quinta-feira, 12 de julho de 2018

DIFERENÇAS ENTRE CANDOMBLÉ E UMBANDA



         A Ekedi, Professora e Doutora Patrícia Globo explica no estudo sobre a tradição do candomblé, que a crença é fruto de uma condição histórica específica, conhecida como escravidão e que se consolidou no Brasil no mesmo processo em que a Santéria aconteceu em Cuba e o Vodoo no Haiti.
         Nesta explicação simplificada de como a religião se estabeleceu no país, já nos faz entender sobre suas diferenciações, tais como sua base de fundamentação:

1.   Origem. 
     Candomblé é um culto afro-brasileiro. Umbanda é uma religião genuinamente brasileira (agrega influências dos cultos africanos, porém incorpora outras crenças também evocando o aspecto miscigenado do país).

2.   Orixás. 
     Mesmo sendo duas religiões que mantém o culto aos orixás, cada uma trata de uma forma diferente esse culto. Orixá na Umbanda é um mistério de Deus, para o candomblé orixás são ancestrais divinificados, considerados deuses da natureza.


3.   Espíritos. 
    A umbanda reconhece nas entidades de trabalho, espíritos de pessoas que desencarnaram e ao transcender atingiram o grau de mestres espirituais, que voltam à Terra (por meio da incorporação do médium) para prática da caridade. No candomblé mais tradicional, espírito humano que volta à Terra para manifestação por meio de alguém é Egun, uma espécie de alma penada.



4.   Assistência.  
   No candomblé o atendimento das pessoas é feito por meio da consulta de búzios, já na umbanda o passe – benção, limpeza espiritual – e a conversa com os espíritos através dos médiuns incorporados durante a gira, é a maneira mais comum dos visitantes do terreiro se relacionarem com a espiritualidade.



5.   Transe x Incorporação. 
     No candomblé (mais ortodoxo) espírito humano (Egun) não pode se manifestar e o transe acontece no Ori (cabeça da pessoa). Nessa ritualística a manifestação acontece de dentro para fora e se dá com seu orixá pessoal, que vem para se apresentar e dançar ao som dos atabaques. De uma maneira geral o candomblecista não tem como prática a incorporação e a mediunidade, portanto, não é um precedente desta religião.

6.   Exu. 
     Exu na umbanda é um espírito desencarnado que remete a figura do guardião. No candomblé Exu é um orixá.


7.   Abate de Animais. 
        Na umbanda não se tem como prática litúrgica abate religioso de animais, no candomblé em determinadas datas do ano acontece as festas dos orixás, onde animais serão abatidos para servir a mesa dos filhos da casa e da comunidade que frequenta o Ilê, ademais o sangue e vísceras não utilizados para consumo são oferecidos para os orixás.




8.   Sincretismo Religioso. 
      A umbanda assume o sincretismo com a pajelança do índio, com o culto dos orixás do negro africano e com a vertente católica dos europeus. Já o candomblé em suas maiores expressões tem como premissa o movimento de retirada dos santos católicos dos Ilês, em decorrência dos acontecimentos históricos no período da escravidão, onde movimentos de catequização e opressão da fé africana aconteciam veementemente no país.



9.   Ilês e Terreiros.
       A estrutura física dos Ilês (casa de culto do candomblé) se difere em muito do terreiro umbandista. No candomblé não é característico como na umbanda a presença da estrutura do altar, por exemplo. Na forma mais tradicional o Ilê é um salão espaçoso, que podem ser encontrados em formato de círculo, onde no centro encontramos um pilar, chamado “Ari Axé”, nesse espaço acontece as festas públicas, onde os filhos de santo em transe com os orixás se apresentam para toda a comunidade. Além disso, para os orixás, existem também os quartos, chamados pelos adeptos de “pejis”. Lá se encontram os assentamentos e é também, onde os filhos de santo em preparação permanecem durante suas iniciações. O terreiro de umbanda além do altar já colocado no início do tópico, é comum que se tenha uma fonte/cachoeira e assentamentos com imagens de santos, orixás e entidades. Normalmente é de frente para o conga (altar) que as cadeiras estarão posicionadas, onde a corrente mediúnica e sacerdote se encontram para palestra pública e atendimento.


10.               Iniciação. 
      No candomblé diz-se sobre a iniciação “dar obrigação” Esse é o momento que a pessoa reconhecida (normalmente pelo jogo de búzios) para ocupar algum cargo no terreiro, escolhe se vai querer ser iniciada ou não. Na umbanda nós chamamos o preparo do novo médium, cambone ou ogã, de desenvolvimento mediúnico e a forma que ele acontece pode variar de terreiro para terreiro, normalmente apresenta-se e abre à esses, os mistérios dos Sagrados Orixás à qual a casa cultua. No candomblé a iniciação normalmente implica na vivência e na reclusa (dias, semanas ou meses) desse filho para prática do aprendizado de atividades desenvolvidas no terreiro (cantos, comidas dos orixás, rezas, mitos, saudações e etc.). O filho de axé irá passar por esse processo outras vezes, assim que a iniciação tenha completado 1 ano, depois 3 anos, 5 anos e por fim 7 anos.



11.               Hierarquia. 
        No candomblé, antiguidade é posto, por isso os mais velhos da religião são reverenciados pelos mais novos, esse tempo é contado pelo tempo de iniciação da pessoa. Pode ser que uma pessoa de 20 anos seja hierarquicamente mais velha que uma de 50. Na umbanda as hierarquias só acontecem entre os cargos, por exemplo, o primeiro cargo de um terreiro é o Pai de Santo, seguido pelos Ogãs, Cambones e Médiuns.

12.               Candomblecista e Umbandistas. 
       Na umbanda todo mundo que frequenta um terreiro e vive seus princípios em sua vida é umbandista. No candomblé todo mundo é filho de santo, mas somente os iniciados são do candomblé.

13.               Vida e Morte. 
       No candomblé assim como na umbanda, na medida de suas diferenças de interpretações, acredita-se no retorno do espírito para a Terra após a morte. A reencarnação no candomblé interage com o culto aos Egunsguns (ancestrais) e não tem um objetivo fundamental para que aconteça. Para o candomblecista o retorno se dá pelo fato que a vida em terra é boa. Na umbanda cada vida é uma oportunidade de aprendermos e evoluirmos, para que ao transcender possamos passar para outro estágio de forma de vida.



14.               Vestimentas. 
    Tanto na umbanda quanto no candomblé, o uso do branco é algo muito presente, entretanto, para o umbandista tem-se o uniforme que pode ser no modelo de saia e camiseta branca ou calça e camiseta branca, variando para o uso de vermelho e/ou preto nas giras de Exu e Pomba-gira, ademais haverá terreiro em que as entidades usam elementos como capas, cartolas, lenços, etc., mas o uniforme padrão ainda continua sobreposto e isso já é algo que existia na Tenda Nossa Senhora da Piedade, considerada a primeira casa de umbanda. Já no candomblé o uso de adornos (balagandãs), roupas específicas para cada orixá sempre trazendo muita cor e brilho, pinturas no corpo e rosto é algo da tradição. Nessa crença, para se ter poder é preciso estar Odara. Odara na língua ioruba é o bom e o bonito em uma mesma conjunção.


15.               Elementos. 
        No terreiro de umbanda é comum o uso de objetos magísticos e sagrados, onde alguns deles como os búzios, as contas e guias, ervas, sementes, raízes, otás (pedras), instrumentos remontam a estruturas da ritualística africana, presente no candomblé, entretanto em cada uma dessas vertentes utilizam esses objetos com um fundamento.



16.               Atabaque. 
          No candomblé sem música o orixá não vem em terra, a presença do tambor é algo extremamente importante para o ritual de transe dos orixás. Na umbanda haverão casas que se utilizam dos atabaques para o toque dos chamados pontos de umbanda, que também são diferentes dos cânticos africanos aos orixás do candomblé normalmente entoados na língua africana que aquele Ilê tem como vertente. No terreiro de Zélio Fernadino de Morais, fundador da umbanda, por exemplo, não se fazia uso do atabaque e os pontos eram entoados somente acompanhados pelo vocal dos médiuns e assistência, entretanto, hoje a maioria dos terreiros umbandistas adotam os instrumentos.



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