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domingo, 17 de fevereiro de 2013

CIDADANIA, PALAVRA MUITO USADA, PORÉM POUCO COMPREENDIDA



O que é Cidadania:

Educação Um Direito ou Um Dever- Poderia ser os Dois?
Educação: direito do cidadão e dever do Estado.
Educação: dever dos pais e direito dos filhos.



            Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão, o indivíduo está sujeito no seu relacionamento com a sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que quer dizer “cidade”.
            Este conceito de cidadania está arraigado à noção de direito, precipuamente no que se refere aos direitos políticos, sem os quais o indivíduo não poderá intervir, nos negócios do Estado, onde permite, participar direta ou indiretamente do governo e na consequente administração, através do voto direto para eleger ou para concorrer, a um cargo público da maneira indireta. A cidadania pressupõe direitos e deveres e a serem cumpridos pelo cidadão que serão responsáveis pela sua vivencia em sociedade.
            Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, para que possa o cidadão exercer seus direitos políticos. Porém há indivíduos, que apesar de serem nacionais de um Estado, não estão investidos de direitos políticos, que podem ter sido cassados ou negados, como por exemplo, temos os presidiários que são impedidos de votar. Os direitos políticos são regulados no Brasil pela Constituição Federal, sendo o alistamento eleitoral e o voto, obrigatórios para os maiores de 18 anos, porém é facultativo para os analfabetos, maiores de 16 anos e os maiores de 70 anos.

            A Constituição proíbe alistamento eleitoral dos estrangeiros e dos brasileiros em serviço militar obrigatório. A cidadania requer que o indivíduo como habitante da cidade, como diz a raiz da palavra, cumpra seus deveres, e como um indivíduo de ação possa realizar tarefas para seu bem e também para o maior desenvolvimento da comunidade onde vive, uma vez que os problemas da cidade dizem respeito a todos os cidadãos.

            A cidadania é exercida pelo indivíduo, por grupos e até instituições que através do empoderamento, isto é, através do poder que tem para realizar tarefas sem necessitar de autorização ou permissão de alguém, realizam ações ocasionando mudanças que as levam a evoluir e se fortalecer, participando em comunidades, em políticas sociais, participando ativamente de ONGs através do voluntariado, onde acontecem ações de solidariedade, para o bem da população excluída das condições de cidadania. Estas organizações conseguem complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar.


(Fonte: http://www.significados.com.br/cidadania/)

Ver também no Blog do Maffei: Cidadania Burguesa

quarta-feira, 31 de maio de 2017

DE ONDE VEM O SENTIDO MODERNO DA PALAVRA CIDADANIA?

Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais

Contrariamente do que muitos pensam o sentido moderno da palavra cidadania, não vem do grego, mas sim da França Revolucionária. O sentido moderno de cidadão nasce nos primeiros dias de outubro de 1774, na França, em discurso de Beaumarchais (1732 –1799). A acepção atual de cidadania é, portanto, posterior ao século XVIII.


DEFINIÇÃO:

    Em sentido etimológico, cidadania define a condição daqueles que residem na cidade. Ao mesmo tempo, o termo se refere à condição de um indivíduo como membro de um Estado, como portado de direitos e obrigações. A associação entre esses dois significados deve-se a uma transformação histórica de grande alcance, fundamental ao mundo moderno: a formação dos Estados centralizados, impondo jurisdição uniforme sobre um território não limitado aos antigos burgos ou cidades medievais.

    O termo cidadão tornou-se sinônimo de homem livre, portador de direitos e obrigações a título individual, assegurados em lei. A associação não é espúria, pois evidentemente é nas cidades que originalmente se formam as forças sociais mais diretamente interessadas na individualização e na codificação uniforme desses direitos: a burguesia e a moderna economia capitalista.

    Em seus primórdios, a constituição do Estado moderno e da economia comercial capitalista representam uma grande força libertária, em primeiro lugar, pela dilatação dos horizontes, pela emancipação dos indivíduos ante o localismo, ante as convenções medievais que impediam ou dificultavam a escolha de uma ocupação diferente daquela transmitida como herança familiar; libertária, enfim, ante as tradições e crenças que se diluíam com a maior mobilidade geográfica e social. Mas libertária, sobretudo, pela imposição de uma jurisdição uniforme, quebrando o arbítrio dos senhores feudais e reconhecendo aos habitantes do território, independentemente de sua ocupação ou condição sócio-econômica, os mesmos direitos e obrigações.

    A cidadania tem um aspecto sociológico e um aspecto político. Nesse último sentido ela expressa aquela igualdade perante a lei – a égalité da Revolução Francesa – conquistada pelas grandes revoluções (inglesa, francesa e norte-americana), e posteriormente reconhecida em todo o mundo.



UM DIREITO DE BURGUÊS.

    É indiscutível que a cidadania é, na origem, um direito burguês, no sentido de que as novas relações sociais e políticas a que ela se refere interessavam de maneira mais real e direta à nova classe comercial e industrial das cidades. Ao mesmo tempo, sua reivindicação – por exemplo, na filosofia de Locke – como soma de direitos fundamentais do indivíduo, qualquer que fosse sua posição social ou ocupação (direitos anteriores à própria sociedade na ficção do ‘contrato social’), tornava-os logicamente independentes da estrutura social, isto é, neutros quanto aos seus beneficiários presentes e potenciais. É essa qualidade da teoria dos direitos naturais – o fato de se colocar como um padrão ou critério externo à sociedade existente, e a partir do qual ela deve ser julgada – que lhe confere caráter especificamente revolucionário.

Vejamos o que diz Maurício Segall:

‘Ao perguntar a alguém o que achava que é cidadania, ouvi a resposta: “É a garantia do pleno exercício dos direitos e dos deveres definidos na Constituição para os cidadãos brasileiros”.
‘Trata-se de um conceito evidentemente insuficiente – de um lado, por ser formal e, de outro, por refletir, em países como o nosso, as conjunturas vigentes, plenas de casuísmos e de interesses subalternos, por ocasião da feitura das Constituições. Mas, formal, ou não, o conceito tem algo a ver claramente com a incorporação efetiva, e não abstrata, do conjunto da população à prática de um direito.

‘Por via das dúvidas fui ver no Aurélio e encontrei as definições seguintes – Cidadão:

1)      Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado ou no desempenho de seus deveres para com este.
2)      Habitante da cidade;

Cidadania:
1)      Qualidade ou estado de cidadão;
2)      O termo define a condição daqueles que residem na cidade.

‘Há uma clara conotação histórica idealista entre o conceito de cidade (a partir da polis grega) e o de homem livre. É curioso notar que, em diversas línguas latinas ou anglo-germânicas, e inclusive na grega, os termos “cidadania” e “cidadão” estão etimologicamente ligados ao termo “cidade”. Mais significativo é que tenham permanecido ao longo do tempo, apesar de seu conteúdo ter se ampliado para expressar algo muito mais complexo e de significado amplo. Há explicações históricas para isso, como por exemplo a passagem do significado limitado – da cidadania nos burgos – ao significado amplo de cidadania nacional, na formação dos Estados modernos.
   ‘Mas nem por isso as ambiguidades desapareceram. Vejamos:

Português
cidade
cidadão
cidadania
grego
Polis
(mesma raiz)

latim
Civitas
Civis
Civitatanum
inglês
City
Citizen
Citizenship
espanhol
Ciudad
Ciudadano
Ciudadania
italiano
Cittá
Cittadino
Citoyenneté
francês
Cité
Citoyen
Citoyenneté
alemão
Burg
Bürguer
Bürguerecht

‘Tudo indica que essa ambiguidade nasce no início da civilização ocidental. O equivalente grego de um cidadão era aquele que tinha direito a frequentar a Ágora da pólis. Mais tarde, em 1774, aparentemente o tema foi usado pela primeira vez, no sentido moderno, num discurso de Beaumarchais. Assim é que, somente no final do século XVIII, o termo “cidadania” surgiu na língua portuguesa. Tratava-se então de um direito burguês, embora os filósofos, que lidavam com o conceito de direito natural, procurassem ampliar seu conteúdo.
‘Posteriormente, com a revolução americana, a postulação dos direitos fundamentais avançou na abrangência do conceito.
‘Dessa forma, apesar de toda a evolução filosófica e política, o conceito de cidadania, queira-se ou não, continua carregado implicitamente de um conteúdo de privilégio, elitismo e discriminação. No começo era pelo social (classe) e hoje, cada vez mais, pelo urbano, em detrimento do rural, ou pelo central em detrimento do periférico. Por isso também é incompleta a conceituação de cidadão como indivíduo que, em relação ao Estado, vive sob o império da lei.
‘O pensamento liberal está pleno dessas imperfeições e, objetivamente, contrafacções. O que coloca concretamente para nós o problema da cidadania nos “Brasis” c, d, e até o z dos índios. Nos “Brasis” do campo, do agreste, da miséria rural, das pequenas cidades, das periferias, da floresta.’

Referências Bibliográficas: 


SEGALL, Maurício. CONTROVÉRSIAS E DISSONÂNCIAS. 1.ª Edição, Editora Boitempo, São Paulo-SP, 2001.

Enciclopédia Mirador - 1993



domingo, 17 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA BURGUESA






CIDADANIA





O sentido moderno de cidadão nasce nos primeiros dias de outubro de 1774, na França, em discurso de Beaumarchais [1] (1732 –1799). A acepção atual de cidadania é, portanto, posterior ao século XVIII.



DEFINIÇÃO:

    Em sentido etimológico, cidadania define a condição daqueles que residem na cidade. Ao mesmo tempo, o termo se refere à condição de um indivíduo como membro de um Estado, como portado de direitos e obrigações. A associação entre esses dois significados deve-se a uma transformação histórica de grande alcance, fundamental ao mundo moderno: a formação dos Estados centralizados, impondo jurisdição uniforme sobre um território não limitado aos antigos burgos ou cidades medievais.

    O termo cidadão tornou-se sinônimo de homem livre, portador de direitos e obrigações a título individual, assegurados em lei. A associação não é espúria, pois evidentemente é nas cidades que originalmente se formam as forças sociais mais diretamente interessadas na individualização e na codificação uniforme desses direitos: a burguesia e a moderna economia capitalista.



    Em seus primórdios, a constituição do Estado moderno e da economia comercial capitalista representam uma grande força libertária, em primeiro lugar, pela dilatação dos horizontes, pela emancipação dos indivíduos ante o localismo, ante as convenções medievais que impediam ou dificultavam a escolha de uma ocupação diferente daquela transmitida como herança familiar; libertária, enfim, ante as tradições e crenças que se diluíam com a maior mobilidade geográfica e social. Mas libertária, sobretudo, pela imposição de uma jurisdição uniforme, quebrando o arbítrio dos senhores feudais e reconhecendo aos habitantes do território, independentemente de sua ocupação ou condição sócio-econômica, os mesmos direitos e obrigações.



    A cidadania tem um aspecto sociológico e um aspecto político. Nesse último sentido ela expressa aquela igualdade perante a lei – a égalité da Revolução Francesa – conquistada pelas grandes revoluções (inglesa, francesa e norte-americana), e posteriormente reconhecida em todo o mundo.



UM DIREITO DE BURGUÊS.

    É indiscutível que a cidadania é, na origem, um direito burguês, no sentido de que as novas relações sociais e políticas a que ela se refere interessavam de maneira mais real e direta à nova classe comercial e industrial das cidades. Ao mesmo tempo, sua reivindicação – por exemplo, na filosofia de Locke – como soma de direitos fundamentais do indivíduo, qualquer que fosse sua posição social ou ocupação (direitos anteriores à própria sociedade na ficção do ‘contrato social’), tornava-os logicamente independentes da estrutura social, isto é, neutros quanto aos seus beneficiários presentes e potenciais. É essa qualidade da teoria dos direitos naturais – o gato de se colocar como um padrão ou critério externo à sociedade existente, e a partir do qual ela deve ser julgada – que lhe confere caráter especificamente revolucionário.




(Retirado da Enciclopéia Mirador – 1993)




[1] Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (Paris, 24 de janeiro de 1732 – Paris, 18 de maio de 1799) foi um autor de teatro francês. Começou por exercer o ofício de relojoeiro, foi mestre de música das filhas de Luís XV, sendo seu secretário, diplomata de bastidores e agente secreto. Na infância, estudou violão, flauta e harpa.
Beaumarchais é o criador do personagem Fígaro, presente na trilogia constituída pelas comédias O Barbeiro de Sevilha ou A Precaução Inútil (no original em francês, Le barbier de Séville, 1775), As Bodas de Fígaro (no original, em francês, La Folle journée, ou le Mariage de Figaro, 1784), e pelo drama A mãe culpada (no original francês, L'Autre Tartuffe, ou la Mère coupable, 1789-1790). Todas as três peças foram transformadas em óperas - por Paisiello, Rossini (Il barbiere di Siviglia), Mozart (Le nozze di Figaro) e Milhaud (La Mère coupable).

domingo, 27 de maio de 2018

ENTREVISTA COM LEANDRO KARNAL


Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e professor na Unicamp, o escritor e historiador Leandro Karnal se transformou em autor best-seller – com livros como Todos contra todos – O ódio nosso de cada dia (Leya), Diálogo de culturas (Contexto), Pecar e perdoar – Deus e o homem na história (HarperCollins), A detração – Breve ensaio sobre o maldizer (Unisinos), entre outros – e tem atuado como um dos intelectuais e pensadores mais solicitados do país para palestras, aulas e participações especiais que o transformaram em autêntico formador de opinião do Brasil contemporâneo. Ele acumula mais de 1 milhão de seguidores em redes sociais e seus vídeos e frases circulam com enorme popularidade na internet.
Super articulado e com um repertório de temas, argumentos e interesses que o aproximam de audiências das mais heterogêneas, Karnal, um ateu confesso, lançou recentemente dois novos livros, ambos realizados a quatro mãos e que têm a fé e a religiosidade como objeto de discussão. Em parceria com o Padre Fábio de Melo, fez Crer ou não crer (Planeta), que documenta várias conversas dos dois interlocutores. Com o professor Luiz Estevam de O. Fernandes é o coautor de Santos fortes – Raízes do sagrado no Brasil (Anfiteatro), em que reconstroem, com bom humor e simplicidade, biografias e hábitos religiosos do cotidiano de fé do Brasil a partir da trajetória de santos populares como São Jorge, São João e Santo Antônio, além de dedicarem um capítulo às múltiplas faces e títulos de Nossa Senhora e outro aos “santos fora do altar”, como Padre Cícero, escrava Anastácia e outros casos curiosos de devoção popular.
Colunista do jornal O Estado de S. Paulo e com participações diárias nas rádios e canais de TV do Grupo Bandeirantes, Karnal não para. Em janeiro de 2018 vai “refugiar-se” em um mês de estudo e pesquisa na Inglaterra, a terra do dramaturgo, para concluir um livro sobre Shakespeare. Também está trabalhando em um livro sobre preconceito e não perde de vista o desejo de melhorar seu texto, cuja fluência já é admirável, e seguir perseguindo a sabedoria como propósito de vida está lançando um livro com a monja zen budista Coen.
O senhor gosta de entrevistas? Por quê?
Leandro Karnal. A resposta deveria ser ambígua: sim porque é uma maneira de divulgar meu trabalho; sim porque por vezes existe empatia entre repórter/perguntas/entrevistado; sim porque as entrevistas mostram como alguém está me vendo e analisando; sim porque contemplam meu narciso; sim porque aprendo ao responder. Da mesma forma, não porque são muitas e perdem um pouco do viço da novidade; não porque repetem questões sobre as quais já falei inúmeras vezes; não porque algumas perguntas demandariam uma intimidade e uma sinceridade que ultrapassariam as fronteiras do permitido no momento e, por fim, não porque aparentemente o que eu queria dizer sobre um tema está em livros e palestras já minuciosamente explicitado.
Como surgiu a possibilidade de fazer Crer ou não crer?
Leandro Karnal. Li, há anos, Em que creem os que não creem (de Carlo Maria Martini e Umberto Eco), que era um debate epistolar entre um cardeal católico e um intelectual ateu. A ideia surgiu ali. Depois, mais recentemente, comprei A monstruosidade de Cristo (Slavoj Zizek e Jonh Milban) com propósito parecido mas maior pretensão e peso dos autores. A partir destas obras, pensei: o público brasileiro poderia ler algo entre pessoas que são conhecidas pela fé e pelo ateísmo. Acima de tudo, imaginei que o livro seria um bom debate pelo conteúdo, mas também pela atitude: nem eu e nem o Padre Fábio desejávamos “lacrar”, neologismo para calar o adversário com argumentos imbatíveis. Queríamos conversar sobre dois projetos distintos, com metas diversas, porém, mediadas pela humanidade de ambos e pela amizade.
Qual é o maior desafio para estabelecer o diálogo?
Leandro Karnal.Nenhum de nós é dogmático e ninguém precisava “vencer” o debate. Assim, quem procura sangue e apologética, vai se decepcionar com o texto. O Padre Fábio vive um cristianismo encarnado na existência, uma fé que busca o outro na sua fronteira e na sua especificidade. Ouso aproximar esta postura da de Jesus: janta com publicanos, festeja com Zaqueu, perdoa a adúltera e não faz da crença um aríete de humilhação do outro. Meu ateísmo nunca foi catequético e não quer ninguém abandonando sua crença por minha causa. A Cristologia encarnada do Padre Fábio e meu horror à catequese apologética aproximaram a conversa. Assim, embalados na serenidade do afeto, falamos das nossas posturas, convicções, alegrias e medos. Foi muito bom.
Como não cair na tentação do “ataque” ou da competição?
Leandro Karnal. A tentação do ataque revela insegurança do interlocutor e narciso fraturado. Ataco porque me incomoda e tento destruir minha dúvida atacando. Para alguns religiosos, a tentação tem origem no demônio. Para mim, tem origem na vaidade. Como a vaidade é o primeiro pecado de Lúcifer, podemos conversar tranquilamente sobre o lado obscuro da psique humana (ou da alma) que sente prazer provocando a dor no outro. A verdade está excluída deste tipo de debate. O debate vaidoso domina a internet. Como diria Paul Valéry, quem julga não vai ao fundo de uma questão.
De onde vem o seu interesse pelos santos populares do Brasil e como se deu o trabalho com o professor Luiz Estevam Fernandes para Santos fortes?
Leandro Karnal. Sou um estudioso de hagiografia há décadas. Meu doutorado tratou também disto. Dou cursos de pós-graduação sobre textos e fontes de sagrado, como a Bíblia ou a Legenda Áurea. Tenho um profundo interesse em tudo que expressa o humano. Luiz Estevam trabalha com América Colonial também e, como todo pesquisador de colônia, está imerso em fontes religiosas. O resultado foi um livro que nos deu muito prazer e muita vontade de debater e aprender.
O que é incontornável quando temas como fé e espiritualidade passam a ser objetos de interesse e pesquisa de um autor assumidamente ateu?
Leandro Karnal. Como pesquisa nada é incontornável. Uma vez eu disse a um entrevistador que eu era um ginecologista homem, pesquisava o que não tinha. A ideia é divertida, mas é parcial: o ginecologista não tem mas observa diariamente a existência real do que não possui no consultório. Poderia dizer: sou um psiquiatra, trabalho com esquizofrenia e tento entender os mecanismos do paciente que vê coisas que eu sei que não existem. Continuamos em um campo problemático, pois eu acabo de aproximar a fé de uma experiência de doença, algo que Freud imaginou, porém eu nunca compartilhei da convicção psicanalítica clássica sobre o tema. Eu prefiro dizer que o pesquisador, tendo fé ou não, tem a sedução do saber, a vontade de aprender, o desafio do seu objeto. O historiador Quentin Skinner diz que o bom pesquisador deve eleger temas fora da sua área de afeto, pois, caso contrário, acaba confundindo paixões com metodologia. Não segui o conselho do grande autor inglês: sou absolutamente seduzido por santos, relíquias, textos sacros, narrativas de milagres, peregrinações etc. Entro feliz em igrejas, observo imagens, participo de cerimônias, analiso liturgias e práticas. Estou finalizando um curso na pós da Unicamp sobre o teórico Michel de Certeau e a possessão [das freiras] de Loudun na França do século 17. Se fosse possível, passaria o resto da vida lendo e aprendendo sobre estes fatos, pois poucas coisas revelam tanto o humano como a religião e a religiosidade.
Que espaços podem ser preenchidos na história da cidadania no Brasil?
Leandro Karnal. Desde a origem, a cidadania no Brasil (ou nos EUA) foi concebida como um modelo ideal não acessível a todos. Na colônia, havia os “homens bons”, ou seja, brancos livres e ricos. Exerciam participação nas câmaras municipais. Nos EUA, o conceito era “nós, o povo” em 1776. Tanto lá como aqui o conceito ideal foi sendo ampliado para brancos pobres, negros, mulheres etc. Passados alguns séculos, nosso conceito de cidadania ainda é excludente. Pergunta técnica para cada um responder silenciosamente no seu quarto: o exército entrou na comunidade da Rocinha há pouco no Rio. Seria concebível a mesma operação em um condomínio de luxo da Barra da Tijuca ou em um prédio da Vila Nova Conceição, em São Paulo? Dependendo como você responder a esta pergunta de foro íntimo e de argumentação livre você estará demarcando um terreno sobre cidadania. Essa resposta é a sua fronteira sobre cidadania.
O que o senhor mais tem aprendido com seus alunos ou nas palestras que faz Brasil afora?
Leandro Karnal.Que o Brasil não é o governo do Brasil. Que o Brasil lota auditórios em uma sexta à noite para pensar sobre ética. Que o Brasil está muito irritado com os canalhas que nos governam, pelo menos com o grande número de canalhas, com honrosas e notáveis exceções de bons políticos. E, por incrível que pareça, a conclusão mais extraordinária é a mais banal: o Brasil não se resume a Rio e São Paulo.
A que atribui a sua habilidade com as palavras?
Leandro Karnal.Estudar literatura retórica ajuda muito: Cícero, Quintiliano, Bossuet, Vieira etc. Tenho um amor pelas palavras que foi reforçado na escola e encontrou apoio caseiro. Porém, existe uma prática também. Hoje eu falo um pouco melhor do que falava há 30 anos. Prática ajuda e, por fim, existe uma relação de desejo entre o orador e seu público e ela deve ser recíproca. Sou um professor: sempre quero que os alunos entendam. Para isto, humor, sínteses, imagens, gestos e gradação de voz ajudam. Meu objetivo maior é a compreensão. Conheço colegas brilhantes, geniais no conhecimento, densos no saber e que preferem nunca conspurcar a pureza do saber com sua sistematização para grandes públicos. Nunca achei que eles estivessem errados, mas meu objeto é o público e o que eu falo e escrevo é um signo aberto, mas acessível ao maior número possível.
Como lida com a notoriedade da pessoa pública em que se transformou?
Leandro Karnal.Nem sempre é fácil. A experiência do fã que me encontra é única e especial, mas para mim é a centésima do dia. Tenho me policiado sobre isto. Porém, nem sempre é fácil. Há aquele que gosta do que falo ou escrevo e sorri para mim, feliz e discreto. Há o que quer a foto apenas. Há o que imagina que sou seu amigo há tempos, porque a pessoa, como ouço, “vai para a cama comigo com frequência” (ou seja, ela me escuta quando vai dormir), todavia há o esquecimento que a intimidade, neste caso, é só dela. Há corporalidades variadas: algumas pessoas agarram muito, interagem não de forma calvinista, porém kamasútrica. E há os muito invasivos de jantares familiares ou até do momento no banheiro.
Que percepção tem da educação no Brasil em 2017?
Leandro Karnal.A escola é parte da minha vida. Acho que nós, educadores, estamos perdendo o bonde do mundo que rompeu com a memória como fonte e elegeu a criatividade como guia. Quando eu digo que perdemos o bonde já sinto que estou defasado até na metáfora. A escola, em geral, não percebeu que o celular é a memória das pessoas (como um HD externo) e que não há mais sentido na busca da memória como objetivo. Seria como insistir em usar nanquim na era do tablet ou reforçar números romanos como essenciais para a compreensão do mundo. O que é essencial é o aluno perceber o que é um sistema numérico simbólico ou posicional e isto ele pode saber estudando números maias.
Como lida com a responsabilidade de ser um formador de opinião?
Leandro Karnal. Este é um papel de grande responsabilidade e nem sempre tenho a extensão clara do que ocorre. Queria sempre lembrar que minha subjetividade permanece, que nunca é uma opinião isenta ou acima da história. Sempre insisto: não busque gurus, busque boas perguntas que uma pessoa pública pode estimular ou não. Nunca seja um minion.
O senhor diz que pessoas medíocres não conseguem perdoar o sucesso alheio. Isso acontece com o senhor?
Leandro Karnal. Acontece com todo mundo, inclusive comigo. Tenho a experiência que pessoas felizes com o que fazem (que pode ser algo muito simples) não se incomodam com o sucesso alheio. O ressentimento é uma erva daninha que nasce do solo da tristeza e da frustração. Todos invejamos e temos cobiça. Isso é parte da nossa natureza, minha inclusive. Porém, o que me incomoda é como algumas pessoas insistem em fazer o papel da mariposa e continuam se queimando ao tocar em uma luz que não é a sua. Pior, a luz da pessoa poderia ser intensa, bastaria deixar de se sentir atraído pela gravidade do astro ao lado. Queria dizer a todos, a todas e a mim mesmo sempre: busque sua luz, seu caminho, sua senda e sejam mais felizes. Há muita dor no voo vicário.
A que atribui o seu sucesso?
Leandro Karnal.Não sei. Realmente não sei. Talvez não exista uma explicação razoável e racional. Existem fatores: momento, preparo, inclinações e novos meios de difusão. Ao responder isto, já incorro na soberba de concordar que sou uma pessoa de sucesso. Seria também possível dizer que fama ou venda de livros ou demanda de palestras é sim um indicador de um tipo de sucesso. Em outros campos este brilho pode não ser tão intenso ou marcante. Ou seja: ninguém é um sucesso total.
Quais são os projetos que o mobilizam atualmente?
Leandro Karnal. Estou escrevendo sobre Shakespeare e vou passar o mês de janeiro estudando na Inglaterra para isto. Tenho um livro sobre preconceito sendo elaborado, quero melhorar minha escrita e mudar a maneira de fazer palestra de forma muito radical. Tenho tentado me reinventar e continuar pensando. Amo o que faço, adoro ser professor, adoro a Unicamp e meus alunos, sou feliz com as férias que faço com a família e gostaria de melhorar muito como pessoa. Está difícil, mas tenho grande mobilização interna para tentar ser sábio um dia. Mesmo!


Fonte: https://livrariadavila.com.br/entrevista-leandro-karnal/

segunda-feira, 30 de maio de 2022

BURGUESIA X PROLETARIADO

 



Nota de Engels no Manifesto Comunista (1888)





Extraído de:

MARX, Karl & ENGELS, Friedrick. The Communist Manifesto. Ed. by Samuel H. Beer. Appleton-Century-Crofts, Inc. New York, 1955.


         No Manifesto Comunista, Marx & Engels, depois de demonstrar que o espectro do comunismo rondava pela Europa, iniciam a parte seguinte como tema Burguesia e Proletariado. E Engels de forma monumental em sua Introdução à Edição Inglesa de 1888, conceitua de forma definitiva o que é burguesia e o que é proletariado. Dando corretamente o nome aos bois: "Em francês, burguês significa citadino" - daí advindo cidadão, cidadania. e " Por 'burguesia' entende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores do trabalho assalariado; logo em seguida "por 'proletariado', entende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não tendo meios de produção próprios, são reduzidos a vender sua força de trabalho para viver."

¹ In French bourgeois means a town-dweller. “Proletarian” comes from the latin, proletarius, wich meant a person whose sole wealth was offspring (proles).

¹ Em francês, burguês significa citadino. “Proletário” vem do latim, proletarius, que significava uma pessoa cuja única riqueza era a prole (proles).

[Note by Engels] By “bourgeoisie” is meant the class of modern capitalist, owners of the means of social production and employers of wage-labor;

[Nota de Engels] Por “burguesia” entende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores do trabalho assalariado;

by “proletariat”, the class of modern wage-labores Who, having no means of production of their own, are reduced to selling their labor power in order to live.

por “proletariado”, entende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não tendo meios de produção próprios, são reduzidos a vender sua força de trabalho para viver.

          Essa conceituação nos demonstra que:

A BURGUESIA – é a classe social da sociedade capitalista (não de outra, mas só e somente só da sociedade capitalista). Capitalistas Modernos – reforça que o capitalismo surgiu nos tempos modernos da história (1453 – 1789) e desenvolveu-se pela história contemporânea, demonstra também que a burguesia embora anterior ao capitalismo é a classe que o implementa e por isso é inicialmente revolucionária e extremamente reacionária quando atinge seus objetivos.

A BURGUESIA – classe detentora (dona, proprietária) dos meios de produção, que nada mais é que as terras, ferramentas, máquinas, indústrias, comércios, bancos, enfim dona do capital.

A BURGUESIA – é a classe social que emprega, ou seja, compra a força de trabalho do proletariado, em horas de trabalho. Logo a relação de produção é assalariada. E é daí que advém o lucro, pois os trabalhadores proletarizados que vendem suas horas trabalhadas, ao colocar em andamento o processo de produção, sempre produzem mercadorias com um valor bem superior que do seu próprio salário, essa é a chamada mais-valia, que vai ser extremamente desenvolvida na obra fenomenal de Marx “O Capital”.

PROLETARIADO – classe social no capitalismo que não possuindo os meios de produção, são proprietários apenas da sua força de trabalho que vendem para os burgueses (capitalistas) em troca de um salário dentro de uma jornada horária estipulada. Produzem mais valor do que recebem como salário e por isso aumentam os lucros e o capital dos burgueses.

PROLETARIADO é considerado um trabalhador livre, livre de ter terra, livre de ter meios de produção, livre de ter suas ferramentas, (sua liberdade vem da condição de não ser proprietário, nem propriedade como no escravismo e, de certo modo no feudalismo) afinal o proletário só possui sua prole, que tem que manter viva e por isso vender sua única propriedade: a força de trabalho. E quem a compra é o burguês, onde a concorrência (desemprego) é favorável para que o mesmo compre-a por valores mais baixos, aumentando assim sua mais-valia.

Veja também:

O NOME DA ROSA

O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

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