Índia Malinche com Cortez |
Tradução do Espanhol por Cláudio Maffei
TAMALITOS
DE CAMBRAY
(5,000,000 de tamalitos)
Claribel Alegría (*)
A Eduardo
y Helena que me
pidieron una receta salvadoreña.
Dos
libras de masa de mestizo
media libra de lomo gachupín cocido y bien picado una cajita de pasas beata dos cucharadas de leche de Malinche una taza de agua bien rabiosa un sofrito con cascos de conquistadores tres cebollas jesuitas una bolsita de oro multinacional dos dientes de dragón una zanahoria presidencial dos cucharadas de alcahuetes manteca de indios de Panchimalco dos tomates ministeriales media taza de azúcar televisora dos gotas de lava de volcán siete hojas de pito (no seas mal pensado es somnífero) lo pones todo a cocer a fuego lento por quinientos años y verás qué sabor. |
TAMALITOS(1) DE CAMBRAY(2)
(5.000.000 de tamalitos) (3)
Claribel Alegría (*)
A Eduardo e Helena que me pediram
uma receita de El Salvador.
Duas libras de farinha de mestiço
Meia libra de lombo gachupín (4)
Cozido e picado bem fininho
Uma caixa de passas beata (5)
Duas colheres de sopa de leite
Malinche (6)
Um copo de água bem furiosa
Frite levemente nas armaduras dos
conquistadores
Três cebolas jesuítas
Uma bolsinha de ouro multinacional
Dois dentes de dragão
Uma cenoura presidencial
Duas colheradas de sopa de cafetões
Manteiga de índios Panchimalco (7)
Dois tomates ministeriais
Meia taça de açúcar televisiva
Duas gotas de lava de vulcão
Sete folhas de pito (8)
(Não faça mau pensamento senão vira sonífero)
Coloque tudo para cozer
Em fogo lento
Por quinhentos anos
E verás que sabor!
(1)
Tamal
vem do náhuatl (envolto). Espécie de pamonha onde se abre a massa bem fina
sobre a palha. Não havendo palha pode substituí-la por papel manteiga ou
papel alumínio. É feita na Guatemala, El Salvador e Honduras)
(2)
Cambray,
fazendo um paralelo irônico com o tecido musselina, é também uma variante de
tamales mais incomum, doce e também embrulhado em palha de milho, considerado
uma sobremesa especial onde se destacam as passas e não leva a carne.
(3)
5
milhões de indígenas.
(4)
Fidalgo
espanhol, guri, moleque espanhol.
(5)
Pessoa
que frequenta muito as cerimônias religiosas, principalmente se tratando do
catolicismo.
(6)
Também
conhecida como índia Malintzin e Dona Marina, foi uma indígena (provavelmente
da etnia Nahua) da Costa do México, que acompanhou Fernando Cortéz e teve um
papel decisivo no auxílio da Conquista do México, pois falava três línguas, é
considerada uma judas, uma traidora dos povos indígenas.
(7)
Etnia
indígena de El Salvador.
(8)
Planta
pouco estudada, mas é bastante usada pelos índios, e por ter alcaloides, tem
ação calmante, antinervosas, anti-hemorrágicas e antidisinteria.
|
(*) BIOGRAFIA DE CLARIBEL ALEGRÍA
Claribel Alegría nasceu em 1924
na Nicarágua, quando ela tinha nove meses, a família mudou-se de Estelí para
Santa Ana, no oeste de El Salvador. Seu pai, Daniel Alegría, um médico, era de
origem nicaraguense e sua mãe, Ana María Vides, era salvadorenha. O regime
autoritário de Anastasio Somoza, na Nicarágua, forçou a família Alegría ao
exílio.
Em 1943, Claribel Alegría viajou
para os Estados Unidos para fazer o Ensino Superior, ingressando na Universidade
George Washington, onde recebeu seu bacharelado em filosofia e letras. Quando estava
nos Estados Unidos, em 1947, casou-se com Darwin J. Flakoll, tiveram três
filhas (Maya e as gêmeas Patricia e Karen) e um filho, Erick. Viveram no
México, Santiago do Chile (onde cada um recebeu subsídios da Fundação Catherwood,
em 1954), Buenos Aires, Montevidéu, Paris, Palma de Mallorca e Nicarágua, seu
local de residência desde setembro de 1979. Sua afinidade intelectual como
casal era tão forte que assinaram alguns de seus escritos conjuntos como
"Claribud". Claribel e "Bud". Traduziram do inglês cem
poemas de Robert Graves (Barcelona, Lumen), que era seu vizinho em Deià, na
ilha espanhola de Palma de Mallorca. Eles mantiveram-se amigos íntimos com
figuras importantes da literatura latino-americana, como Juan Rulfo, Julio
Cortázar, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti. Deste último
escritor foram editores de "Pacto de sangue e outras histórias"
(Willimantic, Cubstone Press, 1997)
Em 1948, Claribel Alegría
publicou seu primeiro livro de poesia: "Anel Silêncio". Ao longo de
sua longa carreira literária, ela publicou poesias, romances, ensaios e
traduções.
Ao longo de sua vida, Alegría,
foi incorporada na chamada geração comprometida, onde se destacou pelos ideais
de resistência não-violenta contra as ditaduras e guerras e, contra as
injustiças sociais que têm atormentado os países latino-americanos. Em sua obra
o diálogo com a violência e a morte ocupa um espaço central, devido a autora
passar grande parte de sua existência convivendo com essas sensações. A
ausência é, paradoxalmente, uma das presenças mais fortes na palavra poética de
Alegría. Sua obra se levanta como um testemunho de sucessivas experiências
pessoais e nacionais: como a ausência do amado (seu marido morreu em 1979), o
reconhecimento histórico para com a América Latina e, sua consequente
identidade cultural. Sua poesia é definida por seu desejo de corrigir as
emoções mais difíceis e insuportáveis, porém, sempre com uma fé enorme e inalterável
no futuro.
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