segunda-feira, 16 de maio de 2022

RESUMO DE O CORTIÇO EM HQ


        Estamos divulgando neste espaço um blog irmão: 

O Cortiço Opiniões. Disponível em: 

http://ocorticoemopinioes.blogspot.com/p/blog-page.html. Acesso em 16 de maio de 2022.

    Ele, o blog, apresenta um interessantíssimo bem feito resumo do clássico do naturalismo de Aluísio Azevedo, O Cortiço.

        Palavras não demonstram o quanto legal é esse blog, por isso vamos expor aqui os desenhos, parabenizando os autores e homenageando-os. Parabéns Irmãos.


Aqui o texto que antecede a HQ:


Resumo

        João Romão, ganancioso e avarento comerciante português, convence uma escrava foragida, Bertoleza, alegando que, com um préstimo, poderia comprar sua liberdade, e ainda como forma de agradecimento, a escrava trabalharia de graça para Romão. Mas ao invés disso constrói pequenas casas para alugar, mas que logo são ocupadas, e se multiplicam e depois de muitos investimentos a “Estalagem de São Romão” se torna um cortiço com mais de 95 alojamentos.

       Apesar de seu progresso, Miranda, rico vizinho de Romão, começa a questionar invejar o dono do cortiço por estar enriquecendo de maneira tão rápida sem precisar de um dote, como em seu casamento com Estela.

         Tal rivalidade só foi agravada quando Miranda conseguiu o título de Barão, Romão decide trabalhar ainda mais arduamente e a investir no banco e em seguros para o cortiço, tornando-se cada vez mais rico.

        Nesse meio tempo, o português Jerônimo e sua esposa Piedade pedem a Romão se poderiam morar no cortiço e trabalhar na pedreira do proprietário. Embora Jerônimo fosse um homem trabalhador, correto e exemplar, sua conduta se torna mais relaxada e “abrasileirada” enquanto mora no cortiço, principalmente após conhecer Rita Baiana e se apaixonar por ela, o que não agrada nada o amante de Rita, Firmo.

        Assim firmo arranja uma briga com Jerônimo, que é esfaqueado e vai para o hospital. Quando se recupera, Jerônimo decide matar Firmo cuja morte foi sentida pelos membros da comunidade onde morava apelidada “cabeça de gato”, que decidem vingar o falecido.

       E não demorou muito para os revoltosos invadirem o cortiço de Romão, iniciando uma grande briga e, misteriosamente, um incêndio. Jerônimo e Rita conseguiram fugir durante a confusão Todo o Cortiço foi destruído, mas isso não impediu que Romão reconstruísse se toda sua estalagem com o dinheiro do seguro, e alugá-la agora para pessoas de poder aquisitivo maior.

       Devido a sua recém-conquistada fortuna e estabilidade, Romão acaba se tornando amigo de Miranda, e até mesmo se interessando pela filha do antigo rival, Zulmira, a qual pede até a mão para se casar.

        O único problema em seu esquema era Bertoleza, que representava todo o seu período miserável. Romão decide entregar a escrava para seu antigo senhor, a qual acaba se suicidando para não voltar a ser servente.

        Todavia, o fato de Romão ter escondido uma escrava foragida por tanto tempo chamou a atenção de abolicionistas, que entregaram um diploma de sócio benemérito ao dono do cortiço, diante de tanta boa vontade perante a escrava.

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Nosso grupo fez ainda uma adaptação da obra para os quadrinhos, resumindo a história:


Acesso em 16 de maio de 2022.

Ver também no Blog do Maffei: Aluísio Azevedo. Entendendo O Cortiço. 

 Ver também no Blog do Maffei: O Cortiço de Aluísio Azevedo. Um Romance Naturalista.

Ver também no Blog do Maffei: Bandeira Vermelha x Bandeira Amarela

 

BANDEIRA VERMELHA X BANDEIRA AMARELA

 


         Em tempos de acirramento das lutas ideológicas, podemos encontrar no romance O Cortiço de Aluísio Azevedo, uma luta, mais sociológica que ideológica, que muito tem de igual aos dias atuais.

         Com os mesmos ódios arraigados, com a mesma divisão dentro da mesma classe social (a baixa) e com a mesma ignorância baseando as razões irracionais de cada lado.

         É nesse pano de fundo que ocorre a luta entre os “carapicus” e os “cabeça de gato”, duas hordas que se defrontam sem ter razão nem por quê.

         Vejamos alguns trechos dessa competição: 

     Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali perto, o “Cabeça de Gato”. Figurava como seu dono um português que também tinha venda, mas o legítimo proprietário era um abastado conselheiro, homem de gravata lavada, a quem não convinha, por decoro social, aparecer em semelhantes gêneros de especulações. E João Romão, estalando de raiva, viu que aquela nova república da miséria prometia ir adiante e ameaçava fazer-lhe à sua, perigosa concorrência. (p.181)

         Sempre existe um interessado por essa briga dentro das classes e não a verdadeira luta de classes:

       (João Romão) (...) pela sorrelfa plantava no espírito dos seus inquilinos um verdadeiro ódio de partido, que os incompatibilizava com a gente do “Cabeça de Gato”. Aquele que não estivesse disposto a isso ia direitinho para a rua, “que ali se não admitia meias medidas a tal respeito! (...) a parte contrária lançou mão igualmente de todos os meios para guerrear o inimigo, não tardando que entre os moradores das duas estalagens rebentasse uma tremenda rivalidade, dia a dia agravada por pequenas brigas e rezingas, em que as lavadeiras se destacavam sempre com questões de freguesia de roupa. No fim de pouco tempo os dois partidos estavam já perfeitamente determinados; os habitantes do “Cabeça de Gato” tomaram por alcunha o título do seu cortiço, e os de “São Romão”, tirando o nome do peixe que a Bertoleza mais vendia à porta da taverna, foram batizados por “Carapicus”. Quem se desse com um “carapicu” não podia entreter a mais ligeira amizade com um “cabeça de gato”; mudar-se alguém de uma estalagem para a outra era renegar ideias e princípios e ficava apontado a dedo; denunciar a um contrário o que se passava, fosse o que fosse, dentro do círculo oposto, era cometer traição, tamanha, que os companheiros a puniam a pau. (p.181)

         E como nos dias atuais surge uma bandeira Amarela contra a Vermelha.


       Em meio do pátio do “Cabeça de Gato” arvorava-se uma bandeira amarela; os “carapicus” responderam logo levantando um pavilhão vermelho. E as duas cores olhavam-se no ar como um desafio de guerra.

       A batalha era inevitável. Questão de tempo. (p.182)

         Até que um dia... A luta acontece e só tem perdedores, ou quase só perdedores, porque alguém, no caso o João Romão (em sua ascensão para a nova classe capitalista) ganha com a desgraça alheia:

(...) o rolo a ferver lá fora, cada vez mais inflamado com um terrível sopro de rivalidade nacional. Ouviam-se, num clamor de pragas e gemidos, vivas a Portugal e vivas ao Brasil. (pp.227 – 228)

       Mal os “carapicus” sentiram a aproximação dos rivais, (...) Um só impulso os impelia a todos; já não havia ali brasileiros e portugueses, havia um só partido que ia ser atacado pelo partido contrário; os que se batiam ainda há pouco, emprestaram armas uns aos outros, limpando com a costa da mão o sangue das feridas (...) (p. 228)

         O final da luta se dá quando uma moradora maluca e metida com bruxarias põe fogo no cortiço. Quando se vê o fogo pegando, para a luta, os “Cabeças de Gato” voltam para seu território, “os carapicus” esbaldam-se para apagar o fogo e salvar seus minguados caraminguás, enquanto a polícia (os urbanos) só observa.

         Observando tal acontecimento fictício, seria de bom tom tentar não deixar o fogo alastrar...

 

Cláudio Maffei

Citações retiradas do livro:

AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Edição Renovada a partir da 3.ª edição de 1920. São Paulo, Editora FTD S.A., 2011.

Desenhos retirados do (irmão)  Blog: O Cortiço Opiniões. Disponível em: http://ocorticoemopinioes.blogspot.com/p/blog-page.html. Acesso em 16 de maio de 2022.

Ver também no Blog do Maffei: Aluísio Azevedo. Entendendo O Cortiço. 

 Ver também no Blog do Maffei: O Cortiço de Aluísio Azevedo. Um Romance Naturalista.


sábado, 14 de maio de 2022

ALUÍSIO AZEVEDO (1857 – 1913) - ENTENDENDO O CORTIÇO

O CORTIÇO (1890) 


         Aluísio Azevedo foi fundador e principal representante do Naturalismo na literatura brasileira. Em O Cortiço, publicado em 1890, estão caracterizados os postulados naturalistas: a presença de personagens-tipos, em que os heróis individuais são substituídos pela coletividade; as personagens são joguetes de fatores biológicos e sociais; o homem como mero produto do meio ambiente e da hereditariedade. Os autores naturalistas pertencem à Escola Realista, que incluía ainda os realistas propriamente ditos e os simbolistas.

 

A busca pela fortuna e pelo amor 

(por Orna Messer Levin*).

         Primeiro de cinco livros que Aluísio Azevedo planejava escrever para compor um painel histórico sobre a formação da sociedade brasileira, abarcando desde o momento da Independência até a República, O Cortiço é o único da série que chegou de fato às livrarias. Dos títulos anunciados por ele no periódico A Semana, só O Cortiço foi publicado em 1890. Vinha cercado de expectativas, já que praticamente todos os romances anteriores de Aluísio provocaram polêmicas acaloradas na imprensa. As resenhas de crítica, nos jornais, embora elogiosas em relação aos méritos literários dele, costumavam apontar restrições e acusá-lo de plagiar o escritor Émile Zola, que fundou o Naturalismo na França. 

        Com O Cortiço não foi diferente. Consideraram que se tratava de uma imitação do romance L’Assommoir (A Taverna), no qual Zola mostrava as alegrias e misérias de uma lavadeira em um bairro pobre de Paris. É bem provável que Aluísio tenha realmente colhido inspirações nessa obra de Zola para redigir seu O Cortiço, pois adaptar criações literárias era muito comum no século XIX, época em que não se julgava um texto de ficção, poesia ou teatro, apenas com base na originalidade do tema. Identificar de imediato qual teria sido a fonte de Aluísio, por isso, não o condenou ao esquecimento, nem impediu, muito pelo contrário, que o romance se consagrasse como a principal obra do Naturalismo Brasileiro.

        Diferente do romance romântico, recheado de peripécias, aventuras e fantasias amorosas, a prosa naturalista de Aluísio tentava construir um quadro objetivo da realidade social, com tudo o que apresentasse de belo ou sórdido, mostrando como a, gente comum, moradora de um cortiço em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, lutava para sobreviver. Ao mesmo tempo, o escritor pretendia alinhar a ficção brasileira com as modernas teorias biológicas, que propunham explicações científicas para o comportamento das espécies e para a transmissão das características inatas nos seres vivos. Aquilo que ficou popularmente conhecido como determinismo biológico e social significou no romance o rebaixamento dos personagens ao plano do mundo natural. Em outras palavras, equivalia à constatação de que as pessoas são regidas por impulsos instintivos e por comportamentos irracionais. Assim, sob a premência de uma necessidade sexual qualquer ou do consumo excessivo de álcool, elas agem movidas não pelo senso moral que a civilização impõe, mas por uma força incontrolável, que é própria dos instintos primitivos e, portanto, conduz ao declínio e à degradação. O universo do cortiço surge descrito pela voz de um narrador em terceira pessoa como organismo pulsante, “viveiro de larvas”, “paraíso de vermes” e um “brejo de lodo quente e fumegante”, no qual imperam somente leis da natureza.

        Perceber-se-á que uma das linhas de força da narrativa centra-se na ascensão de João Romão, português pobre e inescrupuloso que tem como meta enriquecer. Essa vitória ele conquista tirando proveito da escrava Bertoleza, ludibriando os inquilinos da estalagem e armando um casamento com Zulmira, a filha do rico comerciante Miranda, dono do sobrado vizinho, que se tornou barão. No romance, a transformação do simplório Romão em burguês elegante e metido nos assuntos da política simboliza a crítica de Aluísio à trajetória ascendente de pessoas gananciosas. Já nas primeiras linhas do capítulo VIII de O Cortiço, as mudanças no comportamento de Jerônimo marcam o destino de degradação ética imposto pelo processo de assimilação do imigrante português aos trópicos. Sua queda ilustra a tese da submissão do homem honesto e trabalhador às regras da fisiologia e do meio. Jerônimo entrega-se aos encantos sensuais da charmosa Rita Baiana e, impelido pela atração sexual, abandona a família. 

        Aluísio expõe uma visão bem crítica dos tipos sociais da capital brasileira na virada do século XIX. Além dos protagonistas, uma galeria de figuras secundárias completa os registros minuciosos que ele faz da rotina das lavadeiras e dos trabalhadores na pedreira, apresentando seus hábitos alimentares, vestimentas, práticas de medicina popular, crenças místicas africanas e o gosto musical luso-brasileiro marcado pelas melodias e pelos ritmos do fado, do samba e do lundu. Distintas entre grupos de capoeiras e enfrentamentos corriqueiros formam a tessitura dramática que sustenta e enriquece essa narrativa.


         Aluísio criou em O Cortiço um microcosmo a partir do qual quis documentar na ficção o processo de constituição da sociedade brasileira e lançar luz sobre suas glórias e suas mazelas.


* Orna Messer Levin – Doutora em Teoria Literária, professora de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/Unicamp.

 


AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Edição Renovada a partir da 3.ª edição de 1920. São Paulo, Editora FTD S.A., 2011. (Pp. 5 a 7).

Veja também:

ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

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