domingo, 3 de fevereiro de 2013

QUEM CRIOU DOM QUIXOTE?



Miguel de Cervantes



Miguel de Cervantes Saavedra (Alcalá de Henares, 29 de setembro de 1547 — Madrid, 22 de abril de 1616) foi romancista, dramaturgo e poeta castelhano.A sua obra-prima, Dom Quixote, muitas vezes considerado o primeiro romance moderno, é um clássico da literatura ocidental e é regularmente considerado um dos melhores romances já escritos. Seu trabalho é considerado entre os mais importantes em toda a literatura. A sua influência sobre a língua castelhana tem sido tão grande que o castelhano é frequentemente chamado de La lengua de Cervantes (A língua de Cervantes).


Infância


Filho de um cirurgião cujo nome era Rodrigo e de Leonor de Cortinas, supõe-se que Miguel de Cervantes tenha nascido em Alcalá de Henares. O dia exato do seu nascimento é desconhecido, ainda que seja provável que tenha nascido no dia 29 de Setembro, data em que se celebra a festa do arcanjo San Miguel, pela tradição de receber o nome do santoral. Miguel de Cervantes foi batizado em Castela no dia 9 de Outubro de 1547 na paróquia de Santa María la Mayor. A carta do batismo reza:

Domingo, nueve días del mes de octubre, año del Señor de mill e quinientos e quarenta e siete años, fue baptizado Miguel, hijo de Rodrigo Cervantes e su mujer doña Leonor. Baptizóle el reverendo señor Bartolomé Serrano, cura de Nuestra Señora. Testigos, Baltasar Vázquez, Sacristán, e yo, que le bapticé e firme de mi nombre. Bachiller Serrano.

 


Juventude


Em 1569 foge para Itália depois de um confuso incidente (feriu em duelo Antonio Sigura), tendo publicado já quatro poesias de valor. Sua participação na batalha de Lepanto, no ano 1571, deixa-lhe inutilizada a mão esquerda que lhe vale o apelido de o manco de Lepanto.

Em 1575, durante seu regresso de Nápoles a Castela é capturado por corsários de Argel, então parte do Império Otomano. Permanece em Argel até 1580, ano em que é liberado depois de pagar seu resgate.

 


Idade adulta


De volta a Castela se casa com Catalina de Salazar em 1584, vivendo algum tempo em Esquivias, povoado de La Mancha de onde era sua esposa, e se dedica ao teatro.

Publica em 1585 A Galatea, o seu primeiro livro de ficção, no novo estilo elegante da novela pastoral. Com a ajuda de um pequeno círculo de amigos, que incluía Luíz Gálvez de Montalvo, com o livro um público sofisticado passou a conhecer Cervantes.

Encarcerado em 1597 depois da quebra do banco onde depositava a arrecadação, "engendra" Dom Quixote de La Mancha, segundo o prólogo a esta obra, sem que se saiba se este termo quer dizer que começou a escrevê-lo na prisão, ou simplesmente que se lhe ocorreu a ideia ou o plano geral ali.

Vida literária


Finalmente, em 1605 publica a primeira parte de sua principal obra: O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha. A segunda parte não aparece até 1615: O engenhoso cavaleiro dom Quixote de La Mancha. Num ano antes aparece publicada uma falsa continuação de Alonso Fernández de Avellaneda.

Entre as duas partes de Dom Quixote, aparecem as Novelas exemplares (1613), um conjunto de doze narrações breves, bem como Viagem de Parnaso (1614). Em 1615 publica Oito comédias e oito entremezes novos nunca antes representados, mas seu drama mais popular hoje, A Numancia, além de O trato de Argel , ficou inédito até ao final do século XVIII.

Miguel de Cervantes morreu em 1616, parecendo ter alcançado uma serenidade final de espírito.

Um ano depois de sua morte aparece a novela Os trabalhos de Persiles e Sigismunda.

Morte


É bem conhecida a coincidência das datas de morte de dois dos grandes escritores da humanidade, Cervantes e William Shakespeare, ambos com data de falecimento em 23 de Abril de 1616. Porém, é importante notar que o Calendário gregoriano já era utilizado na Castela desde o século XVI, enquanto que na Inglaterra sua adoção somente ocorreu em 1751. Daí, em realidade, William Shakespeare faleceu dez dias depois de Miguel de Cervantes.

Cervantes, por outro lado, teria morrido em 22 de abril de 1616, sexta-feira, tendo sido registrada a morte no sábado, dia 23, em sua paróquia, em San Sebastián. Conforme costume da época, no registro constava a data do enterro. Em 23 de abril é comemorado o Dia do Livro na Espanha.

Em 2011, um grupo de investigadores históricos e arqueólogos iniciaram uma busca pelos ossos do autor de Miguel de Cervantes, num mosteiro em Madrid, onde os seus restos mortais foram depositados em 1616, não se sabendo exatamente em que parte do monumento. A iniciativa, que permite reconstruir o rosto do escritor, até agora só conhecido através de uma pintura do artista Juan de Jauregui, conta com o apoio da Academia Espanhola e o aval do arcebispado espanhol.

A descoberta e consequente análise das ossadas do autor espanhol poderão ainda ajudar os investigadores a determinar as causas da morte de Cervantes, que se acredita que tenha morrido de cirrose.


Cronologia


  • 1547 - Nasce Miguel de Cervantes Saavedra.
  • 1551 - O pai, Rodrigo, é preso por causa de dívidas de jogo.
  • 1566 - A família instala-se em Madrid.
  • 1569 - Após incidente no qual teria ferido um homem, deixa Madrid e vai morar em Roma.
  • 1571 - Participa da batalha de Lepanto, contra os turcos. Ferido em combate, tem a mão esquerda inutilizada.
  • 1575 - Capturado por corsários, é levado para Argel, com seu irmão Rodrigo, onde fica cinco anos em cativeiro.
  • 1581 - Vai para Lisboa, onde escreve peças de teatro.
  • 1584 - De um romance com Ana Franca, nasce Isabel de Saavedra. Casa-se com Catalina de Palácios Salazar.
  • 1585 - Publica La Galatea. Morte do pai.
  • 1587 - É nomeado comissário real encarregado de recolher azeite e trigo para a Armada Invencível.
  • 1593 - Morte da mãe. Publicação do romance La casa de los celos.
  • 1597 - É preso em Sevilha, após ser condenado a pagar dívida exorbitante.
  • 1598 - Deixa a prisão. Morte de Ana Franca.
  • 1605 - É publicada a primeira parte de Dom Quixote.
  • 1613 - Ingressa na Ordem Terceira de São Francisco. Publicação de Novelas exemplares.
  • 1614 - Surge uma continuação de Dom Quixote, escrita por Avellaneda.
  • 1615 - Cervantes publica a segunda parte de Dom Quixote.
  • 1616 - Morre em Madrid, no dia 23 de abril.

(fonte: wikipedia)

QUEM FOI DOM QUIXOTE? (UM LIVRO QUE TEM HISTÓRIA!)


Dom Quixote de La Mancha (Don Quijote de la Mancha em castelhano) é um livro escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616). O título e ortografia originais eram El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha, com sua primeira edição publicada em Madrid no ano de 1605. É composto por 126 capítulos, divididos em duas partes: a primeira surgida em 1605 e a outra em 1615.



O livro surgiu em um período de grande inovação e diversidade por parte dos escritores ficcionistas espanhóis. Parodiou os romances de cavalaria que gozaram de imensa popularidade no período e, na altura, já se encontravam em declínio. Nesta obra, a paródia apresenta uma forma invulgar. O protagonista, já de certa idade, entrega-se à leitura desses romances, perde o juízo, acredita que tenham sido historicamente verdadeiros e decide tornar-se um cavaleiro andante. Por isso, parte pelo mundo e vive o seu próprio romance de cavalaria. Enquanto narra os feitos do Cavaleiro da Triste Figura, Cervantes satiriza os preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de fancaria. A história é apresentada sob a forma de novela realista.


É considerada a grande criação de Cervantes. O livro é um dos primeiros das línguas europeias modernas e é considerado por muitos o expoente máximo da literatura espanhola. Em princípios de maio de 2002, o livro foi escolhido como a melhor obra de ficção de todos os tempos. A votação foi organizada pelo Clubes do Livro Noruegueses e participaram escritores de reconhecimento internacional.



APRESENTANDO DOM QUIXOTE





DOM QUIXOTE


CERVANTES


APRESENTAÇÃO DE DOM QUIXOTE




PRIMEIRA PARTE - LIVRO PRIMEIRO - CAPÍTULO I




Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo D. Quixote de La Mancha.




            NUM lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor. Passadio, olha seu tanto mais de vaca do que de carneiro, as mais das ceias restos da carne picados com sua cebola e vinagre, aos sábados outros sobejos ainda somenos, lentilhas às sextas-feiras, algum pombito de crescença aos domingos, consumiam três quartos do seu haver. O remanescente levavam-no saio de belarte, calças de veludo para as festas, com seus pantufos do mesmo; e para os dias de semana o seu bellori do mais fino. Tinha em casa uma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que não chegava aos vinte, e um moço da poisada e de porta a fora, tanto para o trato do rocim, como para o da fazenda. Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinqüenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça. Querem dizer que tinha o sobrenome de Quijada ou Quesada (que nisto discrepam algum tanto os autores que tratam da matéria), ainda que por conjecturas verossímeis se deixa entender que se chamava Quijana. Isto porém pouco faz para a nossa história; basta que, no que tivermos de contar, não nos desviemos da verdade nem um til.




            É pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha de ócio (que eram os mais do ano) se dava a ler livros de cavalaria, com tanta afeição e gosto, que se esqueceu quase de todo do exercício da caça, e até da administração dos seus bens; e a tanto chegou a sua curiosidade e desatino neste ponto, que vendeu muitas courelas de semeadura para comprar livros de cavalarias que ler; com o que juntou em casa quantos pôde apanhar daquele gênero. Dentre todos eles, nenhuns lhe pareciam tão bem como os compostos pelo famoso Feliciano da Silva, porque a clareza da sua prosa e aquelas intrincadas razões suas lhe pareciam de pérolas; e mais, quando chegava a ler aqueles requebros e cartas de desafio, onde em muitas partes achava escrito: a razão da sem-razão que à minha razão se faz, de tal maneira a minha razão enfraquece, que com razão me queixo da vossa formosura; e também quando lia: os altos céus que de vossa divindade divinamente com as estrelas vos fortificam, e vos fazem merecedora do merecimento que merece a vossa grandeza.




            Com estas razões perdia o pobre cavaleiro o juízo; e desvelava-se por entendê-las, e desentranhar-lhes o sentido, que nem o próprio Aristóteles o lograria, ainda que só para isso ressuscitara. Não se entendia lá muito bem com as feridas que D. Belianis dava e recebia, por imaginar que, por grandes facultativos que o tivessem curado, não deixaria de ter o rosto e todo o corpo cheio de cicatrizes e costuras. Porém, contudo louvava no autor aquele acabar o seu livro com a promessa daquela inacabável aventura; e muitas vezes lhe veio desejo de pegar na pena, e finalizar ele a coisa ao pé da letra, como ali se promete e sem dúvida alguma o fizera, e até o sacara à luz, se outros maiores e contínuos pensamentos lho não estorvaram. Teve muitas vezes testilhas com o cura do seu lugar (que era homem douto, graduado em Siguença) sobre qual tinha sido melhor cavaleiro, se Palmeirim de Inglaterra, ou Amadis de Gaula. Mestre Nicolau, barbeiro do mesmo povo, dizia que nenhum chegava ao “Cavaleiro do Febo”; e que, se algum se lhe podia comparar, era D. Galaor, irmão do Amadis de Gaula, o qual era para tudo, e não cavaleiro melindroso nem tão chorão como seu irmão, e que em pontos de valentia lhe não ficava atrás.           


            Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que as noites se lhe passavam a ler desde o sol posto até à alvorada, e os dias, desde o amanhecer até fim da tarde. E assim, do pouco dormir e do muito ler se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo.



JOÃO CABRAL DE MELO NETO




João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.

Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.



Foi na Associação Comercial de Pernambuco, em 1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária do Café Lafayette, que se reúne em volta de Willy Lewin e do pintor Vicente do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra.

Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.

1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro. Convocado para servir à Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.

O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.

É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Nessa prensa manual imprime Psicologia da composição. Nos dois anos seguintes ganha dois filhos: Inês e Luiz, respectivamente. Residindo na Catalunha, escreve seu ensaio sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com texto em português, com suas primeiras gravuras em madeira.

Removido para o Consulado Geral em Londres, em 1950, publica O cão sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual recebe o Prêmio José de Anchieta do IV Centenário de São Paulo (em 1954). É colocado em disponibilidade pelo Itamaraty, sem rendimentos, enquanto responde ao inquérito, período em que trabalha como secretário de redação do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito policial, a pedido do promotor público, vai para Pernambuco com a família. Lá, é recebido em sessão solene pela Câmara Municipal do Recife.



Em 1954 é convidado a participar do Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo. Participa também do Congresso Brasileiro de Poesia, reunido na mesma época. A Editora Orfeu publica seus Poemas Reunidos. Reintegrado à carreira diplomática pelo Supremo Tribunal Federal, passa a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty.

Duas alegrias em 1955: o nascimento de sua filha Isabel e o recebimento do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. A Editora José Olympio publica, em 1956, Duas águas, volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Removido para Barcelona, como cônsul adjunto, vai com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir.

Em 1958 é removido para o Consulado Geral em Marselha. Recebe o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no Recife. Publica em Lisboa seu livro Quaderna, em 1960. É removido para Madri, como primeiro secretário da embaixada. Publica, em Madri, Dois parlamentos.

Em 1961 é nomeado chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa, e passa a residir em Brasília. Com o fim do governo Jânio Quadros, poucos meses depois, é removido outra vez para a embaixada em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna, Dois parlamentos, ainda inéditos no Brasil, e um novo livro: Serial.

Com a mudança do consulado brasileiro de Cádiz para Sevilha, João Cabral muda-se para essa cidade, onde reside pela segunda vez. Continuando seu vai-e-vem pelo mundo, em 1964 é removido como conselheiro para a Delegação do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. Nesse ano nasce seu quinto filho, João.



Como ministro conselheiro, em 1966, muda-se para Berna. O Teatro da Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, com música de Chico Buarque de Holanda, primeiro encenado em várias cidades brasileiras e depois no Festival de Nancy, no Théatre des Nations, em Paris e, posteriormente, em Lisboa, Coimbra e Porto. Em Nancy recebe o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival. Publica A educação pela pedra, que recebe os prêmios Jabuti; da União de Escritores de São Paulo; Luisa Cláudio de Souza, do Pen Club; e o prêmio do Instituto Nacional do Livro. É designado pelo Itamaraty para representar o Brasil na Bienal de Knock-le-Zontew, na Bélgica.

1967 marca sua volta a Barcelona, como cônsul geral. No ano seguinte é publicada a primeira edição de Poesias completas. É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand. É recebido em sessão solene pela Assembléia Legislativa de Pernambuco como membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).

Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.

Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.

Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.

Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.

A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.

No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.

Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro. Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.

Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte ("A indesejada das gentes"). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.

Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.

Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.

Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela. Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.

Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.



Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.

João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar ("Não tenho muito o que dizer", argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.

Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura







APRESENTANDO O SEVERINO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO ATRAVÉS DE MORTE E VIDA SEVERINA





Morte e vida severina

Apresentação (Severino)




O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra
.

domingo, 27 de janeiro de 2013

HISTÓRIA NA VISÃO DE BARBARA TUCHMAN


A Arte de Escrever História - Segundo Bárbara Tuchman


Autor: Fernando Nogueira da Costa

            Bárbara Tuchman é a historiadora de maior sucesso nos Estados Unidos, duas vezes agraciada com o Prêmio Pulitzer. Em seus textos e palestras, apresenta-nos lições sobre sua arte (1). Vamos compilá-las, com propósito didático. Divulgar a arte de escrever é um dever do ofício de professor e orientador.

            Escrever história de modo a encantar o leitor e a tornar um assunto tão cativante e emocionante para ele quanto para ela tem sido seu objetivo, desde o fracasso inicial com sua tese. Foi classificada como dotada de um “estilo medíocre”. Comentário dela sobre a tese: “tão bela – na intenção – e tão mal escrita”... o entusiasmo não tinha sido suficiente; era preciso saber também usar a língua. Visão, conhecimento e experiência não fazem um grande escritor, só com o domínio da língua que se tornará a voz dessas virtudes.

            Antes de mais nada, a paixão pelo assunto é indispensável para se escrever bem. Mas não basta. Bárbara descobriu que se aprende a escrever, escrevendo. Descobriu que um elemento essencial para se escrever bem é um bom ouvido. Devemos ouvir o som de nossa prosa. Em sua opinião, as palavras curtas são sempre preferíveis às longas. Quanto menos sílabas, melhor! Os monossílabos... são os melhores de todos!

            As palavras têm um poder autônomo, quase atemorizador, de produzir na mente do leitor uma imagem ou idéia que não estava na intenção do autor. O uso descuidado das palavras pode deixar uma falsa impressão que não se pretendia.

            Para Bárbara, o problema está no fato de que a arte de escrever lhe interessa tanto quanto a arte da História. Ela vê a História como arte, não como ciência. Quando escreve, é seduzida pelo som das palavras e pela interação de som e sentido. As palavras constituem material sedutor e perigoso, a ser usado com cautela.

            Pergunta-se: – “Sou, em primeiro lugar, escritora ou historiadora?” Ela mesma responde: – “As duas funções não precisam estar, e de fato não devem estar, em guerra. A meta é a fusão. Em longo prazo, o melhor escritor é o melhor historiador”.

            A História é vista como literatura, em oposição à História como ciência. Sua exposição deve ser feita em todo o seu valor emocional e intelectual, a um amplo público, através da difícil arte da literatura. Note-se: “amplo público”! a ênfase deve sempre ser dada à escrita para o leitor comum, em contraposição à escrita apenas para os colegas eruditos. Quando escrevemos para um público amplo, temos de ser claros e interessantes. Esses são os critérios que determinam um bom texto.

            O leitor é a pessoa que deve se ter sempre presente. Escrevamos nossos textos com um cartaz pregado acima de nossa mesa, perguntando: “Irá o leitor virar a página?”

            O objetivo do autor é – ou deveria ser – manter a atenção do leitor. Querer que o leitor vire a página e continue a fazê-lo até o fim. Isso só acontece quando a narrativa avança com firmeza, e não quando entra num impasse, sobrecarregada de todos os detalhes descobertos na pesquisa, significativos ou não. Contra o texto tipo “rol de roupa”, o lema: “a exclusão de tudo que é redundante e de nada do que é significativo”!

            O leitor é a outra metade essencial do autor. Entre eles há uma ligação indissolúvel. São necessários dois para cumprir a função da palavra escrita. Os escritos não nascem não têm vida independente, enquanto não são lidos. Logo, primeiro é preciso prender o leitor.

            Bárbara é, em primeiro lugar, uma escritora, cujo assunto é a história, e cujo objetivo é a comunicação. Tem sempre presente o leitor como um ouvinte cuja atenção deve ser mantida, para que não se vá embora.

            Quem escreve tem várias obrigações com o leitor, se quiser conservá-lo. A primeira é destilar. Deve fazer o trabalho preliminar para o leitor: reunir as informações dar-lhes sentido, selecionar o essencial, rejeitar o irrelevante – sobretudo rejeitar o irrelevante – e colocar o restante de modo a formar uma narrativa dramática que se desenvolve de modo a capturá-lo. Oferecer uma massa de fatos não digeridos é inútil para o leitor. Constitui simples preguiça do autor ou pedantismo para mostrar o quanto leu.

            O produto final é resultado daquilo que se escolheu para incluir, bem como daquilo que preferiu deixar de lado. Colocar tudo, simplesmente, é fácil – e seguro – e resulta numa dessas obras de 900 páginas, nas quais o autor abdicou e deixou a leitor todo o trabalho.

            Para eliminar o desnecessário, é preciso coragem e também mais trabalho. Pascal terminou uma carta de 4 páginas a um amigo dizendo: “desculpe-me tê-lo cansado com uma carta tão longa, mas não tinha tempo para escrever-lhe uma carta breve”.

            O leigo em geral subestima a escrita e se impressiona demais com a pesquisa, como se essa fosse a parte difícil. Não é. Escrever, como um processo criativo, é muito mais difícil e leva duas vezes mais tempo.

            O mais importante na pesquisa é saber quando parar. Devemos parar antes de ter acabado. Sem isso, nunca paramos e nunca acabamos.

            Como copiar é um trabalho e um aborrecimento, o uso de cartões – quanto menores, melhor –, para anotações, força-nos a extrair o que é rigorosamente relevante, a destilar desde o começo. A seleção é que determina o produto final. Por isso, é melhor usar apenas material das fontes primárias. As fontes secundárias são úteis, mas perniciosas. Use-as como guias no início de um projeto. Mas não acabe simplesmente reescrevendo o livro de algum outro autor. Além disso, os fatos apresentados por uma fonte secundária já sofreram uma seleção prévia, de modo que, ao usá-los, perdemos a oportunidade de fazer nossa própria seleção.

            A tarefa de reescrever o que já é conhecido não encerra atrativos para Bárbara. Não sente estímulo para escrever a menos que esteja aprendendo alguma coisa nova e contando ao leitor algo de novo, no conteúdo ou na forma.

            A arte de escrever – a prova do artista – é resistir à atração de desvios fascinantes e apegar-se ao seu assunto. São necessárias, simplesmente, coragem e confiança para fazer escolhas e, acima de tudo, para deixar certas coisas de lado. O melhor quadro é aquele que mostra as partes da verdade que melhor produzem o efeito do todo.

            Outro princípio, sugerido por Bárbara: não discutir as evidências, as fontes, as teorias, em frente ao leitor. Os processos de raciocínio do autor não cabem numa narrativa. Devemos resolver nossas dúvidas, examinar as provas conflitantes, determinar os motivos atrás das cortinas e discutir nossas fontes nas notas de referências, e não no texto. Entre outras coisas, isso mantém o autor invisível, e quanto menos a sua presença for sentida, maior é a sensação de proximidade que o leitor tem com os acontecimentos.

            Não esqueçamos do aforismo: “ser academicista é acreditar que acúmulo é aprofundamento e que chatice é precisão”.

            Ler, como escrever, é o maior dom com que o homem se dotou, por meio do qual podemos realizar viagens ilimitadas. Ler possui uma sedução interminável. Escrever, pelo contrário, é um trabalho pesado. É preciso sentar-se numa cadeira, pensar e transformar o pensamento em frases legíveis, atraentes, interessantes, que tenham sentido e que façam o leitor prosseguir. É trabalhoso, lento, por vezes penoso, por vezes uma agonia. Significa reorganizar, rever, acrescentar, cortar, reescrever. Mas provoca uma animação, quase um êxtase, um momento no Olimpo! Em suma, é um ato de criação!

            O que o profissional artista tem é uma “visão extra” e uma “visão interior”, acrescida da capacidade de expressá-las.

            Tal como a Bárbara vê, o processo criativo tem três partes. Primeira, a visão extra com a qual o artista percebe uma verdade e a transmite pela sugestão. Segunda, o meio de expressão: a língua para os escritores, a tinta, para os pintores, o barro ou a pedra para os escultores, o som expresso em notas musicais para os compositores. Terceiro plano ou estrutura.

            A estrutura é, principalmente, um problema de seleção, uma tarefa angustiante, porque há sempre mais material do que se pode usar. Não se pode colocar tudo; o resultado seria uma massa informe. O trabalho consiste em encontrar uma linha narrativa sem se afastar dos fatos essenciais, ou sem deixar de fora qualquer fato essencial, e sem deformar o material para que sirva às nossas conveniências.

            Quando se trata de linguagem, nada mais satisfatório do que escrever uma boa frase. É um prazer realizar, quando se pode, uma prosa clara e corrente, simples e ao mesmo tempo cheia de surpresas. Isso não acontece por acaso. Exige habilidade, trabalho árduo, um bom ouvido e prática constante. As metas, como já disse, são a clareza, o interesse e o prazer estético. Sobre a primeira, é importantíssima a arte de tornar o sentido claro!

            A comunicação é, afinal de contas, o objetivo para o qual a linguagem foi inventada. Para ela, há um critério tríplice: a convicção do autor de que tem alguma coisa a dizer; que vale a pena ser dita, e que pode dizê-la melhor do que ninguém. Dizer não para poucos, mas para muitos. Juntamente com a compulsão de escrever, deve estar o desejo de ser lido. Nenhuma página se torna viva, a menos que o escritor veja, do outro lado de sua mesa, o leitor, e busque, constantemente, a palavra ou a frase que levará a ele a imagem desejada e despertará a emoção que deseja criar nele. Sem a consciência de um leitor vivo, o que o autor escreve morrerá em sua página.

            De todos os instrumentos, a crença na grandeza de seu tema é o mais estimulante. É assim que o autor deve considerar seu assunto. Isso faz com que nenhum leitor possa deixar seu texto de lado. O entusiasmo, que não é exatamente a mesma coisa, tem um efeito não menos estimulante.

            Por que escrever? Para cada escritor há uma razão diferente(2). Busque a sua.

Fernando Nogueira da Costa, Professor Associado do IE-UNICAMP, 49. Coordenador da Área de Economia da FAPESP. Autor dos livros “Economia em 10 Lições” e “Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista”. Email:fercos@eco.unicamp.br.

1 - TUCHMAN, Bárbara W.. A Prática da História. Rio de Janeiro, José Olympio, 1991 (original de 1989).

2 - BRITO, José Domingos de (org.). Por que escrevo? São Paulo, Escrituras, 1999.

HISTÓRIA CONCEITO DA ENCICLOPÉDIA NOVO CONHECER





HISTÓRIA

(texto da Enciclopédia Novo Conhecer)


            Pode-se imaginar que o homem quando aprendeu a se comunicar e passou de curtas frases guturais (gemidos) à construção de uma linguagem, logo começou a contar estórias. Podemos visualizar, ao redor de uma ancestral fogueira, homens semivestidos a relatar uns aos outros as experiências das últimas caçadas. As narrativas mais impressionantes, por seus aspectos heróicos ou trágicos, permaneciam vivas à força de serem repetidas. Sua transmissão de pais para filhos criava e reforçava os sentimentos de solidariedade entre o grupo. Embora misturada à lenda, estava se iniciando a História.

            Hoje ela significa a reconstrução da vida das sociedades, em suas formas organizativas e culturais, o que exige métodos especiais de trabalho e pesquisa. As sociedades vivem sua própria História. Aos historiadores compete reconstruí-las em sua forma original, para submetê-la a uma análise cujo objetivo último é compreender o homem, em sua ação e em seu relacionamento dentro da sociedade.


A pré-história da História

            Os relatos orais acompanharam as gerações desde tempos imemoriais até a antiga Grécia. E os séculos transformaram os personagens históricos em deuses e heróis, até que, durante o esplendor de Atenas (século V a.C.), Heródoto resolveu fixar no papel os fatos reais das guerras entre gregos e persas ocorridas alguns anos antes (500-479 a.C.) Para isso viajou pelos locais em que se desenvolvera o conflito, pesquisando documentos e ouvindo pessoas. O resultado foi um livro a que chamou “História”, onde apresentou uma nova forma para o estudo de documentos. Embora revelasse certo exagero e alguma imprecisão, sua obra permaneceu até nossos dias como um texto básico para o conhecimento daquele período. Pelo seu trabalho, a posteridade o consagrou como o “Pai da História’.

            Quase na mesma época, Atenas produziu um segundo historiador, Tucídides (471? – 400? A.C.), que participou da luta entre Atenas e Esparta e escreveu depois a “História da Guerra do Peloponeso”. Nela, desenvolveu uma análise crítica que lhe valeu ser considerado como um dos maiores historiadores da antiguidade. Heródoto de Halicarnasso e Tucídides lançaram as bases metodológicas da História, iniciando o seu desenvolvimento como disciplina específica.


A História da pré-história

            Durante um longo tempo, as culturas antigas que não conheceram a escrita permaneceram inacessíveis aos historiadores. Supunha-se a existência dessas civilizações unicamente pelos vestígios encontrados de armas e utensílios. Entretanto, o progresso das pesquisas logrou estabelecer algumas conclusões sobre esse período, que ficou conhecido como a pré-história. Conforme o grau de aperfeiçoamento técnico dos restos de objetos encontrados, a pré-história foi dividida em quatro idades representativas dos estágios de desenvolvimento dessas civilizações.

            Os tempos mais remotos foram chamados de Idade da Pedra Lascada (ou Paleolítico), quando armas e utensílios eram feitos com lascas de pedras trabalhadas rusticamente. Na fase seguinte (Pedra Polida ou Neolítico), os objetos já são mais elaborados. O polimento da pedra indica um progresso técnico, correspondente a uma organização social mais complexa. Depois, o homem apropriou-se dos metais, aperfeiçoando a fundição do cobre e do estanho, cuja liga deu nome ao período (Idade de Bronze). O bronze foi, inclusive, usado como meio de troca (moeda). A última fase da pré-história foi denominada Idade do Ferro. Suas formas de organização social são complexas e nela surge a escrita. Com os primeiros documentos escritos saímos da pré-história. Naturalmente, essa sucessão de fases é mais exata para algumas regiões que para outras. E a cronologia varia muito. Os Egípcios inventaram a escrita antes mesmo de usar o bronze e vários povos tribais dos nossos dias não chegaram sequer a desenvolver uma cultura material do tipo neolítico. Não se trata, portanto, de fases necessárias, mas de etapas que ocorreram na maior parte do Velho Mundo.


A História dividida

            Para facilidade de estudo, a História foi classificada em períodos ou idades, obedecendo a uma seqüência cronológica. Segundo tal orientação, a História divide-se em Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Dentro deste critério, adotado para a História Ocidental, cada uma das idades revela um sistema social padrão, sujeito a constantes transformações.

            Isso quer dizer que as divisões da História não são arbitrárias. Quer dizer, também, que as civilizações não desmoronam, nem se acabam repentinamente. Estão, isto sim, sempre se modificando. Cada fato histórico é conseqüência de fatos anteriores e será causa de novos fatos que virão a seguir. Embora a divisão da História nos mostre sistemas sociais diferentes, a História é toda ela um só conjunto de fatos inter-relacionados.


Das pirâmides à queda de Roma

            A Idade Antiga começa com a própria História. Nela incluem-se os povos de origens mais remotas, como os sumérios, egeus, egípcios, assírios, caldeus e persas. Entretanto, seu apogeu é a Antiguidade Clássica, que abrange as fases hegemônicas da Grécia e de Roma.

            Iniciando-se cerca de 3.500 a.C., a Antiguidade chegou ao seu fastígio na Atenas do século V a.C.. Nele viveram Péricles, Sócrates e Platão. No século seguinte Alexandre Magno e Aristóteles. Com a decadência grega, a supremacia se deslocou para Roma, onde atingiu seu esplendor no século anterior a Cristo, época de César e Augusto.

            Na era cristã, Roma sofreu um lento ocaso, com a degeneração de seus costumes e instituições, enquanto se fortaleciam as novas doutrinas espirituais. Convencionou-se marcar a passagem para a Idade Média no ano de 476, em que o Império Romano do Ocidente se desmembrou com a invasão de bárbaros, de origem germânica.


O tempo dos cavaleiros

            Nossa visão de Idade Média é toda ela povoada de castelos e de cavaleiros andantes. É a época dos barões, dos senhores feudais, das Cruzadas. Essa organização feudal se estruturou ao fim das investidas dos bárbaros, após a unificação e cristianização da Europa, realizada por Carlos Magno (coroado em 800). Cristalizou-se, a partir de então, um grande fervor religioso, cuja expressão máxima está consubstanciada na filosofia de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino.

            A grande fase das cavalarias ocorre por ocasião das Cruzadas, que tinham como meta libertar Jerusalém da dominação turca, sem ignorar objetivos comerciais. Mas a estrutura econômica medieval baseava-se principalmente na agricultura e nas relações entre os servos e senhores feudais. O aparecimento e a intensificação do comércio urbano levaram ao enfraquecimento da organização agrária e à decadência do feudo. Duas datas são apontadas como críticas: 1453, quando os turcos tomam Constantinopla (com a conseqüente migração dos sábios bizantinos para a Europa), e 1492, com a descoberta da América.


Depois, os Reis poderosos

            De modo geral, quando pensamos em uma corte luxuosa, de onde um rei dirige despoticamente seu país, estamos pensando na História Moderna. Ela se caracteriza pela centralização do Estado nas mãos de soberanos poderosos, ficando a maioria das nações sob o regime da monarquia absoluta. Iniciado com o Renascimento e as Grandes Navegações (que seriam marcos de transição), o absolutismo teve seu apogeu na Inglaterra com Henrique VIII e Elisabeth I, e na França dos luíses.

            Mas o evoluir do conhecimento humano e o enriquecimento da burguesia começaram a minar o absolutismo. Consolidam-se os anseios democráticos, com a divisa de que todos os homens são iguais, e eclode a Revolução Francesa (1789), que derruba do trono Luís XVI. Assim termina praticamente o absolutismo, e com ele a Idade Moderna, iniciando-se a Idade Contemporânea.


A História vai à lua

            Embora tenha apenas duzentos anos a História Contemporânea está repleta de fatos importantíssimos. No século XIX houve Napoleão, e depois dele o surto de nacionalismo que inspirou a independência de quase todos os países da América Latina e Europa.

            No século XX ocorreram duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) e o aparecimento do mundo socialista. Além disso, um sopro de liberdade percorreu os países africanos e outras regiões que eram colônias do Ocidente.

            Durante todo o período desenvolveu-se a Revolução Industrial, que a partir da Inglaterra se espalhou pelo mundo, atingindo hoje os países menos desenvolvidos.

            Em nossos dias, a exploração das possibilidades da energia atômica, o advento dos foguetes espaciais e mudanças sociais profundas com o avanço dos computadores e da internet são alguns dos fatos marcantes que vivemos. E o desenvolvimento tecnológico tem provocado ora euforia, ora sérias apreensões.


O Ofício de Historiador

            Atualmente, a tarefa do historiador é submeter os fatos Históricos a uma análise, a mais ampla e objetiva possível. Seu trabalho desenvolve-se a partir da escolha e pesquisa dos materiais necessários ao estudo do assunto.

            A natureza desse material é a mais diversa. As fontes escritas são documentos políticos, diários, anais, inscrições fúnebres, obras literárias, etc. Como exemplo teríamos os “Comentários” de Julio César sobre a guerra da Gália, as crônicas do florentino Dino Compagni na Idade Média, ou ainda os hieróglifos egípcios deixados na pedra de Roseta e decifrados por Champollion.

            As fontes não escritas compõem-se dos remanescentes materiais das culturas, como as pinturas do homem das cavernas, ruínas de cidades e templos, objetos de uso doméstico, jóias, moedas, armas, cidades e templos, objetos de uso domésticos, jóias, moedas, armas, e o que mais tenha desafiado a ação do tempo.

            A variedade enorme desses documentos faz com que o historiador sozinho nem sempre possa interpretá-los. Para uma visão correta, existem outras ciências auxiliares, às quais deve recorrer a História.

            Se o historiador precisa decifrar uma inscrição incisa em uma pedra, tumba ou edifício publico, apela para a Epigrafia. Se seus escritos estiverem em papiros ou tabuinhas de cera e cerâmica, ele se volta para a Papirologia ou a Paleografia.

            Para os documentos oficiais que foram conservados, existe a Diplomática. Brasões de família antigas, moedas e medalhas, selos e sinetes, são objeto, respectivamente, do estudo da Heráldica, da Numismática e da Esfragística.

            A descoberta e análise de todas essas fontes deve-se a uma ciência mais geral, a Arqueologia, cujo trabalho valioso trouxe à tona culturas e civilizações que permaneciam desconhecidas.

            Após haver coletado os subsídios de que necessita, o historiador inicia a segunda parte de seu trabalho, quando submete suas fontes a uma análise crítica e começa a formar um quadro de interpretação dos dados a seu dispor.

            Até esse momento, o historiador procurou ser o mais objetivo possível. Mas agora não poderá mais manter tal isenção de ânimo. Por mais que o historiador procure visualizar a História com os olhos puros do cientista, sua análise final resultará filtrada por sua própria realidade. Sendo impossível alcançar a total objetividade, ele interpreta os fatos históricos sob essa consciência, imprimindo à História uma nova orientação, que extrai do passado as lições para o futuro.



           

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