domingo, 12 de maio de 2013

O MANIFESTO COMUNISTA DE KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS


Manifesto do Partido Comunista


            Um espectro ronda a Europa - o espectro do comu­nismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha.

            Que partido de oposição não foi acusado de comunista pôr seus adversários no poder? Que partido de oposição, pôr sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de comunista?


            Duas conclusões decorrem desses fatos:       

            1.ª O comunismo já é reconhecido como força pôr todas as potências da Europa;

            2.ª É Tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas ten­dências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo.

            Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.


Burgueses e Proletários (1)


            A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias (2) tem sido a história das lutas de classes.

            Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou pôr uma transfor­mação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destrui­ção das duas classes em luta.

            Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase pôr toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.

            A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruí­nas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que exis­tiram no passado.

            Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se pôr ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

            Dos servos da Idade Média nasceram os burgueses livres das primeiras cidades; desta população municipal, saíram os primeiros elementos da burguesia.

            A descoberta da América, a circunavegação da África ofereceram à burguesia em assenso um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indús­tria, à navegação, e, pôr conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição.

            A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.

            Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milio­nários da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.

            A grande indústria criou o mercado mundial prepa­rado pela descoberta da América: O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação pôr terra. Este desenvolvimento reagiu pôr sua vez sobre a extensão da indústria; e, à medida que a indústria, o comércio, a navegação, as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média.

            Vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca.

            Cada etapa da evolução percorrida, pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna (3); aqui, república urbana independente, ali, terceiro estado, tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.

            A burguesia desempenhou na História um papel emi­nentemente revolucionário.

            Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais" ela os despe­daçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do senti­mentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada pôr ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.

            A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados.

            A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.

            A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média, tão admirada pela reação, encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que pode realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais góticas; conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as Cruzadas.

            A burguesia só pode existir com a condição de revo­lucionar incessantemente os instrumentos de produção, pôr conseguinte, as relações de produção e, como isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes indus­triais anteriores. Essa revolução contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas.

            Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda, parte.

            Pela exploração do mercado mundial a burguesia im­prime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas pôr novas indústrias, cuja intro­dução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias­-primas autóctones, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos pro­dutos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longín­quas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.

            As criações intelectuais de uma nação tornam-se proprie­dade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inú­meras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal.

            Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comu­nicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.

            A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente. a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países bárbaros ou semi-bárbaros aos países civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente.

            A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglo­merou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A conse­qüência necessária dessas transformações foi a centrali­zação política. Províncias independentes, apenas ligadas pôr débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.

            A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na terra como pôr encanto - que século anterior teria suspeitado que seme­lhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social?

            Vemos, pois: os meios de produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal. Em certo grau do desenvolvimento desses meios de produção e de troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, a .organização feudal da agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade, deixaram de corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento. Entravavam a produção em lugar de impulsioná-la. Transformaram-se em outras tantas cadeias que era preciso despedaçar; foram despedaçadas.

            Em seu lugar, estabeleceu-se a livre concorrência, com uma organização social e política correspondente, com a supremacia econômica e política da classe burguesa.

            Assistimos hoje a um processo semelhante. As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências in­fernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um estado de barbaria momentânea; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E pôr quê? Porque a sociedade possui demasiada civili­zação, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, torna­ram-se pôr demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.

            As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que mane­jarão essas armas - os operários modernos, os proletários. Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comér­cio como qualquer outro; em conseqüência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutua­ções do mercado.

            O crescente emprego de máquinas e a divisão do tra­balho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência. Ora, o preço do trabalho (4), como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários. Mais ainda, a quantidade de trabalho cresce com o desenvolvimento do maquinismo e da divisão do trabalho, quer pelo prolongamento das horas de labor, quer pelo aumento do trabalho exigido em um tempo determinado, pela aceleração do movimento das máquinas, etc.

            A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoados na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado bur­guês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica.

            E esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.

            Quanto menos o trabalho exige habilidade e força, isto é, quanto mais a indústria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das mu­lheres e crianças. As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância social para a classe operária. Não há senão instrumentos de trabalho, cujo preço varia segundo a idade e o sexo.

            Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia, do proprietário, do varejista, do usurário, etc.

            As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado: uns porque seus pequenos ca­pitais, não lhes permitindo empregar os processos da grande indústria, sucumbiram na concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua habilidade pro­fissional é depreciada pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da população.

            O proletariado passa pôr diferentes fases de desen­volvimento. Logo que nasce começa sua luta contra a burguesia.

            A princípio, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção: destroem as merca­dorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média.

            Nessa fase, constitui o proletariado massa disseminada ­pôr todo o país e dispersa pela concorrência. Se, pôr vezes, os operários se unem para agir em massa compacta, isto não é ainda o resultado de sua própria união, mas da união da burguesia que, para atingir seus próprios fins políticos, é levada a pôr em movimento todo o proletariado, o que ainda pode fazer provisoriamente. Durante essa fase, os proletários não combatem ainda seus próprios inimigos, mas os inimigos de seus inimigos, isto é, os restos da monarquia absoluta, os proprietários territoriais, os burgueses não industriais, os pequenos burgueses.   Todo o movimento histórico está desse modo concentrado nas mães da burguesia e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa.

            Ora, a indústria, desenvolvendo-se, não somente au­menta o número dos proletários, mas concentra-os em massas cada vez mais consideráveis; sua força cresce e eles adquirem maior consciência dela. Os interesses, as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais, à medida que a máquina extingue toda diferença do trabalho e quase pôr toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo. Em virtude da concorrência crescente dos burgueses entre si e devido às crises comer­ciais que disso resultam, os salários se tornam cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques indivi­duais entre o operário e o burguês tomam cada vez mais o caráter de choques entre duas classes. Os operários começam a formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários; chegam a fundar associações permanentes a fim de se prepararem, na previsão daqueles choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim.

            Os operários triunfam às vezes; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de localidades diferentes.           Ora, basta esse contato para concentrar as numerosas lutas locais, que têm o mesmo caráter em toda parte, em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes é uma luta política. E a união que os habitantes das cidades da Idade Média levavam séculos a realizar, com seus caminhos vicinais, os proletários modernos realizam em alguns anos pôr meio das vias férreas.

            A organização do proletariado em classe e, portanto, em partido político, é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários. Mas renasce sempre, e cada vez mais forte, mais firme, mais poderosa. Aproveita-se das divisões intestinas da burguesia para obrigá-la ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária, como, pôr exemplo, a lei da jornada de dez horas de trabalho na Inglaterra.

            Em geral, os choques que se produzem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A burguesia vive em guerra perpétua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria; e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros. Em todas essas lutas, vê-se forçada a apelar para o proletariado, reclamar seu concurso e arrastá-lo assim para o movimento político, de modo que a burguesia fornece aos proletários os ele­mentos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria.

            Demais, como já vimos, frações inteiras da classe dominante, em conseqüência do desenvolvimento da in­dústria são precipitadas no proletariado, ou ameaçadas, pelo menos, em suas condições de existência. Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educação.

            Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe, revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto.

          De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado pelo contrário, é seu produto mais autêntico. As classes médias - pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses - combatem a burguês “porque esta compromete sua existência como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da História. Quando são revolucionárias é  em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem então seus interesses atuais, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado.

            O lumpen-proletariado, esse produto passivo da putre­fação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento pôr uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se a reação.

            Nas condições de existência do proletariado já estão destruídas as da velha sociedade. O proletário não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos nada têm de comum com as relações familiares burguesas. O trabalho industrial moderno, a sujeição do operário pelo capital, tanto na Inglaterra como na França, na América como na Alemanha, despoja o proletário de todo caráter nacional. As leis, a moral, a religião são para ele meros preconceitos burgueses, atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses.

            Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições de apropriação. Os prole­tários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação que era próprio a estas e, pôr conseguinte, todo modo de apropriação em vigor até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes.

            Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o movimento independente da imensa maioria em proveito da imensa maioria. O pro­letariado, a camada inferior da sociedade atual, não pode erguer-se, pôr-se de pé, sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial.

            A luta do proletariado contra a burguesia, embora não seja na essência uma luta nacional, reverte-se, contudo dessa forma nos primeiros tempos. É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.

            Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.

            Todas as sociedades anteriores, como vimos, se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimi­das. Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantir­-lhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência de escravo: O servo, em plena servidão, conse­guia tornar-se membro da comuna, da mesma forma que o pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal, elevava-se à categoria de burguês. O operário moderno, pelo contrário, longe de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez mais abaixo das condições de sua própria classe. O trabalhador cai no pauperismo, e este cresce ainda mais rapidamente que a população e a riqueza. É, pois, evidente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante; e de impor à sociedade, como lei suprema, as condições de existência de sua classe. Não pode exercer o seu ' domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo, mesmo no quadro de sua escravidão, porque é obrigada a deixá-lo cair numa tal situação, que deve nutri-lo em lugar de se fazer nutrir pôr ele. A sociedade não pode mais existir sob sua dominação, o que quer dizer que a existência da burguesia é, doravante, incompatível com a da sociedade.

            A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assala­riado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O progresso da indústria, de que a burguesia é agente passivo e inconsciente, substitui o isolamento dos operários, resultante de sua competição, pôr sua união revolucionária mediante a associação. Assim, o desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.


II


Proletários e comunistas


Qual a posição dos comunistas diante dos proletários em geral?

            Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários.

            Não têm interesses que os separem do proletariado em geral.

            Não proclamam princípios particulares, segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário.

            Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos: 1) Nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado, independentemente da naciona­lidade;  2) Nas diferentes fases pôr que passa a luta entre proletários e burgueses, representam, sempre e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto.

            Praticamente, os comunistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais; teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário.

            O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia bur­guesa, conquista do poder político pelo proletariado.

As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em idéias ou princípios inventados ou descobertos pôr tal ou qual reformador do mundo.

            São apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que têm existido até hoje não é uma característica peculiar e exclusiva do comunismo.

            Todas as relações de propriedade têm passado pôr modificações constantes em conseqüência das contínuas transformações das condições históricas.

            A Revolução Francesa, pôr exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa.

            O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classe, na exploração de uns pelos outros.

            Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada. Censuram-nos, a nós comunistas, o querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que se declara ser a base de toda liberdade, de toda independência individual.

            A propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Pretende-se falar da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, forma de propriedade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. Ou pôr ventura pretende-se falar da pro­priedade privada atual, da propriedade burguesa? Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua forma atual a propriedade se move entre os dois termos antagônicos: capital e trabalho.

            Examinemos os dois termos dessa antinomia. 

            Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na pro­dução. O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade.

            O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social.  Assim, quando o capital é transformado em proprie­dade comum, pertencente a todos os membros da socie­dade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.           

            Passemos ao trabalho assalariado.

            O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário, isto é, a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário viva como operário. Pôr conseguinte, o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para a mera conservação e reprodução de sua vida. Não queremos de nenhum modo abolir essa apropriação pessoal dos pro­dutos do trabalho, indispensável à manutenção e à repro­dução da vida humana, pois essa apropriação não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio. O que queremos é suprimir o caráter miserável desta, apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante.

            Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar, enriquecer e melhorar cada vez mais a existência dos trabalhadores.

            Na sociedade burguesa, o passado domina o presente; na sociedade comunista é o presente que domina o passado. Na sociedade burguesa, o capital é independente e pessoal, ao passo que o indivíduo que trabalha não tem nem independência nem personalidade. A abolição de semelhante estado de coisas que a burguesia verbera como a abolição da individualidade e da liberdade. E com razão. Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa, a independência burguesa, a liberdade burguesa.

            Pôr liberdade, nas condições atuais da produção bur­guesa, compreende-se a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e vender.

            Mas, se o tráfico desaparece, desaparecerá também a liberdade de traficar. Demais, toda a fraseologia sobre a liberdade de comércio, bem como todas as basófias liberais de nossa burguesia só têm sentido quando se referem ao comércio tolhido e ao burguês oprimido da Idade Média; nenhum sentido têm quando se trata da abolição comunista do tráfico, das relações burguesas de produção e da própria burguesia.

            Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas em vossa sociedade a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar de toda propriedade a imensa maioria da sociedade.

            Em resumo, acusai-nos de querer abolir vossa propriedade. De fato, é isso que queremos.

            Desde o momento em que o trabalho não mais pode ser convertido em capital, em dinheiro, em renda da terra, numa palavra, em poder social capaz de ser mo­nopolizado, isto é, desde o momento em que a propriedade individual não possa mais se converter em propriedade burguesa, declarais que a individualidade está suprimida.

            Confessais, pois, que quando falais do indivíduo, quereis referir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve ser suprimido.

            O comunismo não retira a ninguém o poder de apro­priar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem pôr meio dessa apropriação.

            Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo.

            Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois que os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir capital.

            As acusações feitas contra o modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais têm sido feitas igualmente contra a produção e a apropriação dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o desa­parecimento da propriedade de classe equivale, para o burguês, ao desaparecimento de toda a produção, também o desaparecimento da cultura de classe significa, para ele, o desaparecimento de toda a cultura.

            A cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas.

            Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade, cultura, direito, etc. Vossas próprias idéias decorrem do regime burguês de produção e de propriedade burguesa, assim como vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe.

            A falsa concepção interesseira que vos leva a erigir em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de propriedade - relações transitórias que surgem e desaparecem no curso da produção - a compartilhais com todas as classes dominantes já desaparecidas. O que admitis para a propriedade antiga, o que admitis para a propriedade feudal, já não vos atreveis a admitir para a propriedade burguesa.

            Abolição da família! Até os mais radicais ficam indig­nados diante desse desígnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no ganho individual. A família, na sua plenitude, só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da fa­mília para o proletário e na prostituição pública.

            A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e uma e outra desapa­recerão com o desaparecimento do capital.

            Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças pôr seus próprios pais? Confessamos este crime.

            Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social. E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade pôr meio de vossas escolas, etc.? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação à influência da classe dominante.

            As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho.

            Toda a burguesia grita em coro: "Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!"

            Para o burguês, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instru­mentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel atual de simples instrumento de produção.

            Nada mais grotesco, aliás, que a virtuosa indignação que, a nossos burgueses, inspira a pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas. Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres. Esta quase sempre existiu.

            Nossos burgueses, não contentes em ter à sua dis­posição as mulheres e as filhas dos proletários, sem falar da prostituição oficial, têm singular prazer em cornearem-se uns aos outros.

            O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas.    No máximo, poderiam acusar os comunistas de querer substituir uma comunidade de mu­lheres, hipócrita e dissimulada, pôr outra que seria franca e oficial. De resto, é evidente que, com a abolição das relações de produção atuais, a comunidade das mu­lheres que deriva dessas relações, isto é, a prostituição oficial e não oficial, desaparecerá.

            Além disso, os comunistas são acusados de querer abolir a pátria, a nacionalidade.

            Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. Como, porém, o proletariado tem pôr objetivo conquistar o poder político e erigir-se em classe dirigente da nação, tornar-se ele mesmo a na­ção, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no sentido burguês da palavra.

            As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvi­mento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção in­dustrial e as condições de existência que lhe correspondem.

            A supremacia do proletariado fará com que tais de­marcações e antagonismos desapareçam ainda mais de­pressa. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação.

            Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra.

            Quando os antagonismos de classe, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações.

            Quanto às acusações feitas aos comunistas em nome da religião, da filosofia e da ideologia em geral, não merecem um exame aprofundado.

            Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias, as noções e as concepções, numa palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mu­dança sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social?

            Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com a produção ma­terial? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante.

            Quando se fala de idéias que revolucionam uma socie­dade inteira, isto quer dizer que, no seio da velha sociedade, se formaram os elementos de uma nova sociedade e que a dissolução das velhas idéias marcha de par com a dissolução das antigas condições de vida.

            Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram vencidas pela religião cristã; quando, no século XVIII, as idéias cristãs cederam lugar às idéias raciona­listas, a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária. As idéias de liberdade religiosa e de liberdade de consciência não fizeram mais que proclamar o império da livre concor­rência no domínio do conhecimento.

            "Sem dúvida, - dir-se-á - as idéias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas, etc., modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas a religião, a moral, a filosofia, a política, o direito mantiveram-se sempre através dessas transformações.

            Além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça, etc., que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a moral, em lugar de lhes dar uma nova forma, e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior."

            A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias consiste no desenvolvimento dos antagonismos de classe, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas. Mas qualquer que tenha sido a forma desses anta­gonismos, a exploração de uma parte da sociedade pôr outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso que a consciência social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob certas formas comuns, formas de consciência que só se dissolverão com­pletamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classe.

            A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais.

            Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao comunismo.

            Vimos acima que a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante, a conquista da democracia.

            O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas.

            Isto naturalmente só poderá realizar-se, a principio, pôr uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispen­sáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção.

            Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países.

            Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática:         

            1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado.

            2. Imposto fortemente progressivo.

            3. Abolição do direito de herança.

            4. Confiscação da propriedade de todas os emigrados e sediciosos.

            5. Centralização do crédito nas mãos do Estado pôr

meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo.

            6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte.

            7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.

            8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.

            9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo (5)

            10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a pro­dução material, etc.         

            Uma vez desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente dita nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe, se se converte pôr uma revolução em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói, justamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes, destrói as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.

            Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classe, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.



Literatura socialista e comunista


1

O SOCIALISMO REACIONÁRIO


a

O SOCIALISMO FEUDAL


Devido à sua posição histórica, as aristocracias da França e da Inglaterra viram-se chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa. Na revolução francesa de julho de 1830 e no movimento reformador inglês, tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arrivista. Elas não podiam mais travar uma luta política séria; só lhes restava a luta literária. Ora, também no domínio literário, tornara-se impossível a velha fraseologia da Restauração (6).

            Para criar simpatias, era preciso que a aristocracia fingisse descurar seus próprios interesses e dirigisse sua acusação contra a burguesia, aparentando defender ape­nas os interesses da classe operária explorada. Desse modo, entregou-se ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de lhe segredar ao ouvida profecias de mau augúrio.

            Assim nasceu o socialismo feudal, onde se mesclavam jeremiadas e libelos, ecos do passado e ameaça sobre o futuro. Se pôr vezes a sua crítica amarga, mordaz e espirituosa feriu a burguesia no coração, sua impotência absoluta de compreender a marcha da História moderna terminou sempre pôr um efeito cômico.

            A guisa de bandeira, estes senhores arvoraram a sacola do mendigo, a fim de atrair o povo; mas logo que este acorreu, notou suas costas ornadas com os velhos brasões feudais e dispersou-se com grandes gargalhadas irreve­rentes.

            Uma parte dos legitimistas franceses e a "Jovem Inglaterra", ofereceram ao mundo esse espetáculo diver­tido (7).

            Quando os campeões do feudalismo demonstram que o modo de exploração feudal era diferente do da burgue­sia, esquecem uma coisa: que o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas e hoje em dia caducas. Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia, esquecem uma coisa: que a burguesia moderna é precisamente um fruto neces­sário de seu regime social. 

            Aliás, ocultam tão pouco o caráter reacionário de sua crítica, que sua principal queixa contra a burguesia con­siste justamente em dizer que esta assegura sob o seu regime o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social, da árvore da indústria e trocar honra, amor e fidelidade, pelo comércio de lã, açúcar de beterraba e aguardente (8)

            Do mesmo modo que o pároco e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas, o socialismo clerical marcha lado a lado com o socialismo feudal.

            Nada é mais fácil que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista. Não se ergueu também o cris­tianismo contra a propriedade privada, o matrimônio e o Estado? E em seu lugar não predicou a caridade e a pobreza, o celibato e a mortificação da carne, a vida monástica e a igreja? O socialismo cristão não passa de água benta com que o padre consagra o despeito da aristocracia.


b

O SOCIALISMO PEQUENO-BURGUÊS


Não é a aristocracia feudal a única classe arruinada pela burguesia, não é a única classe cujas condições de existência se estiolam e perecem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os pequenos campo­neses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna. Nos países onde o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos, esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão.

            Nos países onde a civilização moderna está flores­cente forma-se uma nova classe de pequeno burgueses, que oscila entre o proletariado e a burguesia; fração complementar da sociedade burguesa, ela se reconstitui incessantemente. Mas os indivíduos que a compõem se vêem constantemente precipitados no proletariado, de­vido à concorrência; e, com a marcha progressiva da grande indústria, sentem aproximar-se o momento em que desaparecerão completamente como fração indepen­dente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio, na manufatura, na agricultura, pôr capa­tazes e empregados.

            Nos países como a França, onde os camponeses cons­tituem bem mais da metade da população, é natural que os escritores que se batiam pelo proletariado contra a burguesia, aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios pequeno-burgueses e camponeses e defendes­sem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia. Desse modo se formou o socialismo pequeno­-burguês. Sismondi é o chefe dessa literatura, não somente na França, mas também na Inglaterra.

            Esse socialismo analisou com muita penetração as contradições inerentes às relações de produção modernas. Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas. Demonstrou de um modo irrefutável os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho, a concentração dos capitais e da propriedade territorial, a superprodu­ção, as crises, a decadência inevitável dos pequenos bur­gueses e camponeses, a miséria do proletariado, a anarquia na produção, a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas, a guerra industrial de extermínio entre as nações, a dissolução dos velhos costumes, das velhas relações de família, das velhas nacionalidades.

            Todavia, a finalidade real desse socialismo pequeno­-burguês é ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e, com eles, as antigas relações de propriedade e toda a sociedade antiga, ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade que foram destruídas e necessariamente despedaçadas pôr eles. Num e noutro caso, esse socialismo é ao mesmo tempo rea­cionário e utópico.

            Para a manufatura, o regime corporativo; para a agricultura, o regime patriarcal: eis a sua última palavra. Pôr fim, quando os obstinados fatos históricos lhe fizeram passar completamente a embriaguez, essa escola socialista abandonou-se a uma verdadeira prostração de espírito.


c

O SOCIALISMO ALEMÃO OU O “VERDADEIRO” SOCIALISMO


A literatura socialista e comunista da França, nascida sob a pressão de uma burguesia dominante, expressão literária da revolta contra esse domínio, foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal.

            Filósofos, semifilósofos e impostores alemães lança­ram-se avidamente sobre essa literatura, mas esqueceram que, com a importação da literatura francesa na Alema­nha, não eram importadas ao mesmo tempo as condições sociais da França. Nas condições alemãs, a literatura francesa perdeu toda significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário. Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da natureza humana. Pôr isso, as reivindicações da primeira revolução francesa. só eram, para os filósofos alemães do século XVIII, as reivindicações da "razão prática" em geral; e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava a seus olhos senão as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana.

            O trabalho dos literatos alemães limitou-se a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha cons­ciência, filosófica ou, antes, a apropriar-se das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico.

            Apropriaram-se delas como se assimila uma língua estrangeira: pela tradução. Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras clássicas da antigüidade pagã com absurdas lendas sobre santos católicos. Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana. Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês. Pôr exemplo, sob a crítica francesa das funções do dinheiro, escreveram da "alienação humana"; sob a critica francesa do Estado burguês, escreveram "elimi­nação do poder da universidade abstrata", e assim pôr diante.

            A esta interpolação da fraseologia filosófica nas teorias francesas deram o nome de "filosofia da ação", "verda­deiro socialismo", "ciência alemã do socialismo", "justifi­cação filosófica do socialismo", etc.

            Desse modo, emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesa. E como nas mãos dos alemães essa literatura deixou de ser a expressão da luta de uma classe contra outra, eles se felicitaram pôr ter-se elevado acima da "estreiteza francesa" e ter defendido não verdadeiras necessidades, mas a "necessidade do verdadeiro"; não os interesses do proletário, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do homem que não pertence a nenhuma classe nem a realidade alguma e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica.

            Esse socialismo alemão que tão solenemente levava a sério seus desajeitados exercícios de escolar e que os apregoava tão charlatanescamente, perdeu, não obstante, pouco a pouco, seu inocente pedantismo.

            A luta da burguesia alemã e especialmente da burguesia prussiana contra os feudais e a monarquia absoluta, numa palavra, o movimento liberal, tornou-se mais séria.

            Desse modo, apresentou-se ao verdadeiro socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas. Pôde lançar os anátemas tradicionais contra o liberalismo, o regime re­presentativo, a concorrência burguesa, a liberdade bur­guesa de imprensa, o direito burguês, a liberdade e a igualdade burguesas; pôde pregar às massas que nada tinham a ganhar, mas, pelo contrário, tudo a perder nesse movimento burguês. O socialismo alemão esqueceu, muito a propósito, que a crítica francesa, da qual era o eco monótono, pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe corres­pondem e uma constituição política adequada - preci­samente as coisas que, na Alemanha, se tratava ainda de conquistar.

            Para os governos absolutos da Alemanha, com seu cortejo de padres, pedagogos, fidalgos rurais e burocratas, esse socialismo converteu-se em espantalho para ame­drontar a burguesia que se erguia ameaçadora.

Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros e às chico­tadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães.

            Se o verdadeiro socialismo se tornou assim uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã, repre­sentava além disso, diretamente, um interesse reacionário, o interesse da pequena burguesia alemã. A classe dos pequenos burgueses, legada pelo século XVI, e desde então renascendo sem cessar sob formas diversas, constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido.

            Mantê-la é manter na Alemanha o regime estabelecido. A supremacia industrial e política da burguesia ameaça a pequena burguesia de destruição certa, de um lado, pela concentração dos capitais, de outro, pelo desenvol­vimento de um proletariado revolucionário. O verdadeiro socialismo pareceu aos pequenos burgueses como uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos. Propagou-se como uma epidemia.

            A roupagem tecida com os fios imateriais da especula­ção, bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental, essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas "ver­dades eternas", não fez senão ativar a venda de sua mercadoria entre tal público.

            Pôr outro lado, o socialismo alemão compreendeu cada vez mais que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia.

            Proclamou que a nação alemã era a nação tipo, e o filisteu alemão, o homem tipo. A todas as infâmias desse homem tipo deu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, que as tornava exatamente o contrário do que eram. Foi conseqüente até o fim, levantando-se contra a tendência "brutalmente destruidora" do comunismo declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes. Com poucas exceções, todas as pre­tensas publicações socialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencem a esta imunda e enervante literatura (9).




2

O SOCIALISMO CONSERVADOR OU BURGUÊS


            Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa. Nessa categoria enfileiram-se os economistas, os filan­tropos, os humanitários, os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências, os protetores dos animais, os fundadores das socie­dades de temperança, enfim os reformadores de gabinete de toda categoria. Chegou-se até a elaborar esse socia­lismo burguês em sistemas completos.

            Como exemplo, citemos a Filosofia da Miséria, de Proudhon.

            Os socialistas burgueses querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e a dissol­vem. Querem a burguesia sem o proletariado. Como é natural, a burguesia concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos possível. O socialismo burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora. Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém, no fundo o que pretende é induzi-lo a manter-se na sociedade atual, desembaraçando-se, porém, do ódio que ele vota a essa sociedade

            Outra forma desse socialismo, menos sistemática, porém mais prática, procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário, demons­trando-lhes que não será tal ou qual mudança política, mas somente uma transformação das condições da vida material e das relações econômicas, que poderá ser pro­veitosa para eles. Notai que, pôr transformação das con­dições da vida material, esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produ­ção - o que só é possível pôr via revolucionária, - mas, apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesas e que, portanto, não afetam as relações entre o capital e o trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com seu domínio e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado.

            O socialismo burguês só atinge uma expressão ade­quada quando se torna uma simples figura de retórica.

            Livre câmbio, no interesse da classe operária! Tarifas protetoras, no interesse da classe operária! Prisões celu­lares (10) no interesse da classe operária! Eis sua última palavra, a única pronunciada seriamente pelo socialismo burguês.

            Ele se resume nesta frase: os burgueses são burgueses - no interesse da classe operária.



3

O SOCIALISMO E O COMUNISMO CRÍTICO-UTÓPICOS


            Não se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revoluções modernas, formulou as reivindicações do pro­letariado (escritos de Babeuf, etc) .

            As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe, feitas numa época de efervescência geral, no período da derru­bada da sociedade feudal, fracassaram necessariamente não só pôr causa do estado embrionário do próprio pro­letariado, como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação, condições que apenas surgem como produto do advento da época burguesa. A literatura revo­lucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacio­nário. Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo.

            Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de Saint-Simon, Fourier, Owen, etc., aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a bur­guesia, período acima descrito. (Ver o cap. Burgueses e Proletários) .

            Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes, assim como a ação dos elemen­tos dissolventes na própria sociedade dominante. Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histó­rica, nenhum movimento político que lhe seja próprio.

            Como o desenvolvimento dos antagonismos de clas­se marcha de par com o desenvolvimento da indústria não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado e põem-se à procura de uma ciência social, de leis sociais, que permitam criar essas condições.

            A atividade social substituem sua própria imaginação pessoal; as condições históricas da emancipação, condi­ções fantasistas; à organização gradual e espontânea do proletariado em classe, uma organização da sociedade pré-fabricada pôr eles. A história futura do mundo se resume, para eles, na propaganda e na prática de seus planos de organização social.

            Todavia, na confecção de seus planos, têm a convic­ção de defender antes de tudo os interesses da classe operária, porque é a classe mais sofredora. A classe operária só existe para eles sob esse aspecto de classe mais sofredora.

            Mas, a forma rudimentar da luta de classes e sua própria posição social os levam a considerar-se bem acima de qualquer antagonismo de classe. Desejam me­lhorar as condições materiais de vida para todos os membros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Pôr conseguinte, não cessam de apelar indistintamente para a sociedade inteira, e mesmo se dirigem de prefe­rência à classe dominante. Pois, na verdade, basta com­preender seu sistema para reconhecer que é o melhor dos planos possíveis para a melhor das sociedades pos­síveis.

            Repelem, portanto, toda ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária, procuram atingir seu fim pôr meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo, pôr experiências em pequena escala que, naturalmente, sempre fracassam.

            A descrição fantasista da sociedade futura, feita numa época em que o proletariado, pouco desenvolvido ainda, encara sua própria posição de um modo fantasista, corresponde às primeiras aspirações instintivas dos ope­rários a uma completa transformação da sociedade.

            Mas essas obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos. Atacam a sociedade existente em suas bases. Pôr conseguinte, forneceram em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários. Suas propostas positivas relativas à sociedade futura, tais como a supressão da distinção entre a cidade e o campo, a abolição da família, do lucro privado e do trabalho assalariado, a proclamação da harmonia social e a trans­formação do Estado numa simples administração da produção, todas essas propostas apenas anunciam o desa­parecimento do antagonismo entre as classes, antago­nismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas. Assim, essas pro­postas têm um sentido puramente utópico.

            A importância do socialismo e do comunismo crítico­-utópicos está na razão inversa do desenvolvimento his­tórico. A medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas, o fantástico afã de abstrair-se dela, essa fantástica oposição que se lhe faz, perde qual­quer valor prático, qualquer justificação teórica. Eis porque, se, em muitos aspectos, os fundadores desses sistemas eram revolucionários, as seitas formadas pôr seus discípulos são sempre reacionárias, pois se aferram às velhas concepções de seus mestres apesar do ulterior desenvolvimento histórico do proletariado. Procuram, portanto, e nisto são conseqüentes, atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais: estabelecimento de falanstérios isolados, criação de colô­nias no interior, fundação de uma pequena Icária (11), edição in 12 da nova Jerusalém e, para dar realidade a todos esses castelos no ar, vêem-se obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres dos filantropos burgueses. Pouco a pouco, caem na categoria dos socialistas reacio­nários ou conservadores descritos acima, e só se distin­guem dele pôr um pedantismo mais sistemático e uma fé supersticiosa e fanática na eficácia miraculosa de sua ciência social.

            Opõem-se, pois, encarniçadamente, a qualquer ação política da classe operária, porque, em sua opinião, tal ação só pode provir de uma cega falta de fé no novo evangelho.

            Desse modo, os owenistas, na Inglaterra, e os fourie­ristas, na França, reagem respectivamente contra os car­tistas e os reformistas (12).


POSIÇÃO DOS COMUNISTAS DIANTE DOS DIFERENTES PARTIDOS DE OPOSIÇÃO


O que já dissemos no capitulo II basta para determinar a posição dos comunistas diante dos partidos operários já constituídos e, pôr conseguinte, sua posição diante dos cartistas na Inglaterra e dos reformadores agrários na América do Norte.

            Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo, de­fendem e representam, no movimento atual, o futuro do movimento. Aliam-se na França ao partido democrata­-socialista (13) contra a burguesia conservadora e radical, reservando-se o direito de criticar as frases e as ilusões legadas pela tradição revolucionária.

            Na Suíça, apóiam os radicais, sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios, metade democratas-socialistas, na acepção francesa da palavra, metade burgueses radicais.

            Na Polônia, os comunistas apóiam o partido que vê numa revolução agrária a condição da libertação nacio­nal, isto é, o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia em 1846.

            Na Alemanha, o Partido Comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes que esta age revolucionariamente: contra a monarquia absoluta, a propriedade rural feudal e o espírito pequeno-burguês.

Mas nunca, em nenhum momento, esse partido se des­cuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a bur­guesia e o proletariado, para que, na hora precisa, os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas, criadas pelo regime burguês, em outras tantas armas contra a burguesia, a fim de que, uma vez des­truídas as classes reacionárias da Alemanha, possa ser travada a luta contra a própria burguesia.

            É para a Alemanha, sobretudo, que se volta a atenção dos comunistas, porque a Alemanha se encontra nas vés­peras de uma revolução burguesa e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais de­senvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e, pôr conseguinte, a revolução burguesa alemã só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária.

            Em resumo, os comunistas apóiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente.

            Em todos estes movimentos, põem em primeiro lugar, como questão fundamental, a questão da propriedade, qualquer que seja a forma, mais ou menos desenvolvida, de que esta se revista.

            Finalmente, os comunistas trabalham pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países.

            Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes domi­nantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.


Proletários de todos os países uni-vos!


Escrito pôr Karl Marx e Friedrich Engels em dezembro de 1847 - janei­ro de 1848. Publicado pela primeira. vez em Londres em feve­reiro de 1848. Publicado de acordo com o texto da edição sovié­tica em espanhol de 1951, traduzida da edição alemã de 1848. Confrontado com a edição inglesa de 1888, editada pôr Friedrich Engels. Traduzido do espanhol.


NOTAS


(1)        Pôr burguesia compreende-se a classe dos capitalistas mo­dernos proprietários dos meios de produção social que empre­gam o trabalho assalariado. Pôr proletários compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos, que privados de meios de produção próprios, se vêem obrigados a vender sua for­ça de trabalho para poder existir. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888)

(2)        Isto é, a história escrita. A pré-história, a história da organização social que precedeu toda a história escrita, era ainda, em 1847, quase desconhecida. Depois, Haxthausen descobriu na Rússia a propriedade comum da terra. Maurer demonstrou que esta constituía a base social de onde derivavam historicamente toda as tribos teutônicas e verificou-se pouco a pouco que a comu­nidade rural com posse coletiva da terra era a forma primitiva da sociedade desde as Índias até a Irlanda. Finalmente, a or­ganização interna desta sociedade comunista primitiva foi des­vendada em sua forma típica pela descoberta decisiva de Mor­gan que revelou a natureza verdadeira da gens e seu lugar na tribo. Com a dissolução dessas comunidades primitivas, começa a divisão da sociedade em classes diferentes e finalmente anta­gonicas Procurei analisar esse processo na obra Der Ursprung

g der Familie, des privateigentum und des Staats (A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado) 2º ed., Stuttgart, 1886. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888)

(3) Comunas chamavam-se na França às cidades nascentes, mes­mo antes de conquistar a autonomia local e os direitos políticos como «terceiro estado», libertando-se de seus amos e senhores feudais De modo geral, considerou-se aqui a Inglaterra país típi­co do desenvolvimento econômico da burguesia, e a França, pais típico de seu desenvolvimento político. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888)

Assim, os habitantes ,das cidades, na Itália e na França, cha­mavam suas comunidades urbanas, uma vez comprados ou arrancados aos senhores feudais os seus primeiros direitos a uma administração autônoma. (Nota de F.Engels à edição alemã de 1890)

(4) Mais tarde Marx demonstrou que o operário não vende seu trabalho porém sua força de trabalho. Ver a respeito a introdu­ção de F.Engels à obra de Marx Trabalho Assalariado e Capi­tal (Nota do Instituto de Marxismo-Leninismo). (Ver Obras Es­colhidas, 1º volume de Marx e Engels, 2ª edição, pág. 60, Edi­torial Vitória Limitada, 1961.

(5) Na tradução inglesa editada pôr F.Engels em 1888 essa trecho está assim redigido:<<9 - Combinação da agricultura com as indústrias manufatureiras; abolição gradual da distinção en­tre a cidade e o campo, mediante uma distribuição mais eqüitativa da população pelo pais.>> (Nota do Instituto de Marxismo­-Leninismo

(6) O que reprovam à burguesia é mais o ter produzido um proletariado revolucionário, que o haver criado o proletariado em geral. Pôr isso, na luta política participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária. E, na vida diária, a despeito de sua pomposa Fraseologia, conformam-se perfeitamente em colher os frutos de ouro.

(7) Legitimistas - Partido da nobreza Latifundiária da França, favorável à restauração do ramo legitimo da dinastia dos Bour­bons que reinou de Henrique IV a Carlos X, <<a jovem Inglater­ra - circulo fundado aproximadamente em 1842 e integrado pôr aristocratas, políticos e literatos do Partido Conservador britânico. Seus mais destacados representantes eram Disraeli, Thomae Carlyle e outros. (Nota do Instituto de Marxismo-Leni­nismo)

(8) Isto se refere em primeiro lugar à Alemanha onde os lati­fundiários aristocratas e os junkers (pequena nobreza rural ­Nota do Instituto de Marxismo-Leninismo) cultivam pôr conta pró­pria grande parte de suas terras com ajuda de administradores, e possuem, além disso grandes fábricas de açúcar, de beterraba e destilarias se aguardente de batata. Os mais prósperos aris­tocratas britânicos não chegaram ainda a tanto; porém, também sabem como podem compensar a diminuição de suas rendas, em­prestando seus nomes aos fundadores de toda classe de socieda­des anônimas, de reputação mais ou menos duvidosa. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888)

(9) A tormenta revolucionária de 1848 varreu toda essa lasti­mável escola e tirou a seus partidários qualquer vontade de continuar chapinhando no socialismo. O principal representante e o tipo clássico dessa escola é o Sr. Karl Grun. (Nota de F.Engels à edição alemã de 1890)

(10) Na edição inglesa de 1888 editada pôr F.Engels diz-se: «Re­forma penitenciária» (Prison reform). (Nota do Instituto de Mar­xismo-Leninismo)

(11) Falanstérios eram chamadas as colônias socialistas projeta das pôr Charles Fourier. Icária era o nome dado pôr Cabet a seu pais utópico e, mais tarde, a sua colônia comunista na Amé­rica. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888). Owen chamou suas sociedades comunistas modelares de ho­me-colonies (colônias no interior). Falanstério era o nome dos palácios sociais imaginados pôr Fourier, Chama-se Icária o país fantástico cujas instituições comunistas Cabet descreve. (Nota de F.Engels à edição alemã de 1890)

(12) Refere-se aos partidários do jornal La Réforme, que se edi­tava em Paris entre os anos 1843-1850. (Nota do Instituto de Mar­xismo-Leninismo)

(13) Este partido era representado: no Parlamento pôr Ledru-Rol­lin, na literatura pôr Luis Blanc, na imprensa diária pôr La Réforme. O nome democrata-socialista significava, nos lá­bios de seus inventores, a parte do partido democrático ou re­publicano que tinha uma coloração mais ou menos socialista. (Nota de F.Engels à edição inglesa de 1888). O que então se chamava na França, partido democrata-so­cialista era representado na política pôr Ledru-Rollin e na lite­ratura pôr Luis Blanc; estava, pois, a cem mil léguas da social-democracia alemã atual. (Nota de F.Engels à edição alemã de 1890)


domingo, 5 de maio de 2013

UM EXEMPLO DE FICHA DE LEITURA


FICHA DE LEITURA



Aluno:_____________________________________________________________ série_______________ n.º ________



  1. Informações Técnicas:


1.1.     Nome do Livro:__________________________________________________

1.2.     Autor(a):_______________________________________________________

1.3.     Editora:________________________________________________________

1.4.     Edição:________________________________________________________

1.5.     Ano da publicação:______________________________________________

1.6.     Capítulos:_____________________________________________________

1.7.     Páginas:______________________________________________________


  1. Informações sobre a história:


2.1.     Tema:_____________________________________________________________

2.2.     Espaço:___________________________________________________________

2.3.     Tempo:___________________________________________________________

2.4.     Conflito:__________________________________________________________

2.5.     Desfecho:_________________________________________________________


  1. Características físicas das personagens principais:

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  1. O que você achou da história?

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  1. Qual a mensagem da história?

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  1. Em que a leitura desse livro contribuiu para a melhoria de sua aprendizagem?

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domingo, 17 de março de 2013

O ISLAMISMO - A EXPANSÃO DO MUNDO ÁRABE.


O ISLAMISMO

extrai este texto de um blog do professor André de MG, vale a pena visitar suas aulas o blog é http://profandre.webnode.com.br/news/resumo-sobre-o-islamismo/



É uma religião e um projeto de organização da sociedade expresso na palavra árabe islã, a submissão confiante a Alá (Allah, em árabe - Deus, ou "a divindade", em abstrato). Seus seguidores chamam-se muçulmanos (muslimun, em árabe): os que se submetem a Deus para render-lhe a honra e a glória que lhe são devidas como Deus único. Fundado por Maomé, o islamismo reúne hoje cerca de 850 milhões de fiéis e é a religião que mais cresce em todo o mundo.

Maomé (570 d.C.-632 d.C.) (corruptela hispânica de Mohammed, nome próprio derivado do verbo hâmada e que significa "digno de louvor") nasce em Meca na tribo árabe coraixita, e trabalha como mercador. Segundo a tradição, aos 40 anos recebe a missão de pregar as revelações trazidas de Deus pelo arcanjo Gabriel. Seu monoteísmo choca-se com as crenças tradicionais das tribos semitas e, em 622, Maomé é obrigado a fugir para Iatribe, atual Medina, onde as tribos árabes vivem em permanente tensão entre si e com os judeus. Maomé estabelece a paz entre as tribos árabes e com as comunidades judaicas e começa uma luta contra Meca pelo controle das rotas comerciais. Conquista Meca em 630. Morre dois anos depois, deixando uma comunidade espiritualmente unida e politicamente organizada em torno aos preceitos do Corão.

Comunidade do Islã - A fuga de Maomé de Meca para Medina, em 622, chamada hégira (busca de proteção) marca o início do calendário muçulmano e indica a passagem de uma comunidade pagã para uma comunidade que vive segundo os preceitos do Islã. A doutrina do profeta e a idéia de comunidade do Islã (al-Ummah) formam-se durante a luta pelo controle de Meca: todos os muçulmanos são irmãos e devem combater todos os homens até que reconheçam que só há um Deus.

Corão - Livro sagrado do islamismo, o Alcorão (recitação) é revelado a Maomé pelo arcanjo e redigido ao longo dos cerca de 20 anos de sua pregação. É fixado entre 644 e 656 sob o califado de Uthman ibn Affan: são 6.226 versos em 114 suras (capítulos). Traz o mistério do Deus-Uno e a história de suas revelações de Adão a Maomé, passando por Abraão, Moisés e Jesus, e também as prescrições culturais, sociais, jurídicas, estéticas e morais que dirigem a vida individual e social dos muçulmanos.

Suna - A segunda fonte doutrinal do islamismo. É um compêndio de leis e preceitos baseados nos ahadith (ditos e feitos), conjunto de textos com as tradições relativas às palavras e exemplos do Profeta.

Deveres dos muçulmanos - Todo muçulmano deve prestar o testemunho (chahada), ou seja, professar publicamente que Alá é o único deus e Maomé é seu profeta; fazer a oração ritual (salat) cinco vezes ao dia (ao nascer do Sol, ao meio-dia, no meio da tarde, ao pôr-do-sol e à noite), voltado para Meca e prostrado com a fronte por terra; dar a esmola legal (zakat) para a purificação das riquezas e a solidariedade entre os fiéis; jejuar do nascer ao pôr-do-sol, durante o nono mês do calendário muçulmano (Ramadan); e fazer uma peregrinação (hadjdj) a Meca ao menos uma vez na vida, seja pessoalmente, se tiver recursos, ou por meio de procurador, se não tiver.

Festas islâmicas - A Grande Festa ou Festa do Sacrifício (Eid Al-Adha) é celebrada no dia 10 do mês de Thul-Hejjah (maio/junho). A Pequena Festa (Eid Al-Fitr), celebrada nos três primeiros dias do mês de Shaual (março/abril), ao final do jejum do mês de Ramadan , comemora a revelação do Alcorão. Celebra-se ainda a Hégira, o Ano-novo do calendário muçulmano, no dia 1º do mês de Al-Moharam (junho/julho), e o aniversário de nascimento do Profeta, no dia 12 do mês de Rabi'I (agosto/setembro).

Calendário muçulmano - Mede o ano pelas 12 revoluções completas da Lua em torno da Terra e é, em média, 11 dias menor do que o ano solar. A hégira, fuga de Maomé de Meca, marca o Ano-novo.



DIVISÕES DO ISLAMISMO

Os muçulmanos estão divididos em dois grandes grupos, os sunitas e os xiitas. Essas tendências surgem da disputa pelo direito de sucessão a Maomé. A divergência principal diz respeito à natureza da chefia: para os xiitas, o líder da comunidade (imã) é herdeiro e continuador da missão espiritual do Profeta; para os sunitas, é apenas um chefe civil e político, sem autoridade espiritual, a qual pertence exclusivamente à comunidade como um todo (umma). Sunitas e xiitas fazem juntos os mesmos ritos e seguem as mesmas leis (com diferenças irrelevantes), mas o conflito político é profundo.

Sunitas - Os sunitas são os partidários dos califas abássidas, descendentes de all-Abbas, tio do Profeta. Em 749, eles assumem o controle do Islã e transferem a capital para Bagdá. Justificam sua legitimidade apoiados nos juristas (alim, plural ulemás) que sustentam que o califado pertenceria aos que fossem considerados dignos pelo consenso da comunidade. A maior parte dos adeptos do islamismo é sunita (cerca de 85%). No Iraque a maioria da população é xiita.

Xiitas - Partidários de Ali, casado com Fátima, filha de Maomé, os xiitas não aceitam a direção dos sunitas. Argumentando que só os descendentes do Profeta são os verdadeiros imãs: guias infalíveis em sua interpretação do Corão e do Suna, graças ao conhecimento secreto que lhes fora dado por Deus. São predominantes no Irã e no Iêmen. A rivalidade histórica entre sunitas e xiitas se acentua com a revolução iraniana de 1979 que, sob a liderança do aiatolá Khomeini (xiita), depõe o xá Reza Pahlevi e instaura a República islâmica do Irã.

Outros grupos - Além dos sunitas e xiitas, existem outras divisões do islamismo, entre eles os zeiitas, hanafitas, malequitas, chafeitas, bahais, sunitas, hambaditas. Algumas destas linhas surgem no início do Islã e outras são mais recentes. Todos esses grupos aceitam Alá como deus único, reconhecem Maomé como fundador do Islamismo e aceitam o Corão como livro sagrado. As diferenças estão na aceitação ou não da Suna como texto sagrado e no grau de observância das regras do Corão.

 

ASTECAS, MAIAS E INCAS












Os Povos Indígenas Na Época do Descobrimento

Origens:

 Os índios americanos teriam origem asiática. A sua entrada no continente foi entre 25.000 e 35.000 anos atrás.

 Acredita-se que os índios tenham vindo por uma conexão terrestre que seria hoje o estreito de Bering.

Quando Cristóvão Colombo descobriu a América o desenvolvimento cultural social econômico dos diferentes povos era heterogêneo  e a distribuição da população era desigual.

Nos lugares em que foi possível retirar do trabalho produtivo de alimentos massas consideráveis de pessoas, abriu-se a possibilidade para construção de cidades, templos, palácios, fortalezas, diques, caminhos, aquedutos; para elaborar uma ciência uma arte e uma produção espiritual bastante refinada.

Nas sociedades indígenas existiam até médicos, engenheiros, arquitetos, historiadores e poetas.Isso aconteceu no México península de Yucatã e parte da Guatemala e no vasto território andino onde se constituiu o império Inca.Em menor medida na atual Colômbia entre os Chibchas. 


Os Astecas


 As Origens:

 Vamos falar do povo Mexica ( daí nome atual do México) mas conhecido talvez com o nome de Asteca.

Os Astecas chegaram a constituir uma confederação chamada de confederação Asteca.Ao que tudo indica, imigrou de áreas localizadas bastantes ao norte e depois de uma peregrinação, talvez de séculos, fixou-se em uma região onde sobreviviam os restos de uma civilização muito superior a dos Toltecas.

Aproveitando de outra culturas os Astecas também fizeram a sua confederação e a sua cultura.

Economia:


Para economia os Astecas usavam as suas terras para plantar e sobreviver parte de sua plantação era para pagar tributo ao seus Deuses.


 Principais Acontecimentos Históricos:


O principal acontecimento histórico que aconteceu na civilização Asteca foi quando o espanhol Cortez chegou e acabou com a civilização ainda nova em brilhante florescimento.



Os Maias



Origens:


A civilização Maia já foi escrita e fantasiada pelos pesquisadores eles dizem e acreditam que a descobriram que esse povo é o mais antigo dos índios americanos.

Sem duvida os Maias foi o povo que atingiu o nível mais alto de civilização da América deve ter milhares de anos.Ainda que seu florescimento tenha ficado registrado(no chamado velho império) no sul da península de Yucatán que hoje departamento de Petén na Guatemala que está provado que migraram de outras regiões.

De acordo com o livro Chilam Balam De Chuyamel, teriam vindo do norte, de áreas bastante frias e montanhosas.O povo Maia  antes de serem agricultores eram pescadores, caçadores e coletores.Mas a agricultura os tornou sedentários e a provável descoberta do milho que algum antepassado menos evoluído deste cereal maravilhoso decidiu seu destino e os fixou na terra.


Organização Política


A palavra império que empregamos e que no geral é empregada pelos  historiadores e arqueólogos não define o tipo de organização política.Ao que tudo indica, a civilização que estamos vendo era constituída por cidades-estados que controlavam algumas terras e aldeias e que eventualmente formam uma confederação.

Os Maias não formarão nem confederações nem impérios.



 Os Incas


Origens:


Algumas teorias de pesquisadores levam a achar que esse povo seja de origem asiática o que não deve ser confundido com o império que ele construiu. Talvez sejam restos de uma civilização sobrevivente que naufragou no pacifico.

Existem inúmeras provas da existência de contatos entre indígenas americanos da costa do pacifico e os habitantes da polinésia os idiomas falados pelos dois povos apresentam semelhanças notáveis. A batata doce que se presume ser de origem americana, também é encontrada naquelas remotas áreas do pacífico. O algodão do nosso continente seria resultado do cruzamento de uma fibra asiática e o algodão selvagem do Peru.

No império Inca existiam as seguintes civilizações:

§       Chavim

§       Manabi

§       Chimu

§       Caras

§       Cuismancu

 Economia:


A economia Inca era feita através do comercio que era feito ali dentro do seu império a cada civilização outra forma de comercio Inca  era a agricultura eles plantavam e colhiam uma parte era para pagar tributo aos seus deuses.


Chibchas

Origens:

 Já fizemos algumas alusões sobre esse povo que viveu na atual Colômbia como sendo um dos que receberam a influência que veio do Peru.Mas do que isso, é provável que tenham conservado características bastantes antigas da civilização peruana que esta mesmo a frente que esta mesma chegou a perder.Alguns estudiosos espanhóis afirmam que a frente dos Chibchas havia um soberano civis e militares ilimitados.O sucessor de um soberano Chibcha era na maioria das vazes seus filhos.

Os Chibchas eram filhos do sol  e o venerava em um templo maravilhoso situado no sudeste da cidade de Bogotá



Conclusão:

Podemos concluir com esse trabalho sobre povos Pré- Colombianos que esses povos eram fieis ao seus deuses a aos seus superiores. Também podemos ver que esses povos formaram grandes civilizações na América a maioria desses povos Pré- Colombianos  vieram do continente asiático e atravessaram pelo estreito de berig.



(Livro consultado para pesquisa”História da América Hispano-Indigena”   

domingo, 10 de março de 2013

UM EXEMPLO DE HEREGES E HERESIA: OS CÁTAROS.


Cátaros: Hereges, graças a Deus

(Álvaro Oppermann – Revista Super Interessante)

            Eles queimaram na fogueira porque repudiaram a Igreja, desafiaram o papa e fundaram um catolicismo alternativo em plena Idade Média.

            O povo de Languedoc, no sul da França, é conhecido por ser do contra e orgulhoso de sua terra. Os habitantes daquela região se gabam de ter as videiras mais antigas do país, plantadas pelos romanos. Também empinam o nariz para o futebol, esporte mais popular entre os franceses. Lá, o que se joga é rúgbi. Essa vocação para a dissidência vem de longe. Seu ápice ocorreu no século 11, quando cidadãos de Languedoc repudiaram a Igreja Católica – por eles chamada de Igreja dos Lobos – e fundaram um cristianismo alternativo: o catarismo.

            Os cátaros formaram a sociedade secreta mais “popular” da Idade Média. Alguém falou em heresia? Para esses cristãos, herege era o papa. “Eles se julgavam herdeiros dos apóstolos e foram condenados por isso”, escreve Mark Gregory Pegg em The Corruption of Angels (“A Corrupção dos Anjos”, inédito no Brasil), que narra a trajetória da seita.

BONS HOMENS

            A história dos cátaros teve um início obscuro. Em 1022, dois monges que nada tinham a ver com o movimento foram queimados vivos, acusados de adorar o Diabo. O bispo do condado de Toulouse, o maior da região de Languedoc, condenou a execução. Secretamente, ele e outros membros da Igreja já vinham discutindo idéias pouco ortodoxas aos olhos do catolicismo. Acreditavam num Deus que era puro espírito. E que a criação era obra maléfica, não divina.

            No século 12, 4 paróquias de Languedoc abandonaram formalmente o credo católico, abraçando as novas idéias: Toulouse, Carcassone, Albi e Agen. Por causa das duas últimas, o movimento acabou sendo chamado também de albigense. A palavra “cátaro”, porém, só entrou para o vocabulário medieval por volta de 1160, graças a um pregador católico da Renânia chamado Eckbert de Schönau – emérito detrator da seita. Segundo uma de várias versões, o termo viria do grego katharoi, que significaria “os puros”. A história mais aceita, contudo, é bem menos lisonjeira. Segundo Alain de Lille, um teólogo francês do século 13, sua origem estaria na palavra catus (“gato” em latim), pois os seguidores da seita “faziam coisas ignóbeis em suas reuniões, como beijar o traseiro de gatos”.

            Os novos fiéis estavam se lixando. Eles se autodenominavam bons hommes e bonnes femmes (“bons homens” e “boas mulheres”). E repudiavam o termo “cátaro”. Os padres se vestiam com hábitos negros. Rejeitavam o dogma da Santíssima Trindade e também os sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o matrimônio. E viam com naturalidade o sexo fora do casamento. “Se a castidade não pudesse ser priorizada, era melhor manter encontros casuais do que regularizar oficialmente o mal”, diz a historiadora Maria Nazareth de Barros, autora de Deus Reconhecerá os Seus: A História Secreta dos Cátaros. A nova crença também arregimentou adeptos na Catalunha, na Alemanha, na Inglaterra e na Itália.

FOGO DIVINO

            Roma tentou conter o catarismo na base da conversa até meados do século 12. Quando o papa Inocêncio 3º assumiu, em 1198, a atitude da Igreja endureceu. Inocêncio suspendeu diversos bispos do sul da França. Em 1208, o representante eclesiástico Pierre de Castelnau excomungou um nobre de Toulouse. Em represália, foi assassinado.

            O incidente foi a gota d’água. No mesmo ano, o Vaticano autorizou uma guerra santa contra Languedoc – a primeira e última cruzada contra cristãos da história. No cerco a Béziers, em julho de 1209, 7 mil fiéis foram chacinados, entre eles mulheres e crianças. Em 1244, 200 cátaros foram queimados vivos numa grande fogueira nas redondezas da fortaleza de Montségur. A tortura era generalizada. O interrogador católico Guilhem Sais, certa vez, afogou uma mulher cátara num barril de vinho, pois ela não queria confessar seus supostos pecados.

            A Igreja precisou de décadas, mas conseguiu varrer os cátaros da face da terra. No coração dos habitantes de Languedoc, porém, a seita sobreviveu. O povo daquela região é do contra, lembra? Até hoje, em cidades como Montpellier e Toulouse, os revoltosos viraram até nome de rua: des Heretiques (dos Heréticos) na primeira e des Cathares (dos Cátaros) na segunda. Custou a vida de muitos, mas eles conseguiram sua revanche contra o papado. “Se existe uma coisa que os cátaros nos ensinaram”, diz Pegg, “é que as fronteiras da heresia são móveis, e que devemos ousar alargá-las.”

Veja também:

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