A Ekedi, Professora e Doutora Patrícia Globo explica no estudo
sobre a tradição do candomblé, que a crença é fruto de uma condição histórica
específica, conhecida como escravidão e que se consolidou no Brasil no mesmo
processo em que a Santéria aconteceu em Cuba e o Vodoo no Haiti.
Nesta explicação simplificada de como a religião se
estabeleceu no país, já nos faz entender sobre suas diferenciações, tais como
sua base de fundamentação:
1.
Origem.
Candomblé é um culto afro-brasileiro.
Umbanda é uma religião genuinamente brasileira (agrega influências dos cultos
africanos, porém incorpora outras crenças também evocando o aspecto miscigenado
do país).
2.
Orixás.
Mesmo sendo duas religiões que mantém
o culto aos orixás, cada uma trata de uma forma diferente esse culto. Orixá na
Umbanda é um mistério de Deus, para o candomblé orixás são ancestrais
divinificados, considerados deuses da natureza.
3.
Espíritos.
A umbanda reconhece nas entidades
de trabalho, espíritos de pessoas que desencarnaram e ao transcender atingiram
o grau de mestres espirituais, que voltam à Terra (por meio da incorporação do
médium) para prática da caridade. No candomblé mais tradicional, espírito
humano que volta à Terra para manifestação por meio de alguém é Egun, uma
espécie de alma penada.
4.
Assistência.
No candomblé o atendimento das
pessoas é feito por meio da consulta de búzios, já na umbanda o passe – benção,
limpeza espiritual – e a conversa com os espíritos através dos médiuns
incorporados durante a gira, é a maneira mais comum dos visitantes do terreiro
se relacionarem com a espiritualidade.
5. Transe x Incorporação.
No candomblé (mais
ortodoxo) espírito humano (Egun) não pode se manifestar e o transe acontece no
Ori (cabeça da pessoa). Nessa ritualística a manifestação acontece de dentro
para fora e se dá com seu orixá pessoal, que vem para se apresentar e dançar ao
som dos atabaques. De uma maneira geral o candomblecista não tem como prática a
incorporação e a mediunidade, portanto, não é um precedente desta religião.
6.
Exu.
Exu na umbanda é um espírito
desencarnado que remete a figura do guardião. No candomblé Exu é um orixá.
7.
Abate de Animais.
Na umbanda não se tem como
prática litúrgica abate religioso de animais, no candomblé em determinadas
datas do ano acontece as festas dos orixás, onde animais serão abatidos para
servir a mesa dos filhos da casa e da comunidade que frequenta o Ilê, ademais o
sangue e vísceras não utilizados para consumo são oferecidos para os orixás.
8.
Sincretismo Religioso.
A umbanda assume o
sincretismo com a pajelança do índio, com o culto dos orixás do negro africano
e com a vertente católica dos europeus. Já o candomblé em suas maiores
expressões tem como premissa o movimento de retirada dos santos católicos dos
Ilês, em decorrência dos acontecimentos históricos no período da escravidão,
onde movimentos de catequização e opressão da fé africana aconteciam
veementemente no país.
9.
Ilês e Terreiros.
A estrutura física dos Ilês
(casa de culto do candomblé) se difere em muito do terreiro umbandista. No
candomblé não é característico como na umbanda a presença da estrutura do
altar, por exemplo. Na forma mais tradicional o Ilê é um salão espaçoso, que
podem ser encontrados em formato de círculo, onde no centro encontramos um
pilar, chamado “Ari Axé”, nesse espaço acontece as festas públicas, onde os
filhos de santo em transe com os orixás se apresentam para toda a comunidade.
Além disso, para os orixás, existem também os quartos, chamados pelos adeptos
de “pejis”. Lá se encontram os assentamentos e é também, onde os filhos de
santo em preparação permanecem durante suas iniciações. O terreiro de umbanda
além do altar já colocado no início do tópico, é comum que se tenha uma
fonte/cachoeira e assentamentos com imagens de santos, orixás e entidades. Normalmente
é de frente para o conga (altar) que as cadeiras estarão posicionadas, onde a
corrente mediúnica e sacerdote se encontram para palestra pública e
atendimento.
10.
Iniciação.
No candomblé diz-se sobre a
iniciação “dar obrigação” Esse é o momento que a pessoa reconhecida
(normalmente pelo jogo de búzios) para ocupar algum cargo no terreiro, escolhe
se vai querer ser iniciada ou não. Na umbanda nós chamamos o preparo do novo
médium, cambone ou ogã, de desenvolvimento mediúnico e a forma que ele acontece
pode variar de terreiro para terreiro, normalmente apresenta-se e abre à esses,
os mistérios dos Sagrados Orixás à qual a casa cultua. No candomblé a iniciação
normalmente implica na vivência e na reclusa (dias, semanas ou meses) desse
filho para prática do aprendizado de atividades desenvolvidas no terreiro
(cantos, comidas dos orixás, rezas, mitos, saudações e etc.). O filho de axé irá
passar por esse processo outras vezes, assim que a iniciação tenha completado 1
ano, depois 3 anos, 5 anos e por fim 7 anos.
11.
Hierarquia.
No candomblé, antiguidade é
posto, por isso os mais velhos da religião são reverenciados pelos mais novos,
esse tempo é contado pelo tempo de iniciação da pessoa. Pode ser que uma pessoa
de 20 anos seja hierarquicamente mais velha que uma de 50. Na umbanda as
hierarquias só acontecem entre os cargos, por exemplo, o primeiro cargo de um
terreiro é o Pai de Santo, seguido pelos Ogãs, Cambones e Médiuns.
12.
Candomblecista e Umbandistas.
Na umbanda todo
mundo que frequenta um terreiro e vive seus princípios em sua vida é
umbandista. No candomblé todo mundo é filho de santo, mas somente os iniciados
são do candomblé.
13.
Vida e Morte.
No candomblé assim como na
umbanda, na medida de suas diferenças de interpretações, acredita-se no retorno
do espírito para a Terra após a morte. A reencarnação no candomblé interage com
o culto aos Egunsguns (ancestrais) e não tem um objetivo fundamental para que
aconteça. Para o candomblecista o retorno se dá pelo fato que a vida em terra é
boa. Na umbanda cada vida é uma oportunidade de aprendermos e evoluirmos, para
que ao transcender possamos passar para outro estágio de forma de vida.
14.
Vestimentas.
Tanto na umbanda quanto no
candomblé, o uso do branco é algo muito presente, entretanto, para o umbandista
tem-se o uniforme que pode ser no modelo de saia e camiseta branca ou calça e
camiseta branca, variando para o uso de vermelho e/ou preto nas giras de Exu e Pomba-gira,
ademais haverá terreiro em que as entidades usam elementos como capas,
cartolas, lenços, etc., mas o uniforme padrão ainda continua sobreposto e isso
já é algo que existia na Tenda Nossa Senhora da Piedade, considerada a primeira
casa de umbanda. Já no candomblé o uso de adornos (balagandãs), roupas
específicas para cada orixá sempre trazendo muita cor e brilho, pinturas no
corpo e rosto é algo da tradição. Nessa crença, para se ter poder é preciso
estar Odara. Odara na língua ioruba é o bom e o bonito em uma mesma conjunção.
15.
Elementos.
No terreiro de umbanda é comum o
uso de objetos magísticos e sagrados, onde alguns deles como os búzios, as
contas e guias, ervas, sementes, raízes, otás (pedras), instrumentos remontam a
estruturas da ritualística africana, presente no candomblé, entretanto em cada
uma dessas vertentes utilizam esses objetos com um fundamento.
16.
Atabaque.
No candomblé sem música o orixá não
vem em terra, a presença do tambor é algo extremamente importante para o ritual
de transe dos orixás. Na umbanda haverão casas que se utilizam dos atabaques
para o toque dos chamados pontos de umbanda, que também são diferentes dos
cânticos africanos aos orixás do candomblé normalmente entoados na língua
africana que aquele Ilê tem como vertente. No terreiro de Zélio Fernadino de
Morais, fundador da umbanda, por exemplo, não se fazia uso do atabaque e os
pontos eram entoados somente acompanhados pelo vocal dos médiuns e assistência,
entretanto, hoje a maioria dos terreiros umbandistas adotam os instrumentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! O Blog do Maffei agradece seu interesse.