terça-feira, 10 de julho de 2018

CATOLICISMO (4) - O PAPADO



         A história do papado é a história do Papa e Bispo de Roma, chefe da Igreja Católica, tanto em seu papel espiritual quanto temporal, cobre um período de aproximadamente dois mil anos. O papado é uma das instituições mais duradouras do mundo, e teve uma participação proeminente na História da Humanidade. A Igreja Católica acredita que a “doutrina (...) sobre o papado é bíblica e decorre do primado de São Pedro entre os Apóstolos de Jesus. Como todas as doutrinas cristãs, desenvolveu-se ao longo dos séculos, mas não se afastou dos seus elementos essenciais, presentes na liderança do Apóstolo Pedro.”

Quadro de Caravaggio - Crucificação de São Pedro.


         Os papas na antiguidade auxiliaram na propagação do cristianismo e resolveram diversas disputas doutrinárias. Na Idade Média eles desempenharam um papel secular importante na Europa Ocidental, muitas vezes, servindo de árbitros entre os monarcas e evitando diversas guerras. Atualmente, para além da expansão e doutrina da fé cristã, os papas se dedicam ao diálogo inter-religioso, a trabalhos de caridade e à defesa dos direitos humanos.
         Não existe uma lista oficial de papas, mas o Anuário Pontifício, publicado pelo Vaticano, contém uma lista que é geralmente considerada a mais correta, colocando o atual Papa Francisco como o n.º 266.º papa.



ANTIGUIDADE

Pintura de Michelangelo na Capela Paulina - Crucificação de Pedro

         Existe grande controvérsia entre os historiadores sobre a história do papado durante o cristianismo primitivo, destacando-se a questão da veracidade do martírio de Pedro e Paulo em Roma; sobre a organização da Igreja Romana no século I e princípio do século II, e o exercício da primazia papal.

Santo Inácio de Antioquia
         Alguns historiadores argumentam que Pedro nunca foi realmente à Roma, e que essa crença se originou somente mais tarde. No entanto, outros estudiosos citando os documentos cristãos primitivos (mais proeminente, a descrição da morte de Pedro e Paulo em Roma nas cartas de Clemente em cerca de 96, Santo Inácio de Antióquia em cerca de 107, Dionísio de Corinto entre 166 e 176 e Irineu de Lyon, em torno de 180) concluem que Pedro foi de fato martirizado em Roma.

Quadro de Rembrandt - Paulo de Tarso
         Uma vez que no século I os termos “presbíteros” e “bispos” eram sinônimos usados para os líderes da igreja local submetidos a um apóstolo, muitos argumentam que no final do século I e até a metade do século II, a Igreja Romana não possuía uma organização monoepiscopal (um só bispo como chefe da igreja local) mas uma forma colegiada de liderança, sendo que o monoepiscopado começou somente mais tarde, e assim, originalmente o ministério papal não existia. No entanto, outros estudiosos discordam, defendendo que os apóstolos designaram seus sucessores na liderança das igrejas locais (originalmente também chamados de “apóstolos” e no início do século II, de “bispos’) como, por exemplo, Tito e Timóteo investidos por Paulo de Tarso, e nos escritos posteriores de Clemente de Roma, Inácio e Irineu, que prematuramente atestaram a sucessão linear de bispos desde a época dos apóstolos.
        
Alguns historiadores afirmam que os papas não possuíam direitos ou privilégios primaciais no cristianismo primitivo sobre a Igreja Universal, no entanto, uma vez que em muitas ocasiões os Bispos de Roma intervieram em comunidades locais, como Clemente I, ou tentaram estabelecer uma doutrina vinculativa a Igreja Universal como Vitor I (sobre a controvérsia quartodecimana[1]), a visão predominante entre os historiadores, é que a Sé e o Bispo de Roma possuíam nesse período uma proeminência em questões relacionadas aos assuntos da Igreja Católica, mas esse papel se desenvolveu e se acentuou profundamente nos séculos seguintes, especialmente a partir do século V e após o século XI.

CRISTIANISMO PRIMITIVO (cerca de 30 – 325)

Quadro de Pier Leone Ghezzi, Martírio de São Clemente I

         O primeiro documento fornecido por um papa foi de Clemente I no final do século I, em que interveio em uma disputa em Corinto, na Grécia. Clemente foi o primeiro pai apostólico da Igreja Católica, fundando o período eclesiástico patrístico, que duraria até o século VIII. No século II os bispos romanos erigiram monumentos aos apóstolos Pedro e Paulo, davam esmolas às igrejas pobres e lutaram contra gnósticos e montanistas na Ásia Menor. No final do mesmo século, o Papa Vitor I ameaça de excomunhão os bispos de Nisã (quartodecimanismo). Nessa época Santo Inácio e algum tempo depois Santo Irineu, enfatizam a posição única do Bispo de Roma.

Perseguição aos cristãos primitivos
      
Papa Cornélio I
  
No século III os papas preocuparam-se em afirmar a possibilidade do perdão dos pecados, se os fiéis se arrependessem e fizessem penitência (ao contrário do que pregava o novacionismo[2]), como pode ser observado nos decretos de Calixto I e Cornélio I. No final desse século, papas como Estevão I e Sisto II condenaram o rebatismo, como pregava a heresia do donatismo.

        
Papa São Lino I
Muitos aspectos da vida dos papas primitivos, especialmente os primeiros, permanece envolta em mistério, como São Lino, que teria sido o segundo papa, cuja vida e ações como Bispo de Roma é incerta e desconhecida. Devido a perseguição aos cristãos pelo Império Romano, os livros da vida dos santos de Roma afirmam que foram mártires todos os papas dessa época, sendo a maioria dos pontificados curtos (embora exista incerteza sobre a morte de muitos bispos de Roma, cujos relatos de Alexandria e Antióquia também eram centros para o cristianismo e seus bispos possuíam jurisdição sobre certos territórios. Muitos historiadores tem sugerido que seus poderes especiais provieram do fato de que as três comunidades foram chefiadas por São Pedro (Roma e Antióquia foram, segundo a Sagrada Escritura e Tradição fundadas pelo Apóstolo Pedro e Alexandria por seu discípulo São Marcos).

São Marcos Evangelista

ANTIGUIDADE TARDIA E CESAROPAPISMO

Imperador Constantino I


         Em 313, o imperador Constantino I concede liberdades para todas as religiões iniciando a Paz na Igreja e passando a interferir em diversas questões eclesiásticas (como a convocação em 325 do Primeiro Concílio de Niceia), originando o cesaropapismo, e uma relação de difícil entrosamento entre a igreja e o Estado. Constantino I também ordenou a construção de três basílicas em Roma e doou ao papado.

         A organização conciliar e sinodal que havia sido vital no século III, também cresceu em importância nessa época – através dos concílios ecumênicos convocados pelos imperadores (por questões de ordem pragmáticas e também cesaropapistas), para proporcionar uma resolução definitiva para os litígios doutrinários na Igreja Católica. A tentativa de alguns concílios de independerem da autoridade papal, desafiá-la ou mesmo controla-la, fez que o Papa Bonifácio I declarasse precocemente que o poder papal é superior ao conciliar e o último não pode julgá-lo. Uma das primeiras demonstrações de um poder estatal administrado pelos papas, também surgiu nessa época, embora fosse de caráter puramente diplomático, como “defensor dos necessitados e da população”, como observado por exemplo, no confronto do Papa Leão I com Átila, Imperador dos Hunos, em que Leão I convence Átila a não invadir e saquear Roma.


         Nessa época também aprofundaram-se os conflitos entre a Igreja do Ocidente e do Oriente. Em 330 a capital do Império Romano foi transferida para Constantinopla, dessa maneira rapidamente no Império Romano do Oriente o poder civil controlou a igreja e o bispo de Constantinopla cresceu em importância, baseando seu poder no fato de ser bispo da capital e por ser um homem de confiança do Imperador, no Ocidente por sua vez, o bispo de Roma pôde consolidar sua influência e poder que já possuía desde o cristianismo primitivo. Em 380, o Édito de Tessalônica publicado pelo imperador Teodósio I, estabeleceu que a Religião Católica conforme ensinada pelo papa Dámaso I, como religião de estado exclusiva do império.



O PAPADO NA IDADE MÉDIA (493 – 1417)

O PAPADO OSTROGODO (493 – 537)


         Após a queda do Império Romano do Ocidente, a Itália foi dominada pelo Reino Ostrogodo, sendo que o rei ostrogodo era tolerante com a igreja e não interferia em questões dogmáticas. Rapidamente tribos bárbaras se converteram ao arianismo ou ao catolicismo. Quando o rei dos francos Clóvis I, converteu-se ao catolicismo, aliando-se assim ao papado e os mosteiros, outras tribos como os visigodos seguiram seu exemplo.
Rei franco Clóvis I da dinastia merovíngia
sendo batizado por São Remígio bispo de Reims.

         Em 494 o Papa Gelásio I a fim de refrear o cesaropapismo e o abuso dos governantes seculares, publica a epístola Duo Sunt, sobre as competências do poder temporal e espiritual, na qual defende que os papas e os bispos devem administrar a igreja e o imperador e príncipes a vida temporal, cada um independente do outro. No final do século VI, o Papa Gregório, o Grande iniciou reformas administrativas e organizou missões para evangelizar a Grã-Bretanha. Gregório também foi um importante teólogo, e suas perspectivas representam a mudança religiosa da perspectiva clássica para a medieval, seus escritos tratam sobre demonologia, angelologia, escatologia, entre outros. Logo no início do século VII exércitos muçulmanos haviam conquistado grande parte do sul do Mediterrâneo, e representam uma ameaça para a cristandade ocidental.
Papa Gregório, o grande

PAPADO BIZANTINO (537 – 752)

INFLUÊNCIA DOS FRANCOS


        
Luís, o Piedoso
No século VIII a iconoclastia (destruição de imagens religiosas) tornou-se uma fonte de conflito entre os papas e a Igreja Oriental. A eleição do papa nessa época era conturbada, especialmente devido ao poder civil, enquanto alguns imperadores como Carlos Magno (771 – 814), e Luís I, o Piedoso (814 – 840) não interferiram e respeitaram as eleições papais, Lotário I (823 – 855), interveio abertamente e exigiu a confirmação do Sacro Imperador Romano na eleição papal. Em 898, o papa João IX em um concílio realizado em Roma, decretou que a eleição devia ser feita apenas pelos cardeais-bispos e pelo clero.
     

    No final do mesmo século, buscando proteção contra os lombardos, o Papa Estevão II apelou para os francos para proteger a Igreja, Pepino, o Breve subjugou os lombardos e doou terras italianas ao papa, formando então os Estados Pontifícios, que se tornou o Estado da Igreja. Quando o Papa Leão III coroou Carlos Magno (800), os próximos imperadores passaram a ser ungidos por um papa. Carlos Magno conjuntamente com a Igreja inicia uma importante reforma educacional e artística, conhecida como Renascimento Carolíngio.

SAECULUM OBSCURUM [3]

     
    O assassinato do Papa João VIII inaugurou um período marcado por curtos pontificados, no qual doze papas foram mortos (algumas vezes após a deposição), mais três depostos e dois abdicaram, num período conhecido pelos historiadores como Saeculum Osbcurum (latim: idade das trevas), sendo considerado o ponto “mais baixo do papado”. Durante este período, os papas eram fortemente influenciados e lutaram com uma poderosa família aristocrática, Teofilactos e seus parentes, sendo depostos ou assassinados.

       
A famosa Marózia
 
Na sequência da aliança do Papa Sérgio III com Teofilato I, Conde de Túsculo (o pai de Marózia) e sua esposa Teodora, os Teofilactos influenciaram com sucesso na eleição dos quatro próximos papas. O filho de Sérgio III com Marózia se tornou o Papa João XI, sendo deposto pelo rei Alberico II de Espoleto, que foi capaz de controlar a instalação dos próximos quatro papas, acabando por instalar seu próprio filho, o Papa João XII, cujo principal ato foi coroar Oto I como imperador do Sacro Império Romano.

Árvore Genealógica dos Teofilactos:


TEOFILATO I & TEODORA

Hugo da Itália
887-948
(também se casou com Marózia)
Alberico I de Espoleto
d. 925
Marózia
890–937
Papa Sérgio III
904–911
Teodora
Graciano
(Cônsul)
Alda de Vienne
Alberico II de Espoleto
905–954
Davi ou Deodato
Papa João XI
931–935
Teodora
João Crescêncio
Teofilato
Papa João XII
955–964
Papa Bento VII
974-983
Marózia
Papa João XIII
965–972
Crescêncio, o Velho
Gregório I, conde de Túsculo
Papa Bento VIII
1012–1024
Alberico III, conde de Túsculo
d. 1044
Papa João XIX
1024–1032
Pedro, Duque dos Romanos
Caio
Otaviano
Papa Bento IX
1032–1048


         Um sínodo em 963 depôs João XII, e Oto I elegeu o Antipapa Leão VIII (963 – 965), mas os romanos não o aceitaram e quando seu protetor partiu, ele foi deposto por um outro sínodo no início do ano seguinte e João XII reassumiu o cargo; no entanto, morre repentinamente e o povo elege o Papa Bento V (964), que Oto I substitui por Leão VIII, agora papa legítimo. Oto teve ainda mais sucesso no processo de nomeação do Papa João XIII (965 – 972) e do Papa Bento VI (973 – 974).


CONFLITOS COM O SACRO IMPERADOR (1048 – 1257)


      
   O cargo do imperador carolíngio foi disputado entre seus herdeiros e senhores locais, nenhum saiu vitorioso até que Oto I, Sacro Imperador Romano-Germânico invadiu a Itália. A Itália tornou-se um reino constituinte do Sacro Império Romano em 962. Com a sua posição de imperador consolidada, as cidades-estados do norte da Itália se dividiram entre Guelfos e Gibelinos[4].

         Devido às interferências do poder civil, os conflitos no processo de escolha do papas continuavam, por exemplo, Henrique III ao visitar Roma em 1048, encontrou dois antipapas e várias disputas provocadas pelo Papa Bento IX, Henrique instalou seu próprio candidato preferido ao papado, o Papa Clemente II. A história do papado de 1048 a 1257 continuará a ser marcada por conflitos entre papas e os Sacro Imperadores Romanos.


GRANDE CISMA DO ORIENTE




         Do século V ao XI foram numerosas as rupturas seguidas de reconciliação entre as igrejas do Ocidente e Oriente. Em 1054 os legados romanos do Papa Leão IX, viajaram para Constantinopla para insistir no reconhecimento da primazia papal, o patriarca de Constantinopla se recusou a reconhecer sua autoridade e se excomungaram mutuamente, posteriormente a separação entre Ocidente e Oriente se desenvolveu quando todos os outros patriarcas orientais apoiaram Constantinopla, no evento do Grande Cisma.

REFORMA GREGORIANA E QUESTÃO DAS INVESTIDURAS
Desenho da Abadia de Cluny

         Desde o século VII era comum entre o reino dos Francos, bem como na Itália e na Espanha, que os reis, imperadores e nobres fundassem bispados e abadias, nomeando ou depondo os clérigos do local e controlando suas ações.
Maquete da Abadia de Cluny

      
   As investiduras (nomeações) feitas pelos nobres visavam interesses pessoais e do reino, provocando a corrupção entre os membros do clero. Entre os anos 900 e 1050 surgiram ideias e centros de reforma contra os abusos e a corrupção, como nos mosteiros de Cluny (França) e Görze (Alemanha), de onde partem grupos renovadores para a Bélgica, Itália, Espanha, Inglaterra e demais países europeus. A Abadia de Cluny que surgiu em 910, quando os mosteiros estavam em profunda decadência, foi fundada pelo duque Guilherme de Aquitânia que renunciou ao direito de propriedade e doou-a ao papa, assegurando a liberdade do mosteiro. Assim “a abadia ganhou o antigo rigor monástico e profunda renovação espiritual pois ingressava em Cluny quem realmente queria ser monge (...) Cluny colocou-se a serviço da liberdade da vida monástica, e de toda a igreja. Era um mosteiro livre (...). Seu exemplo se alastra: Papas e bispos, (...) chamam os monges de Cluny para reformarem seus mosteiros.”


      Em 1059 o Papa Nicolau II promulga a bula In nomine Domini estabelecendo como únicos eleitores do papa os cardeais da Igreja Romana (apesar ainda de seguido pela aprovação dos leigos de Roma e pelo Sacro Imperador Romano). Marco de uma transformação política duradoura, a bula de 1059 marca a ruptura de antigos equilíbrios de poder no interior da cidade de Roma, mediante os quais o papado era controlado por famílias da nobreza do Lácio: “tratava-se de uma fórmula escrita sob a pressão da realidade local, orientada para cravar a separação entre os poderes – aristocrático e o episcopal – da cidade. A In nomine Domini foi uma declaração de política local, não a carta de fundação de uma abstrata monarquia papal”.


         Em 1073, esses ideais ganharam força com a eleição do Papa São Gregório VII, que baseando-se em ideais ascetas e monásticos, adotou uma série de medidas no movimento conhecido como Reforma Gregoriana – denominação controversa e criticada por diversos historiadores. A luta empreendida contra a simonia[5] e a intromissão do poder laico na investidura de bispos, abades e dos próprios papas, tentando restaurar a disciplina eclesiástica, transcorreu em meio a drásticas alterações das redes regionais de alianças e de oposição à autoridade papal, permitindo a recolocação e a ampliação do exercício do poder pontifício junto a diversos círculos aristocráticos do ocidente. Em reação, o imperador do Sacro Império Henrique IV, aliou-se a bispos alemães proibidos de exercerem suas funções religiosas, e considerou o papa deposto, este, em resposta, excomungou o imperador.


 Desenvolveu então um conflito aberto entre eles, que ficou conhecido como “Questão das Investiduras”. Henrique IV em 1077, pediu perdão ao papa por meio da Penitência de Canossa, embora não dispositiva no contexto da disputa, tornou-se lendária. Esse conflito só foi resolvido em 1122, pela Concordata de Worms, que adotou uma solução de meio-termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos e ao imperador, a investidura temporal.

CRUZADAS E INQUISIÇÃO




         Em 1095, o imperador bizantino Aleixo I pediu ao Papa Urbano II para ajudá-lo militarmente contra as invasões muçulmanas, assim Urbano II, no Concílio de Clermont convoca a Primeira Cruzada, destinada a auxiliar o Império Bizantino a retomar os antigos territórios cristãos, especialmente Jerusalém. As cruzadas provocaram a formação de várias ordens militares, tais como os Cavaleiros Hospitalários, os Cavaleiros Templários, e os Cavaleiros Teutônicos. Em 1209, o Papa Inocêncio III declarou a Cruzada dos Albigenses contra os Cátaros, uma seita gnóstica cristã que se instalara no Languedoc, França. Para regulamentar a maneira como a Igreja lidava com os hereges, em 1231, Gregório IX instituiu a Inquisição Papal.





PAPADO DE AVINHÃO E GRANDE CISMA DO OCIDENTE

Pintura da cidade de Avinhão vista do Rio Ródano


         De 1309 a 1377, o papa não residia em Roma, mas em Avinhão, um período geralmente chamado de Cativeiro Babilônico, em alusão ao exílio bíblico de Israel na Babilônia.

Pintura de Giorgio Vasari com o título:
O Papa Gregório XI devolve a sede papal (1560)

     
    O Papa Gregório XI deixou Avinhão e restabeleceu a Santa Sé em Roma, onde morreu em 27 de março de 1378. A eleição de seu sucessor, definiria a residência do futuro papa em Avinhão ou Roma. O nome de Bartolommeo Prignano, Arcebispo de Bari, considerado com uma rígida moral e inimigo da corrupção, foi proposto e eleito em Roma por dezesseis cardeais italianos em conclave em 7 de abril de 1378, e no dia seguinte escolheram novamente Prignano. No dia 13 eles realizaram uma nova eleição e, novamente, escolheram o Arcebispo Prignano para se tornar papa. Durante os dias seguintes todos os Cardeais aprovaram o novo papa, que tomou o nome de Urbano VI e tomou posse. No dia seguinte, os cardeais italianos notificaram oficialmente a eleição de Urbano VI aos seis cardeais franceses em Avinhão, que o reconheceram como papa, em seguida, escreveram ao chefe do impérios e aos demais soberanos. Tanto o Cardeal Roberto de Genebra, o futuro Antipapa Clemente VII de Avinhão, e Pedro de Luna de Aragão, o futuro Antipapa Bento XIII também aprovaram sua eleição.


         O Papa Urbano VI não atendeu as necessidades de sua eleição, criticou os membros do Colégio Sagrado, e se recusou a restaurar a sede pontifical em Avinhão. Os cardeais italianos então em maio de 1378, se retiraram para Anagni, e em julho para Fonti, sob a proteção da Rainha Joana de Nápoles e Bernardon de La Salle, iniciaram uma campanha contra a escolha de Urbano VI, e se prepararam para uma segunda eleição. Em 20 de setembro, treze membros do Colégio Sagrado fizeram um novo conclave em Fondi e escolheram Roberto de Genebra como antipapa, que tomou nome de Clemente VII. Alguns meses depois apoiado pelo Reino de Nápoles, assumiu sua residência em Avinhão, e o cisma se consolidou.


         Clemente VII possuía relações com as principais famílias reais da Europa, os estudiosos e os santos da época normalmente apoiavam o papa adotado pelo seu país. A maior parte de estados italianos e alemães, a Inglaterra e o Flanders apoiaram o papa de Roma. Por outro lado França, Espanha, Escócia e todas as nações aliadas da França apoiaram o antipapa de Avinhão. Os papas excomungaram-se mutuamente, enviando mensageiros para a cristandade defendendo sua causa. Posteriormente Bonifácio IX sucedeu Urbano VI em Roma e Bento XIII sucedeu Clemente em Avinhão. Vários clérigos reuniram-se em concílios regionais na França e em outros lugares, sem resultado definitivo. O rei da França e seus aliados em 1398 deixaram de apoiar Bento XIII e Geoffrey Boucicaut, sitiou Avinhão, o bloqueio privou o antipapa de comunicação com todos aqueles que permaneceram fiéis a ele. Bento XIII retomou a liberdade somente em 1403. Inocêncio VII já tinha sucedido Bonifácio IX em Roma e após um pontificado de dois anos, foi sucedido por Gregório XII.

        
O Concílio de Constança elegeu o Papa Martinho V.
      Em 1409 um concílio que se reuniu em Pisa acrescentou um outro antipapa e declarou os outros dois depostos. Depois de muitas conferências, discussões, intervenções do poder civil e várias catástrofes, o Concílio de Constança (1414) depôs o antipapa João XXIII, recebeu a abdicação do Papa Gregório XII e finalmente conseguiu depor o antipapa Bento XIII. Em 11 de novembro de 1417, o concílio elegeu Odo Colonna, que tomou o nome de Martinho V, terminando assim o grande cisma do Ocidente. O prestígio da Santa Sé foi profundamente afetado com esta crise, o que causou a criação da doutrina conciliar, que sustenta que a autoridade suprema da igreja encontra-se com um concílio ecumênico e não com o papa, sendo efetivamente extinta no século XV.

IDADE MODERNA
O RENASCIMENTO

O Papa Julio II ordena a Michelangelo, Bramante e Rafael que construam a Basílica de São Pedro. Pintura de Horace Vernet

         Durante o Renascimento os papas patrocinaram e incentivaram artistas e intelectuais, tornando-se importantes mecenas, tais como Júlio II e Leão X, que contrataram artistas como Bramante, Bernini, Rafael, Michelangelo, transformando a cidade de Roma num dos principais centros da Renascença Italiana, juntamente com Florença. O papado renascentista é normalmente associado a corrupção e a degradação moral.
         Os papas desse período não estavam à altura das necessidades da igreja, suas preocupações eram mais políticas e artísticas. O nepotismo atinge seu auge: papas e cardeais estavam mais interessados em garantir o futuro de seus familiares do que numa reforma religiosa. Os cardeais eram criados entre parentes, sem se olhar a idade, virtudes morais e intelectuais, sendo que ficaram famosos os cardeais sobrinhos[6].
 
Pintura de Ticiano que retrata o Papa Paulo III
com dois dos seus cardeais sobrinhos.



REFORMA PROTESTANTE E CATÓLICA (1517 – 1585)



Martinho Lutero

         A Reforma Protestante iniciada a partir de 1517, desconsideraria diversas doutrinas e dogmas católicos e provocaria os maiores cismas dos cristianismo. Muitos reformadores afirmaram que o papa seria o “anticristo”, tais como Martinho Lutero, que argumentou que a violência deveria ser usada para derrotar sua autoridade, assim como João Calvino, Thomas Cranmer, John Knox, Cotton Mather e John Wesley. Calvino despertou revolta inclusive entre seus próprios seguidores ao chamar de “papistas” muitos cristãos respeitados. Os papas, por sua vez, compararam os reformadores a “raposas que avançam procurando destruir a vinha (...) que entregastes o cuidado, norma e administração (...) a Pedro, como cabeça e vosso vigário e seus sucessores. O javali da floresta procura destruí-la e toda fera selvagem vem devastá-la” (Leão X na Bula Papal Exsurge Domine de 15/06/1520).

         Como retaliação os papas instituíram a Reforma Católica (1560 – 1648), que lutou contra as contestações protestantes e instituiu reformas internas. O evento mais significativo da reforma católica foi a convocação do Concílio de Trento (1545 -1563) pelo Papa Paulo III (1534 – 1549).
         Os papas também tiveram um papel importante na Colonização das Américas: o Papa Alexandre VI, que dividiu os direitos e as terras recém-descobertas entre Espanha e Portugal, através da Bula Inter Coetera. Os papas também tentaram conter os abusos cometidos contra os povos indígenas por exploradores e conquistadores que os condenava a escravidão, tais como Paulo III, Urbano VIII e Bento XIV.



IDADE CONTEMPORÂNEA

A QUESTÃO ROMANA (1870 – 1929)

       
Caricatura de Vitor Emanuel II
 
No século XVII, após a ascensão de Napoleão Bonaparte e a eclosão das Guerras Napoleônicas, os Estados Pontifícios foram ocupados e extintos pela França, as revoltas do povo romano contra os franceses foram esmagadas e o Papa Pio VII preso em Savona e depois na França. Com o Congresso de Viena, os Estados Pontifícios foram recriados, e extintos novamente em 1870 por Vitor Emanuel II, no âmbito da unificação da Itália, iniciando-se a Questão Romana. No mesmo ano o Concílio Vaticano I proclamou o primado e a infalibilidade papal como dogma.


         Em resposta aos desafios sociais da Revolução Industrial, o Papa Leão XIII publicou a encíclica Rerum Novarum, estabelecendo a Doutrina Social da Igreja Católica em que rejeitava o socialismo, mas que defendia a regulamentação das condições de trabalho, o estabelecimento de um salário mínimo e o direito dos trabalhadores de formar sindicatos. Em 1929, o Tratado de Latrão assinado entre Itália e o Papa Pio XI estabeleceu a independência do Vaticano, como cidade-Estado soberano sob o controle do papa, utilizada para apoiar sua independência política.

Tratado de Latrão em 11 de fevereiro de 1929, entre o Estado italiano, representado por Benito Mussolini, e a Santa Sé, representada pelo cardeal Gasparri, secretário de Estado do papa Pio XI.


         Depois de violações da Reichkonlordat de 1933, que havia garantido a igreja na Alemanha Nazista alguma proteção e direitos, o Papa Pio XI emitiu em 1937 a encíclica Mit Brennender Sorg, que condenou publicamente a perseguição da Igreja pelos nazistas e sua ideologia de neopaganismo e superioridade racial. Depois que a Segunda Guerra começou em setembro de 1939, a Igreja Católica condenou a invasão da Polônia e as subsequente invasões nazistas de 1940. No Holocausto, o Papa Pio XII dirigiu a hierarquia da Igreja para ajudar a proteger os judeus dos nazistas. Apesar de Pio XII ter ajudado a salvar centenas de milhares de judeus, segundo muitos historiadores, ele também foi acusado de não fazer o suficiente para impedir as atrocidades nazistas.



O CONCÍLIO VATICANO II

Papa João XXII deu inicio ao Concílio Vaticano II
Papa Paulo VI

         O Concílio Vaticano II, reunido nos anos 60, modernizou o papel e a ação da Igreja Católica na sociedade. Após sua conclusão, o Papa Paulo VI e seus sucessores, especialmente o Papa João Paulo II, passaram a ser conhecidos como os “papas peregrinos”, viajando para diversas partes do mundo e dedicando-se ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, trabalhos de caridade e defesa dos direitos humanos.

Papa João Paulo II

        



GLOSSÁRIO

[1] QUARTODECIMANISMO – (do Vulgata Latina – quarta décima citada) significa catorze e se refere ao costume de alguns cristãos antigos de celebrar o feriado do Pessach (Páscoa Judaica) começando na véspera do dia 14 de Nisan (ou Abib, no calendário da Bíblia hebraica), cujo crepúsculo é conhecido biblicamente como a “Passagem do Senhor”. A moderna Pessach Judaica é a Festa do Pão sem Fermento e dura sete dias, começando no pôr-do-sol, não à meia noite como é comum no ocidente. A Lei Bíblica sobre a Pessach é tida como uma ordem perpétua (Êxodo 12, 14) e, para alguns, também aplicável em alguma medida aos prosélitos (estrangeiros ou forasteiros em Israel - Êxodo 12, 19). Porém há grande controvérsia sobre o que significa observar a Lei Bíblica no cristianismo.

[2] NOVACIONISMO – ou novacianismo foi um movimento durante o cristianismo primitivo formado pelos seguidores de Novaciano e que se recusavam a readmitir em comunhão os lapsi – cristãos batizados que tinham renegado a sua fé e realizado sacrifícios aos deuses pagãos – durante a perseguição de Décio em 250. Eles foram posteriormente declarados como heréticos.
         A perseguição de Décio foi uma perseguição aos cristão, o nome é dado aos maus tratos físicos ou psicológicos, incluindo agressões e assassínios exercidos por não-cristãos sobre cristãos, motivados os primeiros pela diferente identidade e manifestação religiosas e étnicas dos segundos. Estas perseguições foram levadas a cabo na antiguidade não somente pelos judeus de cuja religião o cristianismo era visto como uma ramificação, mas também pelos imperadores do Império Romano, que controlava grande parte das terras onde o Cristianismo Primitivo se distribuía, e onde era considerado como uma seita. Tal perseguição pelos imperadores teve fim com a legalização da religião cristã por Constantino I, no início do século IV.

[3] SAECULUM OBSCURUM – em latim Idade das Trevas, é um termo que designa um período da história do papado que se estendeu da primeira metade do século X, com a instalação do Papa Sérgio III em 904 por sessenta anos, e terminou após a morte do Papa João XII em 963. Algumas fontes afirmam que este período foi menor, tendo durado apenas 30 anos e terminado com 935 com o mandato do Papa João XI.
         O período foi primeiramente identificado e nomeado pelo cardeal italiano e historiador eclesiástico César Barônio em Annales Ecclesiastici, no século XVI, cuja fonte primária foi de Liutprando de Cremona. O historiador Will Durant se refere ao período de 867-1049 como o ponto “mais baixo do papado”. Outros estudiosos têm utilizado termos pejorativos para este período, como Pornocracia (originalmente nomeado em alemão: Pornokratie – pornô, prostituta e Kratein, governo) ou ainda Governo de Meretrizes (alemão: Hurenregiment), ambos inventados por teólogos protestantes alemães no século XIX.
         Durante este período, os papas eram fortemente influenciados por uma poderosa família aristocrática, Theofilato e seus parentes e sobe forte influência de mulheres – embora não fossem prostitutas – em especial Teodora e sua filha Marózia. A família Theofilato ocupava posições de importância crescente na nobreza romana, Teodora (mãe) e suas filhas, Teodora e Marózia tinham uma grande influência sobre a escolha do papa e dos assuntos religiosos em Roma através de conspirações, negociatas e casamentos. De acordo com Antapodosis sive per Europam gestae (958 -962) de Liutprando de Cremona (cerca de 920 – 972), Marozia teria sido concubina do Papa Sérgio III, quando ela tinha 15 anos e mais tarde teve outros amantes e maridos. Segundo Liutprando, João X foi nomeado para o cargo por Teodora, Marozia tornou-se amante e mais tarde o assassinou através de seu marido, Guido da Toscânia, para eleger seu favorito atual como o Papa Leão VI, que posteriormente também foi assassinado e substituído pelo filho de Marózia, como Papa João XI. Listas dos papas durante o Saeculum Obscurum: 1) Sérgio III (904 – 911) suposto amante de Marózia; 2) Anastácio III (911 – 913); 3) Lando I (913 – 914); 4) João X (914 – 928), suposto amante de Teodora (a mãe), alegadamente morto por Marózia; 5) Leão VI (928 – 928); 6) Papa Estevão VII (928 – 931); 7) João XI (931 – 935) filho de Marózia com o Papa Sérgio III; 8) Leão VII (936 – 939); 9) Estevão VIII (939 – 942); 10) Marinho II (942 – 946); 11) Agapito II (946 – 955) e; 12) João XII (955 – 963), neto de Marózia, por seu filho Alberico II de Espoleto.

[4] GUELFOS E GIBELINOS – Na origem tratava-se de uma disputa entre os partidários do papado (os guelfos) e os partidários do Sacro Império Romano-Germânico (os gibelinos). As denominações “guelfos” e “gibelinos” originaram-se após o imperador Henrique V do Sacro Império Romano-Germânico (1081 – 1125) morrer sem deixar herdeiros diretos. Criou-se, então, um conflito na disputa pela sucessão do Sacro Império. Os guelfos e o papa apoiavam a Casa de Guelfo (de onde vem o termo “Guelfo”), enquanto os gibelinos eram partidários da casa suábia da Dinastia de Hohenstaufen, senhores do castelo de Waiblingen (de onde provém a palavra “gibelino”).
         No interior das cidades, a mesma dicotomia se reproduziu, mas acabou perdendo o significado tradicional de luta política entre o papado e o Sacro Império, para transformar-se em luta entre as facções da população pelo domínio da cidade. Para aumentar sua força, as cidades, tanto guelfas quanto gibelinas, assim como as respectivas famílias reuniam-se em ligas opostas. Assim, a partir da segunda metade do século XIII, a cidade guelfa de Florença combateu a liga gibelina formada pelas cidades toscanas de Arezzo, Siena, Pistoia, Luca e Pisa.
         Foi um longo conflito, cujos momentos mais dramáticos foram as batalhas de Montaperti (1260) e de Altopascio (1325). Na segunda metade do século XIII, após a Batalha de Benevento (1266) houve, nas cidade gibelinas, uma verdadeira crise quando perderam seu maior apoio – a dinastia suábia. Essa crise teve início com Frederico I, para concluir-se com as derrotas de Conradino e Manfredo da Sicília, entre 1266 e 1268. Disso resultou o fortalecimento dos guelfos, que predominaram na península Itálica apoiados militarmente tanto pelo rei de Nápoles, Carlos I da Sicília, como pelos vários papas. Assim, os guelfos chegaram a se reapoderar de Florença a partir de 1269, quando derrotam os gibelinos de Siena.

[5] SIMONIA – é a venda de favores divinos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, objetos ungidos, etc., em troca de dinheiro. É o ato de pagar por sacramentos e consequentemente por cargos eclesiásticos ou posições na hierarquia da igreja. A etimologia da palavra provém de Simão Mago, personagem referido nos Atos dos Apóstolos (8, 18-19), que procurou comprar de São Pedro o poder de transmitir pela imposição das mãos o Espírito Santo ou de efetuar milagres.
         O Direito Canônico também estipula como simonia atos que não envolvem a compra de cargos, mas a transação de autoridade espiritual, como dinheiro para confissões ou a venda de absolvições.
         A prática da simonia no final da Idade Média provocou sérios problemas à postura moral da Igreja. O poeta Dante Alighieri condena os simonistas ao oitavo círculo do inferno, onde encontra o Papa Nicolau III enterrado de cabeça para baixo, com as solas dos pés em chama. O exemplo de Nicolau III serve como aviso e previsão aos papas Bonifácio VIII, o papa contemporâneo à “Divina Comédia”, e Clemente V, seu sucessor pela prática de tal pecado. Escritores menos devotos como Maquiavel e Erasmo de Roterdã também condenaram a simonia séculos mais tarde. A prática de simonia foi uma das razões que levaram Martinho Lutero a escrever as suas “95 teses” e a rebelar-se contra a autoridade de Roma. Hoje a Doutrina Católica, pune com excomunhão latae sentientae, ou seja, automaticamente, a todo e qualquer ato de simonia, que alguns de seus membros vierem a praticar. A Igreja da Inglaterra (Anglicana) também se viu envolvida com a prática de simonia, após ter-se separado da Igreja Católica. Atualmente, a prática da simonia é muito frequente nos meios Pentecostais e, principalmente, nos neopentecostais, através da propagação da Teologia da Prosperidade.

[6] CARDEAL-SOBRINHO – em latim: cardinalis nepos, (e vem daí a origem da palavra nepotismo quando alguém que detém algum poder, emprega seus parentes) é um cardeal promovido por um papa que é seu tio, ou, de um modo mais geral, seu parente. A prática de criar cardeais-sobrinhos teve origem na Idade Média e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII. A partir de meados do papado de Avinhão (1309 – 1377) e até a bula papal antinepotismo do Papa Inocêncio XII – Romanum decet pontificem – (1692), um papa sem um cardeal-sobrinho era exceção à regra. Todos os papas do Renascimento que nomearam cardeais indicaram um parente para o Colégio Cardinalício e os sobrinhos eram a escolha mais comum.
         A instituição do cardeal-sobrinho evoluiu durante sete séculos, ao sabor do desenrolar da história do papado e dos estilos próprios dos diversos papas. De 1566 a 1692, um cardeal-sobrinho detinha o ofício curial de ser Superintendente do Estado Eclesiástico, mas este cargo era também conhecido como Cardeal Sobrinho (sem hífen), e assim os termos confundiam-se. O ofício curial de Cardeal Sobrinho (sem hífen), tal como a instituição do cardeal-sobrinho (familiar do papa), entraram em declínio à medida que o poder do Cardeal Secretário de Estado foi aumentado e o poder temporal dos papas ia diminuindo nos séculos XVII e XVIII. Alguns dos cardeais-sobrinho notáveis incluem pelo menos 15, e possivelmente 19 papas a saber: Gregório IX, Alexandre IV, Adriano V, Gregório XI, Bonifácio IX, Inocêncio VII, Eugênio IV, Paulo II, Alexandre VI, Pio III, Júlio II, Leão X, Clemente VII, Bento XIII e Pio VII, e provavelmente também João XIX, Bento IX, bem como Inocêncio III e Bento XII, além de um antipapa João XXIII, e dois ou três santos (Carlos Borromeu, Roberto Belarmino, Guarino da Palestina e talvez Anselmo de Lucca.

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