segunda-feira, 22 de maio de 2017

CHE GUEVARA SE DESPEDE DE SEUS PAIS NUMA ULTIMA MISSIVA

Carta de despedida a seus pais
Che Guevara
Queridos velhos:
Outra vez sinto sob meus calcanhares as costelas de Rocinante(*), e volto à estrada com o meu escudo sustentado pelo meu braço.
            Faz quase dez anos que lhes escrevi outra carta de despedida. Recordo-me que lamentava de não ser melhor soldado e nem melhor médico; ser médico não me interessa mais, e hoje não sou um soldado tão ruim.
            Nada mudou em essência, salvo que sou muito mais consciente, meu marxismo está enraizado e depurado. Creio na solução armada como única solução para os povos que lutam para libertar-se e sou coerente com minhas crenças.
            Muitos dirão que sou aventureiro, e o sou, só que de um tipo diferente, daqueles que põem a sua pele em risco para demonstrar suas verdades.
            Pode ser que esta seja a carta derradeira. Não busco o fim mas ele está dentro do cálculo lógico de probabilidades. Se assim for, um último abraço.
            Eu vos amei muito, só que eu não tenho sido capaz de expressar meu carinho, sou extremamente duro nas minhas ações e creio que as vezes não me entenderão. Não é fácil me entender, eu sei, mas por outro lado, entendam, nem que somente por hoje.
            Agora, tenho uma vontade de corrigir com um deleite de artista, o sustento das minhas pernas flácidas e meus pulmões cansados. O farei.
            Lembre-se, ocasionalmente, deste pequeno cavaleiro do século XX. Um beijo para Célia, Roberto, Juan Martín e Beatrice, enfim todos. Um grande abraço, de seu filho pródigo e recalcitrante, para vocês.

Ernesto.


(*) Cavalo de Dom Quixote de La Mancha


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