Primórdios
Durante a Idade do Ferro, outros povos
emergiram na região como os Dácios, Cimérios, Citas, Sármatas e outras tribos
nômades. O Reino Cita existiu nessa região entre 750 – 250 a.C. Juntamente com
as colônias da Grécia Antiga fundadoras no século VI a.C. na costa nordeste do
Mar Negro, as colônias de Tiras, Ólbia e Hermonassa, continuaram como cidades
do Império Romano e Império Bizantino até o século VI.
No século III, os Godos[1] chegaram às terras da Ucrânia em torno de 250 – 375, o qual eles denominaram de Aujo, correspondente à cultura arqueológica Cherniacove (ou Cherniakov). Os Ostrogodos se estabeleceram na área, mas sob a influência dos Hunos a partir de 350. Ao norte do reino ostrogodo havia a Cultura de Kiev, florescendo entre os séculos II ao V, quando foram expulsos pelos Hunos. Após eles terem ajudado a derrotar os Hunos na Batalha de Nedau em 454, os Ostrogodos foram permitidos a se estabelecerem na Panônia.
A Rússia de Kiev (800 – 1.100)
No século XII ocorreu um processo de
fragmentação, apesar dos esforços em contrário durante o reinado de Vladimir II
Monômaco (1.113 – 1.125) e de seu filho Mistislau I (1.125 – 1.132), após a
morte daquele último, o território se desintegrou, com o surgimento de
principados separados com sede em Kiev, Czernicóvia, Galícia e
Vladimir-Susdália.
A invasão tártara-mongol do século XIII conferiu ao principado o golpe de misericórdia, do qual nunca se recuperaria.
A Comunidade Polaco-Lituana (1.300 –
1.600)
Os Cossacos
Em meados do século XVII, já existia um
quase-Estado cossaco, o Zaporozhian Sich, foi criado pelos cossacos do Dniepre
e pelos camponeses rutenos que fugiam da servidão polonesa. A Polônia não tinha
o controle efetivo daquela área, hoje no centro da Ucrânia, que se tornou,
então, um Estado autônomo militarizado, ocasionalmente aliado à Comunidade.
Entretanto, a servidão do campesinato pela nobreza polonesa, a ênfase da
economia agrária da Comunidade na exploração na exploração da mão-de-obra
servil e, talvez a razão mais importante, a supressão da fé ortodoxa terminaram
por afastar os cossacos e a Polônia. Assim, os cossacos voltaram-se para a
Igreja Ortodoxa Russa, o que levaria eventualmente à queda da Comunidade Polaco-Lituana.
Entre 1793 e 1795 ficou definida a
partilha da Polônia entre a Prússia, a Áustria e a Rússia, que ficou
inicialmente com os territórios situados a leste do Rio Dniepre, enquanto que a
Áustria ficou com a Ucrânia Ocidental (com o nome de província da Galícia).
Em 1796, a Rússia passou a dominar também territórios a oeste do Rio Dniepre, região chamada de “Nova Rússia”.
Nos séculos XVIII e XIX, o território
que hoje corresponde à Ucrânia foi dividido entre a Polônia e o Império Russo e
só mais tarde, na Primeira Guerra Mundial, emergiu um movimento de
autodeterminação ucraniana, responsável por uma declaração de independência que
durou pouco, de 1917 a 1920, sendo que após 1922 o país foi incorporado à União
Soviética.
A Partilha e o Advento dos
Soviéticos
Em fevereiro de 1917, com o fim do
czarismo, o poder começou ser disputado entre o Governo Provisório de São
Petersburgo e a Rada Central de Kiev. Em dezembro, após a tomada do poder pelos
bolcheviques, o primeiro Congresso dos Sovietes da Ucrânia proclamou o domínio
sobre as regiões mais a leste da Ucrânia, com sede em Carcóvia. Por outro lado,
a Rada se aliou às tropas austro-alemãs que invadiram o país, na primavera de 1918.
A industrialização soviética teve
início da Ucrânia a partir do final dos anos 1920, o que levou a produção
industrial do país a quadruplicar nos anos 1930. O processo impôs um custo
elevado ao campesinato, demograficamente a espinha dorsal da nação ucraniana.
Para atender a necessidade de maiores suprimentos de alimentos e para financiar
a industrialização, Stálin estabeleceu um programa de coletivização da
agricultura pelo qual o Estado combinava as terras e rebanhos dos camponeses em
fazendas coletivas. O processo era garantido pela atuação dos militares e da
polícia soviética (OGPU)[2]:
os que resistiam eram presos e deportados. Os camponeses viam-se obrigados a
lidar com os efeitos devastadores da coletivização sobre a produtividade
agrícola e as exigências de quotas de produção ampliadas. Tendo em vista que os
integrantes das fazendas coletivas não estavam autorizados a receber grãos até
completarem as suas impossíveis quotas de produção, a fome tornou-se
generalizada. Esse processo histórico conhecido como Holodomor, levou sete
milhões de pessoas (25% da população ucraniana) a morrer de fome.
Alguns acusam Stálin e a coletivização
forçada, outros colocam que a resistência e o boicote dos proprietários de
terras (kulaks)[3] à coletivização e questões climáticas levaram à essa grande mortandade.
A Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial,
alguns membros do subterrâneo nacionalista ucraniano lutaram contra nazistas e
soviéticos, indistintamente, enquanto outros colaboravam com ambos os lados. Em
1941, os invasores alemães e seus aliados do Eixo avançaram contra um
desesperado Exército Vermelho. No cerco de Kiev, a cidade foi designada pelos
soviéticos como “Cidade Heróica” pela feroz resistência do Exército Vermelho e
da população local. Mais de 660 mil soldados soviéticos foram capturados ali.
Com o término da Segunda Guerra
Mundial, as fronteiras da Ucrânia soviética foram ampliadas na direção oeste,
unindo a maior parte dos ucranianos sob uma única entidade política. A maioria
da população não-ucraniana dos territórios anexados foi deportada.
Anexação
da Crimeia
Em fevereiro de 1954, khrushchov, aproveitando também a ocasião das comemorações dos 300 anos do Tratado de Pereiaslav, acatou a sugestão, e a Crimeia deixou de ser parte da República Socialista Federada Soviética da Rússia, para passar a integrar a República Socialista Soviética da Ucrânia.
Acidente Nuclear de Chernobil
Até 1993, a causa de pelo menos sete
mil mortes era atribuídas às elevadas doses de radiação recebida, além disso,
135 mil pessoas foram evacuadas. O reator foi revestido com uma camada de
concreto de vários metros de espessura, formando uma estrutura apelidada de
sarcófago. A nuvem radioativa de Chernobil afetou a Ucrânia, a Bielorrússia, a
Rússia, a Polônia e partes da Suécia e da Finlândia. Nos anos seguintes,
pesquisadores estrangeiros na área registraram um aumento de casos de câncer e
outras doenças associadas à radioatividade.
Independência
Em 16 de julho de 1990, o Soviete
Supremo (Parlamento) da Ucrânia proclamou a soberania da república.
Em 24 de agosto de 1991 foi aprovada a
Declaração de Independência e foi convocado um plebiscito para ratificá-la, que
ocorreu em dezembro de 1991, no qual 90% dos votos foram favoráveis à
ratificação, no mesmo dia, Leonid Kraychuk (ex-primeiro-secretário do Partido
Comunista da Ucrânia) foi eleito presidente com 60% dos votos.
Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes
da Ucrânia, da Federação Russa e da Bielorrússia declararam o fim da URSS e
estabeleceram a Comunidade de Estados Independentes (CEI).
Em 5 de maio de 1992, a Crimeia
declarou a independência, mas cedeu às pressões de Kiev e cancelou a declaração
em troca da concessão de autonomia econômica.
Em junho de 1993, a Rada Suprema
decidiu que pertenceria à Ucrânia todo o arsenal nuclear da extinta URSS
estacionado naquele país e, desse modo, a Ucrânia tornou-se a terceira potência
nuclear do mundo. Nessa época de crise econômica, Leonid Kutchma renunciou ao
cargo de primeiro-ministro.
Em setembro de 1993, a Ucrânia cedeu à
Rússia parte da Frota do Mar Negro correspondente à Ucrânia, como pagamento de
dívidas pelo fornecimento de petróleo e gás. Além disso, foi firmado um
convênio de cooperação para desmontar poderosos mísseis intercontinentais que a
Ucrânia queria manter como garantia contra possíveis projetos expansionistas
russos. A oposição denunciou o acordo em Kiev.
Em 14 de dezembro de 1999, Kuchma foi
reeleito no segundo turno das eleições presidenciais, com 56% dos votos e com a
promessa de continuar as reformas de mercado e com a aproximação com o
ocidente, e para isso designou Viktor Yushchenko, então chefe do Banco Nacional
da Ucrânia, como primeiro-ministro. Em fevereiro de 2000, Yushchenko promete
reestruturar a dívida por meio de uma política fiscal austera e um decidido
programa de privatizações.
Em novembro de 2004, a Comissão
Eleitoral Central da Ucrânia declarou que o candidato pró-russo Viktor
Yanukóvytch teria vencido as eleições presidenciais por 49,6% dos votos, mas a
maioria dos observadores internacionais denunciou irregularidades no processo
eleitoral.
Em sete de fevereiro de 2010, em votação do segundo turno das eleições presidenciais, Viktor Yanukóvych saiu vencedor com 12.481266 votos (48,95%), contra Yulia Tymoshenko com 11.593.357 votos (45,47%).
As eleições presidenciais ucranianas de
2014 foram realizadas em 25 de maio, resultando na eleição de Petro Poroshenko
como Presidente da Ucrânia. Originalmente programado para ocorrer em 29 de
março de 2015, a data foi alterada após a revolução ucraniana de 2014.
As eleições não foram realizadas em
toda a Ucrânia. Durante a crise da Crimeia de 2014, a Ucrânia perdeu o controle
sobre a Crimeia, que foi anexada unilateralmente pela Rússia em março de 2014.
Como resultado, não foram realizadas eleições na Crimeia. Em Donbass, apenas
20% das urnas estavam abertas devido a ameaças e violência de separatistas
pró-Rússia.
Eleição de 2019
Quem
é Volodymyr Zelensky
Zelensky nasceu na cidade do centro da
Ucrânia de Kryvy Rig, filho de pais judeus, se formou em direito pela
Universidade Nacional Econômica de Kiev, mas nunca seguiu carreira jurídica.
Mas ficou conhecido por seus monólogos no teatro e, curiosamente, fez sucesso
na TV na série “Servo do Povo”, na qual interpretou um professor de
história que chegou ao cargo de presidente do país de forma inesperada. O nome “Servo
do Povo”, inclusive, foi dado ao seu partido como homenagem ao programa.
Zelensky também já havia atuado em filmes com bastante popularidade na Ucrânia
e na Rússia.
Como candidato, Zelensky procurou
ganhar capital político com a desilusão dos eleitores com a elite política,
considerada corrupta e ineficaz, e se apresentou como uma alternativa ao
establishment. Ele, no entanto, não apresentou suas políticas nem informou quem
iria nomear para cargos importantes. Zelensky prometia combater a corrupção,
aproximar a Ucrânia dos países do Ocidente e pressionar a Rússia a deixar áreas
ocupadas do território ucraniano.
Na posse, ele também afirmou que sua
primeira tarefa seria acabar com o conflito no leste do país, onde estão as
regiões separatistas de maioria russa do Donbass e Lugansk que tentam proclamar
independência, com o apoio de Moscou.
Porém, o momento de maior destaque internacional de Zelensky, até o ápice da tensão com a Rússia, havia sido em 2019, quando ele acabou envolvido com o processo de impeachmente aberto contra Donald Trump no parlamento estado-unidense. Às vésperas da corrida eleitoral, Trump pediu a Zelensky que elaborasse um dossiê sobre o filho de seu rival Joe Biden, que teve negócios na Ucrânia.
Guerra da Ucrânia
Entre
as principais razões apontadas para a Rússia lançar operações contra a Ucrânia estão:
1) A expansão da OTAN pelo Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia à aliança militar, a contestação ao direito da Ucrânia à soberania independente da Rússia e o desejo de Vladimir Putin de restabelecer a zona de influência da União Soviética. Por um lado, a Rússia diz querer impedir o que classifica de cerco à sua fronteira com a possível adesão da Ucrânia à OTAN, aliança militar de 30 países, que se expandiu pelo Leste Europeu, incluindo hoje 14 países do ex-bloco comunista.
2) A Rússia acusa o governo ucraniano de genocídio contra ucranianos de origem étnica russa que vivem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk. Alega que operação especial tenta "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, o que pode servir de justificativa para uma eventual deposição do atual governo ucraniano.
3) Ucrânia
e outros observadores veem na guerra uma tentativa da Rússia restabelecer a
zona de controle e influência da antiga União Soviética, algo visto como
desrespeito à soberania da Ucrânia, que deveria ter o direito de decidir seu destino e suas alianças.
[1] Godos - era um povo germânico que segundo o historiador Jordanes surgiu na região meridional da Escandinávia, migrando para o sul, esse povo que originalmente era unificado acabou por dividir-se em dois ramos: os visigodos (que significava “godos do oeste”) e os ostrogodos (que significava “godos do leste”).
[2] OGPU – Direção Política Estatal Unificada – Obedinénnoe Gossudártsvenoe Politítcheskoe Upravlénie – criada em 15 de novembro, veio centralizar num só órgão as competências pela segurança de todo Estado Soviético, a luta contra atividades contrarrevolucionárias, espionagem, etc.
[3] Kulak – termo usado pelo governo soviético para se referir a camponeses relativamente ricos do Império Russo que possuíam extensas fazendas e faziam uso de trabalho assalariado em suas atividades, sendo assim considerados pequenos burgueses. A tomada de terras no processo de socialização dos meios de produção na Rússia gerou resistência, sobretudo desta pequena burguesia. Essa oposição ao processo de coletivização foi tão grande que só na Ucrânia foram registrados quase um milhão de atos contrários, só no ano de 1930.
[4] Euromaidan – literalmente “Europraça” ou “Esplanada da Europa”, também batizada de “Primavera Ucraniana, foi uma onda de manifestações e agitação civil, na Ucrânia, entre 2013 e 2014. Os manifestantes exigiam maior integração europeia, além de providências quanto à corrupção no governo e a eventuais sanções por parte da Rússia. Houve dispersão violenta dos manifestantes em várias ocasiões e represálias à ativistas da oposição, políticos dirigentes e a Igreja Greco-Católica Ucraniana, aconteceram principalmente depois do cancelamento de leis que restringiam as liberdades civis. Ocorreram várias ocupações das administrações locais, levando à proibição do Partido das Regiões pelos governos locais sob o controle de ativistas antigovernamentais. Havendo no final um acordo para a realização de eleições antecipadas, formação de um governo de transição e mudanças na Constituição, onde os opositores assumem o controle do país e o presidente Viktor Yanukovych foge para a Rússia e a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko é libertada, havendo intervenção da Rússia na Crimeia