quinta-feira, 14 de abril de 2022

JOSÉ MARTÍ – “EL APÓSTOL”


 

"Se viene a la tierra como cera, – y el azar nos vacía en moldes prehechos. – Las convenciones creadas deforman la existência verdadera… Las redenciones han venido siendo formales: - es necesario que sean esenciales . La liberdad política no estará asegurada, mientras no se asegura la libertad espiritual. … La escuela y el hogar son las dos formidables cárceles del hombre".

José Martí

"Vem à terra como cera, - e o acaso nos esvazia em moldes pré-fabricados. As convenções criadas deformam a verdadeira existência... Os resgates foram formais: - é preciso que sejam essenciais. A liberdade política não estará assegurada, até que a liberdade espiritual o esteja... A escola e o lar são as duas formidáveis ​​prisões do homem".

José Martí

 


        Nascido em Havana (Cuba) no dia 28 de janeiro do ano de 1853, José Julián Martí Pérez foi uma poeta, jornalista, filósofo e político. Ligado à maçonaria, Martí teve sua iniciação em 1871 no Grande Oriente Lusitano. Além disso, criou o PRC - Partido Revolucionário Cubano - e planejou a Guerra Necessária (Guerra de 1895). Conhecido em Cuba como "El apóstol", José Martí foi um dos pensadores de maior influência em seu país de origem, mas suas ideias transcenderam as fronteiras cubanas e se espalharam por diversas outras nações com ideologias parecidas com a de seu país.

        A mãe de José Martí nasceu nas Ilhas Canárias e seu pai na Espanha. Peça fundamental no processo de independência cubana contra os colonizadores espanhóis, "El apóstol" é considerado um mártir em Cuba. Além de sua atuação política, foi um pensador prolífico e também poeta. Desde jovem, demonstrava inquietude no que se refere aos assuntos cívicos e simpatizava com os ideais revolucionários que começavam a ser introduzidos em Cuba.

        Uma grande influência na vida de José Martí foi Rafael Maria de Mendive, a quem conheceu em Havana enquanto frequentava a escola secundária. Mendive era mestre de Martí, que seguiu suas ideias e começou a participar da política cubana escrevendo manifestos e organizando a distribuição de publicações que continham ideias separatistas no começo da Guerra dos Dez Anos. Uma baixa na vida de Martí ocorreu quando Mendive foi preso e deportado. Porém, este episódio apenas aumentou sua rebeldia e canalizou suas ações no intuito de deter a dominação da Espanha.

        Ainda jovem, em 1869, José Martí publicou um panfleto de cunho separatista chamado El Diablo Cojuelo e o periódico La Patria Libre. Ainda naquele ano, distribuiu o manifesto El Siboney, que produzia de forma manuscrita. Pela disseminação deste tipo de material, Martí foi para a prisão e acabou sendo alvo de processos do governo. Ele ficou preso por 6 meses, mas sua pena o levou a prestar serviços obrigatórios. Sua família conseguiu o indulto em 1871, trocando sua pena inicial pela deportação à Espanha, país em que Martí publicou El Presidio Politico em Cuba, sua primeira denúncia de grande relevância que mostrava a crueldade com que os presos eram tratados nas prisões de Cuba. A partir deste momento, tornou-se conhecido entre os intelectuais da época e obteve, no ano de 1874, doutorado no curso de Leis, Filosofia e Letras pela Universidade de Saragoça.

        Ao comandar um contingente pequeno de cubanos patriotas em 1895, deparou-se de forma inesperada com soldados espanhóis nas cercanias de Dos Ríos. No confronto, acabou sendo atingido e faleceu. Teve o corpo esquartejado pelos soldados da Espanha, que exibiram seu cadáver à população. Ainda naquele ano, foi sepultado em Santiago no dia 27 de maio.

Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/biografias/jose-marti/. Acesso em 14 de abr.2022.






POR QUE A OTAN E OS ESTADOS UNIDOS NUNCA FORAM SANCIONADOS POR INICIAREM GUERRAS?


        A reação ao ataque da Rússia à Ucrânia revelou os padrões duplos do Ocidente.

Robert Bridge

31/03/2022



       O Ocidente tomou uma posição extrema contra a Rússia por causa de sua invasão na Ucrânia. Essa reação expõe um alto grau de hipocrisia, considerando que as guerras lideradas pelos EUA no exterior nunca receberam a resposta punitiva que mereciam.

       Se os eventos atuais na Ucrânia provaram alguma coisa, é que os Estados Unidos e seus parceiros transatlânticos são capazes de atropelar um planeta em estado de choque – no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, para citar alguns dos pontos críticos – com impunidade quase total. Enquanto isso, a Rússia e Vladimir Putin estão sendo retratados, em quase todos os principais meios midiáticos, como a segunda vinda da Alemanha nazista por suas ações na Ucrânia.

       Em primeiro lugar, é necessário ser claro sobre algo: a hipocrisia e os padrões duplos por si só não justificam a abertura das hostilidades por nenhum país. Por outras palavras, só porque os países do bloco da OTAN vêm abrindo caminho de destruição arbitrária em todo o mundo desde 2001 se sérias consequências, isso não dá a Rússia ou a qualquer país, licença moral para se comportar de maneira semelhante. Deve haver uma razão convincente para um país autorizar o uso da força, comprometendo-se assim com o que poderia ser considerada “uma guerra justa”. Assim a pergunta: as ações da Rússia hoje podem ser consideradas “justas” ou, no mínimo compreensíveis? Deixarei essa resposta para o melhor julgamento do leitor, mas seria útil considerar alguns pormenores importantes.

       Só para os consumidores de fast food das mídias convencionais seria uma surpresa que Moscou vem alertando sobre a expansão da OTAN há mais de uma década. No seu, agora famoso discurso, na Conferência de Segurança de Munique em 2007, Vladimir Putin perguntou, à queima roupa, de modo pungente aos poderosos globais: “por que é necessário colocar infraestrutura militar junto de nossas fronteiras durante essa expansão (da OTAN)? Alguém pode responder a esta pergunta?” Mais adiante no discurso, ele disse que a expansão dos ativos militares até a fronteira russa “não está relacionada de forma alguma com as escolhas democráticas de estados individuais”.


       Não só as preocupações do líder russo foram recebidas com a quantidade previsível de desrespeito no meio do som ensurdecedor dos grilos, como a OTAN concedeu adesão a mais quatro países desde aquele dia (Albânia, Croácia, Montenegro e Macedônia do Norte). Como experiência mental que até um idiota poderia realizar, imagine a reação de Washington se Moscou estivesse construindo um bloco em expansão contínua na América do Sul, por exemplo.

       A verdadeira causa do alarme de Moscou, no entanto, veio quando os EUA e a OTAN começaram a inundar a vizinha Ucrânia com uma deslumbrante variedade de armas refinadas em meio a pedidos de adesão ao bloco militar. Que diabos poderia dar errado?

       Na cabeça de Moscou, a Ucrânia começava a representar uma ameaça existencial para a Rússia.

    Em dezembro, Moscou, rapidamente chegando ao fim de sua paciência, entregou rascunhos de tratados aos EUA e à OTAN, exigindo que eles interrompessem qualquer expansão militar para o leste, inclusive pela adesão da Ucrânia ou de quaisquer outros estados.

Tradução: Confie em mim! Eu não estou apontando para você.
       Incluiu a declaração explícita de que a OTAN “não realizará nenhuma atividade militar no território da Ucrânia ou outros estados da Europa Oriental, Sul do Cáucaso e Ásia Central”. Mais uma vez, as propostas da Rússia foram recebidas com arrogância e indiferença pelos líderes ocidentais.

       Embora as pessoas tenham opiniões diferentes sobre as ações chocantes que Moscou tomou a seguir, ninguém pode dizer que não foi avisado. Afinal, não é como se a Rússia acordasse em 24 de fevereiro e de repente decidisse que era um dia maravilhoso para iniciar uma operação militar no território da Ucrânia.

       Então, sim, pode-se argumentar que a Rússia se preocupava com sua própria segurança como justificativa para as suas ações. Infelizmente, a mesma coisa pode ser mais difícil de dizer para os Estados Unidos e seus subordinados da OTAN em relação ao seu comportamento beligerante ao longo das últimas duas décadas.

       Considere-se o exemplo mais notório, a invasão do Iraque em 2003. Essa guerra desastrosa, que as mídias ocidentais classificaram como uma infeliz “falha de inteligência” representa um dos atos mais flagrantes de agressão não provocada da memória recente.

       Sem se aprofundar nos pormenores obscuros, os Estados Unidos, tendo acabado de sofrer os ataques de 11 de setembro, acusaram Saddam Hussein do Iraque de abrigar armas de destruição em massa. No entanto, ao invés de trabalhar em estreita cooperação com os inspetores de armas da ONU, que estavam no Iraque tentando verificar as alegações, os EUA, juntamente com o Reino Unido, Austrália e Polônia, em 19 de março de 2003 lançaram uma campanha de bombardeio “Choque e Pavor” contra o Iraque. Num piscar de olhos, mais de um milhão de iraquianos inocentes sofreram morte, ferimentos ou deslocamentos por esta flagrante violação do direito internacional.  

    O Center for Public Integrity informou que o governo Bush, em seu esforço para aumentar o apoio público à carnificina iminente, fez mais de 900 declarações falsas entre 2001 e 2003 sobre a suposta ameaça do Iraque aos EUA e seus aliados. No entanto, de alguma forma, as agências de mídias ocidentais, que se tornaram a voz raivosa da agressão militar, não conseguiram encontrar qualquer falha no argumento a favor da guerra, isto é, até depois de as botas e o sangue estarem no terreno, é claro. 

      Pode-se esperar, num mundo mais justo, que os EUA e seus aliados fossem submetidos a algumas duras sanções após esse “erro” prolongado de oito anos contra inocentes. Na verdade, houve sanções, mas não contra os Estados Unidos. Ironicamente, as únicas sanções que resultaram dessa louca aventura militar foram contra a França, um membro da OTAN que recusou o convite, juntamente com a Alemanha, para participar do banho de sangue iraquiano. A hiperpotência global não está acostumada a tal rejeição, especialmente de seus supostos amigos.

    Os políticos americanos, confiantes no seu divino excepcionalismo, exigiram um boicote ao vinho francês e à água mineral engarrafada devido à oposição “ingrata” do governo francês à guerra no Iraque.

       Outros agitadores da guerra traíram sua falta de seriedade ao insistir que o popular item de menu conhecido como “French Fries” (batatas fritas) fosse substituído pelo nome “Freedom Fries”. Assim, a falta do Bordeaux francês, juntamente com a tediosa reformulação dos menus dos restaurantes, parece terem sido os únicos inconvenientes reais que os EUA e a OTAN sofreram por destruir indiscriminadamente milhões de vidas.


       Compare essa abordagem de luva de pelica para com os EUA e seus aliados com a situação atual envolvendo a Ucrânia, onde a balança da justiça está claramente pesando contra a Rússia, - apesar dos seus avisos não irracionais de que se sentia ameaçada pelos avanços da OTAN.

      O que quer que uma pessoa possa pensar sobre o conflito que agora ocorre entre a Rússia e a Ucrânia, não se pode negar que a hipocrisia e os padrões duplos que estão sendo levantados contra a Rússia por seus detratores perenes são tão chocantes quanto previsíveis. A diferença hoje, porém, é que as bombas estão explodindo.

       Além das severas sanções a indivíduos russos e à economia russa, talvez melhor resumida pelo ministro da economia francês, que disse que seu país está comprometido em travar “uma guerra econômica e financeira total contra a Rússia”, houve um esforço profundamente perturbador para silenciar notícias e informações vindas das fontes russas que possam dar ao público ocidental a opção de examinar as motivações de Moscou. Em 1.º de março de 2022, o Youtube decidiu bloquear os canais da RT e do Sputnik para todos os utilizadores europeus, permitindo assim que o mundo ocidental se apoderasse de outro pedaço da narrativa global.

       Considerando a maneira como a Rússia foi vilipendiada no “império da mentira”, como Vladimir Putin denominou a terra dos seus perseguidores politicamente motivados, alguns podem acreditar que a Rússia merece as ameaças ininterruptas que agora recebe. Na realidade, nada poderia estar mais longe da verdade. Esse tipo de arrogância global, que se assemelha a algum tipo de campanha irracional de sinalização de virtude agora tão popular nas capitais liberais, além de inflamar desnecessariamente uma situação já volátil, assume que a Rússia está totalmente errada, ponto final.

       Uma abordagem tão imprudente, que não deixa espaço para debate, sem espaço para discussão, sem espaço para ver o lado da Rússia nesta situação extremamente complexa, apenas garante mais impasses, se não uma guerra global completa, mais adiante. A menos que o Ocidente esteja buscando ativamente a eclosão da Terceira Guerra Mundial, seria aconselhável parar com a hipocrisia hedionda e os padrões duplos contra a Rússia e ouvir pacientemente suas opiniões e versões dos eventos (mesmo as apresentadas pelos meios midiáticos estrangeiros). Não é tão inacreditável como algumas pessoas podem querer acreditar.

Robert Bridge – Escritor e jornalista estado-unidense, autor de Midnight in the American Empire: How Corporations and Their Political Servants are Destroying the American Dream (Meia Noite no Império Americano: Como as Corporações e os seus Serviçais Políticos estão a Destruir o Sonho Americano)@Robert_Bridge www.rt.com/news/550990-us-nato-sanctions-wars/ (Censurado na Europa).



terça-feira, 12 de abril de 2022

UKRAINE LAUNCHES WEBSITE TO FACILITATE FOREIGN RECRUITMENT INTO WAR


      
The government of Ukraine in March 5, 2022 to facilitate the recruitment of volunteer against Russian forces and passed on   to promote an internet site to combat alongside Ukraine forces against the military of Russia.

 
      For this no prior combat experience is required and Russian citizens cannot apply. “It is recommended, if possible, to bring your own military kit, such as clothing, equipment, helmet, bulletproof vest,” says the website, which guarantees “full support” for foreigners who want to fight Russia.

      This defense must be internal, adding a new arm of the Armed Forces of Territorial Defense, with two new battalions. President Volodymyr Zelensky estimates about 16,000 men foreigners will join the volunteer army.



March 5, 2022.

UCRÂNIA LANÇA SITE PARA FACILITAR RECRUTAMENTO DE ESTRANGEIROS PARA A GUERRA

 


    O governo da Ucrânia lançou em 5 de março de 2022 um site para facilitar o recrutamento de estrangeiros interessados em combater ao lado das Forças Armadas do país contra as tropas de ocupação russas.



       A Ucrânia Não exige experiência prévia em combate, e cidadãos russos não podem se inscrever. “É recomendado, se possível, levar seu próprio Kit militar, como roupas, equipamentos, capacete, colete à prova de balas”, diz o site, que garante “suporte total” para os estrangeiros que quiserem lutar contra a Rússia.

       Essa legião deve ser incorporada à Força de Defesa Territorial, um novo braço das Forças Armadas ucranianas, e terá inicialmente dois batalhões. O presidente Volodymyr Zelensky estima cerca de 16 mil voluntários estrangeiros se juntem ao exército.


 

5 de março de 2022.

Fonte: Site da UOL Notícas. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2022/03/05/ucrania-lanca-site-para-facilitar-recrutamento-de-estrangeiros.htm. Acesso em 9 de abr. 2022.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

THE CRUEL LIFE IN THE FAVELS

     The excerpt below is taken from the book Eviction Room by Carolina Maria de Jesus (pp. 35 and 36), a woman, black, slum dweller, a paper, glass and iron collector. Granddaughter of enslaved people face daily hunger and an inhuman system, which sees the poor as a case of the police.

     Favels proliferate, today with the misfortune of drugs, criminal factions and militias. We also see residents organizing and fighting the system as best they can, whether with confrontations, cultural acts such as Hip Hop and other forms of struggle.

    However, slavery is a cruel legacy for Brazilians, violence against the poor, blacks, women, homosexuals and transgenders is a holdover from the times when the police were created to capture and beat enslaved people. 

    It is a pity that Carolina Maria de Jesus died in 1977, as I would like to see her among the 20 million Brazilians who left the poverty line in the years 2003 to 2016. were historically less favored.

    I am also sure that it is possible on the front line to fight those who are fighting on the front line, to maintain Brazil as well as to return to slavery.

Cláudio Maffei


   “I am sad today. I'm nervous. I don't know whether to cry or I run without stopping until I fall unconscious. It was raining today. And I didn't go out to get money. I spent the day writing. Leftover pasta, I'll warm it up for the boys.

    I cooked the potatoes, they ate. There are some metals and some iron that I'm going to sell at Mr. Manuel. When João got home from school I told him to sell the irons. Received 13 cruzeiros. Bought a glass of mineral water, 2 cruzeiros. I got angry with him. Where have you seen yourself in a slum deweller with these finesse? (...) The boys eat a lot of bread. They like soft bread. But when they don't have it, they eat hard bread.

    Hard is the bread that we eat. Hard is the bed we sleep in. Hard is the life of the favelado.

    Oh! São Paulo queen who proudly flaunts your golden crown that are the skyscrapers. Who wears velvet and silk and puts on cotton socks that is the shanty towns.

    (...) The money was not enough to buy meat, I made pasta with carrots. There was no fat, it was horrible. Vera is the only one who complains and asks for more. And asks:

    — Mom, sell me to Mrs. Julita, because there's delicious food there.

    I know that there are Brazilians here in São Paulo who suffer more than I do. In June 1957 I got sick and went to the Social Service headquarters. Because I carry a lot of iron, I got kidney pain. In order not to see my children go hungry, I asked the so-called Social Service for help. It was there that I saw the tears slip from the eyes of the poor. How poignant it is to see the dramas that unfold there. The irony with which the poor are treated. The only thing they want to know are the names and addresses of the poor.I went to the Palace, the Palace sent me to the headquarters on Av. Brigadeiro Luis Antonio. Avenida Brigadeiro sent me to the Santa Casa Social Service.

    I spoke with Mrs. Maria Aparecida who listened to me and answered me so many things and said nothing. I decided to go to the Palacio and got in line. I spoke with Mr. Alcides. A man who is not Japanese, but is yellow like spoiled butter. I spoke with Mr. Alcides:

    — I came here to ask for help because I'm sick. You told me to go to Avenida Brigadeiro Luis Antonio, I went. Avenida Brigadeiro told me to go to Santa Casa. And I spent the only money I had on rides.

 

  — Arrest her!

    They didn't let me out. And a soldier for the bayonet in my chest. I looked the soldier in the eye and realized he was feeling sorry for me. I told him:

    — I'm poor, that's why I came here.

    Doctor Osvaldo de Barros, the fake São Paulo philanthropist who is dressed as São Vicente de Paula. And said:

    — Call a car of prisoner!



A CRUEL VIDA NAS FAVELAS

           O trecho abaixo é extraído do livro Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus (pp. 35 e 36), mulher, negra, favelada, catadora de papel, vidro e ferro. Neta de escravizados enfrenta dia a dia a fome e um sistema inumano, que vê o pobre como caso de polícia.

            As favelas proliferaram, hoje com o infortúnio das drogas, facções criminosas e milícias. Também vemos moradores se organizando e combatendo o sistema como podem, seja com enfrentamentos, atos culturais como o Hip Hop e outras formas de luta.

     Porém, o escravismo é uma herança cruel aos brasileiros, a violência contra os pobres, negros, mulheres, homossexuais e transgêneros é o resquício dos tempos em que a polícia foi criada para capturar e bater em escravizados.

            Pena que Carolina Maria de Jesus morreu em 1977, pois gostaria de vê-la entre os 20 milhões de brasileiros que deixaram a linha da miséria nos anos 2003 a 2016 foi um período em que pelo menos eram garantidas três refeições diárias àqueles que foram historicamente menos favorecidos.


            Também tenho certeza que ela estaria na linha de frente lutando contra àqueles que nos dias atuais querem conservar o Brasil como nos idos de 1957, ou, se possível fosse, voltar à escravidão.

(Cláudio Maffei)

 



         “Eu hoje estou triste. Estou nervosa. Não sei se choro ou saio correndo sem parar até cair inconciente. É que hoje amanheceu chovendo. E eu não saí para arranjar dinheiro. Passei o dia escrevendo. Sobrou macarrão, eu vou esquentar para os meninos.

         Cosinhei as batatas, eles comeram. Tem uns metais e um pouco de ferro que eu vou vender no Seu Manuel. Quando o João chegou da escola eu mandei ele vender os ferros. Recebeu 13 cruzeiros. Comprou um copo de agua mineral, 2 cruzeiros. Zanguei com ele. Onde já se viu favelado com estas finezas? (...) Os meninos come muito pão. Eles gostam de pão mole. Mas quando não tem eles comem pão duro.

         Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos. Dura é a vida do favelado.

         Oh! São Paulo rainha que ostenta vaidosa a tua coroa de ouro que são os arranha-céus. Que veste viludo e seda e calça meias de algodão que é a favela.

         (...) O dinheiro não deu para comprar carne, eu fiz macarrão com cenoura. Não tinha gordura, ficou horrivel. A Vera é a única que reclama e pede mais. E pede:

         — Mamãe, vende eu para a Dona Julita, porque lá tem comida gostosa.

         Eu sei que existe brasileiros aqui dentro de São Paulo que sofre mais do que eu. Em junho de 1957 eu fiquei doente e percorri as sedes do Serviço Social. Devido eu carregar muito ferro fiquei com dor nos rins. Para não ver os meus filhos passar fome fui pedir auxilio ao propalado Serviço Social. Foi lá que eu vi as lagrimas deslisar dos olhos dos pobres. Como é pungente ver os dramas que ali se desenrola. A ironia com que são tratados os pobres. A única coisa que eles querem saber são os nomes e os endereços dos pobres.

         Fui no Palacio, o Palacio mandou-me para a sede na Av. Brigadeiro Luís Antonio. Avenida Brigadeiro me enviou para o Serviço Social da Santa Casa.

         Falei com a Dona Maria Aparecida que ouviu-me e respondeu-me tantas coisas e não disse nada. Resolvi ir no Palacio e entrei na fila. Falei com o senhor Alcides. Um homem que não é niponico, mas é amarelo como manteiga deteriorada. Falei com o senhor Alcides:

         —Eu vim aqui pedir um auxilio porque estou doente. O senhor mandou-me ir na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, eu fui. Avenida Brigadeiro mandou-me ir na Santa Casa. E eu gastei o único dinheiro que eu tinha com as conduções.

         —Prende ela!

         Não me deixaram sair. E um soldado pois a baioneta no meu peito. Olhei o soldado nos olhos e percebi que ele estava com dó de mim. Disse-lhe:

         —Eu sou pobre, porisso é que vim aqui.

         Surgiu o Dr. Osvaldo de Barros, o falso filantrópico de São Paulo que está fantasiado de São Vicente de Paula. E disse:

—Chama um carro de preso!”



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ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

Quando falamos em escavar o solo em busca de vestígios do passado, muitas pessoas imediatamente pensam em fósseis de dinossauros e utensílio...

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