sábado, 6 de maio de 2017

JACK REED: O ÚNICO HERÓI ESTADO-UNIDENSE ENTERRADO NA RÚSSIA



JOHN REED
                Nascido em Portland, em 22 de Outubro de 1887, morreu em Moscou, no dia 19 de outubro de 1920. Escritor, jornalista e militante político estadunidense, escreveu o livro Dez dias que abalaram o mundo, um dos relatos mais famosos sobre os acontecimentos que constituíram a Revolução Bolchevique de Outubro onde aconteceu a tomada do poder pelos sovietes. O filme REDS trata sobre seu relacionamento com a escritora e militante feminista Louise Bryant, estrelado por Warren Beatty, Diane Keaton e Jack Nicholson, concorreu a 12 Oscar.


                John Reed não gostava da cidade de Portland, por isso, com 23 anos, teve uma oportunidade de ir para Universidade de Harvard em 1910. Quando concluiu seus estudo foi para a Europa num navio cargueiro e passou por Londres, Paris e Madrid. Regressou aos Estados Unidos e trabalhou como editor numa revista sobre política.


                Jack, como era chamado pelos amigos, ficou conhecido como jornalista militante e pelas suas coberturas das greves de trabalhadores e da Revolução Mexicana. Quando era correspondente de guerra na Europa durante a Primeira Guerra Mundial, entrou em contato com a Revolução Russa e partiu para lá. Conheceu Lênin e, das suas conversas com ele, fez um livro.


                Durante uma manifestação de operários de tecelagem em Lawrence, Massachusetts, ação esta apoiada pelo Partidos Socialista, conheceu Bill Haywood que revelou-lhe que 25 mil operários de uma fábrica na outra margem do rio Hudson, que manifestavam exigindo oito horas de trabalho diário, estavam sendo maltratados pela polícia. Jack juntou-se aos manifestantes, sendo preso durante quatro dias, tendo relatado no periódico The Masses sobre estes eventos.


                Em 1914, no México, Pancho Villa liderava uma rebelião de camponeses quando John Reed foi enviado como correspondente. Em pouco tempo tornou-se próximo do líder revolucionário, escrevendo o livro “Insurgent Mexico”, no Brasil publicado como “México Rebelde”. Os relatos apaixonados de Reed não eram objetivos e imparciais com esperavam as redações estadunidenses, Reed se colocava do lado dos revolucionários o que ajudou a espalhar as notícias desta revolução.


                Reed regressou aos Estados Unidos, reconhecido como um grande jornalista, quando no Colorado se deu o Massacre de Ludlow, onde os mineiros em greve foram abatidos pela Guarda Nacional pela oligarquia dos Rockefellers. Esses acontecimentos foram registrados em um livro: “A Guerra do Colorado”.


                Voltando para Portland para visitar sua mãe, que nunca aprovou suas ideias revolucionárias, conheceu Emma Goldman que discursava sobre feminismo e anarquismo.


                Com a Guerra Mundial em curso os grandes jornais de Nova Iorque pressionaram para que Reed cobrisse o conflito e ele concordou em ir pela revista The Metropolitan. Ao mesmo tempo ele escrevia para a revista The Masses artigos que possuíam frases como: “Foi uma guerra de lucros”.


                Desembarcou na Inglaterra e percorreu os Países Baixos e a Alemanha, quando nas trincheiras dos campos de batalha francês, sob chuva, lama e cadáveres ficou chocado com o patriotismo exacerbado de ambos os lados, até em alguns defensores do socialismo como H.G. Wells na Inglaterra.
                Retornando aos Estados Unidos, encontrou os radicais Upton Sinclair, John Dewey e Walter Lippmann que era o novo editor do New Republic.
                Lippmann escreveu, em dezembro de 2014, um ensaio: “O Legendário John Reed”, onde definiu a distância entre ele, um jornalista, e Reed, um revolucionário: “Por temperamento, ele não é um escritor profissional ou repórter. Ele é uma pessoa que gosta de si mesmo. Reed não é imparcial e tem orgulho disso”.


                Voltando para o cenário de guerra em 1915, desembarcou na Rússia, onde pode ver as vilas queimadas e saqueadas, em massacre de judeus pelos soldados do Czar. Esteve em Bucareste, Constantinopla, Sofia, Sérvia e Grécia. De retorno aos Estados Unidos, ouviu exaltados discursos sobre os preparativos militares contra “o inimigo” e redigiu para o The Masses que o inimigo para o trabalhador estadunidense eram os 2% da população que recebiam 60% da riqueza nacional. “Nós estamos defendendo que o trabalhador prepare-se para defender o inimigo. Esse é nosso preparativo”. Demonstrava Reed, assim, que o verdadeiro inimigo era a burguesia.


                Em 1916, John Reed conheceu Louise Bryant em Portland e apaixonaram-se imediatamente. Ela se separou do seu marido e foi morar com Reed em Nova Iorque. Louise era escritora e anarquista defensora do amor livre.



                Em abril de 1917, Woodrow Wilson pediu ao Congresso que se declarasse guerra contra à Alemanha e Reed escreveu no The Masses: “A guerra significa a histeria coletiva, crucificando os defensores da verdade, sufocando os artistas...Esta não é nossa guerra.” Ele testemunhou contra o recrutamento perante o Congresso: “Eu não acredito nesta guerra...Eu não serviria nela”.


                Emma Goldman e Alexander Berkman foram capturados pelo Draft Act (Lei de Alistamento Militar) por “conspiração e indução de pessoas a não se registrarem” como soldados para a Primeira Guerra. Reed foi uma testemunha de defesa, porém eles foram condenados, presos e deportados. Esse destino acontece a milhares de outros estadunidenses que se opuseram à guerra e jornais radicais como o The Masses foram banidos.


                John Reed se afligiu pelo modo através do qual as classes trabalhadoras da Europa e Estados Unidos estavam sustentando a guerra. Mas não perdeu as esperanças e escrevia: “Eu não posso desistir da ideia de que fora da democracia nascerá um rico novo mundo, onde o trabalhador será o desbravador, o libertador, um mundo mais bonito”.
                John Reed foi uma importante figura no Partido Socialista nos Estados Unidos, sendo determinante na fundação do Partido Comunista dos Trabalhadores que era um partido ilegal e disputava com outros o apoio do Comintern, a Internacional Comunista.


                Em 1917 chegaram aos Estados Unidos notícias que a Russia havia deposto o Czar. Uma revolução estava em marcha. Segundo Reed: “Finalmente, toda uma população se negou a continuar a carnificina e se revoltou contra a classe governante”. Com Louise Bryant, Reed partiu para a Finlândia e Petrogrado.



                A revolução avançava à sua volta, com operários a tomarem o poder nas fábricas através dos sovietes (conselhos), soldados recusando-se a combater e manifestando-se contra a guerra, e o soviete de Petrogrado elegeu uma maioria bolchevique. Por fim, a 6 e 7 de novembro (calendário juliano), houve a rápida tomada das estações ferroviárias, telégrafo, telefone e correios, e a concentração de trabalhadores e soldados junto ao Palácio de Inverno.


                Correndo de cena em cena, Reed tomou notas com uma velocidade incrível, reuniu cada folheto, pôster e proclamação e, então, no início de 1918, voltou aos Estados Unidos para escrever sua história. Ao chegar, suas anotações foram confiscadas. Ele se encontrou sob acusação, juntamente com outros editores do The Masses, por se opor à guerra. Mas, no julgamento, onde ele e Eastman testemunharam sobre suas crenças, o júri não pode chegar a uma decisão e as acusações foram retiradas.


                Reed começou a viajar por todos os Estados Unidos lecionando e propagandeando sobre a guerra e a Revolução Russa. No Tremont Temple, em Boston, ele foi bombardeado com perguntas dos estudantes da Universidade de Harvard. Em indiana, ele conheceu Eugene Debs, que seria logo sentenciado a dez anos por pregação contra a guerra. Em Chicago, ele acompanhou o julgamento de Bill Haywood e de outras centenas de líderes do IWW (Trabalhadores Industriais do Mundo – sindicato internacionalista), que pegariam longas sentenças de prisão. Em setembro de 1918, após falar para uma plateia de quatro mil pessoas, Reed foi preso por desencorajamento ao recrutamento nas forças armadas.


                Conseguiu pegar de volta suas anotações sobre a Rússia e em dois meses fez uma produção escrita furiosa de Os Dez Dias que Abalaram o Mundo, que se tornou o relatório clássico de uma testemunha ocular da Revolução Bolchevique na Rússia.


                Em 1919, a guerra acabou, mas as forças aliadas tinham invadido a Rússia e a histeria continuou, os Estados Unidos que tinha feito a gloriosa “Revolução Mundial”, agora estava com medo da Revolução dos Trabalhadores. Os não-cidadãos foram encurralados aos milhares, presos e deportados sem julgamento. Houve greves por todo o país e choques com a polícia. Reed se envolveu na formação do Partido Comunista dos Trabalhadores, e foi à Rússia como delegado da internacional Comunista.


                Participou de várias reuniões e de uma conferência em Moscou, a uma reunião de massas de asiáticos no Mar Negro. Degastado, ficou doente, febril e delirante, devido ao tifo. Em 1920, aos 44 anos, morreu num hospital em Moscou.


                O corpo de John Reed foi sepultado perto do Kremlin na Praça Vermelha, com honras de herói, sendo o único americano a quem tal honra foi concedida.




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