sábado, 20 de maio de 2017

NOTA DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE NOS 50 ANOS DO GOLPE DE ESTADO DE 1964

Nota pública da Comissão Nacional da Verdade nos 50 anos do golpe de Estado de 1964 



Há cinquenta anos um golpe de estado militar destituiu o governo constitucional do presidente João Goulart. Instaurou por longo tempo no país um regime autoritário que desrespeitava os direitos humanos; no qual os direitos sociais de muitos eram ignorados; em que os opositores e dissidentes foram rotineiramente perseguidos com a perda dos direitos políticos, a detenção arbitrária, a prisão e o exílio; onde a tortura, os assassinatos, os desaparecimentos forçados e a eliminação física foram sistematicamente utilizados contra aqueles que se insurgiam. Neste cinquentenário, a Comissão Nacional da Verdade quer homenagear essas vítimas e reafirmar sua determinação em ajudar a construir um Brasil cada vez mais democrático e mais justo. A Comissão Nacional da Verdade nasceu com o objetivo de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período. Baseia-se na convicção de que a verdade histórica tem como objetivo não somente a afirmação da justiça, mas também preparar a reconciliação nacional, como vem assentado no seu mandato legal. Esteia-se na certeza de que o esclarecimento circunstanciado dos casos de tortura, morte, desaparecimento forçado, ocultação de cadáver e sua autoria, a identificação de locais, instituições e circunstâncias relacionados à prática de violações graves de direitos humanos, constituem dever elementar da solidariedade social e imperativo da decência, reclamados pela dignidade de nosso país. Não deveria haver brasileiro algum ou instituição nacional alguma que deles se furtassem sob qualquer pretexto. No ano passado comemoramos os vinte cinco anos da promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Oitenta e dois milhões de brasileiros nasceram sob o regime democrático. Mais de oitenta por cento da população brasileira nasceu depois do golpe militar. O Brasil que se confronta com o trágico legado de 64, passados cinquenta anos, é literalmente outro. O país se renovou, progrediu e busca redefinir o seu lugar no concerto das nações democráticas. Não há por que hesitar em incorporar a esta marcha para adiante a revisão de seu passado e a reparação das injustiças cometidas. Pensamos ser este o desejo da maioria. É certamente o sentido do trabalho da Comissão Nacional da Verdade. 
Brasília, 30 de março de 2014. 
Comissão Nacional da Verdade


COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE E AS VERDADES SOBRE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA


Em nome da verdade
“Quem é essa mulher. Que canta sempre esse estribilho? Só queria embalar meu filho. Que mora na escuridão do mar. Quem é essa mulher que canta sempre este lamento. Queria lembrar o tormento, que fez o meu filho suspirar”. É improvável que a jornalista Hildegard Angel consiga descobrir onde estão os restos de seu irmão, Stuart Angel Jones, dirigente do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), preso em maio de 1971, torturado, morto e desaparecido. Ele tinha 25 anos de idade. A busca desesperada e incansável da mãe deles, a estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, marcou para sempre a vida de Hildegard. Zuzu perambulava por gabinetes, enviava cartas, chegou a pedir ajuda ao então secretário de Estado americano Henry Kissinger. Sua dor comoveu, entre muitos outros, o cantor e compositor Chico Buarque. Ele e Miltinho, do MPB-4, são os autores da canção “Angélica”. A história de uma mulher cujo único desejo era saber onde estava seu filho ou o corpo do menino que ela queria embalar.
No dia 10 de dezembro, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregará à presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, o relatório com as conclusões dos dois anos e meio de trabalho. Pela primeira vez na história das investigações que apuraram os crimes cometidos durante a ditadura militar, o documento recomendará que seja responsabilizada toda a cadeia de comando das Forças Armadas, desde o golpe de 1964. Entre os responsáveis vão figurar todos os presidentes do regime (de Castello Branco, o primeiro, a João Baptista Figueiredo, o último) e seus ministros ligados aos aparatos de segurança, como o Serviço Nacional de Informações (SNI). “Os ex-presidentes já morreram, mas isso não impede a responsabilização”, assim como a de muitos outros, “a exemplo dos generais da reserva, ambos ex-comandantes do DOI-Codi do Rio de Janeiro, Leonidas Pires Gonçalves e José Antônio Nogueira Belham”, relata o coordenador da CNV, Pedro Dallari (leia entrevista).
Nas últimas semanas, a CNV concentrou a maior parte do tempo à discussão do que fazer com a Lei da Anistia, que perdoou os crimes da ditadura e também as ações armadas dos opositores. Por cinco dos seis votos (o único contrário foi de José Paulo Cavalcanti), decidiu-se que será recomendada também a responsabilização criminal, civil e administrativa de todos os agentes envolvidos nos crimes. A responsabilização só poderá ocorrer se a Lei da Anistia for revista. Mas não cabe à CNV fazer esse tipo de recomendação. “Faremos o relato, identificaremos os responsáveis e caberá, então, ao Ministério Público, à Justiça ou mesmo ao Legislativo decidir o que será feito”, explica Dallari.

Há quase dois anos e meio, a CNV foi instalada pela presidente Dilma Rousseff com base na lei 12.528/2011, e instituída em 16 de maio de 2012. A CNV tem por finalidade apurar graves violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. Para tanto, ouviu centenas de depoimentos, analisou um sem fim de documentos e confrontou versões.
Muita coisa ainda não foi esclarecida, mas, para Hildegard Angel, o trabalho da CNV e o desdobramento das investigações, por meio da Comissão Estadual da Verdade [do Rio de Janeiro] já ajudaram a esclarecer o que houve com seu irmão, Stuart, e com sua mãe, Zuzu. Stuart teria sido preso, torturado e morto nas dependências do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa) em 14 de junho de 1971. Mesmo fim teve sua mulher, a também militante e guerrilheira Sônia Morais Jones, morta dois anos depois e igualmente dada como desaparecida. O acidente de carro em que Zuzu morreu também teria sido provocado por agentes da repressão. “As pessoas que cometeram esses crimes devem ser responsabilizadas. Não podemos justificar essas atrocidades. Precisamos saber onde estão esses assassinos. Preciso saber onde está o corpo do meu irmão”, diz Hildegard, com a voz embargada. Durante muitos anos, a versão existente era de que o corpo de Stuart Jones teria sido lançado ao mar. Agora, também em depoimentos à Comissão, existe uma nova pista: a de que seus restos estariam na cabeceira da pista da Base Aérea de Santa Cruz, na zona Oeste do Rio.

Versões falaciosas
Em palestra proferida há poucos dias (“Golpe de 64 e seus reflexos”), em uma conferência de advogados, Dallari avaliou como positivos os dois anos de investigações. Citou como exemplo o sucesso das sete diligências realizadas nas bases militares listadas no relatório preliminar da CNV sobre tortura em instalações das Forças Armadas, publicado em fevereiro deste ano. Destacou a última, realizada no dia 21, na base naval de Ilha das Flores, em São Gonçalo (RJ).
Diante das recusas das Forças Armadas de entregar documentos do período da ditadura que poderiam esclarecer casos de tortura, desaparecimentos e mortes, a CNV adotou, por sugestão de Dallari, a tática de vistoriar as instalações militares. As visitas quase sempre eram acompanhadas por ex-militantes da esquerda que haviam sido presos, torturados ou mesmo presenciado abusos cometidos contra companheiros. “Essa visita à base naval foi terrível”, recordou Paulo Sérgio Pinheiro, integrante da CNV, em entrevista ao Valor, no mês passado. Nessa ocasião, dez ex-presos políticos e um ex-soldado do corpo de fuzileiros navais identificam as casas – já abandonadas e bastante deterioradas – onde ocorriam as torturas.
As visitas quase sempre seguiram o mesmo roteiro. Os integrantes da CNV chegavam ao local, eram recebidos pelos oficiais comandantes e iniciavam o trabalho. “São momentos de constrangimento extremo. Estão ali vítimas do regime, descrevendo atos de violência para jovens que não foram seus algozes. Muitos sequer haviam nascido nessa época. Mas estão ali, cumprindo ordens”, disse Pinheiro.
Apesar dos avanços, o coordenador da CNV afirmar que, para completar o pilar de memória, verdade e reconciliação, previsto na lei que criou a CNV, é necessário fazer que as Forças Armadas reconheçam as graves violações de direitos humanos e a utilização de quartéis e instalações militares como centros de tortura após o golpe de 1964.

O problema é que os militares não reconhecem a legitimidade da Comissão. Os da ativa, por causa da hierarquia, sequer podem tocar no assunto publicamente. “Tudo isso é um constrangimento para nós, que somos de uma nova geração. Devemos respeito aos nossos antecessores, ainda que, em alguns momentos, acabemos sendo criticados por atos que não conhecemos. Éramos crianças ou sequer tínhamos nascido”, observa um oficial do Exército. Filhos desses militares que seguem a carreira dos pais e estudam na Academia Militar das Agulhas Negras, sofrem com o mesmo dilema: o respeito a uma geração já há muito afastada dos quartéis, mesmo discordando dela.
As Forças Armadas veem a Comissão com desconfiança e mesmo rancor, desde que foi instaurada, em 2012, durante cerimônia que lotou o salão principal do Palácio do Planalto, à qual compareceram quatro ex-presidentes que antecederam Dilma desde a queda do regime militar – Fernando Collor, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, a presidente Dilma Rousseff, ela mesma presa e torturada como integrante da organização clandestina VAR-Palmares, fez um discurso que levou às lágrimas muitos dos presentes e ela própria. “A ignorância sobre a história não pacifica. Pelo contrário, mantém latentes mágoas e rancores. A desinformação não ajuda a apaziguar. O Brasil merece a verdade, as novas gerações merecem a verdade, merecem a verdade factual também aqueles que perderam amigos e parentes. O Brasil não pode se furtar a conhecer a totalidade de sua história”, disse Dilma.
Também presentes ao ato, os três comandantes militares, brigadeiro Juniti Saito (Aeronáutica), general Enzo Peri (Exército) e almirante Julio Soares de Moura Neto (Marinha) desde então trataram os membros da CNV no limite da polidez. Entretanto, não atenderam aos pedidos para que pudessem examinar documentos da ditadura. Alegaram sempre que eles não existem mais. Foram destruídos, queimados ou simplesmente desapareceram. Ao mesmo tempo, baixaram uma ordem de silêncio que inclui negar todos os pedidos de entrevista sobre o assunto.
Por um tempo, oficiais da reserva estavam liberados para emitir opiniões. Depois da divulgação de um documento do Ministério da Defesa que supostamente admitiria a possibilidade de as Forças Armadas se desculparem pelos excessos cometidos, também esses militares foram calados. A última manifestação feita por generais de quatro estrelas negava o pedido de desculpas e dava o assunto por encerrado. Ainda assim, alguns oficiais, em conversas informais, deixam clara sua posição.
“O grande problema desse trabalho é que começa com uma grande mentira”, afirmou ao Valor um general da reserva. “Tenta reescrever a história a partir de uma luta entre o bem e o mal que não existe, nunca existiu. Essa comissão em nenhum momento teve o objetivo de esclarecer o que se passou. Não é um trabalho honesto. Todos sabemos que a guerrilha não lutava pela redemocratização do país. Lutava para fazer do Brasil um modelo comunista, como o de Cuba. Houve excessos? Houve, sim. De ambos os lados. Até por que, no lado das Forças Armadas, as investigações eram muito descentralizadas. Em alguns momentos, 200 mandados de interrogatórios eram expedidos. Como controlar isso?” Disse ainda: “O que nos assusta é que a Lei da Anistia foi uma lei de conciliação. Se começarmos a mexer nessa conciliação, vamos caminhar para uma crise e enfrentamento com as Forças Armadas.”
Talvez não seja preciso chegar a uma crise para sanar as lacunas do passado recente. Países do Cone Sul submetidos a ditaduras nas últimas décadas do século passado vêm cicatrizando suas feridas. “O pacto entre elites e militares no poder que sustentou as ditaduras se dissolveu de formas diferentes em cada um dos países do Cone Sul. De certo modo, isso nos ajuda a entender os motivos pelos quais algumas diferenças são perceptíveis, hoje, nos mecanismos utilizados em cada contexto para tratar a memória da repressão”, diz o cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Carlos Artur Gallo, que realizou pesquisa sobre o assunto. “Ao contrário do Brasil, onde uma Comissão da Verdade somente veio a ser constituída mais de 25 anos após o fim da ditadura, a Argentina, o Chile e o Uruguai assistiram aos trabalhos desses organismos pouco tempo após a transição para a democracia.”
Na Argentina, o saldo da repressão foi muito maior do que nos países vizinhos, e estima-se entre 10 e 30 mil o número de pessoas desaparecidas. No Chile, no Uruguai e no Brasil, o número de desaparecidos é menor. Aqui, as vítimas ficaram ao redor de 500. “Embora isso não seja motivo para que a democracia deixe de enfrentar o tema, é fato que a capacidade de mobilização em torno da questão é em alguma medida influenciada pela quantidade de pessoas que foram atingidas”, afirma Gallo.
Ainda que haja diferenças no que se relaciona ao modo como conduziram seus trabalhos, as comissões de investigação que funcionaram na Argentina, no Chile e no Uruguai “possibilitaram o reconhecimento público e oficial da existência da violência política, ajudaram a identificar os casos de mortes e desaparecimentos ocorridos em nome da doutrina de segurança nacional e estabeleceram pontos de partida para a elaboração de políticas públicas com vistas à reparação das famílias atingidas, mas, principalmente, de algum modo comprometidas com as demandas por memória, verdade e justiça”, diz o cientista.
Gallo observa que, a partir das investigações nesses países, foi possível obter avanços na elucidação dos crimes cometidos pela ditadura, levar repressores e ditadores para o banco dos réus e, ao trabalhar pública e coletivamente o tema, sedimentar as bases de uma cultura política na qual algo semelhante ao que se passou na vigência do autoritarismo não deverá se repetir.
Não se trata, afirma Gallo, de debater as diferenças entre crimes cometidos por agentes da repressão ou militantes de esquerda. O ponto central da discussão, em sua opinião, seria admitir que os possíveis crimes cometidos por militantes da luta armada “foram, em sua maioria, julgados por instituições a serviço do regime ditatorial, que, como foi amplamente noticiado na época, legitimavam o ideário anticomunista e reforçavam elementos de uma cultura do medo no Brasil. Assim, os crimes que até hoje não estão devidamente elucidados são as violações praticadas por agentes do Estado brasileiro que, a serviço de uma ideologia que considerava os próprios cidadãos inimigos públicos, torturaram, perseguiram, prenderam, julgaram, mataram e fizeram desaparecer centenas de pessoas. A Comissão Nacional da Verdade, portanto, tem o dever de completar a história do país, restabelecendo aspectos que durante décadas foram obscurecidos e/ou adulterados por versões oficiais elaboradas por agentes do aparato repressivo institucionalizado com o golpe de 1964”.
“Tanto para as vítimas, quanto para seus familiares, e para aqueles que estudam esse período da história do Brasil, a Comissão da Verdade não pode abrir mão de restabelecer aspectos que, por décadas, foram obscurecidos e adulterados por versões oficiais do aparato repressivo”, diz Gallo. “Ninguém consegue superar aquilo que não conhece, aquilo que não entende. Negar o passado ou impedir que se saiba o que aconteceu durante o período que vai de 1964 a 1985 colabora para que, coletivamente, a sociedade brasileira sinta os efeitos daquilo que, em psicologia, denomina-se ‘o passado que não passa’.”
Sem corpo
Superar esse passado, segundo a psicanalista e membro da Comissão da Verdade Maria Rita Kehl, implica obrigatoriamente dar fim a um trauma. “E quando esse trauma acaba? Ninguém pode saber. Quando acabará a dor de pais, mães, irmãos, avós que buscam notícias de seus entes queridos? Morreram, fugiram? Essa foi e é a suprema crueldade dos militares que participaram desse regime. Os militares dizem que manchamos a imagem deles com o trabalho da Comissão. A imagem já foi manchada há muito tempo. Os únicos que poderiam limpá-la seriam eles mesmos A política de Estado que permanece é a de não revelar o paradeiro dessas pessoas. É a de transferir para elas essa busca sem fim.”
No livro Você Vai Voltar para Mim e Outros Contos, Bernardo Kucinski conta uma história que talvez possa mostrar o que é “essa busca sem fim”. No conto chamado “O Velório”, Kucinski descreve com riqueza de detalhes um enterro. Tudo estava em seu lugar, como manda o protocolo dessas ocasiões. As velas, os ramos de flores, os familiares. Por fim, o caixão é levado à sepultura. Dentro não havia um corpo. Apenas uma roupa de Roberto, o filho de Antunes, desaparecido. Aos 90 anos, Antunes não queria morrer sem enterrar o filho cujo corpo nunca fora encontrado.
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“Todos serão obrigados a reparar o mal”
A menos de 15 dias de entregar o relatório com as conclusões finais dos dois anos de trabalho da Comissão da Verdade, o coordenador dos trabalhos, Pedro Dallari, fala nesta entrevista sobre alguns dos pontos que farão parte do documento. O mais importante deles será a recomendação de que sejam responsabilizados todos os que fizeram parte da cadeia de comando das Forças Armadas que permitiram torturas e assassinatos em instituições militares. Segundo Dallari, essa decisão atingirá desde ex-presidentes da República, do regime militar, a todos os subordinados. “Sem exceção, todos foram responsáveis, mesmo aqueles que não mancharam suas mãos com sangue.”
Quais vão ser os pontos principais do relatório da Comissão da Verdade que vocês estão concluindo?
Pedro Dallari – Embora muitos venham dizendo que vamos pedir isso ou aquilo, determinar isso ou aquilo, o mandato de nossa comissão não prevê nada disso. Então, o que nós fizemos? Apuramos os fatos com o máximo de precisão e ouvimos todos os envolvidos na medida do possível. Nosso mandato permite fazer recomendações.
O que a comissão vai recomendar?
P.D.– Vamos recomendar a responsabilização criminal, civil e administrativa de todas as pessoas que fizeram parte da cadeia que permitiu a tortura, o assassinato e o desaparecimento de cidadãos brasileiros.
Mas, ao recomendarem essa responsabilização, a proposta não bate de frente com a Lei da Anistia?
P.D.– Não. Nós não temos poder ou competência para pedir que a Lei da Anistia seja revista. Mas ela não pode ser um empecilho para que se faça justiça. Só que não nos cabe pedir isso. A recomendação deverá ser seguida, ou não, pelo Legislativo e pelo Judiciário.
Como será essa responsabilização?
P.D.– Essas pessoas que comprovadamente participaram dessa violência serão obrigadas a reparar o mal que fizeram. Nossa constatação, depois de ouvir tantos depoimentos, é que os graves atentados contra os direitos humanos não foram fruto da ação isolada de alguns psicopatas. Isso foi uma política de Estado. O Estado brasileiro optou pela prática da tortura, morte e ocultação de cadáveres.
E quem serão essas pessoas responsabilizadas? O senhor pode falar de algumas?
P.D.– Serão desde os presidentes da República, todos a partir do golpe militar, e seguiremos a cadeia de comando. Os presidentes já estão mortos. Mas seus chefes superiores estão vivos. Chefes do Serviço Nacional de Informações, como o general da reserva Leônidas Pires Gonçalves, ministros militares, todos serão responsabilizados. O general José Antônio Nogueira Belham, comandante do DOI-Codi na época da prisão e do assassinato do deputado Rubens Paiva. Há ainda Sebastião Curió, o coronel Carlos Brilhante Ustra e muitos outros.
Carro acidentado de Zuzu Angel

O senhor está satisfeito com o trabalho da comissão?
P.D.– Estou sim. Mas tenho duas frustrações: uma delas é o fato da falta de reconhecimento das Forças Armadas sobre nosso trabalho. Não se trata de perdão ou desculpas, mas de admitir o que aconteceu. A outra é a de não termos conseguido avançar na localização dos corpos dos desaparecidos. Sabemos a dor profunda que as famílias dessas pessoas carregam.
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Monica Gugliano, para o Valor Econômico

sexta-feira, 19 de maio de 2017

PADRE LANDELL: O BRASILEIRO QUE INVENTOU O RÁDIO ANTES DE MARCONI!


Roberto Landell de Moura (Porto Alegre, 21 de janeiro de 1861 – Porto Alegre, 30 de junho de 1928) foi um padre católico, cientista e inventor brasileiro.
Teve sólida formação cultural e científica, e formou-se sacerdote em Roma. Voltando ao Brasil, passou a desenvolver sua carreira eclesiástica, sendo indicado para diversas paróquias nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, mas pouco se sabe deste aspecto de sua vida, que parece ter sido pouco expressivo. Embora fosse devotado ao sacerdócio, antes de radicar-se definitivamente no Rio Grande do Sul suas passagens pelas paróquias foram tipicamente breves, e mais de uma vez pediu exoneração voluntária. Sabe-se que sua devoção à ciência e suas ideias avançadas para seu tempo causaram algumas vezes o espanto e a revolta dos católicos, e isso pode ter sido um fator importante na sua incapacidade de desenvolver um trabalho pastoral estável, e ao mesmo tempo seus experimentos ocupavam muito de sua energia e atenção. Somente na fase final de sua vida religiosa, já tendo deixado a ciência em segundo plano, sua carreira na Igreja se consolidou, sendo designado sucessivamente vigário-geral da Arquidiocese de Porto Alegre, cônego e penitenciário do Cabido Metropolitano, monsenhor e arcediago, responsável também pela paróquia do Menino Deus e finalmente pela paróquia do Rosário, em cuja igreja hoje estão depositados seus despojos.
Landell de Moura, no entanto, é mais conhecido pelo seu pioneirismo na ciência da telecomunicação, tendo desenvolvido uma série de pesquisas e experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem ao telefone e ao rádio, senão o primeiro de todos, o que ainda é motivo de polêmicas. Vários testemunhos afirmam que ele vinha realizando testes bem sucedidos em ambas as modalidades de transmissão desde 1893 ou 1894, mas a documentação sobre esses primeiros experimentos é pobre e a data é disputada. O seu primeiro registro inconteste, documentado publicamente, é de 3 de junho de 1900, testando com sucesso aparelhos que transmitiram sem fio sons e sinais telegráficos. No Brasil ele usualmente é considerado o pioneiro em nível mundial. Nos outros países sua realização permanece largamente ignorada, embora um crescente número de fontes estrangeiras estejam aceitando sua primazia. Também deixou projetos que apontam seu pioneirismo na transmissão de imagens sem fio, sendo considerado nacionalmente um precursor da televisão e das fibras ópticas, mas também nestes campos a documentação sobrevivente não é muito clara, e internacionalmente sua contribuição nesta área específica caiu num esquecimento quase total. Demonstrou paralelamente algum interesse pela homeopatia, pela psicologia e pelo espiritismo, abordados pelo viés da ciência.


Teve muitas dificuldades técnicas e financeiras para desenvolver suas pesquisas, trabalhou a maior parte do tempo sozinho e encontrou muita resistência e incredulidade por parte de autoridades e da população, o que impediu que seu reconhecimento em vida fosse mais amplo, mas em certas esferas sua estatura científica foi devidamente apreciada e sabe-se que rejeitou oportunidades de divulgar seus inventos. Assim, a ideia popular que se formou em torno dele como um perseguido, injustiçado e sofrido cientista enfrentando um mundo insensível e obscurantista, se tem uma parte de verdade, tem também seu lado de mito romântico. A sua biografia ainda tem muitas lacunas e do seu legado científico apenas parte foi estudado, havendo muita documentação autografa ainda por explorar. Seja como for, no Brasil já recebeu uma série de homenagens e reconhecimentos oficiais. É cidadão honorário da cidade de São Paulo, patrono da Ciência, da Tecnologia e da Inovação do município de Porto Alegre, patrono dos radioamadores brasileiros, e em 2012, por decreto presidencial, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.

O FABULOSO MIGUEL ANGELO

Miguel Ângelo e algumas de suas obras


MIGUEL ÂNGELO BUONARROTI ou Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni

Nascimento: 6 de março de 1475 em Caprese na Itália.
Morte: 18 de fevereiro de 1564 (88 anos) em Roma na Itália
Obras Principais: David, Teto da Capela Sistina, Pietà.
Ocupação: Escultor, Arquiteto, Poeta e Pintor

Pietà (2)

             Desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Médici de Florença, e vários papas romanos.

            Iniciou-se como aprendiz dos irmãos David e Domenico Ghirlandaio em Florença, tendo seu talento logo reconhecido, tornou-se protegido dos Médici, para quem realizou várias obras.

            Fixou-se me Roma, onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição do Renascimento para o Maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade Clássica, do primeiro Renascimento, dos ideais do Humanismo e do Neoplatonismo, centrado na figura humana e em especial no nu masculino, que retratou com enorme pujança.

                                    (1) Baco                                                                      (3) David
 
           Várias de suas criações estão entre as mais célebres da arte do ocidente, destacando-se na escultura o Baco (1), a Pietà (2) , o David (3), as duas tumbas Médici e o Moisés (4), na pintura o vasto ciclo do teto da Capela Sistina e o Juízo Final (5) no mesmo local, e dois afrescos na Capela Paulina; serviu como arquiteto da Basílica de São Pedro implementando grandes reformas em sua estrutura e desenhando a cúpula remodelou a praça do Capitólio Romano e projetou diversos edifícios, e escreveu grande número de poesias.

                                                   (5)    Juízo Final  e a Capela Sistina
 
           Ainda em vida foi considerado o maior artista de seu tempo; chamavam-no de o Divino, e ao longo dos séculos, até os dias de hoje, vem sendo tido na mais alta conta, parte do reduzido grupo dos artistas de fama universal, de fato como um dos maiores que já viveram e como o protótipo do gênio. Michelangelo foi um dos primeiros artistas ocidentais a ter sua biografia publicada ainda em vida. Sua fama era tamanha que, como nenhum artista anterior ou contemporâneo seu, sobrevivem registros numerosos sobre sua carreira e personalidade, e objetos que ele usara ou simples esboços para suas obras eram guardados como relíquias por uma legião de admiradores. Para a posteridade Michelangelo permanece como um dos poucos artistas que foram capazes de expressar a experiência do belo, do trágico e do sublime numa dimensão cósmica e universal.
 
 
(4) Moisés 
 

(fonte: Wikipédia)

ALBERT EINSTEIN: ESSE FOI O CARA!





MESTRES E ALUNOS


            É tarefa essencial do professor despertar a alegria de trabalhar e de conhecer. Caros meninos, como estou feliz por vê-los hoje diante de mim, juventude alegre de um país ensolarado e fecundo.

            Pensem que todas as maravilhas, objetos de seus estudos, são obra de muitas gerações, uma obra coletiva que exige de todos um esforço entusiasta e um labor difícil e impreterível. Tudo isto, nas mãos de vocês, se torna uma herança. Vocês a recebem, respeitam-na, aumentam-na e, mais tarde, irão transmiti-la fielmente à sua descendência. Deste modo somos mortais imortais, porque criamos juntos obras que nos sobrevivem.

            Se refletirem seriamente sobre isto, encontrarão um sentido para a vida e para seu progresso. E o julgamento que fizerem sobre os outros homens e as outras épocas será mais verdadeiro.


QUAL O SENTIDO DA VIDA?

            Tem um sentido minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso. Mas, “fazer tais perguntas tem sentido?” Respondo: “Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”.

 

(Textos extraídos do Livro Como Vejo o Mundo de Albert Einstein, editora Nova Fronteira – 1981)

BYE, BYE TEMER, COME HOME TO TIETÊ


         Já ouvi muitos dos meus vizinhos tieteenses falar com certo orgulho que, primeiro o advogado, depois o professor de direito, depois o Deputado, depois o Presidente do Congresso, depois o Vice-Presidente, e por último o Presidente Michel Temer é nascido em Tietê, que por sinal é a terra onde meu pai nasceu.
          Verdade que várias vezes tive a oportunidade de ouvir que ele era tudo isso e não mandou nada para Tietê.
          Mas pelo andar da carruagem o Tieteense do Planalto está muito perto de voltar para sua casa, que agora não é mais em Tietê, também é verdade, mas nos Jardins Paulista em São Paulo, nos quentes braços da sua Marcela. 
          Se temer escapar dos pedidos de CPI, deve cair na mão do Supremo Tribunal Federal, se escapar do Supremo, provavelmente não se salva do Tribunal Eleitoral no dia 06 de junho, no julgamento da chapa Dilma/Temer, que foi impetrado por sinal pelo PSDB que mantem firme, por enquanto, com Temer com seus quatro ministros.
     Tudo indica que Temer caindo, caberá constitucionalmente ao Congresso Nacional uma eleição indireta. A pergunta é: quem poderá concorrer? Pela Constituição de 1988, todos os brasileiros com mais de 35 anos, filiados em algum partido, sem condenação em 2.ª instância podem!
          Imagino que o Eymael, o Levy Fidelix e o Zé Maria já estão se preparando. Como dizem brincando alguns, será muito difícil para os professores de História explicar a década de 2010 na hora da lição da História Republicana do Brasil.





TORTURE: NEVER MORE - NATIONAL COMMISSION OF TRUTH


No dia 10 de dezembro de 2014 membros da Comissão Nacional da Verdade entregaram a presidente Dilma Roussef no Palácio do Planalto o Relatório da Comissão Nacional da Verdade em três grossos volumes.

Em dezembro de 2009, por ocasião da 11.ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, reuniram-se em Brasília cerca de 1.200 delegados de conferências estaduais, convocadas pela Secretaria de Direitos Humanos na gestão do ministro Paulo de Tarso Vannuchi, para revisar e atualizar o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). 
A conferência recomendou a criação da Comissão Nacional da Verdade, com a tarefa de promover o esclarecimento público das violações de direitos humanos por agentes do Estado na repressão aos opositores. 
Aprovado nessa ocasião, o 3.º Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3) representou mais um passo no processo histórico de consolidação das orientações de promoção dos direitos humanos marcado pelo PNDH I, de 1996, com ênfase na garantia dos direitos civis e políticos, e pelo PNDH II, de 2002, que ampliou o debate ao incorporar os direitos econômicos, sociais e culturais. 
Reações na sociedade e no âmbito do próprio governo federal conduziram à revisão do PNDH-3 nos temas que provocaram maior tensão, inclusive algumas diretrizes do eixo orientador “Direito à memória e à verdade”.
Ao assinar a apresentação do programa, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou a relevância da criação de uma comissão da verdade, na medida em que apenas “conhecendo inteiramente tudo o que se passou naquela fase lamentável de nossa vida republicana o Brasil construirá dispositivos seguros e um amplo compromisso consensual – entre todos os brasileiros – para que tais violações não se repitam nunca mais".
Por ato presidencial de 13 de janeiro de 2010, foi instituído grupo de trabalho com a finalidade de elaborar o anteprojeto de lei para a criação da CNV. 
Sob a presidência de Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, o referido grupo foi integrado por Paulo de Tarso Vannuchi, secretário de Direitos Humanos da Presidência da República; Paulo Abrão, presidente da Comissão de 21 comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014 Anistia do Ministério da Justiça; Vilson Vedana, consultor jurídico do Ministério da Defesa; Marco Antônio Rodrigues Barbosa, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), do governo federal; Paulo Sérgio Pinheiro, representante da sociedade civil. 
O projeto de lei que resultou do trabalho realizado pelo grupo foi encaminhado ao Congresso Nacional em maio de 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo tramitado sob regime de urgência. 
Em setembro de 2011, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, acompanhada de cinco ex-ministros da pasta – José Gregori, Gilberto Sabóia, Paulo Sérgio Pinheiro, Nilmário Miranda e Paulo de Tarso Vannuchi –, visitou os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para solicitar prioridade na aprovação do projeto de lei, em uma clara demonstração de suprapartidarismo sobre a matéria. Aprovada pelo Congresso Nacional, a Lei no 12.528 foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 18 de novembro de 2011. 
Em cerimônia realizada no Palácio do Planalto em 16 de maio de 2012, que contou com a participação dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello e José Sarney, a presidenta da República instalou a CNV com a afirmação de que a verdade era merecida pelo Brasil, pelas novas gerações e, sobretudo, por aqueles que perderam parentes e amigos.
Estabelecidos os marcos material, espacial e temporal para os trabalhos da CNV, a Lei no 12.528/2011 definiu ainda objetivos a serem cumpridos pelo órgão: Artigo 3o – São objetivos da Comissão Nacional da Verdade: I – esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos mencionadas no caput do artigo 1o ; II – promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior; III – identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionadas à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do artigo 1o , suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade; IV – encaminhar aos órgãos públicos competentes toda e qualquer informação que possa auxiliar na localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos, nos termos do artigo 1o da Lei no 9.140, de 4 de dezembro de 1995; V – colaborar com todas as instâncias do poder público para apuração de violação de direitos humanos, observadas as disposições das Leis nos 6.683, de 28 de agosto de 1979, 9.140, de 1995, e 10.559, de 13 de novembro de 2002; VI – recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e promover a efetiva reconciliação nacional; VII – promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução histórica dos casos de graves violações de direitos humanos, bem como colaborar para que seja prestada assistência às vítimas de tais violações.

Um vácuo na história recente e trágica do Brasil foi preenchido! Que isto sirva para que no Brasil não Haja Tortura Nunca Mais!







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