Nota pública da Comissão Nacional da Verdade nos 50 anos do golpe de Estado de 1964
Há cinquenta anos um golpe de estado militar destituiu o governo constitucional do
presidente João Goulart. Instaurou por longo tempo no país um regime autoritário
que desrespeitava os direitos humanos; no qual os direitos sociais de muitos eram
ignorados; em que os opositores e dissidentes foram rotineiramente perseguidos com a
perda dos direitos políticos, a detenção arbitrária, a prisão e o exílio; onde a tortura, os
assassinatos, os desaparecimentos forçados e a eliminação física foram sistematicamente
utilizados contra aqueles que se insurgiam. Neste cinquentenário, a Comissão Nacional
da Verdade quer homenagear essas vítimas e reafirmar sua determinação em ajudar a
construir um Brasil cada vez mais democrático e mais justo.
A Comissão Nacional da Verdade nasceu com o objetivo de examinar e esclarecer as
graves violações de direitos humanos praticadas no período. Baseia-se na convicção
de que a verdade histórica tem como objetivo não somente a afirmação da justiça, mas
também preparar a reconciliação nacional, como vem assentado no seu mandato legal.
Esteia-se na certeza de que o esclarecimento circunstanciado dos casos de tortura,
morte, desaparecimento forçado, ocultação de cadáver e sua autoria, a identificação
de locais, instituições e circunstâncias relacionados à prática de violações graves de
direitos humanos, constituem dever elementar da solidariedade social e imperativo da
decência, reclamados pela dignidade de nosso país. Não deveria haver brasileiro algum
ou instituição nacional alguma que deles se furtassem sob qualquer pretexto.
No ano passado comemoramos os vinte cinco anos da promulgação da Constituição
Brasileira de 1988. Oitenta e dois milhões de brasileiros nasceram sob o regime
democrático. Mais de oitenta por cento da população brasileira nasceu depois do golpe
militar. O Brasil que se confronta com o trágico legado de 64, passados cinquenta anos,
é literalmente outro. O país se renovou, progrediu e busca redefinir o seu lugar no
concerto das nações democráticas. Não há por que hesitar em incorporar a esta marcha
para adiante a revisão de seu passado e a reparação das injustiças cometidas. Pensamos
ser este o desejo da maioria. É certamente o sentido do trabalho da Comissão Nacional
da Verdade.
Brasília, 30 de março de 2014.
Comissão Nacional da Verdade
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