça, uma rua maior com trinta metros de largura e
seis quilômetros de comprimento que atravessava a cidade, com ruas paralelas e
perpendiculares, cruzando-se sempre em ângulo reto. Construíram-se bairros em
quadrícula. As ruas tinham condutas de água para escoamento.
Administrativamente era dividida em cinco distritos, cada um
dos quais tinha como nome uma das cinco primeiras letras do alfabeto grego.
Quando Alexandre saiu do Egito para continuar as suas lutas contra os persas
deixou como administrador de Alexandria Cleómenes de Náucratis.
Alexandria foi uma cidade opulenta. Os Ptolomeus construíram
um palácio de mármore com um grande jardim no qual havia fontes e estátuas. Do
outro lado desse jardim havia outro edifício construído em mármore a que se
chamava Museu. Foi uma inovação do rei Ptolomeu I Sóter e nele se reunia todo o
saber da época. O museu tinha uma grande biblioteca. Perto deste edifício
erguia-se o Serapeu, dedicado a Serápis, a nova divindade greco-egípcia. No
centro da cidade encontravam-se a assembleia, as praças, os mercados, as
basílicas, os banhos, os ginásios, os estádios e demais edifícios públicos
necessários para os costumes da época.
Os habitantes desta magnífica cidade eram na sua maioria
gregos de todas as procedências. Também havia uma colônia judaica e um bairro
egípcio, de pescadores, o mais pobre e abando nado da grande urbe.
Alexandria cedo se converteria no centro da cultura grega na
época helenística e contribuiu para helenizar o resto do país de tal modo que
quando chegaram os romanos todo o Egito era bilíngue. A arte e a arquitetura
eram os únicos campos que se mantinham propriamente egípcios. Tão importante chegou
a ser e tão grandiosa que a chamaram Alexandria ad Aegyptun, ou seja,
Alexandria que está perto do Egito, perdendo importância o resto do país.
ESCOLA DE ALEXANDRIA
A Escola de Alexandria durou vários séculos (do final do
século IV a.C. até o século VII), e durante esse período teve alguns momentos
de glória. Alexandre, o Grande morreu no ano de 323 a.C., e nessa data se
estabeleceu o início da dinastia dos Ptolomeus (iniciada por Ptolomeu I, um
general de Alexandre que proclamou a sim mesmo imperador). O maior promotor da
Escola, entretanto, foi Ptolomeu II (que governou o Egito de 285 a 246 a.C. Ele
é tido como o protetor das letras e um administrador eficiente (a ele se
atribui a construção do farol. Foi depois dele, em 145 a.C., que ocorreu a primeira
depredação da Escola. Ela foi saqueada, como represália, em uma guerra civil.
Reestruturada, reencontrou um novo auge, e também o seu infortúnio, no século I
a.C. Nesse período, foi comandada por Cleópatra (69 -30 a.C.), que foi da
última linhagem dos Ptolomeus a governar o Egito.
ALEXANDRIA ROMANA
Júlio César tomou a cidade em 46 a.C., para pôr fim à guerra
dinástica entre Cleópatra e o seu irmão e co-regente Ptolomeu XIII, e durante a
batalha no mar ocorreu o incêndio de Alexandria, no qual arderam alguns sítios
de armazenamentos de livros no porto, mas não a Grande Biblioteca. Depois de
assegurar que Cleópatra estava no trono egípcio e casada com seu irmão mais
novo, Ptolomeu XIV, Júlio César regressou para Roma. Durante a guerra que
surgiu depois da morte de César, Marco Antônio viajou para o Egito para
convencer a rainha-faraó a apoiá-lo. A entrada do Egito na guerra implicou a
tomada da cidade em 30 a.C. por Augusto, que converteu o Egito em propriedade
particular sua, acabando assim com a independência do país.
Os romanos converteram o país no celeiro do império, o que
aumentou a importância da cidade, em cujos armazéns deveria ser depositada a
colheita: todos os anos devia enviar-se para Roma uma quantidade de trigo que
era equivalente à terça parte do seu abastecimento, quantidade e preço, que era
fixo na bolsa de Alexandria. Para manter isolado o país, proibiu-se o uso da
moeda romana, que devia ser trocada pela moeda local de Alexandria. Todas estas
disposições converteram a cidade numa próspera metrópole com várias centenas de
milhares de habitantes, centro cosmopolita e centro financeiro da região.
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Pilar de Pompeu |
Durante o período romano, Alexandria sofreu numerosos
desastres: em primeiro lugar, a chamada Guerra Bucólica (172 – 175); depois foi
saqueada por um capricho de Caracala (215), e destruída por Valeriano em 253,
pelas tropas de Zenóbia, rainha de Palmira, em 269, e por Aureliano em 273.
Este último saqueou e destruiu completamente o Bruchion, desastre que danificou
o Museu e a Biblioteca. Diz-se que naquela ocasião os sábios gregos se
refugiaram no Serapeu, que nunca sofreria com tais desastres, e outros
emigraram para o Império Bizantino. Finalmente, em 297, a revolta do usurpador
Domício Domiciano acabou com Alexandria tomada e saqueada pelas tropas de
Diocleciano, ao fim de um cerco de oito meses (vitória comemorada pelo chamado
“Pilar de Pompeu”). Dizia-se que depois da capitulação da cidade, Diocleciano
ordenou que o massacre continuasse até que o sangue chegasse aos joelhos do seu
cavalo, livrando-se os alexandrinos da morte quando Diocleciano caiu do cavalo,
ao resvalar num charco de sangue.
Além disso, houve nessa época vários terremotos violentos,
tendo sido o de 21 de julho de 365 particularmente devastador. Segundo fontes,
houve 50 mil mortos em Alexandria, e a equipe de Franck Goddio, do Instituto
Europeu de Arqueologia Submarina, encontrou no fundo das águas do porto
centenas de objetos e pedaços de colunas que demonstram que pelo menos cerca de
vinte por cento da cidade dos Ptolomeus foi afundada, incluindo o Bruchion,
suposto enclave da Biblioteca.
OS JUDEUS DE ALEXANDRIA
Os papiros de Elefantina nos informam sobre uma comunidade
judia que se instalou no Egito depois da tomada de Jerusalém em 586 a.C. por
Nabucodonosor II, já que existem dados de assentamento na época de Moisés.
Desde os reis ptolomaicos, os judeus da Diáspora se estabeleceram na cidade
atraídos pelo Museu, protegidos pela tolerância do mundo pagão em matéria de
diversidade religiosa, e criaram um foco intelectual ativo com um centro de
estudos hebraicos.
Os judeus gozavam de todos os direitos civis, como qualquer
cidadão grego, mas mantinham as prerrogativas concedidas pelos reis persas, e
constituíam uma comunidade política independente e autônoma, limitada apenas
pela subordinação aos Ptolomeus primeiramente e aos romanos depois. À sua
frente tinham os cargos das comunidades da Diáspora: arcontes, que regiam os
assuntos administrativos e judiciais, e o arquisinagogo a que correspondia tudo
o referente ao culto, além de um etnarca com grandes poderes civis que lhe
permitiam tratar com os funcionários do Egito ou do Império Romano.
Constituíram assim um grupo étnico apartado da população de Alexandria, com um
isolamento linguístico, econômico e cultural que lhes permitiu conservar sua
etnia e religião, fiéis à lei e às tradições ancestrais.
Os romanos, que antes do Império tinham sido aliados dos
judeus, outorgaram-lhes mais alguns privilégios, como a celebração do shabat.
No entanto, o sentimento antijudaico foi alentado pelos escritores gregos
alexandrinos, que os acusavam de exclusivismo, grosseria e deslealdade.
Provavelmente os egípcios eram irritados pela tolerância que
o Império tinha com os judeus, e não faltava entre eles o descontentamento pelo
domínio estrangeiro, primeiro grego e depois romano. Este ressentimento
traduziu-se numa xenofobia que terminou por se descarregar contra o povo
hebreu, isto, mais a inveja social frente ao florescimento da coletividade
judaica, permitiu as primeiras agressões escritas, como as de Apião, iniciador
das agitações antijudaicas que em 38 d.C. provocaram dezenas de milhares de
judeus assassinados. Duas personagens enfrentaram Apião: Flávio Josefo, que
intitulou uma das suas obras Contra Apião, e o filósofo Filón de Alexandria,
que chefiou uma delegação para falar com Calígula, tentando acabar com a
violência na cidade.
ESCOLA JUDAICA DE ALEXANDRIA
Muitos judeus, helenizados na época macedônica, tiveram
grande influência sobre os seus correligionários na época dos selêucidas e
asmoneus. Traduziram para grego a bíblia hebraica, a chamada versão dos setenta
ou septuaginta nos séculos III e II a.C., além de produzir uma abundante
literatura hebraica em língua grega: epopeias, dramas, obras moralizantes. As
mais conhecidas são a Carta de Aristeia, os Oráculos sibilinos, e o Livro da
Sabedoria de Salomão. Entre os autores conhecidos, pode citar-se Eupolemo,
Ártipo Demétrio, Aristeu e Fílon de Alexandria.
O CRISTIANISMO
Uma tradição muito antiga assegura que o primeiro cristão
que chegou a Alexandria para predicar a nova religião foi São Marcos, no ano 61
da nossa era. A mesma tradição conta que o primeiro cristão convertido foi
Aniano, de ofício sapateiro. São Marcos curou-lhe a ferida de uma mão e ao
mesmo tempo falou-o do significado do cristianismo. Desde esses tempos de
predicação, os cristãos de Alexandria e do resto do Egito mantiveram uma grande
tradição evangélica. São Marcos foi perseguido sob o mandato do imperador Nero
que no ano de 62 foi martirizado e morto. Desde então até a época do imperador
Trajano (começo do século II), os cristãos tiveram que ocultar suas crenças,
ameaçados pelas perseguições. A partir deste momento se permitiu com tolerância
estender-se por toda a cidade de Alexandria e pouco a pouco, ao longo de todo
vale do Nilo.
No século II, Panteno e, posteriormente, Clemente de
Alexandria e seu discípulo Orígenes estabeleceram nesta cidade um verdadeiro
seminário de teólogos, até tal ponto que o resto da cristandade os olhava com
certo receio. É o que se conhece como Escola Catequética de Alexandria. Ao
chegar o século IV, com o imperador Constantino I, o Grande; existiam graves
dissensões cristãs no Norte da África e em Alexandria. As tensões com o resto
da comunidade cristã conduziram ao cisma com a aparição demasiada do presbítero
Ário e sua doutrina o arianismo. Por esta razão, o imperador convocou o
Concílio de Niceia, onde se estabeleceram as bases do credo (declaração
resumida da fé cristã).
Por outra parte, se desencadeou uma rivalidade entre as duas
cidades mais importantes no momento: Constantinopla e Alexandria. Esta
rivalidade afetou bastante aos eternos debates teológicos sobre a natureza ou
naturezas de Cristo. Era a “guerra” entre os monofisistas e os ortodoxos da
Calcedônia.
Porém as lutas e disputas entre cristãos continuaram sem
retificação e já no século VI, no ano 553, no segundo Concílio de
Constantinopla, com o Imperador Justiniano (reinou de 527 – 565) à frente, foi
declarada herética a ortodoxia dos cristãos de Alexandria que seguiam
enfrentando os cristãos da Calcedônia. Nos últimos anos de mandato deste
imperador, os monofisistas da Síria começaram a organizar sua igreja separada
do resto dos cristãos, com uma estrutura própria.
Quando o povo árabe muçulmano chegou ao plano de conquista
do Egito no ano 641, deram o nome de qubt ao cristão de Alexandria. Esta é a
palavra que conhecemos como copta. O símbolo da cruz de Cristo começou a se
usar em Alexandria, entre os cristãos coptas. Foi um costume que nasceu ali; o
qual se sabe que não existia nas catacumbas nem no lábaro de Constantino, que
levava um cristograma.
O ISLAMISMO
Alexandria seguia sendo uma das maiores metrópoles
mediterrânicas no momento da conquista muçulmana. Seu patriarca, Ciro,
capitulou ante os invasores em abril de 641, ao ser derrotadas as forças
imperiais locais. Contudo, o governo imperial não reconheceu a capitulação, e
os seus habitantes alçaram-se contra os muçulmanos. Após 14 meses de assédio, a
cidade foi conquistada pelos muçulmanos em finais de 642. O historiador
Eutíquio de Alexandria cita uma carta escrita a 22 de dezembro de 642, na qual
o comandante muçulmano Amir Ibn Alas, ao entrar na cidade, dirigiu-se ao
segundo sucessor de Maomé, o califa Omar e fez um inventário do encontrado na
cidade de Alexandria: 4.000 palácios, 4.000 banhos, 12.000 mercadores de
azeite, 12.000 jardineiros, 40.000 judeus e 400 teatros e lugares de
espairecimento”. O cronista Ibn al-Kifti afirmou na sua Crônica dos Sábios que
naquele momento foi destruída a Grande Biblioteca. Embora os árabes pudessem
ter destruído numerosos livros, o certo é que nem a Grande Biblioteca nem a
biblioteca do Serapeu existiam naquele tempo, vítimas de guerras civis entre
romanos, dos desastres naturais e o fanatismo dos coptas.
Uma frota imperial bizantina desembarcou na cidade a
princípios de 645 para reconquistar o Egito, mas o exército que transportava
foi derrotado pelas superiores forças árabes, e acabou por se retirar. Após um
novo e longo assédio, em 646, os árabes tomaram a cidade pela terceira vez,
destruindo-a em grande parte para evitar que os bizantinos voltassem a
entrincheirar-se nela pela via marítima. Finalizaram assim 975 anos de pertença
ao mundo greco-latino.
Entre 811 e 827, a cidade esteve nas mãos de piratas
andalusies, de certa forma antecedentes aos almogavares, para retornar depois
às mãos árabes,
Em 828, o cadáver de São Marcos foi roubado da cidade por
navegantes venezianos, que o depositaram na Basílica de São Marcos, construída
expressamente para albergar os seus restos.
Após um longo declínio, Alexandria ressurgiu como grande
metrópole à época das Cruzadas e viveu um período florescente graças ao
comércio, com convênios com os aragoneses, genoveses e venezianos que
distribuíam os produtos chegados do Oriente através do mar Vermelho. Em 1365, a
cidade foi brutalmente saqueada após ser tomada pelos cruzados, dirigidos pelo
rei Pedro do Chipre. Nos séculos XIV e XV, Veneza eliminou a concorrência e o seu
armazém alexandrino tornou-se o centro da distribuição de especiarias até os
portugueses abrirem a rota do Cabo em 1498, data que marca o declínio comercial,
agravado pela invasão turca. Quando Napoleão entrou na cidade, era uma povoação
meio arruinada, de apenas 7.000 habitantes. Maomé Ali reconstruiu-a no século
XIX, tornando-se novamente no grande porto egípcio. A frota britânica
bombardeou o porto em 1882, o qual provocou um grande incêndio e o posterior
saque das ruínas por parte dos beduínos. Ao cabo de um mês desembarcou um
grande exército britânico que restaurou a ordem e deu começo ao protetorado
britânico sobre o Egito.