No último dia 22 de maio, num show para adolescentes e crianças, da cantora americana Ariana Grande em Manchester no oeste da Inglaterra, ocorreu um terrível atentado que matou 22 pessoas e deixou 59 feridos.
Uma cena horripilante reivindicada pelos extremistas do Estado Islâmico.
Temos noção da tragédia que tais atos conferem, não só para as pessoas e país atingido, mas também para a paz, tanto que foi repudiado pela maioria dos líderes mundiais do Papa Francisco à Benjamin Netanyahu e de Donald Trump à Vladmir Putin.
O que nos causa estranhamento é que entre nós, brasileiros, muitos que condenam este ato, pedem de volta um regime ditatorial que, só não patrocinou, um massacre como esse de Manchester,porque a bomba estourou antes no colo do militar que iria cometer um ato terrorista no RioCentro no Show de Primeiro de Maio de 1981.
Vejamos essa reportagem do Jornal Zero Hora:
DOCUMENTOS REVELAM COMO O
EXÉRCITO SE ARTICULOU PARA OCULTAR EXPLOSÕES NO RIOCENTRO
Ataques tinham como alvo o
show com cerca de 20 mil pessoas no Rio de Janeiro, há 31 anos.
Missão Nº 115. Esse era o nome oficial da
vigilância desencadeada pelos serviços de espionagem do Exército no centro de
convenções Riocentro, no Rio, em 30 de abril de 1981, quando 20 mil pessoas ali
se reuniam para um show musical em protesto contra o regime militar. Duas
bombas explodiram lá, e os agentes “supervisores” da ação foram as únicas
vítimas do episódio, que lançou suspeitas sobre atividades terroristas
praticadas por militares e mergulhou em agonia uma ditadura que vinha desde
1964 e acabaria sepultada em 1985. Tudo isso a população brasileira já intuía,
por meio de depoimentos. O que até agora permanecia oculto – e está sendo
revelado por Zero Hora, em primeira mão – são registros de militares envolvidos
no episódio e manobras de abafamento do incidente, arquitetadas por servidores
da repressão.
O segredo está em arquivos que eram guardados
em casa pelo coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias –
assassinado aos 78 anos, em 1º de novembro, em Porto Alegre, vítima de um crime
ainda nebuloso. Molinas Dias era, na época do atentado, comandante do
Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-Codi) do Rio de Janeiro, conhecido como Aparelhão. O arquivo do coronel
continha 200 páginas, várias delas encabeçadas pelo carimbo “confidencial” ou
“reservado”. O calhamaço evidencia que o aparelho repressivo militar tentou
maquiar o cenário do Riocentro para fazer com que as explosões parecessem obra
de guerrilheiros esquerdistas.
Os registros estavam guardados pelo minucioso
oficial. A unidade comandada por Molinas era responsável por espionar e
reprimir opositores ao regime militar. O DOI-Codi era localizado dentro do 1º
Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca.
Ao se aposentar, o coronel levou para casa documentos preciosos, contando
pormenores da sigilosa rotina da caserna. O dossiê deixa transparecer que a
bomba no Riocentro também fez estragos dentro da sede do DOI-Codi, distante 30
quilômetros do centro de eventos.
Em meio aos papéis, surgem evidências de que oficiais
forjaram fatos. Há inclusive uma orientação para simular o furto do veículo
pertencente ao sargento que morreu na explosão, no sentido de desaparecer com
pistas que seriam comprometedoras.
Oficiais forjaram cenário da ação
O acervo de Molinas foi arrecadado pela Polícia
Civil gaúcha após o assassinato dele e revela detalhes inéditos do lado de
dentro dos portões de uma das mais temidas unidades das Forças Armadas durante
os anos de chumbo.
Zero Hora teve acesso a memorandos datilografados e
também manuscritos, no qual o coronel registra a mobilização que se instalou
naquele quartel-sede da espionagem política do Brasil, imediatamente após a
explosão. São ordens, contraordens e telefonemas com a finalidade de evitar que
fatos e versões indigestas ao Exército viessem à tona.
Os papéis contêm medidas de prevenção para
segurança de militares, recomendações para não serem fotografados e relação de
bombas e artefatos explosivos no paiol do quartel para destruição coletiva e
individual. Mas o mais espesso lote de documentos do coronel é do tempo em que
ele dava as ordens no comando do DOI-Codi.
De próprio punho, o coronel Molinas teria redigido
parte desses memorandos, divididos em dias, horas e minutos. Trabalho
facilitado porque era detalhista. Um verdadeiro soldado espartano. Em meio à
papelada sobressaem-se relatórios sobre o desastroso atentado no centro de
convenções Riocentro. Uma das duas bombas que explodiram durante um show
musical acabou matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo com
gravidade o capitão Wilson Luiz Chaves Machado, chefe da seção de Operações do
DOI-Codi.
Os papéis do coronel Molinas mostram que Rosário
tinha o codinome de Agente Wagner e Wilson era chamado Dr. Marcos (militares de
baixa patente eram chamados de agentes e oficiais eram doutores, na gíria da
espionagem).
CORONEL TINHA CARTILHA COM ORIENTAÇÕES PARA OS SERVIÇOS DE ESPIONAGEM
Entre o acervo do DOI-Codi que o coronel Julio Miguel Molinas Dias
mantinha em sua residência, em Porto Alegre, está uma cartilha orientando como
militares do serviços de inteligência e espionagem deveriam se comportar no dia
a dia para evitar eventuais atentados de "subversivos".
O documento indica que
as medidas de segurança foram compiladas e distribuídas aos militares após
Carlos Marighella lançar um minimanual da guerrilha urbana, em 1969.
São 57 recomendações
denominadas "medidas de segurança" distribuídas em 10 páginas. Veja
algumas delas:
A pé:
— Evitar andar desarmado
e NUNCA use a arma de modo ostensivo
— Jamais tente, por
conta própria, dar uma cana (prender alguém). Caso a situação exija, chame a
polícia ostensiva.
— Porte apenas documentos necessários a sua identificação,
JAMAIS use o quente e o frio (documentos) ao mesmo tempo.
No automóvel
— Não use e nem deixe armas no porta-luvas.
— Antes de entrar no veículo, faça inspeção geral quanto à
possível violência nas portas, vidros, etc.
— Nas paradas obrigatórias em sinais de trânsito ou nos
engarrafamentos procure ficar atento a quem se aproxima.
— Evite nestas ocasiões ouvir música e namorar.
Na residência
— Sendo possível, use cães de guarda.
— Instrua familiares e empregados para não entregar objetos ou
volumes a estranhos que se apresentarem verbalmente em seu nome.
— Nas residências térreas é conveniente instalar alarmes.
— Nas residências em prédios de apartamentos, nunca confie
inteiramente em porteiros ou vigias. Eles podem ser subornados ou mesmo
dominados.
Medidas de segurança em
bares e restaurantes
— Nunca permaneça de costas para rua.
— Procure ocupar mesa junto à parede dos fundos, de modo a não
ficar de costas para estranhos.
— Não exceder no consumo de bebida alcóolica.
— Procure não se tornar NOTADO pelos demais.
— Evite se tornar frequentador assíduo e muito conhecido,
principalmente em locais de aperitivos.
Em bancos, casas
comerciais, etc.
— Não portar cheques em branco previamente assinados.
— Em supermercado, não coloque sua capanga ou bolsa contendo
arma, dinheiro e documentos dentro do carrinho de compras.
Em transportes coletivos
— Procure sentar-se nos últimos bancos quando viajar de ônibus,
e próximo às portas quando for de trem.
— Em ônibus interurbanos nunca coloque na mala a capanga, bolsa
ou casaco contendo armas, documentos ou dinheiro fora do seu alcance. Lembre-se
que poderá dormir e acordar sem seus pertences.
José Luís Costa e Humberto Tezzi - Jornal Zero Hora 24/11/2012
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