Mestre e doutor em Educação pela Universidade
Estadual de Campinas, o filósofo Sílvio
Gallo é
atualmente professor livre-docente na Unicamp e fala à revista FILOSOFIA
Ciência & Vida sobre o início de sua trajetória profissional na área
filosófica. Relembra sua vida estudantil,
quando ainda estudava no curso de técnico em Química,
e o início do seu contato com a Filosofia, o que o levou a seguir
profissionalmente neste campo do saber, lecionando desde a educação básica até
o ensino superior. Ao longo da entrevista, aborda, entre outros assuntos, as
contribuições que o pensamento anarquista pode proporcionar para refletirmos
sobre a educação do nosso país na atualidade. Analisa a presença da Filosofia no currículo do ensino médio brasileiro e comenta sobre a
experiência de escrever o seu segundo livro didático para o respectivo nível de
ensino. Ainda sobre a presença da Filosofia no Ensino Médio,
reflete a respeito dessa disciplina ser trabalhada na perspectiva da criação de
conceitos, definindo a Filosofia como um conjunto de ferramentas conceituais
que poderão servir como instrumentos que não resolverão os problemas da
atualidade, mas que contribuirão “para enfrentá-los, trabalhá-los,
investigá-los”. Ao final da entrevista, Gallo reflete sobre a importância do
pensamento dos filósofos franceses e destaca, especialmente, as
contribuições que o filósofo René Schérer pode trazer para pensarmos a temática
referente à Filosofia da Educação.
FILOSOFIA
• O que despertou o seu interesse em estudar Filosofia e em seguir nesta
carreira profissionalmente?
Gallo • Fui estudar Filosofia porque durante
o Ensino Médio estudei muito pouco a área de Humanas.
Fiz um curso técnico em Química, de excelente qualidade, mas com carga horária
mínima para Humanas: duas aulas semanais de História no primeiro ano, duas de
Geografia no segundo ano e, no terceiro, uma aula de Educação Moral e Cívica e
uma aula de Organização Social e Política do Brasil. Tínhamos aula em período
integral, de segunda a sexta-feira das 8h às 18h e aos sábados das 8h às 12h, e
apenas essa carga horária em Ciências Humanas. Isso, claro, em plena ditadura.
Quando terminei o curso fui
trabalhar como técnico em química e sabia que não queria fazer curso superior
na área; gostava da Química, mas achava que tinha aprendido o que queria.
Durante um ano, optei por não ir à universidade e nesse período acabei fazendo
alguns cursos livres de Astronomia, ciência pela qual me apaixonei. Em alguns desses cursos, estudei cosmologia e vimos as teorias gregas antigas sobre o universo, bem como as bases filosóficas da Física moderna e contemporânea. Isso
despertou muito minha atenção. De modo que resolvi ir à universidade, cursar um
bacharelado em Física para posteriormente fazer uma pós-graduação em Astrofísica. Como segunda opção, Filosofia, por puro
deleite intelectual e nenhuma intenção profissional. Por uma série de questões
práticas e familiares, desisti de cursar Física e resolvi, então, investir
naquela que seria a segunda opção.
Na
época, o único curso de Filosofia em Campinas era o da PUC, que tinha uma turma
noturna, o que era conveniente para mim, pois trabalhava em indústria química.
Esse curso era uma licenciatura, e então fui cursar a Licenciatura em
Filosofia, mas por puro acaso e sem qualquer interesse profissional. Durante o
curso, descortinou-se para mim outro universo da Filosofia, muito mais
abrangente que meu interesse inicial em Cosmologia e Filosofia da Ciência. E, pouco a pouco, a paixão pela
Filosofia foi aumentando, ao mesmo tempo em que crescia meu desinteresse pela
Química. No final do curso, em 1986, o rumo estava traçado: cursar o mestrado
em Filosofia da Educação na Unicamp e dar aulas de Filosofia. Deixei
definitivamente para trás minha carreira como técnico em química.
FILOSOFIA
• No período compreendido entre os anos de 1987 e 1992, você lecionou Filosofia
em algumas escolas de Campinas (SP). Poderia dizer como foi essa experiência
docente no ensino médio? Que aprendizados essa experiência trouxe para a sua
vida?
Gallo • Comecei, na verdade, em 1987, a dar
aulas numa escola pública estadual, de Educação Moral e Cívica e OSPB, para as
séries finais do então primeiro grau e para o segundo grau. Minha intenção era
desconstruir essas disciplinas da ditadura,
trabalhando com conteúdos de Ética na primeira e de Filosofia Política na
segunda. Tive mais sucesso com os alunos do segundo do que com os do primeiro
grau. Depois de alguns meses, consegui uma bolsa de mestrado e fui obrigado a
deixar as aulas.
No
ano seguinte, fui convidado para lecionar Filosofia nas três séries do segundo
grau em um colégio particular de Campinas. Ali trabalhei por cinco anos,
enquanto fiz meu mestrado e boa parte do doutorado. Foi lá que aprendi, de
fato, a ser professor. Despertou meu gosto de trabalhar com os alunos jovens,
de estudar Filosofia com eles, de explorar o mundo e o pensamento. Posso dizer
que essa experiência mudou minha vida, fazendo-me ser o que sou hoje, pensar o
que penso, agir da forma como ajo. Consolidou também meu interesse pelo campo
da Educação, fazendo-me permanecer no doutorado em Filosofia da Educação após
terminar o mestrado.
Embora
tenha depois passado a trabalhar no ensino superior, essa experiência foi
marcante. Fui trabalhar no curso de Filosofia na Universidade Metodista de
Piracicaba (onde fiquei por 15 anos, de 1990 a 2005), que era (e continua
sendo) uma licenciatura. Resolvi que não poderia repetir ali o que eu tinha
experimentado na PUC, uma licenciatura que funcionava como bacharelado. Isso
nos fez realizar várias iniciativas, como a criação do Grupo de Estudos sobre
ensino de Filosofia (GESEF), um dos pioneiros nos anos 1990 a trabalhar com
esse tema. Isso, claro, com todas as dificuldades impostas pela realidade de
uma instituição privada. Na Unicamp, onde estou desde 1996 (desde 2005 em tempo
integral, depois que deixei a Unimep) na Faculdade de Educação, meu foco é a
Filosofia da Educação, mas o ensino de Filosofia continua a ser uma das linhas de
pesquisa a que me dedico.
FILOSOFIA
• Em seus estudos de mestrado e doutorado, você abordou o pensamento anarquista
vinculado à Educação. De que modo a teoria anarquista pode contribuir para
pensarmos a Educação de nosso país atualmente?
Gallo • O pensamento anarquista nos coloca
na dimensão de uma educação que pode ser vista como pública, antes de ser
estatal. Isso é, pensamos a educação pública como um dever do Estado e
então a sociedade se desobriga; mas podemos tomá-la em nossas mãos, com a
comunidade definindo, de fato, os rumos da educação de seus filhos. Penso que
esse é um dos nossos grandes desafios hoje.
Por
outro lado, o anarquismo nos coloca na direção de um pensamento
autônomo, da necessidade de se pensar por si mesmo. Penso
que não há outra possibilidade concreta para a Filosofia senão investir nesse
pensamento autônomo, para que o ensino de Filosofia nos coloque numa dimensão
libertária da Educação.
Enfim,
como não temos condições de nos estender demais sobre o tema, podemos pensar
práticas libertárias na relação entre professores e alunos, práticas concretas
que podem ser realizadas no cotidiano da sala de aula. Praticar relações
libertárias na
escola ajuda a produzir outra educação, mais aberta, mais livre, mais dinâmica.
FILOSOFIA • Com relação à
presença da Filosofia no currículo do Ensino Médio brasileiro, como você avalia
a conquista de espaço dentro das escolas, após o término do período de
adaptação à exigência da Lei 11.684/08?
Gallo • Em minha avaliação, estamos
caminhando razoavelmente bem. É verdade que neste país enorme, a diversidade é
imensa e há lugares com avanços interessantes e outros em que muito ainda
precisa ser feito. Claro, nas regiões onde há cursos de Filosofia, avança-se
mais e programas como o PIBID (Programa de Bolsas de Iniciação à Docência) têm
feito uma imensa diferença, provocando efeitos muito interessantes, tanto na
formação do futuro professor de Filosofia quanto nas escolas de Ensino Médio
que recebem estagiários do PIBID. Penso que os impactos desse programa já estão
sendo percebidos, mas que nos próximos anos teremos sua real dimensão. Para o
campo do ensino de Filosofia, ele está sendo fundamental.
Por
outro lado, em cidades e regiões onde não há cursos de Licenciatura em Filosofia, temos muitos professores não
habilitados e, em alguns casos, a situação chega a ser calamitosa. Mas o
problema precisa ser enfrentado, buscando-se a capacitação desses professores
não habilitados, num primeiro momento, e a habilitação de professores de Filosofia para atender a essas
regiões, em médio prazo.
Enfim,
os desafios são grandes. Mas eles só estão postos porque a longa mobilização
para que a Filosofia estivesse presente no Ensino Médio brasileiro teve
sucesso.
FILOSOFIA
• Recentemente você publicou, pelo Plano Nacional do Livro Didático – (PNLD)
2015, o livro intitulado Filosofia: experiência do pensamento. Como foi a
investida nessa nova forma de publicação? Qual é a proposta didática, no âmbito
da Filosofia, que apresenta no respectivo livro?
Gallo • A construção do livro foi um grande
desafio. Já havia tido a experiência de produzir um livro didático para Filosofia, Ética e Cidadania – caminhos da Filosofia, publicado em
1997 e que já teve mais de 20 edições. Mas foi algo muito diferente: escrevemos
em grupo, para uma realidade em que a Filosofia era disciplina optativa e
na maior parte do tempo oferecida em apenas um ano. O livro está dimensionado
para isso.
Agora,
tratou-se de preparar um livro para os três anos do ensino médio, segundo as
orientações do MEC para os livros didáticos de Filosofia, a partir de uma
concepção definida de ensino de Filosofia e procurando diferenciar-se de outros
bons livros disponíveis no mercado, três deles já aprovados no PNLD anterior.
Foi uma grande alegria ver o livro aprovado, pois a avaliação feita pelos
especialistas é muito criteriosa e a aprovação indica que o livro tem
respeitabilidade na área. Espero que ele se constitua em uma alternativa para
os professores de Filosofia que desejem trabalhar de um modo problemático e com
uma abordagem mais contemporânea.
A
proposta didática foi pensada segundo algumas premissas: tomar a Filosofia como
atividade conceitual e seu ensino como um impulso à experimentação do
pensamento; centrar-se em problemas vividos, buscando conceitos que nos ajudem
a enfrentá-los; dialogar com a história da Filosofia, mas desde uma perspectiva
contemporânea; sem deixar de lado os pensadores clássicos,
trabalhar também com autores contemporâneos,
tentando com isso mostrar a Filosofia como algo vivo, dinâmico, vibrante, que
pensa nosso mundo e nosso tempo. Com tudo isso, propor um estudo da Filosofia
visando à construção do pensamento próprio e autônomo, mas por meio da leitura
de textos dos filósofos e da produção de textos próprios.
FILOSOFIA • Com base no
pensamento dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, você defende que a
Filosofia se constitui como uma atividade de “criação de conceitos”. Poderia
nos explicar como o docente de Filosofia pode desenvolver essa postura filosófica
nas aulas de Filosofia do Ensino Médio?
Gallo • Penso que se a Filosofia é uma
atividade, ela não pode ser apresentada aos estudantes como algo pronto,
finalizado, acabado. Precisamos provocar o pensamento, “empurrar” os alunos
para a Filosofia. E podemos fazer isso os trazendo para os problemas,
tornando-os sensíveis aos problemas ou tornando-nos, nós, professores,
sensíveis aos problemas que eles trazem. E apresentar a Filosofia como um
conjunto de ferramentas conceituais que são instrumentos não para resolver
esses problemas, mas para enfrentá-los, trabalhá-los, investigá-los.
Sinceramente,
não vejo como a Filosofia possa ser outra coisa, principalmente se queremos que
os jovens se interessem por ela. Se for apenas mais um conjunto de informações
que vão cair na prova, no vestibular ou no Enem, não faz qualquer sentido.
FILOSOFIA
• Já existe alguma prática filosófica escolar permeada pela Filosofia como
“criação de conceitos”? Se existir, como avalia a aplicação e o desenvolvimento
dessa metodologia?
Gallo • Poderia falar de muitas
experimentações nessa direção, mas não temos espaço suficiente, então
destacarei algumas iniciativas. Há anos o Estado do Paraná definiu suas
diretrizes curriculares para o ensino de Filosofia e elas foram pensadas
segundo essa perspectiva. Desde então, os professores daquele Estado têm
trabalhado nessa direção, alguns com avanços muito interessantes, com
experimentações surpreendentes, outros com muitas dificuldades. Isso é
inevitável.
Em
outubro de 2014, durante o encontro da ANPEd Sudeste em São João del-Rei, tive
um encontro com a professora responsável pelos estágios e pelo PIBID de
Filosofia da UFJF, bem como com um grupo de alunos de Filosofia e duas
professoras de Filosofia da rede pública da cidade, que recebem os estagiários
da Universidade. Eles me relataram que estão trabalhando nessa perspectiva de
ensino de Filosofia e realizando vários projetos nas escolas, com resultados
interessantes.
Também
em outubro de 2014, a Anpof realizou seu encontro bienal e, pela segunda vez,
aconteceu a Anpof Ensino Médio, com apresentação de trabalhos de professores de
Filosofia no Ensino Médio e minicursos. Tive a oportunidade de oferecer um minicurso
com o título Ensino de Filosofia e Experimentação Conceitual e, ao longo de
três dias, trabalhar com professores de Filosofia de vários Estados
brasileiros. Também assisti a apresentações de trabalhos relatando experiências
como essa perspectiva de ensino de Filosofia, pensada e praticada de diversas
formas, o que mostra que temos tido avanços interessantes nesse campo.
FILOSOFIA • No ano de 2014,
você organizou o livro intitulado As diferentes faces do racismo e suas
implicações na escola. O tema do racismo certamente está bastante em voga no
momento. De que modo a Filosofia na escola pode contribuir para problematizar
as questões referentes ao preconceito, e não só o racial?
Gallo • Esse livro foi organizado a partir
de trabalhos do grupo de pesquisa que coordeno na Faculdade de Educação da
Unicamp, o DiS – Grupo de Estudos e Pesquisas Diferenças e Subjetividades em
Educação, sendo o tema do racismo um daqueles a que nos dedicamos. Pensamos o racismo em
sentido amplo, como o exercício de práticas preconceituosas contra aqueles que são diferentes. O
racismo mostra uma reação daqueles que não sabem conviver e compartilhar os
espaços com aqueles que são diferentes, em qualquer aspecto.
Penso
que as aulas de Filosofia podem proporcionar nas escolas espaços para pensar
essa problemática. Claro que ela não pode ser enfrentada
apenas pela Filosofia, trata-se de um problema a ser enfrentado pelo conjunto
das disciplinas e pela comunidade escolar como um todo, mas a Filosofia pode
contribuir com uma abordagem conceitual em torno das diferenças e das
multiplicidades que permitem que se veja de outra maneira.
No livro didático, a propósito, há capítulos escritos com
essa intenção, por exemplo, ao problematizar a sexualidade e as múltiplas
formas de vivenciá-la.
FILOSOFIA • Nos últimos anos,
além de debater sobre a Filosofia no Ensino Médio, você tem dedicado seus
estudos sobre os filósofos franceses (como Michel Foucault, Gilles Deleuze,
entre outros). Embora suas teorias não estejam vinculadas diretamente ao campo
educacional, de que modo o pensamento desses filósofos pode contribuir para
pensarmos a área da Educação?
Gallo • Dedico-me ao estudo da Filosofia francesa contemporânea desde os tempos da graduação em Filosofia.
Esses filósofos me acompanham desde então, estão presentes em minhas pesquisas
no mestrado e no doutorado, ainda que não tenham sido o foco principal. Nos
últimos anos, o que fiz foi desenvolver estudos mais sistemáticos,
principalmente de Deleuze e de Foucault, no
campo da Filosofia da Educação.
Penso
que suas filosofias, embora não sejam filosofias da educação, oferecem
ferramentas conceituais muito interessantes para pensarmos os problemas
educacionais, e é isso que tenho me esforçado em demonstrar, experimentando a
potência de certos conceitos produzidos por eles para pensar problemas que eles
não pensaram. É o que poderíamos chamar de uma prática de “deslocamentos
conceituais”, tirar certos conceitos de seu campo problemático original e
fazê-los funcionar em outro campo problemático. Segundo Deleuze, isso já é uma
atividade criativa, pois quando um conceito é deslocado, ele é profundamente
transformado, acaba recriado, torna-se, de fato, outro conceito.
FILOSOFIA
• Para finalizar, recentemente você pesquisou o pensamento do filósofo
contemporâneo René Schérer [professor emérito da Universidade de Paris 8]. O
que a Filosofia de Schérer apresenta de novo para as discussões referentes ao
campo da Filosofia da Educação?
Gallo • René Schérer é uma figura apaixonante. Com
mais de 90 anos, segue dando um seminário de doutorado todo ano na
universidade, com uma vitalidade impressionante. Inquieto, está sempre pensando
coisas novas e instigando os alunos de seu seminário.
Infelizmente, é pouco conhecido no Brasil, bem
menos que os filósofos de sua geração, que já faleceram e dos quais foi colega
(em alguns casos, amigo), como Foucault, Deleuze, Derrida, por exemplo. Apenas um de seus
livros foi traduzido no Brasil (Infantis, Ed.
Autêntica, 2009), mas ele é autor de aproximadamente 30 livros, sobre variados assuntos,
bem como diversos artigos. Dedicou-se a temas como a fenomenologia, a comunicação, a hospitalidade, a infância, o anarquismo no pensamento, a estética, a homossexualidade.
Para o que concerne à educação, publicou algumas
obras importantes, de modo especial o livro Émile Perverti (1974, reedição
revista em 2006), uma dura crítica à pedagogia
moderna, que promove uma “perversão da infância”, ao colocar as crianças
num molde produzido pelos adultos. O antídoto ele encontrou no utopista francês
do século XVIII, Charles Fourier,
cuja obra ele tratou de recolocar em circulação na França: pensar uma “infância
maior”.
Schérer também não foi um filósofo da educação; mas
estou preparando um livro sobre sua obra e seu pensamento, defendendo que
podemos perceber uma filosofia da educação em sua trajetória. Uma filosofia da
educação crítica do status quo,
de um processo educativo que opera segundo aquilo que ele denomina o “dispositivo pedagógico” (tomando
de Foucault o conceito de dispositivo e fazendo-o operar na problemática
educativa; um exemplo daquilo que chamei anteriormente de “deslocamento conceitual”) e
propositiva de um pensamento inventivo e criativo, de um processo educativo que
tome as crianças não como seres a serem desenvolvidos e educados para
tornarem-se maiores, adultos, mas como seres de desejos e de vontades, que
produzem um mundo e suas relações. Uma educação que não defina a priori um processo que
deve ser seguido por todos, mas que acompanhe passo a passo as criações das
próprias crianças, aprendendo também com elas.
Com Schérer, encontrei outra maneira de pensar o
anarquismo (ele afirma em livros do final da década passada que o pensamento é
anárquico em sua própria natureza, uma vez que não tem princípios) e a
autonomia, novas formas de pensar a educação numa perspectiva libertária. Além
disso, ele nos traz também importantes contribuições para pensar o trabalho do
professor de Filosofia, isso que ele fez toda sua vida, tanto na educação média
como na universidade, investindo no pensamento próprio de cada um, que pode ser
experimentado em experiências comunitárias e coletivas, sem deixar de ser
singular.
Revista Filosofia Ciência &
Vida Ed. 104
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