Morreu
em 1580, escreveu “Os Lusíadas”, um poema épico do classicismo português. Assim,
é possível observar, nas obras do escritor as seguintes características dessa
escola literária: versos regulares, amor e mulher idealizados, bucolismo, além
de referências greco-latinas.
O
escritor lutou como soldado, em Ceuta, no território do Marrocos, Nesse período,
perdeu o olho direito em batalha. De volta a Portugal, em 1552, foi preso
devido a um desentendimento com certo funcionário da Corte. Um ano depois,
recebeu o perdão do rei. Partiu, então, para Goa, Índia, em 1553. Alguns
estudiosos afirmam que ele começou a escrever “Os Lusíadas” nessa época.
Quadro de Francisco Augusto Metrass pintado em 1874 - A morte de Camões (Museu de Lisboa) |
Amor
é um fogo que arde sem ver
É
ferida que dói, e não se sente
É
um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
As
principais temáticas da poesia camoniana são:
·
O desconcerto do mundo;
·
A inconstância; e
·
O sofrimento amoroso.
Camões
vivia em uma época em que a racionalidade era extremamente valorizada em
oposição à fé religiosa, que marcara o período histórico anterior, ou seja, a
Idade Média. Portanto, apontar o desconcerto (o desequilíbrio) da realidade era
uma forma de tirar dela o véu das ilusões. Assim, a constatação de que tudo na
vida é transitório eliminava a importância das coisas mundanas.
As
principais obras de Camões foram:
·
Os Lusíadas (1572) – epopeia;
·
Anfitriões (1587– post mortem) – teatro;
·
Filodemo (1587– post mortem) – teatro;
·
Rimas (1595– post mortem) – poesia lírica;
·
El rei Seleuco (1645 – post mortem) –
teatro.
Os Lusíadas
As armas e os
Barões assinalados
Que a Ocidental
praia Lusitana
Por mares nunca
dantes navegados
Passaram ainda
além da Taprobana
Em perigos e
guerras esforçados
Mais do que
prometia a força humana
E entre gente
remota edificaram
Novo Reino, que
tanto sublimaram;
(...)
O poema foi dedicado ao rei Dom
Sebastião I:
O Sol, logo em
nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no
meio do Hemisfério,
E quando desce o
deixa derradeiro;
Vós, que
esperamos jugo e vitupério
Do torpe
Ismaelita cavaleiro
Do Turco Oriental
e do Gentio
Que inda bebe o
licor do santo Rio:
Inclinei por um
pouco a majestade
Que nesse tenro
gesto vos contemplo,
Que já se mostra
na inteira idade,
Quando subindo
ireis ao eterno templo;
Os olhos da real
benignidade
Ponde no chão:
vereis um novo exemplo
De amor dos
pátrios feitos valorosos
Em versos
divulgado numerosos
(...)
Depois da narrativa, a frota de Gama
segue rumo a Calicute, na Índia. No entanto, Baco, Netuno e outros deuses do
mar decidem, com a ajuda de Éolo, afundar os navios da expedição, pois temem
que os portugueses acabem sendo tão poderosos quanto os deuses. Quase vencidos
pela tempestade, Vasco roga a Deus:
Vendo Vasco da
Gama que tão perto
Do fim de seu
desejo se perdia
Vendo ora o mar
até o Inferno aberto,
Ora com nova
fúria ao Céu subia,
Confuso de temor,
da vida incerto,
Onde nenhum
remédio lhe valia,
Chama aquele
remédio santo e forte
Que o impossível
pode, desta sorte:
—
Divina Guarda, angélica, celeste
Que os céus, o
mar e terra senhoreias:
Tu, que a todo
Israel refúgio deste
Por metade das
águas Eritreias;
Tu, que livraste
Paulo e defendeste
(...)
Poesias de Luís Vaz de Camões
No soneto de Camões, o “Eu Lírico” fala
da passagem do tempo. Diz que o destino trouxe a dor e recorda a felicidade do
passado, mas o eu lírico chega a duvidar das alegrias que sentiu, já que elas
passaram tão rápido. Por fim ele conclui que já não tem nada a perder, a não
ser a vida, e lamenta ainda estar vivo:
Ah!
Fortuna cruel! Ah! Duros Fados!
Quão asinha em
meu dano vos mudastes!
Passou o tempo
que me descansastes,
Agora descansais
com meus cuidados.
Deixastes-me
sentir os bens passados,
Para mor dor da
dor que me ordenastes;
Então numa hora
juntos mos levastes,
Deixando em seu
lugar males dobrados.
Ah! Quanto melhor
fora não vos ver.
Gostos, que assim
passais tão de corrida,
Que fico duvidoso
se vos vi:
Sem vós já me não
fica que perder,
Se não se for
esta cansada vida,
Que por mor perda
minha não perdi.
Contudo, a voz poética diz que, se a
Morte é capaz de separar o corpo da alma, o Amor pode juntar e unir duas almas
em um mesmo corpo. Dessa forma, o Amor vence a Morte, apesar da Ausência, do
Tempo, da Razão e da Fortuna:
A Morte, que da
vida o nó desata,
Os nós, que dá o
Amor, cortar quisera
Na Ausência, que
é contr’ele espada fera,
E co Tempo, que
tudo desbarata.
Duas contrárias,
que uma a outra mata,
A Morte contra o
Amor ajunta e altera:
Uma é Razão
contra a Fortuna austera,
Outra, contra a
Razão, Fortuna ingrata.
Mas mostre a sua
imperial potência
A Morte em
apartar dum corpo a alma,
Duas num corpo o
Amor ajunte e una;
Porque assim leve
triunfante a palma,
Amor da Morte,
apesar da Ausência
Do Tempo, da
Razão e da Fortuna.
Escola Literária de Luís Vaz Camões –
O Classicismo
Frases de Luís Vaz de Camões
— Que pena
sentirei, que valha tanto, que inda tenho por pouco o viver triste?
— Por sinal do
naufrágio que passei, em lugar dos vestidos, pus a vida.
— Jura Amor que
brandura de vontade causa o primeiro efeito; o pensamento endoidece, se cuida
que é verdade.
— Converteu-se-me
em noite o claro dia; e, se alguma esperança me ficou, será de maior mal, se
for possível.
— Amor um mal, que
mata e não se vê.
— Não sei para que
é ter contentamento, se mais há de perder quem mais alcança.
— Dobrada glória
dá qualquer vingança, que o ofendido toma do culpado, quando se satisfaz com
coisa justa.
— Todo o mundo é
composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.
— O tempo cobre o
chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em
choro o doce canto.
— Louvado seja
Amor em meu tormento, pois para passatempo seu tomou este meu tão cansado
sofrimento!
— Qualquer grande
esperança é grande engano.
Fonte: Site Português. Disponível em: https://www.portugues.com.br/literatura/vida-luis-vaz-camoes.html. Acesso em 29 de jun. 2022.