segunda-feira, 21 de março de 2022

ALEXANDRE I - II - III DA RÚSSIA

 



ALEXANDRE I DA RÚSSIA


Alexandre I – Nascido em São Petersburgo em 23 de dezembro de 1777 e falecido em Taganrog em 1º de dezembro de 1825. Foi czar[1] (imperador) da Rússia de 1801 até sua morte, também sendo o primeiro russo a ser Rei da Polônia e Grão-Duque da Finlândia. Era filho do czar Paulo I e sua esposa Sofia Doroteia de Württemberg, ascendendo ao trono após o assassinato do pai. Alexandre, tanto como grão-duque quanto imperador, muitas vezes usava de retórica liberal, porém manteve as práticas absolutistas da Rússia durante toda sua vida. Logo no início do seu reinado Alexandre realizou pequenas reformas sociais e depois grande reformas educacionais, também prometendo reformas constitucionais e sobre a servidão, porém nunca fez nenhuma proposta concreta. Na segunda metade de seu reinado ele ficou cada vez mais arbitrário, reacionário e temerário de conspirações. Alexandre expulsou professores estrangeiros das escolas russas e a educação passou ser mais religiosa e politicamente conservadora.

            Internacionalmente, ele governou o Império Russo durante o conturbado período das Guerras Napoleônicas. Ele mudou de lado várias vezes entre 1804 e 1812, passando de pacificador neutro, aliando de Napoleão Bonaparte até inimigo do imperador francês. Ele se aliou ao Reino Unido em 1805 na Terceira Coligação, porém devido sua derrota na Batalha de Austerlitz ele trocou de lado e aliou-se com a França através dos Tratados de Tilsit. Alexandre junto a Rússia ao Bloqueio Continental e travou pequenos conflitos com os britânicos. Entretanto, ele e Napoleão nunca conseguiram concordar em alguma coisa, especialmente acerca da Polônia, e a aliança acabou ruindo em 1810. Seu triunfo militar veio dois anos depois, quando a invasão francesa da Rússia terminou em desastre levando à queda de Napoleão pouco depois na Batalha das Nações. Ao fim do período napoleônico, Alexandre formou a Santa Aliança a fim de suprimir movimentos revolucionários na Europa.

            Alexandre se casou em 1793 com a princesa Luísa de Baden, com quem teve duas filhas que morreram jovens: Maria e Isabel. Ele morreu sem herdeiros no final de 1825, devido a ter contraído tifo, ou malária, apesar de rumores que teria fabricado sua morte e se transformando num monge na Sibéria que apareceram posteriormente a sua morte. Seu falecimento causou grande confusão, com seu irmão Constantino abdicando de seu direito de sucessão e fazendo com que militares se rebelassem na Revolta Dezembrista contra seu outro irmão, que posteriormente sucederia Alexandre como Nicolau I.

 

Reinado de Alexandre I

            Imperador e autocrata de todas as Rússias desde 1801, foi muito influenciado por sua avó, a imperatriz Catarina II da Rússia, que o tirou do país para educa-lo, e o considerava seu sucessor. Primeiro filho do grão-duque Paulo Petrovich, futuro Paulo I, e da grã-duquesa Maria Feodorovna, nascida princesa de Wüttemberg.

            Tornou-se czar após o assassinato de seu pai, em 23 de março de 1801. Foi coroado na Catedral da Dormição (igreja principal da Rússia Moscovita) no Kremlin em 15 de setembro de 1801. 

           Sua avó Catarina II era seguidora, em termos, dos princípios iluministas, e convidou o filósofo francês Denis Diderot para ser seu tutor particular. Diderot não aceitou, a imperatriz convidou como preceptor o cidadão suíço Fréderic-César La Harpe, que, em termos de pensamento filosófico, seguia as ideias de Jean-Jacques Rousseau, era republicano por convicção e um excelente educador que inspirou afeto em seu aluno e ajudou a moldar permanentemente sua mente mantendo-a flexível e aberta. Alexandre é considerado uma das mais interessantes figuras do seu século, autocrata e jacobino, místico e homem do mundo, natureza complexa, extremamente popular em todos os níveis da sociedade. Iniciou reformas administrativas, educativas, científicas, no regime da servidão.

            Seu reinado foi marcado por uma política externa flutuante. Aliado da Inglaterra e do Império Austríaco na coalizão de 1805 contra a França revolucionária, participou da Terceira Coligação contra Napoleão Bonaparte, mas as forças russo-austríacas foram vencidas em Austerlitz (1805). Fez aliança com o Reino da Prússia mas depois das derrotas de Eylau e Friedland (1807) se viu obrigado a assinar o Tratado de Tilsit, tornando-se aliado de Napoleão. Declarou guerra à Inglaterra e aderiu ao Bloqueio Continental.

            Atacou, então, a Suécia, para obter a Finlândia (1808). Renovou hostilidade contra o Império Otomano, continuadas até a Paz de Bucareste (1812). O ressentimento russo com o sistema continental dominado pelos franceses provocou a invasão da Rússia (1812). Havia retomado em 1811 a luta contra Napoleão, com isso causou a invasão de seu país pelos franceses, o que fez a Europa levantar-se contra o invasor. Embora retornasse à capital antes da derrota russa em Borodino (setembro de 1812), Alexandre tomou parte ativa na destruição do exército retirante de Napoleão em Dresden e Leipzig em 1813. Entrou em Paris, em 1814, com os aliados, visitou triunfante Londres. Após a campanha da Rússia, desastrosa para os franceses, participou da Sexta Coligação em 1813 e, caindo Napoleão, contribuiu para a restauração da dinastia dos Bourbons. Alexandre comandou o exército russo na campanha contra Napoleão. Após o fracasso da Campanha da Rússia, em 1812, participou da libertação da Europa (Batalha das Nações em 1813 e Campanha da França em 1814). 
           Em 1815, inspirou a Santa Aliança da Europa Cristã, com os soberanos do Império Austríaco e do Reino da Prússia. Queria resgatar o poder das dinastias absolutistas europeias. No Congresso de Viena, em 1815, recebeu a Polônia, assumiu o trono, deu-lhe uma nova constituição. 

O Período Final

Madame von Krudener
           Desde a invasão da Rússia, se tornara profundamente religioso. Lia a Bíblia diariamente e rezava muito. Deixara-se influenciar em Paris pelos pensamentos místicos de uma visionária, Bárbara Juliana Krüdener chamada de Madame von Krudener, que se considerava profetisa enviada ao czar por Deus. Teve influência curta mas profunda pois o czar nunca mais abandonaria seu fervor religioso. Voltando à Rússia, a partir de 1818, demonstrou políticas retrógradas e reacionárias que o alienaram do povo. Desde que Napoleão Bonaparte fora derrotado em 1812, surgiram sociedades secretas pela Rússia exigindo a abolição da servidão. Um desses movimentos, um grupo de nobres insatisfeitos chamados dezembristas, pediam também o fim da autocracia. Sua liga idealista (Santa Aliança) se tornara uma aliança dos monarcas contra os povos, depois dos encontros de Aachen, Opava, Liubliana e Verona – campeões do despotismo defensores de uma ordem mantida pela força das armas.

            Alexandre mesmo ficou golpeado pelo motim de seu regimento Semenovski e pensou detectar a presença de radicalismo revolucionário nas tropas. O que marcou o fim de seus sonhos liberais. Todas as rebeliões lhe pareceram então doravante revoltas contra Deus. Chocou o povo russo ao recusar apoio aos gregos, povo da mesma religião ortodoxa, ao se levantarem contra o Império Otomano, mantendo o argumento que eram rebeldes como outros. O chanceler austríaco, príncipe Klemens Wenzel von Metternich, a quem o czar deixou a direção dos negócios europeus, aproveitou-se de seu estado de espírito. Tinha mesmo abandonado os assuntos do país a seu favorito Arakcheev.

            A morte da única filha muito amada, uma enorme inundação em São Petersburgo, em 1824, e o descontentamento com os regimentos de seu exército, levaram-no à Crimeia, para tentar recuperar a saúde. Sua coroa passara a pesar muito e não escondia da família e dos amigos o desejo de abdicar. Quando a czarina adoeceu, Taganrog, aldeia do mar de Azov, parecia um destino ideal. Mas o czar contraiu malária, ou tifo, durante uma viagem de inspeção e morreu. Sua morte repentina, seu misticismo, a perplexidade da corte e a recusa de permitir a abertura de seu caixão ajudaram a criar a lenda de sua “partida” para um refúgio siberiano. Alexandre I faleceu em 1º de dezembro de 1825 e está atualmente sepultado na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo na Rússia.

Nicolau I da Rússia

            Em seu governo Alexandre I anexou a Transcaucásia da Pérsia (1813) e a Bessarábia após a guerra contra o Império Otomano (1812). Aboliu muitos castigos bárbaros, melhorou as condições de vida dos servos e fomentou a educação. Após sua morte foi sucedido por seu irmão Nicolau.

 

Casamento e Descendência

Isabel Alexeievna
(Luísa de Baden)
            Alexandre I casou-se aos 16 anos, em São Petersburgo, em 9 de outubro de 1793, com Luísa de Baden, de 14 anos (rebatizada na Rússia como Isabel Alexeievna). Ela era filha do marquês Carlos Luís, Príncipe Hereditário de Baden, irmão de Carlos de Baden, no qual em 1806 casou-se com Estefânia de Beauharnais, filha adotiva de Napoleão. Seu casamento foi muito infeliz. Extremamente popular, ela se converteu a religião ortodoxa. Graciosa e culta, deixou um diário, documento precioso. Tiveram duas filhas que morreram na infância:

1.     Maria Alexandrovna Romanova, nascida em 29 de maio de 1799 e falecida em 8 de julho de 1800 – rumores diziam dela ser filha de Adam Czartoryski – morreu com apenas um ano;

2.     Isabel Alexandrovna Romanova, nascida em 15 de novembro de 1806 e falecida em 12 de maio de 1808 – rumores diziam dela ser filha de Alexei Okhotnikov – morreu com uma infecção.

            Com a aristocrata polonesa Maria Narishkine, filha do príncipe Czetwertynski, Alexandre I teve:

1.     Zenaida Narishkin, nascida em 19 de dezembro de 1807 e falecida em 18 de junho de 1810 – morreu com 4 anos;

2.     Emanuel Narishkin, nascido em 30 de julho de 1813 e falecido em 31 de dezembro de 1901 ou em 13 de janeiro de 1902 – casado com Catherine Novossiltzev – sem descendência e com paternidade não confirmada.

            Com Sophia Sergeievna Vsevolozhskaya, teve:

1.     Nikolai Yevgenyevich Lukash, nascido em 11 de dezembro de 1796 e falecido em 20 de janeiro de 1868 – casou-se com a princesa Alexandra Lukanichna guidianova – teve quatro filhos do primeiro casamento e um filho do segundo casamento;

            Com Marguerite-Josephine Weimer, teve:

1.     Maria Alexandrovna Parijskaia, nascida em 19 de março de 1814 e falecida em 1874 – casou-se com Vassili Joukov – com descendência.

            Com uma mãe desconhecida, teve:

1.     Wilhelmine Alexandrine Pauline Alexandrov, nascida em 1816 e falecida em 4 de junho de 1863 – casou-se com Ivan Arduser von Hohendachs – com descendência.

            Com Veronica Dzierzanowska, teve:

1.     Gustaw Ehrenberg, nascido em 14 de fevereiro de 1818 e falecido em 28 de setembro de 1895 – casou-se pela primeira vez com Felicite Pantcherow – sem descendência. Casou-se pela segunda vez com Emilie Pantcherow – teve um filho.

            Com Barbara Tourkestanov, Princesa de Tourkestanova, teve:

1.     Maria Tourkestanova, Princesa de Tourkestanova, nascida em 20 de março de 1819 e falecida em 19 de dezembro de 1843 – morreu com 24 anos, sem descendência;

2.     Nicolas Vassilievich Isakov, nascido em 10 de fevereiro de 1821 e falecido em 25 de fevereiro de 1891 – casado com Ana Petrovna Lopukhina – teve uma descendente de Eudóxia Lopukhina – e com descendência.

 

Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Alexandre_I_da_R%C3%BAssia. Acesso em 31 de jan. 2022.

 

ALEXANDRE II DA RÚSSIA


Alexandre II – nascido em Moscou em 29 de abril de 1818 e falecido em São Petersburgo em 13 de março de 1881, cognominado de “o Libertador” pela Reforma Emancipadora de 1861, foi o Imperador (czar) da Rússia de 1855 até seu assassinato. Era o filho mais velho do czar Nicolau I e sua esposa a princesa Carlota da Prússia.

            Era conhecido por suas reformas liberais e modernizantes, através das quais procurou renovar a cristalizada sociedade russa. Em 19 de fevereiro de 1861, decretou o fim da servidão na Rússia. Foram libertados, ao todo, 22,5 milhões de camponeses servos – preservando-se, todavia, a propriedade dos latifúndios. 

Primeiros Anos

          Nascido em Moscou, Alexandre era o filho mais velho do czar Nicolau I da Rússia e da princesa Carlota da Prússia, filha do rei Frederico Guilherme III da Prússia e da princesa Luísa de Mecklemburgo-Strelitz. Os seus primeiros anos de vida não faziam prever o seu potencial. Até à altura que subiu ao trono em 1855, com trinta e sete anos de idade, poucos imaginavam que Alexandre II ficaria para a história por ter posto em prática as reformas mais difíceis na Rússia desde o reinado de Pedro, o Grande, sendo considerado como um dos melhores governantes que o império alguma vez viu.

            No período da sua vida em que foi príncipe herdeiro, a atmosfera intelectual de São Petersburgo não estava receptiva a qualquer tipo de mudança:  a liberdade de expressão e qualquer tipo de iniciativa privada estava a ser reprimidos ferozmente. A censura pessoal e oficial era algo comum e criticar as autoridades era considerado uma ofensa grave. Cerca de vinte e seis anos depois, Alexandre teve a oportunidade de implantar mudanças, contudo acabaria por ser assassinado em público pela organização terrorista Narodnaya Volya (A Vontade do Povo).

Vasily Zhukovsky
            A sua educação como futuro czar foi levada a cabo sob a supervisão de Vasily Zhukovsky, um poeta liberal romântico e tradutor de talento e incluiu um conjunto de várias disciplinas, bem como aprendizagem das principais línguas europeias. A sua suposta falta de interesse por assuntos militares que foi detectada por vários historiadores resultou dos efeitos que a amarga Guerra da Crimeia teve na sua família e no país inteiro. Também visitou muitos países proeminentes da Europa ocidental. Enquanto czarevich, Alexandre tornou-se o primeiro herdeiro Romanov a visitar a Sibéria. 

Reinado

      Alexandre II subiu ao trono após a morte do seu pai em 1855. O primeiro ano do seu reinado foi dedicado à continuação da Guerra da Crimeia e, após a queda de Sebastopol, às negociações de paz lideradas pelo seu conselheiro de confiança, o príncipe Gorchakov. O país estava exausto e tinha sido humilhado pela guerra. Havia subornos, roubos e corrupção por todo o lado. Encorajado pela opinião pública, o czar deu início a um período de reformas radicais que incluíram uma tentativa de fazer com que a aristocracia que possuía terra não controlasse tanto os pobres, uma atitude que tinha como objetivo desenvolver os recursos naturais russos e reformar todos os setores da administração. Em 1867, Alexandre vendeu a província do Alasca aos Estados Unidos por sete milhões de dólares (o equivalente a cerca de 200 milhões de dólares nos dias de hoje) depois de ter reconhecido a dificuldade que tinha em defende-la da Grã-Bretanha e do Canadá.
           

Emancipação dos Servos

            Pouco depois de concluir as negociações de paz, foram levadas a cabo mudanças importantes na legislação que regia a indústria e o comércio e a nova liberdade concedida permitiu a produção de um grande número de empresas de confiança duvidosa. Foram feitos planos para construir uma grande rede de estradas de ferro em parte com o objetivo de desenvolver os recursos naturais do país e em parte para aumentar o seu poder de defesa e ataque.

          A questão da existência da servidão foi abordada com coragem, aproveitando uma petição que tinha sido apresentada pelos proprietários de terras polacos nas províncias lituanas no sentido de melhorar a sua relação com os servos (de forma mais satisfatória para os proprietários), o czar autorizou a formação de comitês para melhorar as condições dos camponeses, e criou as bases para que essa melhora fosse eficaz.

        A este passo seguiu-se outro ainda mais significante. Sem consultar seus conselheiros habituais, Alexandre ordenou que o Ministério do Interior enviasse uma circular aos governadores provinciais da Rússia ocidental (a servidão era rara noutras partes do império), em que havia uma cópia com instruções que tinham também sido enviadas ao governador-geral da Lituânia e que elogiava as supostas intenções generosas e patrióticas dos proprietários de terras na Lituânia, sugerindo que talvez outros proprietários de outras províncias devessem ter o mesmo desejo. A sugestão foi levada a cabo e assistiu-se à formação de comitês para a emancipação em todas as províncias onde ainda não existiam servidão.

            A emancipação não era uma questão meramente humanitária capaz de ser resolvida instantaneamente pelo ucasse (decreto do czar) imperial. Tinha muitos problemas complicados que afetavam profundamente o futuro econômico, social e político da nação.

            Alexandre teve de escolher entre as medidas distintas que lhe eram recomendadas e decidir se os servos se tornariam trabalhadores da agricultura dependentes econômica e administrativamente dos seus senhores ou se tornaram numa classe de proprietários comunitários independentes.

            O imperador deu o seu apoio ao segundo projeto e os camponeses russos tornaram-se um dos últimos grupos da Europa a deixar o velho sistema de servidão.

            Os criadores do manifesto da emancipação foram o irmão de Alexandre, o grão-duque Constantino Nikolaevich, Yakov Rostovtsev e Nikolay Milyutin. A 3 de março de 1861, seis anos depois de subir ao trono, a lei da emancipação foi assinada e publicada. 

Outras Reformas 

      Em resposta à derrota desastrosa sofrida pela Rússia em 1856 durante a Guerra da Crimeia e aos avanços na área militar que estavam a acontecer noutros países europeus, o governo russo reorganizou o exército e a marinha dando-lhes novas armas. As mudanças incluíram o recrutamento militar obrigatório, que começou a 1.º de janeiro de 1874. Os homens de todas as províncias, ricos ou pobres, tinham que prestar serviço militar. Outras reformas militares incluíram criar uma reserva no exército e de um sistema de distritos militares (que ainda era usado um século depois), a construção de estradas de ferro estratégicas e uma maior importância na educação militar dos oficiais. O castigo corporal e a marcação de soldados a fogo foram banidos.

            Uma nova administração judicial (1864), baseada no modelo francês, introduziu o mandato de segurança. Também entram em vigor um novo código penal e um sistema civil e criminal mais simplificado. O poder judicial foi reorganizado de forma a incluir julgamentos em tribunal aberto com juízes nomeados para o resto da vida, um sistema de jurados e a criação de justiças da paz para lidar com pequenos crimes em nível local. A burocracia de Alexandre instituiu um sistema elaborado de autogoverno local (zemstvo) para distritos rurais (1864) e grandes cidades (1870), com assembleias eleitorais que tinha um poder restrito de cobrar impostos e uma nova polícia rural e municipal foi criada sob a direção do Ministério do Interior. 

Supressão dos Movimentos Separatistas

            No início dos seu reinado, Alexandre II proferiu a conhecida expressão “Não sonhem” dirigida aos polacos que habitavam o Congresso Polaco, o ocidente da Ucrânia, a Lituânia, a Letônia e a Bielorrússia. O resultado desta declaração foi a Revolta de Janeiro de 1863 e 1864 que foi suprimida depois de dezoito meses de luta. Centenas de polacos foram executados e milhares foram deportados para a Sibéria. O preço da supressão foi o apoio russo para a unificação alemã. Anos mais tarde, a Alemanha e a Rússia tornar-se-iam inimigas. 

Encorajamento do Nacionalismo Finlandês

           Em 1863, Alexandre II restabeleceu o Diet da Finlândia e deu início a várias reformas que aumentavam a autonomia finlandesa da Rússia incluindo a criação da sua própria moeda, o markka. A liberalização das indústrias levou a um aumento do investimento estrangeiro no país e ao seu desenvolvimento industrial.

            Finalmente, a elevação do finlandês de língua dos camponeses a língua oficial da nação, com o mesmo estatuto do sueco, criou oportunidades para uma maior fatia da sociedade. Alexandre III é ainda chamado de “O Bom Czar” na Finlândia.

           Estas reformas podem ser vistas como resultado da crença de que as reformas eram mais fáceis de testar num país pouco populoso e homogêneo do que em toda a Rússia. Podem também ter sido uma recompensa pela lealdade da população contrária ao ocidente durante a Guerra da Crimeia e a Revolta Polaca. Encorajar o nacionalismo finlandês e a sua língua pode também ser considerado como uma tentativa de afastar o país da Suécia. 

O Reinado Durante a Guerra Russo-Caucasiana

            Foi durante o reinado de Alexandre II que a Guerra Russo-Caucasiana atingiu seu ponto mais crítico. Pouco antes do final da guerra com a vitória russa, o exército russo, seguindo ordens do czar, tentou eliminar os montanhistas naquilo que muitos historiadores apelidaram de “limpeza”. 

Casamento e Descendência

            Durante os seus dias de solteiro, Alexandre realizou uma visita à Inglaterra em 1838. Embora fosse apenas um ano mais velho que a rainha Vitória, a sua corte foi de curta duração. Vitória casou-se com o seu primo alemão, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gotha em fevereiro de 1840. A 16 de abril de 1841, com vinte e três anos de idade, Alexandre casou-se em São Petersburgo com a princesa Maria de Hesse e Reno que adotou o nome de Maria Alexandrovna, a partir do momento que se converteu à Igreja Ortodoxa.

            Maria era legalmente filha do grão-duque Luís II de Hesse-Darmstadt e da princesa Guilhermina de Baden, mas havia rumores a afirmar que a czarina era, na verdade, filha do amante de Guilhermina, o barão August von Senarclens de Grancy, Alexandre conhecia esta questão da paternidade.

            Deste casamento nasceram seis filhos e duas filhas: Alexandra Alexandrovna, Nicolau Alexandrovich, Alexandre III da Rússia, Vladimir Alexandrovich, Aleixo Alexandrovich, Maria Alexandrovna, Sérgio Alexandrovich, Paulo Alexandrovich.

            Durante seu casamento, Alexandre II teve muitas amantes, das quais teve pelo menos sete filhos. Alguns deles são: Antoniette Bayer, fruto de sua relação como Wilhelmine Bayer; Michael-Bogdan Oginski, com sua amante, a condessa Olga Kakinvskaya; Joseph Raboxicz.


         Com a morte de Maria Alexandrovna, Alexandre II casou-se coma a sua amante Catarina Dolgorukov de que já tinha 4 filhos: Jorge Alexandrovich Romanov Yurievsky; Olga Alexandrovna Romanove Yurievsky; Boris Alexandrovich Yurievsky e Catarina Alexandrovna Romanov Yurievsky.

           

Tentativas de Assassinato

            Em 1866, houve uma tentativa para matar Alexandre em São Petersburgo levada a cabo por Dmitry Karakozov. Para comemorar o fato de ter escapado por pouco à morte (à qual se viria referir como o acontecimento de 4 de abril de 1866), foram construídas igrejas e capelas em muitas cidades russas. Viktor Hartman, um arquiteto russo, chegou mesmo a desenhar um portão monumental (que nunca chegou a ser construído) para comemorar o acontecimento.

           Na manhã de 20 de abril de 1879, Alexandre estava a fazer uma caminhada até à Praça dos Guardas e encontrou-se com Alexandre Solviev, um antigo estudante de trinta e três anos. Tendo visto um revólver ameaçador nas suas mãos o imperador fugiu em ziguezague. Soloviev disparou cinco vezes, mas não acertou o alvo. Foi enforcado em 28 de maio, depois de ser condenado à morte.

Stepan Khalturin
            O estudante agiu sozinho, mas sabia-se que existiam vários revolucionários que queriam matar Alexandre. Em dezembro de 1879, o grupo terrorista “A Vontade do Povo” (“Narodnaya Volya”), que queria provocar uma revolução social, fez explodir a linha de comboio que ligava Livadia a Moscou, mas não conseguiram atingir o comboio do imperador.

            Na noite de 5 de fevereiro de 1880, Stephan Khaturin, que também pertencia a “Narodnaya Volya”, colocou uma bomba-relógio debaixo da sala de jantar do Palácio de Inverno, na sala de descanso dos guardas que ficava no andar debaixo. Por ter chegado atrasado para o jantar, o imperador não ficou ferido, mas houve vários mortos e cerca de trinta feridos. 

Assassinato

Conde Loris-Melikov
        Após a última tentativa de assassinato em fevereiro de 1880, o conde Loris-Melikov foi nomeado chefe da Comissão Executiva Suprema e recebeu mais poderes para combater os revolucionários. As propostas de Loris-Melikov iriam incluir a criação de uma espécie de parlamento e o imperador pareceu concorda com ele, contudo estes planos nunca foram concretizados.

            A 13 de março de 1881, Alexandre foi vítima de uma conspiração para o assassinar em São Petersburgo. 

           Como se sabia, todos os domingos, durante vários anos, o imperador ia visitar Mikhailovsky Manège para assistir à chamada militar. Viajava e regressava do Manège numa carruagem fechada acompanhada de seis cossacos e mais um sentado ao lado do cocheiro. A carruagem do czar era seguida por dois trenós que levavam, entre outros, o chefe da polícia e o chefe dos guardas do imperador. A viagem, como sempre, fez-se pelo Canal de Catarina e por cima da ponte Pevchesky. A estrada era apertada e tinha passeios para os peões de ambos os lados. Um movem membro do Narodnaya Volya, Nikolai Rysakov carregava uma pequena embalagem branca embrulhada num lenço de pano. “Após um momento de hesitação, atirei a bomba. Atirei-a para debaixo dos cascos dos cavalos pensando que iria explodir debaixo da carruagem (...) A explosão atirou-me contra a cerca.” 
           Embora a explosão tenha matado um dos cossacos e ferido o condutor e pessoas que passavam na rua com gravidade, apenas conseguiu provocar danos na carruagem à prova de bala, um presente do imperador Napoleão III de França. O czar saiu abalado, mas ileso. Rysakov foi capturado quase em seguida. O chefe da polícia, ouviu Rysakov a gritar para outra pessoa que estava no meio da multidão. Os guardas cossacos imploram ao imperador que deixasse imediatamente o local em vez de ir ver o dano causado pela explosão.


            Apesar de tudo, um segundo membro jovem da organização terrorista, Ignaty Grinevitsky que estava perto da cerca do canal, ergueu ambos os braços e atirou algo para os pés do czar.

            Alegadamente, Alexandre teria gritado: “Ainda é cedo demais para agradecer a Deus”. Dvorzhitsky escreveu mais tarde:

“Fiquei surdo após a explosão, queimado, ferido e fui atirado para o chão. De repente, por entre o fumo e o nevoeiro da neve, ouvi a voz de Sua Majestade a gritar: ‘Ajuda!’ Juntando todas as forças que tinha, levantei-me e corri até ao czar. Sua Majestade estava meio deitado, meio sentado, apoiado no seu braço direito. Pensando que ele estava apenas gravemente ferido, tentou levantá-lo, mas as pernas do czar estavam destruídas e o sangue escorria delas. Vinte pessoas, feridas de várias maneiras, estavam estendidas no passeio da rua. Algumas conseguiam levantar-se, outras rastejavam, outras ainda tentavam sair debaixo dos corpos que tinham caído em cima delas. Espalhados pela neve estavam detritos e sangue e podiam ver-se fragmentos de roupas, dragonas, sabres e pedaços sangrentos de carne humana”. 

            Mais tarde descobriu-se que havia um terceiro bombista na multidão. Ivan Emlyanov estava pronto agarrando uma mala de mão que tinha uma bomba que seria usada se as outra duas tivessem falhado.

            Alexandre foi levado de trenó até o Palácio de Inverno e depois para o seu escritório onde, ironicamente, quase exatamente vinte anos tinha assinado o documento que tinha libertado os servos. Alexandre estava a perder muito sangue, tinha as pernas destruídas, o estomago aberto e o rosto mutilado. Vários membros da família real apressaram-se para o local.

           O imperador recebeu a comunhão e a extrema unção. Quando perguntaram ao médico que estava de serviço, Sergey Botkin, quanto tempo de vida lhe restava, ele respondeu: “No máximo quinze minutos”. Às três e meia da tarde a bandeira pessoal de Alexandre II foi baixada pela última vez.

Consequências

            O assassinato de Alexandre II provocou um retrocesso no movimento de reforma. Umas das últimas ideias do imperador tinha sido criar planos para um parlamento eleito, ou Duma, que ficaram completos na véspera da sua morte, mas ainda não tinham sido apresentados ao povo russo. Alexandre tinha planejado revelar seu planos para a criação da Duma quarenta e oito horas depois. Se tivesse vivido mais algum tempo, a Rússia poderia ter seguido o caminho da monarquia constitucional em vez do longo caminho de opressão que se seguiu com o reinado de seu filho. A primeira ação que Alexandre III tomou após a coroação foi rasgar esses planos. A Duma só viria a ser criada em 1905, quando o neto de Alexandre II, Nicolau II, foi pressionado a instaurá-la após a Revolução Russa de 1905.

          Uma segunda consequência do assassinato foi o início dos pogroms e a legislação antijudaica.

           Uma terceira consequência foi a supressão das liberdade civis na Rússia e o regresso de forte repressão policial, após alguma liberalização durante o reinado de Alexandre II. O assassinato do czar foi testemunhado em primeira-mão pelo seu filho, o futuro Alexandre III e pelo seu neto, o futuro Nicolau II, que viriam a governar a Rússia e prometeram que não teriam o mesmo destino. Ambos usaram a Okhrana para prender protestadores e acabar com grupos supostamente rebeldes, criando mais supressão de liberdades pessoais do povo Russo.

            Finalmente, o assassinato inspirou os anarquistas a promover uma propaganda de ação, o uso de grandes atos de violência para incitar a revolução. 

Fonte: Wikipédia. Disponível em:https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Alexandre_II_da_R%C3%BAssia. Acesso em 31 de jan. 2022.

 

ALEXANDRE III DA RÚSSIA

Alexandre III – Nascido em São Petersburgo em 10 de março de 1845 e falecido em 1º de novembro na Livadia, Crimeia, no Império Russo. Foi o czar (imperador) da Rússia de 1881 até sua morte. Era o segundo filho do czar Alexandre II com sua esposa, a czarina Maria Alexandrovna.

            Alexandre era um grande conservador e reverteu várias das reformas liberais realizadas por seu pai. 

Características

            Alexandre nasceu em São Petersburgo, sendo o segundo filho do czar Alexandre II da Rússia e da sua esposa Maria Alexandrovna.

           Em personalidade tinha muito poucas semelhanças com o seu pai de coração mole e liberal e ainda menos com seu tio-avô Alexandre I, conhecido por ser requintado, filosófico, sentimental e gracioso. Apesar de ser um apreciador entusiástico de ballet, ao czarevictch Alexandre Alexandrovitch faltavam o requinte e a elegância necessários aos membros da realeza. De fato, Alexandre orgulhava-se do fato de ser feito da mesma textura forte que caracterizava a maioria dos seus súditos. A sua honestidade cega, modos abruptos temperados por vezes de mau-humor, encaixavam-se perfeitamente na sua estatura gigantesca. Alexandre era também conhecido pela sua grande força física. A sua educação não foi dada no sentido de suavizar essas características.

            Testemunho do artista Aleksandr Benois sobre a personalidade de Alexandre III:

“Depois de uma atuação do ballet “Czar Kanday” no Teatro Mariinsky, vi-o pela primeira vez o czar. Fiquei impressionado com o seu tamanho e, embora fosse desajeitado e pesado, continuava a ser uma figura poderosa. De fato, havia nele algo de “muzhik” (mujique – camponês russo). A expressão dos seus olhos brilhantes também me impressionou. Enquanto ele passava por onde eu estava, levantou a cabeça por um segundo e, até hoje, recordo-me do que senti quando nossos olhos se cruzaram. Era um olhar frio como o aço, no qual havia algo ameaçador, até assustador e atingiu-me como um golpe. Um olhar do czar! O olhar de um homem que estava acima de todos os outros, mas que carregava um fardo monstruoso e vivia cada minuto com medo pela sua vida e pela vida de todos os que lhe eram queridos. Em anos posteriores encontrei-me com o imperador várias vezes e não me senti nem um pouco tímido. Em certas ocasiões o czar Alexandre III chegava a ser gentil, simples e até... caseiro”.

 

Educação

           Durante os primeiros vinte anos da sua vida, Alexandre tinha poucas perspectivas para suceder o trono russo, uma vez que tinha um irmão mais velho (o czarevich Nicolau Alexandrovich) que parecia ter uma saúde e textura fortes. Mesmo quando os seu irmão mostrou os primeiros sinais de que a sua saúde se estava a deteriorar, a possibilidade de que o herdeiro poderia morrer nunca foi levada a sério. Nicolau ficou noivo da gentil princesa Dagmar da Dinamarca em 1864.

            Sob estas circunstâncias, os maiores esforços de educação foram dirigidos para Nicolau e Alexandre recebeu apenas a formação básica dada a um grão-duque da época, que não ia além de uma educação secundária com uma formação básica em línguas como o francês, o inglês e o alemão e muita prática militar. 

Como Czarevich

Constantino Pobedonostsev 
           Alexandre tornou-se herdeiro aparente ao trono depois da morte súbita do seu irmão mais velho em 1865. Foi a partir dessa altura que começou a estudar os princípios das leis e administração sob a orientação de Constantino Pobedonostsev que era, na época, um professor de direito civil na Universidade de Moscou e que, mais tarde (em 1880) se tornou Procurador Chefe do Concílio Sagrado. Pobedonostsev não fez com que o seu aluno se interessasse muito por estudos abstratos ou por dissertações intelectuais extensas, mas influenciou o tipo de reinado de Alexandre III, mondando a mentalidade do jovem para acreditar no zelo da Igreja Ortodoxa Russa, vista como um fator essencial do patriotismo russo.

            No seu leito de morte, o irmão mais velho de Alexandre, Nicolau, terá expressado o desejo de que sua noiva, a princesa Dagmar da Dinamarca, se casasse com o irmão mais novo, o que aconteceu no dia 9 de novembro de 1866. A união foi feliz e permaneceu forte até o fim. Ao contrário de seus parente, Alexandre III nunca teve amantes.

            Durante os anos em que o seu pai continuou no trono, Alexandre nunca teve um papel proeminente em público, mas deixou bem claro que tinha as suas próprias ideias e que elas não coincidiam com as práticas do governo de Alexandre II. Mais tarde, pai e filho afastaram-se devido às suas diferenças políticas e também ao ressentimento que o futuro czar sentia pelo pai, devido à longa relação que este mantinha com Catarina Dolgorukov, a sua amante mais antiga, de quem tinha filhos ilegítimos, mesmo enquanto a sua mãe, a imperatriz (czarina), sofria de uma saúde frágil. Para o horror de Alexandre e de toda a corte, o czar acabaria mesmo por se casar com a sua amante apenas um mês depois da morte de sua primeira esposa. 

Reinado

Política Interna

            No dia em que Alexandre II foi assassinado, tinha acabado de assinar um decreto que definia a criação de uma comissão consultiva com poderes para aconselhar o monarca. No entanto, quando subiu ao trono, Alexandre III, seguindo o conselho de Pobedonostsev, seu amigo pessoal, decidiu cancelar o decreto antes da sua publicação, deixando bem claro que o sistema de governo autocrático não seria limitado.

           Todas as reformas internas levadas a cabo por Alexandre III tiveram como objetivo reverter as políticas liberais que foram implementadas durante o reinado do seu pai. O novo imperador acreditava que, ao manter-se fiel à Igreja Ortodoxa, à autocracia e ao nacionalismo (uma ideologia que tinha sido introduzida pelo seu avô, o czar Nicolau I), iria salvar a Rússia da agitação revolucionária. O ideal político de Alexandre era uma única nacionalidade, língua e religião, assim como uma única forma de administração. Tentou levar a cabo esta ideia instituindo o ensino obrigatório da língua russa por todo o império, incluindo a súditos alemães, polacos e de outras nacionalidades que viviam na Rússia (com exceção dos finlandeses), padronizando a Igreja Ortodoxa Oriental, destruindo o que restava das instituições alemãs, polacas e suecas em algumas províncias, e enfraquecendo o judaísmo através da perseguição de judeus. Esta política de perseguição foi legitimada através das “Leis de Maio”, publicadas em 1882, que ditaram a expulsão dos judeus de zonas rurais e dos Shtetl (mesmo apesar de existirem zonas de assentamento judeu na Rússia) e restringiu as profissões que estes podiam exercer.

            Alexandre III enfraqueceu os poderes dos zemstva (assembleias regionais eleitas que tinham um sistema semelhante aos conselhos paroquiais britânicos) e colocou a administração das comunidades camponesas sob a supervisão dos proprietários de terras, nomeados pelo governo. Estes “capitães de terra” (zemskiye nachalniki) eram temidos e odiados por todas as comunidades camponesas do império. Estas ações enfraqueceram a nobreza e o povo e fizeram com que o imperador se tornasse o controlador pessoal da administração do império.
            Todas estas políticas de Alexandre III eram encorajadas por Konstantin Pobedonostsev, que foi o controlador da Igreja na Rússia ao longo do seu mandato com Procurado do Santo Sínodo[2] (entre 1880 e 1905) e que se tornou tutor do filho e herdeiro de Alexandre, Nicolau. Tostói inspirou-se em Pobedonostsev para criar sua personagem “Toporov” no romance “Ressurreição”. Outros conselheiros conservadores incluíam o conde Dmitry Tolstoy, ministro da educação (e, mais tarde, da administração interna) e Ivan Durnovo que sucedeu a Tostoy como ministro da administração interna. Mikhail Katkov e outros jornalistas também apoiavam a política autocrática do imperador.

            Encorajados pelo fato de terem conseguido assassinar o czar Alexandre II, o movimento Narodnaya Volya começou a planejar o assassinato de Alexandre III. A Okhrana descobriu o golpe e cinco dos conspiradores, incluindo Alexandre Ulyanov, irmão mais velho de Vladimir Lênin, foram presos e enforcados a 20 de maio de 1887. A 29 de dezembro de 1888, o comboio imperial onde seguia Alexandre e sua família, descarrilou-se num acidente em Borki. No momento em que ocorreu o acidente, a família imperial encontrava-se no vagão restaurante. O telhado ruiu e Alexandre teria segurado os seus destroços para que os seus filhos pudesse fugir para o exterior. Mais tarde, muitos membros da família referiram que foi este episódio que despontou a doença nos rins que viria a matar Alexandre.

           A fome de 1891 e 1892 e a epidemia de cólera que se seguiu contribuíram para o aumento da atividade liberal, uma vez que o governo russo não conseguiu lidar com a crise e teve de dar permissão aos zemstvos para ajudarem os súditos afetados. Entre outras personalidades da época, Tostói ajudou a organizar cantinas de sopa e Anton Chekhov dirigiu programas de prevenção de cólera em várias aldeias.

 

Relações Externas

            Alexandre desprezava aquilo que via como influência externa desnecessária em geral e influência alemã em particular, por isso adotou princípios tipicamente nacionalista e tinha como ideal uma Rússia homogênea em língua, administração e religião. Com tais ideias e inspirações, nunca conseguia concordar com o pai que, apesar de ser também patriota, tinha grande simpatias com os alemães, utilizando frequentemente a língua alemã em conversas privadas, sendo várias vezes ridicularizado pelos seus exageros e excentricidades e por basear a sua política externa na melhoria das relações com o Reino da Prússia.

            Este antagonismo tornou-se público durante a Guerra Franco-Prussiana quando o czar Alexandre II da Rússia apoiou o governo prussiano enquanto o czarevich não escondeu as suas simpatias pelo governo francês. O antagonismo voltou a reaparecer numa moda intermitente durante os anos de 1875 a 1879 quando a “Questão do Oriente” causou grande entusiasmo entre a sociedade russa. No início, o czarevitch era mais eslavófilo do que o governo, mas a sua natureza pragmática protegeu-o de muitos exageros cometidos por outros e nenhuma das ilusões populares que o possam ter afetado ultrapassaram a sua própria observação da situação na Bulgária onde ele comandou uma parte do exército invasor.

           Nunca sendo consultado em questões políticas, Alexandre dedicou-se aos seus deveres militares e cumpriu-os de forma consciente e não agressiva. Após muitos erros e desapontamentos, o exército chegou a Constantinopla e foi assinado o Tratado de São Estêvão, mas muito daquilo que se ganhou com o documento foi perdido no Congresso de Berlim. Otto von Bismarck falhou e não conseguiu cumprir aquilo que era esperado dele em segredo pelo czar.

            Em troca do apoio russo, que o tinha ajudado a criar o Império Alemão, pensava-se que ele ajudaria o Império Russo a resolver a “Questão do Oriente” de acordo com os seus próprios interesse, mas para surpresa e indignação do governo de São Petersburgo, ele preferiu atuar como “separador honesto” no congresso e, pouco depois formou uma aliança coma Áustria com o único objetivo de contrariar os propósitos russos na Europa do Leste. O czrevith confirmou assim a posição que tinha mantido durante a Guerra Franco-Prussiana e chegou rapidamente a conclusão de que o melhor para a Rússia era recuperar rapidamente da sua exaustão temporária e preparar-se para uma reorganização radical na marinha e exército. Para apoiar as suas crenças, sugeriu que certas reformas deveriam ser introduzidas.

            Após o assassinato do seu pai, Alexandre III foi aconselhado a deixar o Palácio de Inverno, em São Petersburgo, uma vez que seria difícil manter a família em segurança nesse edifício. Assim, Alexandre mudou-se para o Palácio de Gatchina, localizado a 30 quilômetros ao sul de São Petersburgo, que se tornou a sua residência principal. A partir desse momento, as visitas de Alexandre a São Petersburgo começaram a ser raras e sempre acompanhadas de grandes medidas de segurança e, passou a preferir alojar-se no Palácio de Anichkov e não no Palácio de Inverno.

            Na década de 1860, Alexandre apaixonou-se profundamente por uma das damas de companhia de sua mãe, a princesa Maria Elimovna Mesherskaya. Ao saber que o príncipe de Wittgenstein tinha pedido sua amada em casamento na primavera de 1866, Alexandre disse aos seus pais que estava preparado para prescindir dos seus direitos de sucessão para se casar com a sua amada “Dusenka”. A 19 de maio de 1866, o czar Alexandre II informou-o de que a Rússia tinha chegado a um acordo com os pais da princesa Dagmar da Dinamarca para que os dois se casassem. Dagmar era sua prima em décimo grau e noiva de seu irmão mais velho, Nicolau, que tinha morrido no ano anterior.

          Inicialmente, Alexandre recusou-se a viajar para Copenhagen, afirmando que não amava Dagmar e que o seu desejo era casar-se com Maria Elimovna Mesherskaya. Em resposta, o seu pai enfurecido ordenou a Alexandre que partisse imediatamente para a Dinamarca e que pedisse a princesa Dagmar em casamento. Alexandre apercebeu-se de não era livre de tomar as suas próprias decisões e que o dever vinha sempre em primeiro lugar; a única coisa que lhe restou fazer foi escrever no seu diário: “adeus, querida Dusenka”. Maria foi obrigada a deixar a Rússia na companhia de sua tia, a princesa Chernyshova. Quase um ano depois de chegar a Paris, Pavel Pavlovich Demidov, 2º príncipe de San Donato, apaixonou-se por ela e os dois se casaram em 1867. Maria acabaria por morrer ao dar luz ao seu filho, Elim Pavlovich Demidov, 3º príncipe de San Donato. Não se sabe qual terá sido a reação de Alexandre quando soube do seu casamento e morte prematura.

            Alexandre acabaria por se apaixonar por Dagmar, que ao casar adotou o nome de Maria Feodorovna e os dois tiveram seis filhos juntos, cinco dos quais chegaram à idade adulta: Nicolau (nascido em 1868), Jorge (nascido em 1871), Xenia (nascida em 1875), Miguel (nascido em 1878) e Olga (nascida em 1882). Segundo relatos da época, Alexandre tinha uma relação mais próxima com os seus dois filhos mais novos.

            Todos os verões, os seus sogros, o rei Cristiano IX e a rainha Luísa da Dinamarca, organizavam uma reunião familiar nos palácios dinamarqueses de Fredensborg e Bernstorff, nas quais Alexandre, Maria e os filhos se juntavam ao resto da família na Dinamarca. A sua cunhada, a princesa de Gales, também se juntava a eles, vinda da Grã-Bretanha, assim, como o rei Jorge I da Grécia e a rainha Olga, que era prima direta de Alexandre e uma Romanov por nascimento. Ao contrário das medidas de segurança às quais se encontravam sujeitos na Rússia, Alexandre e Maria podiam passear em relativa liberdade quando se encontravam na Dinamarca. Em certa ocasião, quando uma destas reuniões familiares estava prestes a terminar, o czar teria dito ao príncipe e a princesa de Gales que os invejava, uma vez que eles podam regressar para um lar feliz na Inglaterra, enquanto ele tinha que voltar para sua prisão na Rússia. Na Dinamarca, podia divertir-se com os seu filhos em poças cheias de lama, à procura de sapos, escapar-se para o pomar do sogro para roubar maçãs, e pregar peças em seus familiares. Uma das suas brincadeiras mais conhecidas foi ligar uma mangueira e aponta-la ao rei Óscar II da Suécia.

            Enquanto czarevich – e depois já como czar – Alexandre tinha uma relação muito hostil com o seu irmão mais novo, o grão-duque Vlademir Alexandrovich. A tensão entre os dois irmãos refletiu-se posteriormente numa rivalidade entre as suas esposas, a czarina Maria Feodorovna e a grã-duquesa Maria Pavlovna. Alexandre dava-se melhor com os seus outros irmãos: Alexei (a quem nomeou almirante e depois grande almirante da Marinha Russa), Sérgio (a quem nomeou governador de Moscou) e Paulo.


            Apesar de não ter qualquer empatia pela sua madrasta, a princesa Catarina Dolgorukov, Alexandre deu-lhe permissão para continuar a viver no Palácio de Inverno durante algum tempo após o assassinato do pai e deixou-a ficar com alguns pertences dele, incluindo o uniforme coberto de sangue que estava a usar quando morreu e os seus óculos de leitura.

 

Doença e Morte

            Em 1894, Alexandre adoeceu com uma doença de rins terminal (Nefrite). No outono desse ano, a cunhada de Maria Feodorovna, a rainha Olga da Grécia, ofereceu a sua villa Mon Repos, na ilha de Corfu, na esperança que o clima ameno ajudasse a melhorar a saúde do czar. No entanto, quando chegaram à Crimeia, ficaram alojados no palácio de Maly, em Livadia, uma vez que Alexandre estava demasiado fraco para continuar a viagem. Reconhecendo que não restava muito tempo de vida ao czar, vários parentes imperiais viajaram até Livadia. Até um conhecido clérigo da época, João de Kronstadt, visitou o czar e deu-lhe a comunhão. A 21 de outubro, Alexandre recebeu a noiva de Nicolau, a princesa Alexandra Feodorovna, que tinha viajado de Darmstadt para receber a benção do czar. Apesar de estar muito fraco, Alexandre insistiu em receber Alexandra vestido de uniforme, uma atividade que o deixou exausto. Pouco depois, a sua saúde começou a deteriorar rapidamente. O czar Alexandre III acabaria por morrer nos braços da sua esposa, no Palácio de Maly, na Livadia, na tarde de 11 de novembro de 1894, aos 49 anos de idade. Foi sucedido pelo filho mais velho, o czarevich Nicolau, que se tornou o czar Nicolau II da Rússia. Os seus restos mortais forma levados da Livadia a 18 de novembro e, depois de uma viagem por Moscou, foram sepultados na Catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, a 20 de novembro de 1894.

 

Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Alexandre_III_da_R%C3%BAssiaAcesso em 31 de jan. 2022.



[1] Czar – (em russo Tsar) significa imperador. Foi o título utilizado pelos soberanos russos, no período de duração do Império Russo, entre 1547 e 1917. O título foi adotado inicialmente pelo imperador Ivã III. Ao assumir o título de czar, proclamou-se sucessor do último imperador bizantino, morto na tomada de Constantinopla. Em seu governo, Moscou passou a ser chamada Terceira Roma, sendo czar uma adaptação o título usado pelos imperadores romanos “caesar”, do latim, que deu origem ao título de imperador alemão como “Kaiser”.

 

[2] Sínodo – Um sínodo pode ser realizado por qualquer denominação religiosa, sendo muito comum entre os cristãos. Trata-se de uma reunião convocada pela autoridade eclesiástica. Etimologia da palavra: sínodo tem origem no idioma grego – sýnodos – e quer dizer “caminhar juntos”. Em um sínodo diocesano, trata-se de uma “assembleia de eclesiásticos” e leigos “convocados pelo seu prelado ou outro superior” que se reúnem com o propósito de “caminhar juntos”, seguindo um determinado plano. Fonte: Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADnodo. Acesso em 15 de fev. 2022.


quinta-feira, 17 de março de 2022

A SOCIAL-DEMOCRACIA




Ferdinand Lassale
Partido Social-democrata – A social-democracia é uma ideologia política que apoia intervenções econômicas e sociais do Estado para promover justiça social dentro de um sistema capitalista, e uma política envolvendo o Estado de bem-estar social, sindicatos e regulação econômica, assim promovendo um distribuição de renda mais igualitária e um compromisso para com a democracia representativa. É uma ideologia política originalmente de centro-esquerda, surgida no fim do século XIX dentre os partidários de Ferdinand Lassalle, que acreditavam que a transição para uma sociedade socialista deveria ocorrer sem uma revolução, mas sim, em oposição à ortodoxia marxista, por meio de uma gradual reforma legislativa do sistema capitalista a fim de torna-lo mais igualitário. O conceito de social-democracia tem mudado com o passar das décadas desde sua introdução. A diferença fundamental entre a social-democracia e outras formas de ideologia política, como o marxismo ortodoxo, é a crença na supremacia da ação política em contraste à supremacia da ação econômica ou do determinismo econômico-socioindustrial.



            Historicamente, os partidos sociais-democratas advogaram o socialismo de maneira estrita, a ser atingido através da luta de classes. No início do século XX, entretanto, vários partidos socialistas começaram a rejeitar a revolução e outras ideias tradicionais do marxismo como a luta de classes, e passaram a adquirir posições mais moderadas. Essas posições mais moderadas incluíram a crença de que o reformismo era uma maneira possível de atingir o socialismo. Dessa forma, a social-democracia moderna se desviou do socialismo científico, aproximando-se da ideia de um Estado de Bem-Estar Social Democrático, e incorporando elementos tanto do socialismo como do capitalismo. Os social-democratas tentam reformar o capitalismo democraticamente através da regulação estatal e da criação de programas que diminuem ou eliminem as injustiças sociais inerentes ao capitalismo, tais como Rendimento Social de Inserção (Portugal), Bolsa Família (Brasil) e Opportunity (New York City). Esta abordagem difere significativamente do socialismo tradicional, que tem, como objetivo, substituir o sistema capitalista inteiramente por um novo sistema econômico caracterizado pela propriedade coletiva dos meios de produção pelos trabalhadores.

           Atualmente em vários países, os social-democratas atuam em conjunto com os socialista democráticos, que se situam à esquerda da social-democracia no espectro político.

            No final do século XX, alguns partidos sociais-democratas, como o Partido Trabalhista Britânico e o Partido Social-Democrata da Alemanha, começaram a flertar com políticas econômicas neoliberais, originando o que foi caracterizado de “Terceira Via”. Isto gerou, além de grande controvérsia, uma grave crise de identidade entre os membros e eleitores desses partidos.



           A social-democracia se distingue do liberalismo econômico. Enquanto a social-democracia defende benefícios sociais universais e uma extensa regulação econômica, o liberalismo apoia benefícios sociais pontuais e a liberdade econômica mais ampla.

            As origens da social-democracia remontam à década de 1869, com a ascensão do primeiro grande partido operário da Europa, a União Geral dos Trabalhadores Alemães fundada por Ferdinand Lassalle.

            No ano de 1864 foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida como Primeira Internacional. Esta reuniu socialistas de várias posições e inicialmente ocasionou um conflito entre Karl Marx e os anarquista liderados por Mikhail Bakunin rejeitando qualquer papel do Estado. Outra questão na Primeira Internacional foi o papel do reformismo.


           Lassalle promoveu a luta de classes de uma forma mais moderada que Marx e Engels. Enquanto Marx via o Estado negativamente como um instrumento de domínio de classe que deveria existir apenas temporariamente com a ascensão ao poder do proletariado e depois desmantelado, Lassalle era a favor da manutenção do poder estatal.

            Lassalle via o Estado como um meio pelo qual os trabalhadores poderiam aumentar seus interesses e até mesmo transformar a sociedade para criar uma economia baseada em cooperativas dirigidas por trabalhadores. A estratégia de Lassalle era primariamente eleitoral e reformista, com os “lassalianos” argumentando que a classe trabalhadora precisava de um partido político que lutasse acima de tudo pela ampliação do sufrágio.

 

           O jornal do partido da União Geral dos Trabalhadores Alemães chamava-se “Der Sozialdemokrat” (O Social-Democrata”). Marx e Engels responderam ao título “Sozialdemokrat!” “(...) Por que eles simplesmente não o chamam de Proletariado”. Marx concordou com Engels que “Sozialdemokrat” era muito ruim. Embora as origens do nome “Sozialdemokrat” remontassem à tradução alemã de Marx em 1848 do partido político conhecido como Partido Democrata-Socialista, Marx não gostou deste partido francês porque o via como dominado pela classe média e associava a palavra “Sozialdemokrat” àquele partido. Havia uma facção marxista dentro da União Geral dos Trabalhadores Alemães representado por Wilhelm Liebknecht, que se tornou um dos editores do “Die Sozialdemokrat”.

            Diante da oposição dos capitalistas liberais às suas políticas socialistas, Lassalle tentou forjar uma aliança tática com os conservadores aristocráticos Junker, devido às suas atitudes antiburguesas, bem como ao chanceler prussiano Otto von Bismarck. O atrito na União Geral dos Trabalhadores Alemães surgiu sobre a política de Lassalle de uma abordagem amigável para Bismarck que assumiu incorretamente que Bismarck, por sua vez, seria amigável com eles. Esta oposição na União Geral dos Trabalhadores Alemães à abordagem amistosa de Lassalle ao governo de Bismarck resultou na renúncia de Liebknecht de seu cargo de editor do “Der Sozialdemokrat” e de deixar a União Geral dos Trabalhadores Alemães em 1895. Em 1869, Liebknecht, junto com o marxista August Bebel, fundou o SDAP, que foi fundada como uma fusão de três Grupos: O Partido Povo Saxão (SVP) pequeno-burguês, uma facção do ADAV (União Geral dos Trabalhadores Alemães) e membros da Liga das Associações Alemãs de Trabalhadores (VDA).

            Embora o SDAP não fosse oficialmente marxista, era a primeira grande organização da classe trabalhadora a ser liderada por marxistas, e Marx e Engels tinham associação direta com o partido. O partido adotou posturas semelhantes às adotadas por Marx na Primeira Internacional. Havia intensa rivalidade e antagonismos entre o SDAP e o ADAV, com o SDAP sendo altamente hostil ao governo prussiano, enquanto o ADAV buscava uma abordagem reformista e mais cooperativa. Esta rivalidade atingiu o ápice envolvendo as posições dos dois partidos sobre a Guerra Franco-Prussiana, com o SDAP se recusando a apoiar o esforço de guerra da Prússia, alegando que era uma guerra imperialista perseguida por Bismarck, enquanto a ADAV apoiou a guerra.

 

Pré-Segunda Guerra Mundial 

           Muitos partidos da segunda metade do século XIX se definiam como sendo sociais-democratas, tais como a União Geral dos Trabalhadores Alemães e o Partidos Social Democrata dos Trabalhadores Alemães (que se fundiram para dar origem ao Partido Social-Democrata da Alemanha ou SPD), a Federação Social-Democrática Britânica e o Partido Operário Social-Democrata Russo. Na maioria dos casos, estes partidos eram declaradamente socialistas revolucionários, visando não só a introduzir o socialismo, mas também a democracia em nações com poucas instituições democráticas. A maioria destes partidos era influenciada pelas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, que, na época, estavam trabalhando para influenciar a política europeia continental a partir de Londres.

            O movimento social-democrata moderno se concretizou através de uma ruptura no movimento socialista no início do século XX. Em linha gerais, esta ruptura se originou na divisão de crena entre aqueles que insistiam na revolução política como pré-condição para atingir o socialismo e os que defendiam que era possível e desejável atingir o socialismo através de uma evolução política gradual. Muitos movimentos relacionados, como pacifismo, o anarquismo e o sindicalismo, começaram a irromper em todo o mundo na mesma época; estes grupos eram, muitas vezes, formados por indivíduos que se separaram do movimento socialista preexistente e mantinham uma série de objeções diferente ao marxismo ortodoxo.

            Os social-democrata, que fundaram as principais organizações socialistas da época, não rejeitavam o marxismo. Um número significativo de indivíduos no movimento social-democrata queria revisar alguns dos raciocínios de Marx, a fim de promulgar uma crítica menos hostil ao capitalismo. Eles argumentavam que o socialismo deveria ser atingido através da evolução da sociedade, ao invés da revolução. De fato, Marx havia declarado ser possível estabelecer o comunismo ou o socialismo por uma revolução pacífica e democrática em alguns países. Essa ideia também foi desenvolvida por Friedrich Engels e, principalmente, por Karl Kautsky. O revisionismo também buscava alterar alguns pontos básicos do marxismo, principalmente devido à influência do darwinismo e de Immanuel Kant. Esta visão era fortemente condenada pelos socialistas revolucionários, que argumentavam que qualquer tentativa de reformar o capitalismo estava fadada ao fracasso, uma vez que os reformistas seriam gradualmente corrompidos e, eventualmente, se transformariam em capitalistas eles próprios.

            Apesar das diferenças, os reformistas e os socialistas revolucionários permaneceram unidos durante a Segunda Internacional até a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Uma opinião dissonante sobre a legitimidade da guerra provou ser a gota d’água desta união tênue. Os socialistas reformistas apoiavam seus respectivos governos nacionais na guerra, um fato que foi visto pelos socialistas revolucionários como a traição definitiva contra a classe trabalhadora. Os socialistas revolucionários acreditavam que esta postura traiu o princípio de que os trabalhadores de todas as nações deveriam unir-se na derrubada do capitalismo, e lamentaram o fato de que geralmente as pessoas de classes mais baixas é que são as enviadas para lutar e morrer na guerra.

            Discussões amargas surgiram dentro dos partidos socialistas, como por exemplo, entre Eduard Bernstein, líder socialista reformista, e Rosa de Luxemburgo, líder dos socialistas revolucionários, dentro do SPD na Alemanha. Eventualmente, após a Revolução Russa de 1917, a maioria dos partidos socialistas do mundo se viram fraturados. Os socialistas reformistas mantiveram o nome de social-democracia, enquanto que os socialistas revolucionários começaram a chamar a si mesmos de comunistas, formando o movimento comunista moderno. Estes partidos comunistas logo formaram uma internacional exclusiva deles, a Terceira Internacional, conhecida mundialmente como Comintern.

 

          Na década de 1920, as diferenças doutrinárias entre os social-democratas e os comunistas de todas as facções (marxistas ortodoxos, como os bolcheviques) tinham se solidificado. Estas diferenças só se tornaram cada vez mais dramáticas com o passar dos anos.

 

Pós-Segunda Guerra Mundial 



           Após a Segunda Guerra Mundial, na sequência da cisão entre os social-democratas e comunistas, uma outra divisão surgiu no âmbito do próprio movimento social-democrata. Os que acreditavam que ainda era necessário abolir o capitalismo (sem revolução) e substituí-lo por um sistema socialista democrático através da via parlamentar se opunham àqueles que acreditavam que o sistema capitalista poderia ser mantido, mas precisava de uma reforma drástica, como a nacionalização das grandes empresas, a implementação de programas sociais (educação pública, sistema de saúde universal, e assim por diante) e a redistribuição parcial da riqueza através da criação de um Estado de bem-estar permanente baseado na tributação progressiva.

            Eventualmente, a maioria dos partidos sociais-democratas se viu dominada pela última visão e, na era pós-Segunda Guerra Mundial, abandonou, por completo o compromisso de abolir o capitalismo. Por exemplo, em 1959, o SPD aprovou o Programa Godesberg, que rejeitou a luta de classes e omarxismo. Enquanto os termos “social-democracia” e “socialista democrático” continuaram a ser utilizados de forma indiscriminada desde então, até a década de 1990, no mundo anglófono, pelo menos, os termos ainda dominavam, respectivamente, adeptos da visão de que não era mais necessário implementar o socialismo e adeptos da visão que ainda era necessário implementar o socialismo.

            Na Itália, o Partido Socialista Democrático Italiano, fundado em 1947, deu as base para aquilo que ficaria, mais tarde, conhecido como “Terceira Via”; uma aliança dos social-democratas com os partidos de centro. Desde o final da década de 1980, com a queda do Muro de Berlim, vários partidos sociais-democratas tradicionais adotaram a “Terceira Via”, tanto formalmente quanto na prática. No Brasil, O Partido da Social-Democracia Brasileira surge como um partido de “Terceira Via” propriamente dito, desconectado de sindicatos ou outros movimentos trabalhistas, diferentemente dos partidos sociais-democratas tradicionais. Os social-democratas modernos são, em geral, a favor de uma economia mista, capitalista sob vários aspectos, mas defendendo, explicitamente, o apoio governamental de certos serviços sociais.

            Muitos partidos sociais-democratas trocaram seus objetivos tradicionais de justiça social para questões como direitos humanos e preservação ambiental. Nisto, estão enfrentando um desafio crescente dos Partidos Verdes, que veem a ecologia como fundamental para a paz, exigindo uma reforma das fontes de capital e promovendo medidas de segurança para garantir um comércio que não fira a integridade ecológica. Em países como a Alemanha, a Noruega e a Suécia, os Verdes e os Sociais-Democratas cooperam em alianças chamadas de “vermelhas-verdes”. 

Definição 

            A Internacional Socialista definiu a social-democracia como forma ideal de democracia representativa, que pode solucionar os problemas encontrados numa democracia liberal, enfatizando os seguintes princípios para construir um Estado de bem-estar social: primeiro, a liberdade inclui não somente as liberdades individuais, entendendo-se por "liberdade" também o direito a não ser discriminado e de não ser submisso aos proprietários dos meios de produção e detentores de poder político abusivo. Segundo, deve haver igualdade e justiça social, não somente perante a lei mas também em termos econômicos e socioculturais, o que permite oportunidades iguais para todos, incluindo aqueles desfavorecidos física, social ou mentalmente.

            Finalmente, defende-se ser fundamental que haja solidariedade e que seja desenvolvido um senso de compaixão pelas vítimas da injustiça e desigualdade.

 


Críticas

          Em abril de 1917, em suas “Teses de Abril”, Lênin citou que o revisionismo era uma das manifestações de um capitalismo burguês e reacionário, pois negava a revolução e a democracia proletária em troca de uma democracia burguesa que apenas mascara as lutas de classes e, portanto, as ideias socialistas e igualitárias de Marx e Engels. Os pensadores Kautsky uma das mais importantes figuras da história do Marxismo, e Eduard Bernstein, também os principais teóricos da social-democracia, foram duramente atacados por Lênin que os acusou de deturparem a teoria marxista e traírem o movimento proletário, sendo que o primeiro foi considerado “renegado” pelo revolucionário russo.

           O filósofo e pensador Walter Benjamin considerou a social-democracia duplamente culpada pela ascensão do nazismo na Alemanha, pois ela menosprezou o movimento fascista emergente na Europa, definindo-o como um simples “espasmo” do capitalismo já declinante. Outro erro da social-democracia, para Benjamin, foi criticar o comunismo como um movimento que precipita as revoluções, criando atritos e desarticulando os dois partidos de esquerda que, unidos, poderiam fazer frente ao avanço nazista na Alemanha.

 

 

Fonte: Wikipédia, Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Social-democracia. Acesso em 31 de jan. 2022.

 


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