segunda-feira, 22 de maio de 2017

RECEITA DE AMÉRICA LATINA NA POESIA DE CLARIBEL ALEGRÍA

Índia Malinche com Cortez
Tradução do Espanhol por Cláudio Maffei



TAMALITOS DE CAMBRAY

(5,000,000 de tamalitos)

Claribel Alegría (*)



A Eduardo y Helena que me
pidieron una receta salvadoreña.

Dos libras de masa de mestizo
media libra de lomo gachupín
cocido y bien picado
una cajita de pasas beata
dos cucharadas de leche de Malinche
una taza de agua bien rabiosa
un sofrito con cascos de conquistadores
tres cebollas jesuitas
una bolsita de oro multinacional
dos dientes de dragón
una zanahoria presidencial
dos cucharadas de alcahuetes
manteca de indios de Panchimalco
dos tomates ministeriales
media taza de azúcar televisora
dos gotas de lava de volcán
siete hojas de pito
(no seas mal pensado es somnífero)
lo pones todo a cocer
a fuego lento
por quinientos años
y verás qué sabor.








TAMALITOS(1) DE CAMBRAY(2)

(5.000.000 de tamalitos) (3)

Claribel Alegría (*)



A Eduardo e Helena que me pediram uma receita de El Salvador.

Duas libras de farinha de mestiço
Meia libra de lombo gachupín (4)
Cozido e picado bem fininho
Uma caixa de passas beata (5)
Duas colheres de sopa de leite Malinche (6)
Um copo de água bem furiosa
Frite levemente nas armaduras dos conquistadores
Três cebolas jesuítas
Uma bolsinha de ouro multinacional
Dois dentes de dragão
Uma cenoura presidencial
Duas colheradas de sopa de cafetões
Manteiga de índios Panchimalco (7)
Dois tomates ministeriais
Meia taça de açúcar televisiva
Duas gotas de lava de vulcão
Sete folhas de pito (8)
(Não faça mau pensamento senão vira sonífero)
Coloque tudo para cozer
Em fogo lento
Por quinhentos anos
E verás que sabor!

(1)    Tamal vem do náhuatl (envolto). Espécie de pamonha onde se abre a massa bem fina sobre a palha. Não havendo palha pode substituí-la por papel manteiga ou papel alumínio. É feita na Guatemala, El Salvador e Honduras)
(2)    Cambray, fazendo um paralelo irônico com o tecido musselina, é também uma variante de tamales mais incomum, doce e também embrulhado em palha de milho, considerado uma sobremesa especial onde se destacam as passas e não leva a carne.
(3)    5 milhões de indígenas.
(4)    Fidalgo espanhol, guri, moleque espanhol.
(5)    Pessoa que frequenta muito as cerimônias religiosas, principalmente se tratando do catolicismo.
(6)    Também conhecida como índia Malintzin e Dona Marina, foi uma indígena (provavelmente da etnia Nahua) da Costa do México, que acompanhou Fernando Cortéz e teve um papel decisivo no auxílio da Conquista do México, pois falava três línguas, é considerada uma judas, uma traidora dos povos indígenas.
(7)    Etnia indígena de El Salvador.
(8)    Planta pouco estudada, mas é bastante usada pelos índios, e por ter alcaloides, tem ação calmante, antinervosas, anti-hemorrágicas e antidisinteria.



(*) BIOGRAFIA DE CLARIBEL ALEGRÍA



Claribel Alegría nasceu em 1924 na Nicarágua, quando ela tinha nove meses, a família mudou-se de Estelí para Santa Ana, no oeste de El Salvador. Seu pai, Daniel Alegría, um médico, era de origem nicaraguense e sua mãe, Ana María Vides, era salvadorenha. O regime autoritário de Anastasio Somoza, na Nicarágua, forçou a família Alegría ao exílio.
Em 1943, Claribel Alegría viajou para os Estados Unidos para fazer o Ensino Superior, ingressando na Universidade George Washington, onde recebeu seu bacharelado em filosofia e letras. Quando estava nos Estados Unidos, em 1947, casou-se com Darwin J. Flakoll, tiveram três filhas (Maya e as gêmeas Patricia e Karen) e um filho, Erick. Viveram no México, Santiago do Chile (onde cada um recebeu subsídios da Fundação Catherwood, em 1954), Buenos Aires, Montevidéu, Paris, Palma de Mallorca e Nicarágua, seu local de residência desde setembro de 1979. Sua afinidade intelectual como casal era tão forte que assinaram alguns de seus escritos conjuntos como "Claribud". Claribel e "Bud". Traduziram do inglês cem poemas de Robert Graves (Barcelona, Lumen), que era seu vizinho em Deià, na ilha espanhola de Palma de Mallorca. Eles mantiveram-se amigos íntimos com figuras importantes da literatura latino-americana, como Juan Rulfo, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti. Deste último escritor foram editores de "Pacto de sangue e outras histórias" (Willimantic, Cubstone Press, 1997)
Em 1948, Claribel Alegría publicou seu primeiro livro de poesia: "Anel Silêncio". Ao longo de sua longa carreira literária, ela publicou poesias, romances, ensaios e traduções.
Ao longo de sua vida, Alegría, foi incorporada na chamada geração comprometida, onde se destacou pelos ideais de resistência não-violenta contra as ditaduras e guerras e, contra as injustiças sociais que têm atormentado os países latino-americanos. Em sua obra o diálogo com a violência e a morte ocupa um espaço central, devido a autora passar grande parte de sua existência convivendo com essas sensações. A ausência é, paradoxalmente, uma das presenças mais fortes na palavra poética de Alegría. Sua obra se levanta como um testemunho de sucessivas experiências pessoais e nacionais: como a ausência do amado (seu marido morreu em 1979), o reconhecimento histórico para com a América Latina e, sua consequente identidade cultural. Sua poesia é definida por seu desejo de corrigir as emoções mais difíceis e insuportáveis, porém, sempre com uma fé enorme e inalterável no futuro.

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