quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

PROUDHON UM ANARQUISTA

 




Pierre-Joseph Proudhon – Nascido em Besançon em 15 de janeiro de 1809 e falecido em Passy, Paris em 19 de janeiro de 1865. Foi um filósofo político e econômico francês, foi membro do Parlamento Francês e primeiro grande ideólogo anarquista da história. É considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista, até então um termo considerado pejorativo entre os revolucionários e foi o líder intelectual dos anarquistas estado-unidense no século XIX. Foi ainda em vida chamado de socialista utópico por Marx e seus seguidores, rótulo sobre o qual jamais se reconheceu. Após a revolução de 1848 passou a se denominar federalista.

         De origem humilde, começou a trabalhar cedo, numa tipografia, onde entrou em contato com liberais e socialistas experimentais, que representavam as mais importantes correntes políticas de sua época. Assim conheceu Charles Fourier, idealizador do socialismo experimental dos falanstérios, que posteriormente o influenciaria em suas ideias. Em 1838, já diplomado pela faculdade de Besançon, foi para Paris, onde em 1840 publicou “Qu’est-ce que la Proprieté?” (“Que é a Propriedade?”). Nessa obra vai se afirmar Anarquista, proclamando que a propriedade é um roubo. Sustentava que a exploração da força de trabalho de um semelhante era, também, um roubo e que cada pessoa deveria comandar os meios de produção de que se utilizasse.

         Em 1842 lançou algumas teses em “Advertência aos Proprietários” (“Avertissement aux Propriétaires”) e foi processado. No entanto acabou sendo absolvido pois os juízes se declararam incompetentes para julgá-lo. Depois disso foi para Lyon, onde se empregou no comércio. Nesse período entrou em contato com uma sociedade secreta que defendia uma doutrina segundo a qual uma associação de trabalhadores da nascente indústria deveria administrar os meios de produção. Com isso esperavam transformar as estruturas sociais, não pela atração econômica mas pela revolução violenta.      

   Em Paris, Proudhon conheceu Karl Marx e outros revolucionários, como Mikhail Bakunin.         

    Em 1846 escreveu “Systèmedes Contradictions Économiques ou Philosophie de la Misère” (“Sistemas de Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria), onde criticou o autoritarismo comunista e defendeu um Estado descentralizado. Marx, que admirava Proudhon, leu a obra, não gostou, e respondeu a Proudhon em 1847 com “Misère de la Philosophie” (“Miséria da Filosofia”), decretando o rompimento de relações entre ambos.


         Proudhon participou da Revolução de 1848 em Paris. Entre 1849 e 1852 ficou preso por causa de suas críticas direcionadas a Napoleão III. Em 1851, escreveu “Idée Générale de la Révolutionau XIX Siècle” (“Ideia Geral de Revolução no Século XIX”), que colocava a visão de uma sociedade federalista de âmbito mundial, sem um governo central, mas baseada em comunas autogeridas. Os comunistas acabaram por rotulá-lo de reacionário, quando defendeu uma união entre proletários e burgueses.

         

          Depois de publicar, em 1858, “De la Justice dans la Révolution et dans L’église” (“A Justiça na Revolução e na Igreja”), obra totalmente anticlerical, passou a viver sob vigilância da polícia, o que o levou a se exilar em Bruxelas. Em 1864 voltou a Paris e publicou “Du Principe Féderatif” (“Do Princípio Federativo”), uma síntese de suas concepções da política. Proudhon morreu em Passy, subúrbio de Paris, em 19 de janeiro de 1865.

 


Vida e Obra de Proudhon

         Proudhon foi tipógrafo e aprendeu por conta própria o idioma latino para imprimir melhor livros nesta língua. Sua afirmação mais conhecida “a propriedade é um roubo!”, está presente em seu primeiro e maior trabalho, “O que é Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo” (em francês: “Qu’est-ce que la Propriété? Recherche sur le Principe du Droit et du Gouvernement”), publicado em 1840. A publicação do livro atraiu a atenção das autoridades francesas. Atraiu também o interesse de Karl Marx, que começou a se corresponder com o seu autor. Os dois influenciaram-se mutuamente: encontraram-se em Paris por ocasião do exílio de Marx. A amizade de ambos chegou ao fim quando Marx respondeu ao seu texto (“Sistema de Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria”) com outro, provocadoramente intitulado “Miséria da Filosofia”.

         A disputa tornou-se uma das origens da divisão entre as alas marxistas e anarquistas nos encontros da Associação Internacional dos Trabalhadores. Alguns, como Edmund Wilson, argumentam que o ataque de Marx a Proudhon tem sua origem na defesa prévia de Proudhon a Karl Grün, o qual Marx abertamente detestava e que havia sido o autor de traduções do trabalho de Proudhon para diversos idiomas.

        Proudhon favoreceu as associações dos trabalhadores ou cooperativas, bem como a propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo, em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.

         Proudhon também tentaria criar um banco operário, semelhante em alguns aspectos às atuais cooperativas de crédito, que beneficiaria os trabalhadores com empréstimos sem juros. Malograda a tentativa, a ideia seria apropriada por capitalistas e acionistas que incorporariam a imposição de juros em seus empréstimos. 


Filosofia Política


        Aquele que puser as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo!” – frase de Proudhon de 1849. Foi Proudhon o primeiro a referir-se a si próprio como um anarquista. Em “O que é a Propriedade?”, publicado em 1840, ele definiu anarquia como sendo “a ausência de um mestre, de um soberano”, e em “A Ideia Geral de Revolução” (1851) ele argumentou em favor de uma “sociedade sem autoridade”. Proudhon ampliou sua análise para além das instituições políticas, argumentando em “O que é Propriedade?” que “proprietário” é “sinônimo” de “soberano”. Para Proudhon:


Capital(...) no campo político é análogo a ‘governo’ ... A ideia econômica de capitalismo, as políticas de governo ou de autoridade, e a ideia teológica de igreja são três ideais idênticos, de várias formas, vinculados. Atacar uma delas é o equivalente a atacar todas elas... o que o capital faz ao trabalho, e o Estado à liberdade, a igreja faz com o espírito. Esta trindade do absolutismo é tão perniciosa na prática quanto o é na filosofia. O meio mais efetivo de oprimir os povos seria simultaneamente escravizar seu corpo, sua vontade e sua razão”.

 

         Proudhon em seus primeiros trabalhos analisou a natureza e os problemas da economia estatista. Enquanto fora profundamente crítico do Estado, ele também criticou os socialistas de seu tempo que idolatravam a ideia de associação estatal. Em uma sequência de argumentos, do “O que é a Propriedade?” (1840) até “Teorias da Propriedade” (em francês: “Théorie de laPropriété – publicado postumamente entre 1963 e 1964), ele declarou contraditoriamente que “propriedade é roubo”, “propriedade é impossível”, “propriedade é despotismo” e “propriedade é liberdade”. Quando afirmava “propriedade é roubo” e que “propriedade é despotismo” ele se referia ao proprietário capitalista e ao estatista que em sua perspectiva “roubava” o salário dos trabalhadores. Para Proudhon, o trabalho assalariado era uma posição de subordinação e exploração, uma condição permanente de obediência.

         Ao afirmar que “propriedade é liberdade”, ele se referia àquilo produzido em coletividades – propriedade coletiva de camponeses e artesãos, capaz de possibilitar pertences pessoais, habitação, ferramentas de trabalho, e o valor justo pela venda de seus produtos. Para Proudhon, a única fonte legítima de propriedade é o trabalho. Este pensador defendia a auto-organização dos trabalhadores e locais de trabalho (“todo o capital acumulado tornar-se propriedade, nenhum Estado poderá ser seu proprietário exclusivo”).

        Proudhon, portanto, não aprovava a ideia de um “Estado” possuindo os meios de produção ou a terra, mas ao invés disso que o “usuário tivesse, possuísse (sob supervisão da sociedade), junto à organização e regulamentação social” de forma a “regular o mercado”. Proudhon chamou a si mesmo de Anarquista, e se opôs a propriedade estatal dos bens capitais em favor da propriedade dos trabalhadores por si próprios em associações. Isso faz com que ele seja considerado um dos primeiros teóricos do anarquismo libertário. Proudhon foi uma das principais influências sobre a teorização, ao fim do século XIX e no século XX, de autoadministração dos trabalhadores, também chamada autogestão.


         A este uso-propriedade ele chamou de “posse”, e este sistema econômico foi denominado por ele de “Mutualismo”. Proudhon foi autor de inúmeros argumentos contra a titulação da terra e do capital do Estado, incluindo razões baseadas na moralidade, economia, política e liberdade individual. Um destes argumentos afirma que este tipo de titulação, por um lado, permitiu o lucro, por outro, levou a instabilidade social e a guerra criando círculos de débito e eventualmente a superação da capacidade de ser pago. Outro argumento é que esta titulação produziu o “despotismo” e tornou os trabalhadores assalariados, submetendo-os à autoridade de um Estado.

         Em “Que é a Propriedade?” Proudhon argumenta:


“Propriedade, atuando pela exclusão e transgressão, frente a uma população em crescimento, tem sido o princípio vital e a causa definitiva de todas as revoluções. Guerras religiosas e guerras de conquista, se comparados aos extermínios raciais, estes têm sido apenas distúrbios acidentais, logo reparados pela progressão matemática da evolução da vida nas nações. A queda e a morte de sociedades se dão devido ao poder de acumulação implicado na propriedade”.

 

        Joseph Déjacque atacou o apoio de Proudhon às noções de patriarcado, que os anarquistas do século XX classificaram como uma forma de sexismo, um pré-noção reconhecida por estes, como estando em oposição aos princípios anarquistas.

 

        Próximo ao fim de sua vida, Proudhon repensou alguns elementos de sua perspectiva política. Em “Do Princípio Federativo” (1863) ele reviu sua perspectiva antiestatal anterior, ponderando “o equilíbrio entre autoridade e liberdade”, levando adiante uma “teoria de governo federal” descentralizado. Ele também definiu anarquia de uma forma distinta como “governo de cada um por si próprio”, o que significava “que funções políticas deveriam ser reduzidas a funções industriais, e que a ordem social deveria surgir de nada além de transações e trocas”. Neste trabalho Proudhon definiu seu sistema econômico como uma “federação agroindustrial”, considerando que esta ordem poderia prover “arranjos federais específicos para proteger aos cidadãos dos estados federados do feudalismo estatista financeiro, tanto no interior como fora deste sistema” e dessa forma acabar com a reintrodução do “trabalho assalariado”. Isto se dava porque o “direito político deve estar apoiado no direito econômico”.

         Na publicação póstuma da “Teoria da Propriedade”, este autor argumentou que a “propriedade é a única força capaz de agir como um contrapeso ao Estado”. Portanto, Proudhon poderia manter a ideia de propriedade estatal enquanto roubo, e ao mesmo tempo oferecer uma definição de propriedade privada como liberdade. “Existe a possibilidade constante de abuso, exploração, que significa o roubo. Ao mesmo tempo a propriedade é a criação espontânea de sociedade um baluarte contra o poder eternamente violador do Estado”.

         A passagem do livro “Que é a Propriedade?”, onde narra um diálogo com um Filisteu, é bastante elucidativa:



― “Como, de que forma, você responde tal pergunta: Você é um republicano?”

― “Um republicano! Sim; mas essa palavra não é nada específica. “Res” “pública”, isto é, a coisa pública. Agora, que quer que seja interessado em assuntos públicos – não importando sob qual forma de governo – pode chamar a si próprio de republicano. Dessa forma, até mesmo reis são republicanos”.

― “Bom! Você é um democrata?”

― “Não”.

― “O que? Você gostaria de viver numa monarquia?”

― “Não.”

― “Um constitucionalista?”

― “Deus me livre”.

― “Então você é um aristocrata?”

― “Não mesmo!”

― “Você quer uma forma mista de governo?”

― “Ainda menos”.

― “Então o que você é?”

― “Eu sou anarquista”.

― “Ah! Estou te entendendo; você diz satiricamente. Isto é um ataque ao governo”.

― “De forma alguma. Eu apenas lhe apresentei minha mais séria e bem ponderada declaração de fé. Ainda assim sou um firme amigo da ordem, sou (no sentido forte do termo) um anarquista. Entenda-me”.

 

         Como consequência de sua oposição ao lucro, ao Estado, à propriedade da terra pelo Estado e do capital do Estado, bem como à propriedade estatal, Proudhon rejeitou o comunismo. Ele adotou o termo mutualismo para seu tipo de anarquismo, que implicava no controle dos meios de produção pelos trabalhadores. Em sua perspectiva, artesãos autoempregados, camponeses e cooperativas poderiam disponibilizar seus produtos no mercado. Para Proudhon, fábricas e outros locais de trabalho grandes poderiam ser administrados por “associações de trabalhadores” operando diretamente com base nos princípios democráticos. O Estado seria abolido; ao invés dele, a sociedade se organizaria por meio de uma federação de “comunas livres”. Em 1863, Proudhon disse:


“Todas as minhas ideias econômicas, como foram desenvolvidas há mais de vinte e cinco anos, podem ser resumidas no termo federação agricoloindustrial. Todos os meus ideais políticos desaguam em uma fórmula similar: federação política ou descentralização”.

 

         Ele continuou, portanto, fazendo oposição a propriedade estatal. Em “Teoria da Propriedade” ele reforça: “Agora em 1840, eu categoricamente rejeitei a noção de propriedade... de ambas, a grupal e a individual”, mas até então ainda não havia formulado sua nova teoria da propriedade:


“(...) propriedade é a maior força revolucionária que existe, com uma capacidade inigualável de lançar ela própria contra a autoridade(...), então a principal função da propriedade privada dentro de um sistema político deve ser atuar como um contrapeso ao poder do Estado, para desta forma assegurar a liberdade ao indivíduo”. 

 

       No entanto, ele continuou se opondo a concentrações de riqueza e propriedade, em favor da propriedade de pequena escala associada a camponeses e artesão. Seguiu fazendo oposição a ideia de propriedade privada da terra: “O que não posso aceitar, em relação à terra, é que o trabalho permita a posse daquilo sobre o qual se trabalha”. Somando-se a isso, Proudhon ainda acreditava que a “propriedade” deveria ser mais igualitariamente distribuída e limitada em tamanho para aquilo que poderia ser utilizado e trabalhado individualmente, ou em associações familiares e operárias. Ele apoiou o direito de herança, e defendeu “como uma das fundações da família e da sociedade”. No entanto, ele refutou a estender esse direito para além das posses pessoais argumentando que “sob a lei da associação, transmissão da riqueza não se aplica aos instrumentos do trabalho”.



         Proudhon considerava ilegítimo os ganhos de juros e de aluguéis, mas não buscou aboli-los através da lei:


“Protestei contra isso quando fui criticado... o complexo de instituições no qual a propriedade é a pedra fundamental, nunca quis proibir ou suprimir, por um decreto soberano, o aluguel do solo ou os juros de capital. Penso que todas estas manifestações da atividade humana deveriam permanecer livres e voluntárias para todos. Não peço para elas modificações, restrições ou supressões, de outra forma elas desapareceriam naturalmente e por necessidade através da universalização do princípio de reciprocidade que proponho”.

 

 

Crítica a Karl Marx

         Proudhon foi um revolucionário, mas a sua revolução não implicava revoltas violentas nem guerras civis, mas sim a transformação da sociedade. Essa transformação era essencialmente de natureza moral e exigia a mais alta ética daqueles que buscavam a mudança.

         Em suas cartas, Proudhon expressou seu desacordo com os pontos de vista de Marx sobre a revolução:



“Creio que não temos necessidade dela para ter sucesso e que, consequentemente, não devemos apresentar a ação revolucionária como um meio de reforma social, porque isso induzirá um apelo à força, à arbitrariedade, em suma, uma contradição”.

 

 

 

        Ele fez poucas críticas públicas a Marx ou ao Marxismo, porque em sua vida Marx era um pensador relativamente desconhecido. Foi só depois da morte de Proudhon que o marxismo se tornou um grande movimento. Ele, no entanto, criticou socialistas autoritários da sua época. Isso incluiu o socialista autoritário Louis Blanc, do qual Proudhon disse:


“Deixe-me dizer a M. Blanc: você não deseja nem catolicismo, nem monarquia, nem nobreza, mas você quer ter um Deus, uma religião, uma ditadura, uma censura e uma hierarquia... Mas eu nego o teu Deus, a tua autoridade soberana, o teu Estado judiciário ditatorial e todas as suas mistificações”.

 

 Legado


         A ideias de Proudhon rapidamente se espalharam por toda a Europa, influenciando organizações de trabalhadores e os mais fortes movimentos sindicais que se manifestaram na Rússia, Portugal, Itália, Espanha e na França. O pensamento de Proudhon influencia outros importantes autores como Benjamin Tucker, Kevin Carson, Mikhail Bakunin, Piotr Kropotikin, Errico Malatesta, Emma Goldman, entre outros que a partir das ideias desse pensador desenvolveram outras perspectivas e análises teóricas. Em Portugal foi traduzido e amplamente divulgado entre os setores progressistas por Heliodoro Salgado. No Brasil, Proudhon influenciou a obra do filósofo Mário Ferreira dos Santos.


 
     No seu texto “Confissões de um Revolucionário”, Proudhon afirmou que “Anarquia é Ordem”, uma frase que muito mais tarde, durante a Guerra Civil Espanhola inspiraria, o símbolo anarquista conhecido como “‘A’ no círculo”, hoje, muito comum em pichações e grafites presentes na paisagem urbana. Neste símbolo o círculo simboliza a letra “O” da palavra Ordem, e em seu interior a letra “A” da palavra Anarquia, simbolizando a ordem, mas na visão anarquista, uma ordem sem Estado, sem governo, mas da autogestão dos trabalhadores.



 

Fonte:

Verbete "Pierre-Joseph Proudhon”. Wikipédia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Pierre-Joseph_Proudhon. Acesso em 1.º de fev. 2022.

 


FEUERBACH - VIDA E OBRA

 LUDWIG FEUERBACH


       Nascido em Rechenberg em 1804, foi um filósofo alemão conhecido pelo estudo da teologia humanista. Ele foi aluno do filósofo Hegel, porém, abandonou os estudos hegelianos para, em 1828, iniciar estudos em ciências naturais. Após dois anos de análise, publica “Pensamentos Sobre a Morte e Imortalidade” de forma anônima. Foi nesta obra que iniciou suas investidas contra a ideia de imortalidade. Para Feuerbach, após o falecimento, todas as características humanas são carcomidas pela natureza.

          Em 1834, escreve “Abelardo e Heloísa”, já em 1838 publica “Pierre Bayle” e um ano depois, “Sobre Filosofia e Cristianismo”. Esta última obra ficou famosa por ter influenciado Karl Marx. “Sobre Filosofia e Cristianismo” é um livro dividido em duas partes: na primeira, Feuerbach discute a "essência verdadeira ou antropológica da religião". Entretanto, na segunda, faz uma análise sobre a "essência falsa ou teológica", para ele, toda tipo de religião é uma forma de alienação na qual as pessoas projetam seu conceito de “ideal humano” em um ser superior.

          Feuerbach viveu em anos de turbulência política, por contestar os religiosos entre os anos de 1848 e 1849, foi considerado por diversos revolucionários, um pensador audacioso de seu tempo.

          A corrente filosófica encontrada em suas obras é uma transição do idealismo alemão ao materialismo histórico de Karl Marx e ao materialismo cientificista da segunda parte do século XIX. Ao herdar ideias de Hegel, Feuerbach imprimiu suas inflexões antropológicas, o que caracteriza boa parte de seu trabalho.

          Dentre as obras de Feuerbach, as principais são: Da razão, una, universal, infinita (1828); Pensamentos sobre morte e imortalidade (1830); Sobre a crítica da filosofia positiva (1838); Crítica da filosofia hegeliana (1839); A essência do cristianismo (1841); Sobre a apreciação do escrito “A essência do cristianismo” (1842); Princípios da filosofia do futuro (1843); Teses provisórias para a reforma da filosofia (1843); Lutero como árbitro entre Strauss e Feuerbach (1843); A essência da religião (1846); Fragmentos para a caracterização de meu Curriculum vitae (1846); Preleções sobre a essência da religião (1851) e Teogonia (1857).

          Feuerbach morreu em Rechenberg, na Alemanha, em 1872.




ARAUJO, Felipe. Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/filosofos/ludwig-feuerbach/. Acesso em 30 de jan. 2022.

 

Ludwig 

Andreas

Feuerbach  

Seria difícil encontrar um movimento emancipatório do século XIX que não tenha sido influenciado, de uma forma ou de outra, por Ludwig Andreas Feuerbach. Entre esses, os dois autores que mais projetaram seu nome foram Karl Marx e Friedrich Engels.Os pais do socialismo científico, no entanto, tornaram-se tão grandes que, involuntariamente, acabaram também ofuscando o filósofo sem o qual sua obra não teria sido possível. Compreender a obra de Feuerbach é importante hoje não apenas para mergulhar no caldo cultural do qual surgiu o marxismo, mas também para melhor compreender as lutas do presente que, na maioria das vezes, ainda são as mesmas enfrentadas por eles.Ludwig nasceu em 28 de julho de 1804, em Landshut, Alemanha. Sua família era protestante e carregava os valores progressistas do pai, o famoso jurista Paul Johann Anselm von Feuerbach. Teve sete irmãos, sendo vários deles bem-sucedidos em suas áreas de atuação: havia um arqueólogo, um matemático, um jurista, um linguista e um filósofo, de modo que os Feuerbach eram praticamente uma sociedade científica em família.Concluiu o ensino médio em Ansbach, em 1822, e, no ano seguinte, começou a estudar teologia em Heidelberg. Ele se tornava, no entanto, cada vez mais crítico das lições dos teólogos e seu ceticismo aumentava em relação a tudo que acreditara até então. Neste momento, ele muda de curso e vai estudar Filosofia. Na cidade de Berlim, ouve com entusiasmo as lições de Hegel, mas, nos últimos anos de seu curso, vai para Erlangen e se torna crítico deste. Uma forte tendência para o concreto, para os sentidos e para a percepção se desenvolve em seu pensamento.Em 1829, Feuerbach obteve permissão para lecionar na Universidade de Erlangen, onde ficou até 1832. Durante este período, foi publicada, anonimamente, sua obra Reflexões sobre a morte e a imortalidade (1830). Nesta obra ele se opõe à crença na imortalidade e deixa claro já ter rompido com o cristianismo.No início dos anos 1830, ele conhece BerthaLöw, filha de um empobrecido fabricante de porcelanas. Em 12 de novembro de 1837, eles se casam e se mudam para um castelo da família dela em Bruckberg.Ao mesmo tempo em que exercia sua atividade como filósofo e docente, Feuerbach também buscava um equilíbrio na natureza, encontrava-se com camponeses e sentava com estes nas tavernas. Ele escreveu: “Lógica eu aprendo em uma universidade alemã, mas Ótica – a arte de ‘ver’, isso eu aprendo em um vilarejo alemão”. Os anos em Bruckberg foram muito produtivos e, neste período, apareceram suas obras mais importantes.A crítica à religião e o materialismo antropológico de Feuerbach ocupam o centro de seu pensamento. Uma das principais tarefas de sua filosofia é construir, formar, desenvolver o ser humano. Feuerbach se colocava contra a opressão do homem e defendia uma vida digna, sem pobreza e necessidade, mas aqui e agora. A ideia religiosa da imortalidade, para ele, não era nada mais que o desejo de ter uma vida melhor. Feuerbach também se posicionava a favor do direito das mulheres em uma época em que o patriarcalismo era ainda mais forte e dominante.Em 1841, Feuerbach publicou sua principal obra, “A Essência do Cristianismo”. Neste livro ele afirma que Deus é uma projeção das principais qualidades humanas. Se os seres humanos são capazes de amar, então Deus é todo amor; se são capazes de bondade, então Deus é todo bom; se possuem alguma força, então Deus é todo-poderoso, se podem conhecer alguma coisa, então Deus conhece tudo (onisciente). Ao se projetar em Deus, porém, o homem não se reconhece mais nele. Deus é encarado como um ser externo, independente do homem e com vida própria. 

          Embora Feuerbach não utilize este termo, ele opera aqui com o conceito hegeliano de alienação (Entfremdung), que também seria apropriado por Marx no contexto de sua crítica ao capitalismo. No último capítulo, ele conclui: “Nesta obra provamos que o conteúdo e o objeto da religião são totalmente humanos. Provamos que o segredo da teologia é a antropologia, que o segredo do ser divino é o ser humano”.O método do ateísmo de Feuerbach foi de fundamental importância para Marx e Engels. Em 1843, numa carta a Arnold Ruge, Marx escreve que “a nossa finalidade não pode ser outra que não a de Feuerbach com sua crítica à religião, ou seja, trazer as questões religiosas e políticas na forma humana autoconsciente”.Friedrich Engels afirmou que apenas quem sentiu o “efeito libertador” de “A Essência do Cristianismo”, de Feuerbach, pode entender o que se passou à época: “O entusiasmo foi geral. Todos nós éramos, naquele momento, feuerbachianos. A exaltação com que Marx recebeu a obra e o quanto esta lhe influenciou – apesar de todas as reservas críticas – podem ser lidos em “A Sagrada Família”.A admiração de Marx por Feuerbach aumentou ainda mais quando, dois anos depois, este publicou “Fundamentos da Filosofia” (1843), obra na qual define o homem como um ser social. A essência do homem não se encontra em um indivíduo isolado, mas na comunidade, na unidade do homem com o homem. Nesta obra Feuerbach afirma que individualismo significa finitude e limitação, e que vida em comunidade significa liberdade e infinitude.O jovem Marx tenta então trazer o renomado filósofo para contribuir no seu recém-fundado jornal “Deutsch-Französischen Jahrbüchern” (“Anais Franco-Alemães”). Em uma carta de 3 de outubro de 1843 escreve Marx: “Honrado senhor! Você foi um dos primeiros escritores que expressaram a necessidade de uma aliança científica franco-alemã. Você é, por isso, um dos primeiros a auxiliar um empreendimento que busca efetivar esta aliança. Toda contribuição sua será muito bem-vinda!” Feuerbach respondeu à carta de Marx imediatamente, mas recusou a proposta. Ele disse que sentia muito não poder contribuir no momento com o tema proposto por Marx, que era uma crítica à filosofia de Schelling, o filósofo conservador que havia sido escolhido pelo governo para substituir e tentar sufocar a influência de Hegel na Alemanha.Esta recusa, contudo, não impediu que Marx escrevesse posteriormente uma segunda carta, tentando ganhar Feuerbach para um trabalho conjunto na incipiente filosofia revolucionária do proletariado. Em 11 de agosto de 1844, alguns meses antes de redigir as famosas “Onze Teses a Feuerbach”, escreveu Marx: “(…) espero ansiosamente por uma oportunidade em que eu possa lhe demonstrar a alta consideração e – perdoe-me a palavra – o amor que tenho por você,pois nestes escritos você deu – não sei se de maneira consciente – um fundamento filosófico ao socialismo, e os comunistas entendem estes trabalhos desta maneira”.Feuerbach respondeu também a esta segunda carta de Marx, embora não tenha atendido a seu pedido. Segundo Georg Biedermann , a razão das recusas de Feuerbach em trabalhar com Marx e Engels é que ele não podia seguir os dois jovens pensadores em um caminho que correspondia tão pouco às suas inclinações enquanto filósofo. As causas reais e mais profundas eram de natureza fisiopsicológica, como o próprio Feuerbach esclareceu em outro contexto: “Ir para um outro objeto totalmente novo contradiz as leis fisiopsicológicas às quais a idade… está submetida”. Dizendo de outra forma, Feuerbach considerava que, em 1843 já tinha realizado seu objetivo de vida com sua crítica da religião e alcançado o topo de sua atividade teórica . A capacidade de se dedicar bem a um objeto de estudo se desgasta ao longo de alguns anos ou décadas e não está mais disponível uma segunda vez. Feuerbach não podia, naquela idade, mudar completamente de sua linha de investigação para acompanhar dois pensadores mais jovens e do calibre de Marx e Engels. Em 1848, na Revolução Alemã, Feuerbach se posicionou ao lado dos revolucionários, o que mais tarde lhe trouxe problemas com as autoridades. No fim deste mesmo ano, a pedido de vários estudantes, ministrou a palestra“A Essência da Religião em Heidelberg”. Um público entusiasmado ouvia suas palestras, e na galeria do salão, ao lado dos ouvintes previamente inscritos, diversos operários e trabalhadores também podiam acompanhar as palestras gratuitamente.Após a derrota da Revolução de 1848, Feuerbach se mostra resignado e volta para Bruckberg. Ele passa a ser vigiado pela polícia e sua casa chega a ser revistada.  

       Em 1860, empobrecido após a falência da fábrica de porcelanas herdada da família de sua esposa, ele é obrigado a deixar a cidade, sem dinheiro nem mesmo para o transporte dos móveis, e se mudar para Rechenberg, hoje parte de Nuremberg. Ao passar dos anos, Feuerbach se sentia cada vez mais ligado ao proletariado, e estudou “O Capital”, de Marx. Assim como Feuerbach havia influenciado Marx, este agora também lhe trazia contribuições, e seu pensamento ético claramente incorpora as descobertas marxistas do campo da economia política. Feuerbach reconhecia agora que a moral e a virtude possuíam estreita relação com as condições materiais de vida: “A virtude precisa, tanto quanto o corpo, de alimentação, roupas, luz, ar, espaço. Onde os homens vivem amontoados uns sobre os outros, por exemplo, nas fábricas inglesas ou nas moradias populares (…), onde não podem nem mesmo compartilhar o oxigênio em quantidades suficientes (…), lá não sobra espaço para a moral, sendo ela apenas um monopólio dos senhores donos de fábricas, dos capitalistas. (…) O fundamento da vida é também o fundamento da moral”.Feuerbach faleceu em 13 de setembro de 1872. 

          O Partido Social Democrata, ao qual Feuerbach havia se filiado dois anos antes, conclamou assim os trabalhadores para seu funeral: “Trabalhadores! Companheiros! O grande lutador pela libertação do povo em relação à escravidão espiritual, o famoso pensador, o instruído filósofo Ludwig Feuerbach caiu para a morte… e… nem a situação política e nem a situação social, pela qual ele nos é conhecido, vos impedirá de nos estender as mãos para uma manifestação de massas contra o sacerdócio!”.Dois dias depois de sua morte, seu corpo foi levado por uma multidão de pessoas – a maioria trabalhadores – e um mar de bandeiras vermelhas ao cemitério Johannisfriedh of em Nuremberg. Entre seis e dez mil pessoas compareceram ao seu funeral, o que correspondia a aproximadamente 10% da população da região à época.Todos os anos, no dia de sua morte, trabalhadores ainda deixam buquês de flores em seu túmulo. E assim como Feuerbach continua vivo na memória da classe trabalhadora do século XIX, a obra do pensador alemão continua acesa na teoria do socialismo científico. Certamente, a teoria de Feuerbach não teria ido tão longe sem o materialismo histórico fundado por Marx e Engels; mas sem sua filosofia, sem seu princípio antropológico que proclamava que o homem é o ser supremo para o homem, a concepção materialista da história também não teria sido possível.



ATAIDE,Glauber. Site A Verdade. Disponível em: https://averdade.org.br/2019/09/ludwig-feuerbach-filosofo-da-libertacao/. Acesso em 30 de jan. 2022.


Publicações:

  • ·  Ludwig Feuerbach: Obras Completas. Editado por Werner Schuffenhauer, Akademie Verlag, Berlim, 1967;
  • ·       Walter Jaeschke, Werner Schuffenhauer (eds.): Ludwig Feuerbach, esboços para uma nova filosofia. Felix Meiner Verlag, Hamburgo 1996;
  • ·  Ludwig Feuerbach: Palestras sobre lógica e metafísica (Erlangen 1830/1831). Editado por Carlo Ascheri e Erich Thies. Darmstadt, Sociedade do Livro Científico 1976;
  • ·    Ludwig Feuerbach: Palestras sobre a história da filosofia moderna de G. Bruno a GW F. Hegel (Erlangen 1835/1836). Editado por Carlo Ascheri e Erich Thies. Darmstadt, Sociedade do Livro Científico 1974; 
  • ·     Ludwig Feuerbach: Sobre a filosofia moral (1868). Educação avançada. Revisado criticamente por Werner Schuffenhauer, em: Solidariedade ou egoísmo. Estudos sobre uma ética de e depois de Ludwig Feuerbach. Editado por H.-J. Castanho. Berlim, Academy Verlag 1994;
  • ·       Ludwig Feuerbach: Obras completas em 10 volumes, Otto Wigand, Leipzig 1846-66;
  • ·   Ludwig Feuerbach: Obras Completas. Editado por Wilhelm Bolin e F. Jodl. 10 volumes. Frommann, Stuttgart 1903-1911. Reimpressão: Stuttgart-Bad Cannstatt, Frommann-Holzboog 1959-64;
  • ·  Ludwig Feuerbach: no contexto. Obras e correspondência em CD-ROM, Karsten Worm InfoSoftWare, 1ª edição Berlim 2004, Lançamento 2005;
  • ·   Ludwig Feuerbach: obras em seis volumes, ed. v. Erich Thies, Suhrkamp, ​​Frankfurt 1975/76;
  • ·   Ludwig Feuerbach: Pequenos escritos, com posfácio de Karl Löwith, Suhrkamp Verlag 1966;
  • ·    Ludwig Feuerbach: em: Filosofia de Platão a Nietzsche. Selecionado e apresentado por Frank-Peter Hansen. Biblioteca Digital Volume 2, Directmedia, Berlim 1998. - Contém A essência do cristianismo, teses preliminares sobre a reforma da filosofia, princípios da filosofia do futuro e sobre a "essência do cristianismo" em relação ao "único e sua propriedade";
  • ·  Ludwig Feuerbach: A essência do cristianismo, Leipzig 1841. (Texto digital e completo no German Text Archive) - edição Reclam: Stuttgart 2005;
  • ·    Ludwig Feuerbach, Sobre a 'essência do cristianismo' em relação ao 'único e sua propriedade'. (On-line: Versão 1845 + Mod. 1846);
  • ·   Ludwig Feuerbach: Princípios da filosofia do futuro. Zurich/Winterthur 1843. – Edição crítica, Frankfurt am Main 1983, 3ª Ed;
  • ·        Ludwig Feuerbach: A natureza da fé como definida por Lutero. Leipzig 1844;
  • ·  Ludwig Feuerbach: Teogonia, baseada nas fontes do hebraico clássico e da antiguidade cristã. Leipzig 1857.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

OS JOVENS HEGELIANOS


HEGEL
            Os jovens hegelianos, depois conhecidos como os hegelianos de esquerda, foram um grupo de estudantes e jovens professores na Universidade Humboldt de Berlim após a morte de Georg Hegel ocorrida em 1831. Os jovens hegelianos foram opositores ao popular grupo hegelianos de direita (velhos hegelianos) os quais detinham as cátedras do departamento e outras posições de prestígio na universidade e no governo.

            

          A filosofia política de Hegel poderia ser lida em direções de esquerda ou de direita.            

         

          Os hegelianos de direita acreditavam que as séries de evoluções dialéticas históricas tinham sido completadas, e que a sociedade da Prússia, como ela existia, era a culminação de todo o desenvolvimento social para a época, com um extenso sistema de serviços civis, boas universidades, industrialização, e alta empregabilidade. Os jovens hegelianos acreditavam que ainda haveria mudanças dialéticas mais extensas para acontecer, e que a sociedade da Prússia da época estava longe da perfeição e ainda continha focos de pobreza, o governo impunha a censura, e os não luteranos sofriam com a discriminação religiosa. 

           Os jovens hegelianos interpretavam o aparato estatal inteiro como, em última análise, um clamor por legitimidade baseada em doutrinas religiosas; especificamente o Luteranismo na Prússia contemporânea, mas eles generalizaram a teoria para ser aplicável a qualquer Estado suportado por qualquer religião. Todas as leis foram finalmente baseadas nas doutrinas bíblicas.

 

          Como tal, o plano deles para sabotar o que eles concebiam como o aparato do Estado corrupto e despótico, era atacar a base filosófica da religião. No processo, eles se tornaram os primeiros estudantes bíblicos objetivos e não religiosos desde Espinoza em seu “Tratado Teológico-Político”.

            David Strauss escreveu “Das Leben Jesus” (“A vida de Jesus”), onde ele argumentou que os ensinamentos originais de Jesus tinham sido ligeiramente deturpados e modificados através dos séculos por propósitos políticos. Strauss argumentou que a mensagem original de Jesus era destinada aos pobres e oprimidos da sociedade, e não para o estabelecimento (establishment). Esses ensinamentos tinham sido usurpados pelo estabelecimento (establishment) para manipular e oprimir as populações do mundo prometendo a elas uma recompensa no pós-vida se elas se mantivessem em seus lugares (obedientes) e não se levantassem ou rebelassem contra o rico. Isso se coloca em oposição direta aos ensinamentos de Jesus, que estava liderando um movimento de massa dos pobres, e dessa maneira Strauss percebeu que a religião do Estado era inválida.


            Bruno Bauer foi mais longe, e alegou que a história inteira de Jesus seria um mito. Ele não encontrou nenhum registro de alguém chamado "Yeshua de Nazaré" em quaisquer registros da então ainda existente Roma (pesquisas posteriores, na verdade, encontraram tais citações, como no historiador romano Públio Cornélio Tácito e o historiador judeu Flávio Josefo, sendo que ambos nasceram depois da suposta vida de Jesus). Bauer argumentou que quase todas as figuras históricas mais eminentes na Antigüidade teriam sido citadas em outras fontes (e.g.[1], Aristófanes imitando Sócrates em seus papéis), mas como ele (Bauer) não pôde encontrar qualquer fonte da época que tenha feito referências a Jesus, passou a supor que toda a história de Jesus foi fabricada.

            Ludwig Feuerbach escreveu um perfil psicológico de um crente chamado “Das Wesen Christentums” (“A essência da Cristandade”). Ele argumentou que ao crente é apresentada uma doutrina que estimula a projeção de fantasias para o mundo. Crentes são encorajados a acreditar em milagres, e a idealizar todas as fraquezas deles imaginando um Deus onipotente, onisciente, imortal que representa a antítese de todas as falhas e deficiências humanas.

            Outro jovem hegeliano, Karl Marx, era em princípio simpatizante dessa estratégia de ataque à Cristandade para sabotar o estabelecimento da Prússia, mas mais tarde formou idéias divergentes e rompeu com os jovens hegelianos. Marx concluiu que religião não é a base do poder de estabelecimento, mas em vez disso é a posse do capital – terras, dinheiro, e os meios de produção – que está situado no coração do poder de estabelecimento. Marx percebeu que a religião era apenas uma cortina de fumaça para obscurecer essa verdadeira base de poder de estabelecimento, e certamente, era um amparo vital para o oprimido proletariado – "o ópio do povo," o único conforto deles numa vida na qual ele não estaria disposto a abandonar.


            Max Stirner ocasionalmente interagia com os jovens hegelianos, mas manteve posições muito contrárias às desses pensadores. Consequentemente, ele satirizou e imitou todos eles em sua obra “Der Einzige und Sein Eigentum” (“O Único e sua propriedade”).


           Os jovens hegelianos não eram populares na universidade devido às suas opiniões radicais sobre religião e sociedade. Bauer foi dispensado do posto de professor em 1842, ao passo que Marx e outros estudantes foram advertidos de que não deveriam se incomodar em submeter suas dissertações à Universidade de Berlim, pois elas certamente seriam mal recebidas devido às reputações que eles possuíam


Fonte:Wikipédia. "Jovens hegelianos”. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Jovens_hegelianos. Acesso em 29 de jan. de 2022.

 



[1] E.g ou e.g. – Abreviação de “exempli grata”, expressão latina que significa “por exemplo”, em português. Esta abreviação latina é comum principalmente em textos jurídicos, seja na forma e.g. como também v.g. (verbi gratia), que possui um significado equivalente ao de exempli gratia. Assim deve usar o e.g. para indicar que o texto a seguir consiste em exemplos referentes ao que está antes da abreviação. Por norma o e.g. deve ser usado entre parênteses, seguido dos exemplos que estão relacionados com a oração anterior. Na língua portuguesa é comum a substituição do e.g. pro p. ex. (“por exemplo”), porém é aconselhável o uso da abreviação da expressão latina, principalmente por ser de fácil entendimento em outros idiomas, por exemplo. Fonte: Site Significados. Disponível em: www.significados.com.br/e-g/amp/. Acesso em 05 de fev. 2022.

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