sábado, 11 de junho de 2022

HISTÓRIA DA UCRÂNIA


Primórdios

         Os primeiros casos de assentamento humano na Ucrânia recuam à quase 6.450 a.C. A Cultura Cucuteni-Trypillian do Neolítico tardio surge em torno de 4.500 – 3.000 a.C. As populações da Cultura Cucuteni-Trypillian durante a Idade do Cobre residiam na porção oeste do que hoje é a atual Ucrânia, enquanto que a Cultura Sredny Stog se localizava mais a leste, sendo que esta foi sucedida posteriormente no início da Idade do Bronze pela Cultura Yamna (Kurgan) das estepes e pela Cultura Catacumba no terceiro milênio a.C.

         Durante a Idade do Ferro, outros povos emergiram na região como os Dácios, Cimérios, Citas, Sármatas e outras tribos nômades. O Reino Cita existiu nessa região entre 750 – 250 a.C. Juntamente com as colônias da Grécia Antiga fundadoras no século VI a.C. na costa nordeste do Mar Negro, as colônias de Tiras, Ólbia e Hermonassa, continuaram como cidades do Império Romano e Império Bizantino até o século VI.


         No século III, os Godos[1] chegaram às terras da Ucrânia em torno de 250 – 375, o qual eles denominaram de Aujo, correspondente à cultura arqueológica Cherniacove (ou Cherniakov). Os Ostrogodos se estabeleceram na área, mas sob a influência dos Hunos a partir de 350. Ao norte do reino ostrogodo havia a Cultura de Kiev, florescendo entre os séculos II ao V, quando foram expulsos pelos Hunos. Após eles terem ajudado a derrotar os Hunos na Batalha de Nedau em 454, os Ostrogodos foram permitidos a se estabelecerem na Panônia. 


         Com o grande vácuo criado entre o fim do governo Huno e Godo, as tribos eslavas, possivelmente emergiram a partir da Cultura de Kiev, começando a expandir sobre o atual território da Ucrânia durante o século V e para os Bálcãs no século VI.


         No século VII, o território da moderna Ucrânia era o centro dos Protobúlgaros (também referido como Grande Bulgária Antiga) com sua capital na Fanagória. Ao final do século VII, a maior parte das tribos búlgaras migrou para diversas regiões e os que ficaram no estado foram absorvidos pelos Cazares, um povo seminômade da Ásia Central.


         Os Cazares fundaram o Canato Cazar no sudeste do que hoje é parte da Europa, perto do Mar Cáspio e o Cáucaso. O reino incluía o oeste do Cazaquistão, parte leste da Ucrânia, Azerbaijão, Sul da Rússia e a Criméia. Em torno de 800 d.C, o reino converteu ao judaísmo.

A Rússia de Kiev (800 – 1.100)

         Durante os séculos X e XI, o território da Ucrânia tornou-se o centro de um Estado poderoso e prestigioso na Europa, a Rússia de Kiev, o que estabeleceu a base das identidades nacionais ucranianas e das demais nações eslavas orientais nos séculos subsequentes (como russos, ucranianos, bielorrussos). A capital do principado era Kiev, conquistada dos cazares por Ascoldo e Dir por volta de 860. Conforme a Crônica Nestoriana, a elite do principado era formada, de início, por varegues provenientes da Escandinávia que foram mais tarde assimilados à população local de modo a formar a dinastia ruríquida.

         A Rússia de Kiev era formada por diversos domínios governados por príncipes ruríquidas aparentados. Kiev, o mais influente de todos os domínios, era cobiçada pelos diversos membros da dinastia, o que levava a enfrentamentos frequentemente sangrentos. A Era Dourada do principado coincide com os reinados de Vladimir, o Grande (980 – 1.054), que viu o principado atingir o zênite cultural e militar.

         No século XII ocorreu um processo de fragmentação, apesar dos esforços em contrário durante o reinado de Vladimir II Monômaco (1.113 – 1.125) e de seu filho Mistislau I (1.125 – 1.132), após a morte daquele último, o território se desintegrou, com o surgimento de principados separados com sede em Kiev, Czernicóvia, Galícia e Vladimir-Susdália.

         A invasão tártara-mongol do século XIII conferiu ao principado o golpe de misericórdia, do qual nunca se recuperaria.


A Comunidade Polaco-Lituana (1.300 – 1.600)


         Na região correspondente ao atual território da Ucrânia, sucedeu a Rússia de Kiev os Principados de Galícia e de Volínia, posteriormente fundidos no Estado de Galícia-Volínia. Em meados do século XIV, o Estado foi conquistado por Casimiro IV da Polônia, enquanto que o cerne da antiga Rússia de Kiev – inclusive a cidade de Duque Jagelão da Lituânia com a Rainha Edviges da Polônia pôs sob controle dos soberanos lituanos a maior parte do território ucraniano (Czernicóvia, Novogárdia, Sevéria, Podólia, Kiev e uma grande parte da Volínia.


         Nessa época, a parte, a parte da Ucrânia (incluindo a Crimeia) era regida pelo Canato da Crimeia,  enquanto que as terras a oeste dos Cárpatos eram dominadas pelos magiares desde o século XI. No século XV, o povo ucraniano se distingue dos outros povos eslavos orientais (exemplo, russos e bielorrussos), que tiveram origem comum na Rússia de Kiev, eram o povo que habitava a região de fronteira (Krai) com os poloneses.

         Por força da União de Lublim, de 1569, que criou a Comunidade Polaco-Lituana, uma porção considerável do território ucraniano passou do controle lituano para o polonês, transferido para a cora da Polônia. Sob pressão de um processo de “polonização”, a maior parte da elite rutena (isto é, eslava ou eslavizada, mesmo que de origem lituana) converteu-se ao catolicismo. O povo, porém, manteve-se fiel à Igreja Ortodoxa, o que levou ao surgimento de tensões sociais demonstradas, por exemplo, pela União de Brest, de 1596, pela qual Sigismundo III Vasa tentou criar uma Igreja Católica Grega Ucraniana vinculada à Igreja Católica Romana. Os plebeus ucranianos, vendo-se sem a proteção da nobreza rutena – cada vez mais convertida ao catolicismo romano – voltou-se para os cossacos (fervorosamente ortodoxos) em busca de segurança.

Os Cossacos

         Os cossacos em sua origem eram servos fugitivos de origem russa ou polonesa que se estabeleceram na Ilha de Hortitsa (ou Khortysia) no Rio Dniepre, que entravam em constantes conflitos com as autoridades polonesas.

         Em meados do século XVII, já existia um quase-Estado cossaco, o Zaporozhian Sich, foi criado pelos cossacos do Dniepre e pelos camponeses rutenos que fugiam da servidão polonesa. A Polônia não tinha o controle efetivo daquela área, hoje no centro da Ucrânia, que se tornou, então, um Estado autônomo militarizado, ocasionalmente aliado à Comunidade. Entretanto, a servidão do campesinato pela nobreza polonesa, a ênfase da economia agrária da Comunidade na exploração na exploração da mão-de-obra servil e, talvez a razão mais importante, a supressão da fé ortodoxa terminaram por afastar os cossacos e a Polônia. Assim, os cossacos voltaram-se para a Igreja Ortodoxa Russa, o que levaria eventualmente à queda da Comunidade Polaco-Lituana.

         Em 1648, os cossacos, liderados por Bogdán Jmelnitski (ou Khmelnitski), deram início a uma grande rebelião (Insurreição de Khmelnnitski contra o Rei João II Casimiro, que levou à partilha da Ucrânia entre a Polônia e a Rússia, consolidada pelo Tratado de Pereiaslav (1654), no qual o czar se comprometeu a proteger o leste da Ucrânia dos poloneses.

         Na segunda metade do século XVIII, o sul da Ucrânia tornou-se uma das principais fontes de trigo para o Império Russo. Em 1783, o Canato da Crimeia foi anexado pela Rússia, que encerrou a dominação tártara na região.

         Entre 1793 e 1795 ficou definida a partilha da Polônia entre a Prússia, a Áustria e a Rússia, que ficou inicialmente com os territórios situados a leste do Rio Dniepre, enquanto que a Áustria ficou com a Ucrânia Ocidental (com o nome de província da Galícia).

         Em 1796, a Rússia passou a dominar também territórios a oeste do Rio Dniepre, região chamada de “Nova Rússia”.

        Em que pese o fato de que as promessas de autonomia da Ucrânia conferidas pelo Tratado de Pereiaslav nunca se materializaram, os ucranianos tiveram um papel importante no seio do Império Russo, participando das guerras contra as monarquias europeias orientais e o Império Otomano e ascendendo por vezes aos mais altos postos da administração imperial e eclesiástica russa. Posteriormente, o regime czarista passou a executar uma dura política de “russificação”, proibindo o uso da língua ucraniana nas publicações e em público.

        A Ucrânia ficou sendo parte do Império Russo, ambos os países falavam e escreviam em russo, demonstrando cada vez mais a sobreposição linguística, histórica e cultural da Ucrânia em detrimento da Rússia.

         Nos séculos XVIII e XIX, o território que hoje corresponde à Ucrânia foi dividido entre a Polônia e o Império Russo e só mais tarde, na Primeira Guerra Mundial, emergiu um movimento de autodeterminação ucraniana, responsável por uma declaração de independência que durou pouco, de 1917 a 1920, sendo que após 1922 o país foi incorporado à União Soviética.

A Partilha e o Advento dos Soviéticos


         Por meio do Tratado de Brest-Litovski, assinado no início de 1918, a Rússia Soviética abriu mão de exercer soberania sobre grande parte do território ucraniano, mas esse Tratado foi anulado com a derrota dos Impérios Centrais, ao final da Primeira Guerra Mundial, e o território passou a ser disputado na Guerra Polaco-Soviética.

         O colapso dos Impérios Russo e Austríaco após a Primeira Guerra Mundial, bem como a Revolução Russa de 1917, permitiram o ressurgimento do movimento nacional ucraniano em prol da autodeterminação em boa parte da Ucrânia.

         Em fevereiro de 1917, com o fim do czarismo, o poder começou ser disputado entre o Governo Provisório de São Petersburgo e a Rada Central de Kiev. Em dezembro, após a tomada do poder pelos bolcheviques, o primeiro Congresso dos Sovietes da Ucrânia proclamou o domínio sobre as regiões mais a leste da Ucrânia, com sede em Carcóvia. Por outro lado, a Rada se aliou às tropas austro-alemãs que invadiram o país, na primavera de 1918.


         Até 1920, a Ucrânia foi o campo de batalha da guerra entre o governo soviético e seus inimigos internos e externos, com o fracasso polonês na Ofensiva de Kiev (1920), ato final da Guerra Polaco-Soviética, em março de 1921, foi celebrado a Paz de Riga, entre a Polônia e os bolcheviques, que voltou a dividir a Ucrânia: a porção ocidental foi incorporada à nova Segunda República Polonesa e a parte maior, no centro e no leste, transformaram-se na República Socialista Soviética da Ucrânia, posteriormente unida à União das Republicas Socialistas Soviéticas, quando esta foi criada, em dezembro de 1922.

 

       O ideal nacional ucraniano sobreviveu durante os primeiros anos sob os soviéticos. A cultura e a língua ucranianas conheceram  um florescimento quando da adoção da política soviética de nacionalidades. Seus ganhos foram postos a perder com as mudanças políticas dos anos 1930.

         A industrialização soviética teve início da Ucrânia a partir do final dos anos 1920, o que levou a produção industrial do país a quadruplicar nos anos 1930. O processo impôs um custo elevado ao campesinato, demograficamente a espinha dorsal da nação ucraniana. Para atender a necessidade de maiores suprimentos de alimentos e para financiar a industrialização, Stálin estabeleceu um programa de coletivização da agricultura pelo qual o Estado combinava as terras e rebanhos dos camponeses em fazendas coletivas. O processo era garantido pela atuação dos militares e da polícia soviética (OGPU)[2]: os que resistiam eram presos e deportados. Os camponeses viam-se obrigados a lidar com os efeitos devastadores da coletivização sobre a produtividade agrícola e as exigências de quotas de produção ampliadas. Tendo em vista que os integrantes das fazendas coletivas não estavam autorizados a receber grãos até completarem as suas impossíveis quotas de produção, a fome tornou-se generalizada. Esse processo histórico conhecido como Holodomor, levou sete milhões de pessoas (25% da população ucraniana) a morrer de fome.

         Em relação ao Holodomor existem várias controvérsias. Há historiadores que questionam o modo como foi tratado esse fato histórico pelo ocidente, principalmente pelos nazistas. Existem relatos em que o número de mortos na Ucrânia nos anos iniciais da década de 1930 iriam de três milhões até 17 milhões.

         Alguns acusam Stálin e a coletivização forçada, outros colocam que a resistência e o boicote dos proprietários de terras (kulaks)[3] à coletivização e questões climáticas levaram à essa grande mortandade.

         Na época, os soviéticos acusaram a elite política e cultural ucraniana de “desvios nacionalistas”, quando as políticas de nacionalidades foram revertidas no início dos anos 1930. Duas ondas de expurgos (1929 – 1934 e 1936 – 1938) resultaram na eliminação de quatro quintos da elite cultural da Ucrânia, fato que também recebe contestação de vários historiadores.

A Segunda Guerra Mundial

         Em setembro de 1939, como resultado de cláusulas secretas do pacto de não-agressão assinado em 1939 entre a Alemanha e a URSS, Ucrânia Ocidental, e da Invasão da Polônia pela Alemanha, que destruiu o poderio militar daquele país, ocorreu também a invasão soviética da Polônia, que ampliou o território da Ucrânia.

         Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns membros do subterrâneo nacionalista ucraniano lutaram contra nazistas e soviéticos, indistintamente, enquanto outros colaboravam com ambos os lados. Em 1941, os invasores alemães e seus aliados do Eixo avançaram contra um desesperado Exército Vermelho. No cerco de Kiev, a cidade foi designada pelos soviéticos como “Cidade Heróica” pela feroz resistência do Exército Vermelho e da população local. Mais de 660 mil soldados soviéticos foram capturados ali.

         De início, os alemães foram recebidos como libertadores por muitos ucranianos nacionalistas, especialmente na Ucrânia Ocidental, que havia sido ocupada pelos soviéticos apenas em 1939. Entretanto, o controle alemão sobre os territórios ocupados não se preocupou em explorar o descontentamento ucraniano com as políticas soviéticas; ao revés, manteve as fazendas coletivas, executaram uma política de genocídio contra os judeus e de deportação para trabalhar na Alemanha. Dessa forma, a maioria da população nos territórios ocupados passou a opor-se aos nazistas.

        As perdas totais civis durante a guerra e a ocupação alemã na Ucrânia são estimadas entre cinco e oito milhões de pessoas, inclusive mais de meio milhão de judeus. Dos onze milhões de soldados soviéticos mortos em batalha, cerca de um quarto eram ucranianos étnicos.

         Com o término da Segunda Guerra Mundial, as fronteiras da Ucrânia soviética foram ampliadas na direção oeste, unindo a maior parte dos ucranianos sob uma única entidade política. A maioria da população não-ucraniana dos territórios anexados foi deportada.

Anexação da Crimeia

         No final de 1953, teve início a construção de um sistema de irrigação levando a água do lago da hidrelétrica de Kakhovka para o norte da Crimeia, para facilitar a administração dessa construção, foi sugerido que a Crimeia passasse a ser parte da República Socialista Soviética da Ucrânia.

         Em fevereiro de 1954, khrushchov, aproveitando também a ocasião das comemorações dos 300 anos do Tratado de Pereiaslav, acatou a sugestão, e a Crimeia deixou de ser parte da República Socialista Federada Soviética da Rússia, para passar a integrar a República Socialista Soviética da Ucrânia.

Acidente Nuclear de Chernobil

        Em 26 de abril de 1986, ocorreu o acidente nuclear de Chernobil, a 130 Km ao norte de Kiev, considerado o mais grave acidente nuclear da história, que afetou fortemente cerca de 600 mil habitantes.

         Até 1993, a causa de pelo menos sete mil mortes era atribuídas às elevadas doses de radiação recebida, além disso, 135 mil pessoas foram evacuadas. O reator foi revestido com uma camada de concreto de vários metros de espessura, formando uma estrutura apelidada de sarcófago. A nuvem radioativa de Chernobil afetou a Ucrânia, a Bielorrússia, a Rússia, a Polônia e partes da Suécia e da Finlândia. Nos anos seguintes, pesquisadores estrangeiros na área registraram um aumento de casos de câncer e outras doenças associadas à radioatividade.

Independência 

        Após 1985, com a subida de Mikhail Gorbachev ao comando da URSS, teve início a Perestroika, e nacionalistas ucranianos e comunistas fundaram o Movimento Popular Ucraniano pela Perestroika (MPUP), que reivindicava uma maior autonomia econômica e política e venceu as eleições legislativas de março de 1990.

         Em 16 de julho de 1990, o Soviete Supremo (Parlamento) da Ucrânia proclamou a soberania da república.

         Em 24 de agosto de 1991 foi aprovada a Declaração de Independência e foi convocado um plebiscito para ratificá-la, que ocorreu em dezembro de 1991, no qual 90% dos votos foram favoráveis à ratificação, no mesmo dia, Leonid Kraychuk (ex-primeiro-secretário do Partido Comunista da Ucrânia) foi eleito presidente com 60% dos votos.

         A distribuição de votos das eleições presidenciais da Ucrânia de 1.º de dezembro de 1991 foi essa: Leonid Kravchuk – 19.420.727 votos (61,59%) – Viacheslav Chornovil – 7.420.727 votos ((23,27%).

         Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Ucrânia, da Federação Russa e da Bielorrússia declararam o fim da URSS e estabeleceram a Comunidade de Estados Independentes (CEI).


 
        No início de 1992, o governo ucraniano anunciou a liberação de preços, criou uma nova moeda e criou incentivos para o investimento estrangeiro.

         Em 5 de maio de 1992, a Crimeia declarou a independência, mas cedeu às pressões de Kiev e cancelou a declaração em troca da concessão de autonomia econômica.

         Em junho de 1992, a Rússia cancelou o decreto de 1954, que cedeu a Crimeia para a Ucrânia e exigiu a sua devolução.

         Em junho de 1993, a Rada Suprema decidiu que pertenceria à Ucrânia todo o arsenal nuclear da extinta URSS estacionado naquele país e, desse modo, a Ucrânia tornou-se a terceira potência nuclear do mundo. Nessa época de crise econômica, Leonid Kutchma renunciou ao cargo de primeiro-ministro.

         Em setembro de 1993, a Ucrânia cedeu à Rússia parte da Frota do Mar Negro correspondente à Ucrânia, como pagamento de dívidas pelo fornecimento de petróleo e gás. Além disso, foi firmado um convênio de cooperação para desmontar poderosos mísseis intercontinentais que a Ucrânia queria manter como garantia contra possíveis projetos expansionistas russos. A oposição denunciou o acordo em Kiev.

         Em 26 de junho de 1994, houve eleições em primeiro turno e em 10 de julho de 1994 em segundo turno que foram as primeiras eleições presidenciais na era pós-soviética, na qual o ex-primeiro-ministro Leonid Kutchma derrotou o então presidente Leonid Kraychuk com 52% contra 45% no primeiro turno e 57,7% contra 38% dos votos no segundo turno. Kutchma confirmou a sua intenção de reforçar os laços com a Rússia e ingressar na união econômica da CEI.

         Em 1997, Pavlo Lazarenko renunciou ao cargo de primeiro-ministro, em meio a denúncias de corrupção, e foi substituído por Valery Pustovoytenko. Nas eleições parlamentares de março de 1998, o Partido Comunista da Ucrânia ganhou 113 assentos (24,7%), estabelecendo-se, de fato, uma maioria parlamentar para a esquerda e centro-esquerda.

         Em 14 de dezembro de 1999, Kuchma foi reeleito no segundo turno das eleições presidenciais, com 56% dos votos e com a promessa de continuar as reformas de mercado e com a aproximação com o ocidente, e para isso designou Viktor Yushchenko, então chefe do Banco Nacional da Ucrânia, como primeiro-ministro. Em fevereiro de 2000, Yushchenko promete reestruturar a dívida por meio de uma política fiscal austera e um decidido programa de privatizações.

         Em abril de 2000 foi abolida a pena de morte, numa medida de convergência com as diretrizes do Conselho Europeu. Em abril de 2001, o parlamento substituiu o primeiro-ministro Yushchenko por Anatoly Kinakh.

         Em novembro de 2004, a Comissão Eleitoral Central da Ucrânia declarou que o candidato pró-russo Viktor Yanukóvytch teria vencido as eleições presidenciais por 49,6% dos votos, mas a maioria dos observadores internacionais denunciou irregularidades no processo eleitoral.

         Em decorrência de protestos em massa de partidários de Yushchenko (Revolução Laranja), em 3 de dezembro de 2004, a Suprema Corte declarou inválidos os resultados do segundo turno e determinou nova votação em 26 de dezembro de 2004, que foi vencida por Viktor Yuschchenko, onde a distribuição de votos no segundo turno das eleições ficou com o resultado de 15.115.712 (51,99%) para Viktor Yushchenko e 12.481.266 (44,20%) para Viktor Yanukovych. 

        Em setembro de 2005, a primeira-ministra Yulia Timosshenko foi substituída por Yurii Yekhanurov. Em janeiro de 2006, a Rússia cortou o fornecimento de gás à Ucrânia, que se recusava a aceitar um aumento de preço de 460%. Para as autoridades ucranianas, o aumento seria uma retaliação por tentativas para se tornar mais independente de Moscou e desenvolver laços mais estreitos com a Europa.

         Em março de 2006, foram realizadas eleições parlamentares, nas quais o Partido das Regiões liderado por Viktor Yanukóvytch conquistou 186 assentos de um total de 450. Em segundo lugar ficou o “Bloco Timoshenko”, com 129 assentos, enquanto que o “Nossa Ucrânia” liderado por Yushchenko, obteve apenas 81 assentos. Em agosto, Viktor Yanukóvytch foi nomeado como primeiro-ministro, à frente de uma coalizaçã pró-Rússia.

         Em sete de fevereiro de 2010, em votação do segundo turno das eleições presidenciais, Viktor Yanukóvych saiu vencedor com 12.481266 votos (48,95%), contra Yulia Tymoshenko com 11.593.357 votos (45,47%). 

        Em 1914, a chamada Revolução Ucraniana de 2014, também batizada de Revolução da Dignidade teve início em Kiev, a partir das violentas manifestações de protesto, conhecidas como Euromaidan[4], contra o governo do presidente eleito, Viktor Yanukovych.

         As eleições presidenciais ucranianas de 2014 foram realizadas em 25 de maio, resultando na eleição de Petro Poroshenko como Presidente da Ucrânia. Originalmente programado para ocorrer em 29 de março de 2015, a data foi alterada após a revolução ucraniana de 2014.

         Poroshenko venceu as eleições com 54,7% dos votos, o suficiente para vencer em um único turno. Sua concorrente mais próxima foi Yulia Tymoshenko, que teve 12,81% dos votos. A Comissão Eleitoral Central relatou a participação eleitoral de apenas 60%, excluindo as regiões que não estavam sob controle do governo.

         As eleições não foram realizadas em toda a Ucrânia. Durante a crise da Crimeia de 2014, a Ucrânia perdeu o controle sobre a Crimeia, que foi anexada unilateralmente pela Rússia em março de 2014. Como resultado, não foram realizadas eleições na Crimeia. Em Donbass, apenas 20% das urnas estavam abertas devido a ameaças e violência de separatistas pró-Rússia.

Eleição de 2019

         O primeiro turno da eleição presidencial ucraniana de 2019 foi realizado em 31 de março, como parte das eleições gerais naquele país. Neste pleito, os cidadãos ucranianos aptos a votarem, escolheram o sucessor do presidente Petro Poroshenko ou a permanência do mesmo, já que este também estava concorrendo para permanecer no posto de presidente do país. Nenhum dos candidatos recebeu mais do que a metade dos votos válidos, e um segundo turno foi realizado em 21 de abril, onde ocorreu a vitória de Volodymyr Zelensky, que recebeu 13.506.470 votos (73,22%) e, deste modo foi eleito presidente da Ucrânia.

Quem é Volodymyr Zelensky

        Conhecido entre os ucranianos como ator e humorista, aos 44 anos, Volodymyr Zelensky foi eleito em 2019, como novato na política. Em sua posse, ele dissolveu o Parlamento Ucraniano e prometeu dialogar com a Rússia somente após a devolução de territórios ocupados. 

        Zelensky nasceu na cidade do centro da Ucrânia de Kryvy Rig, filho de pais judeus, se formou em direito pela Universidade Nacional Econômica de Kiev, mas nunca seguiu carreira jurídica. Mas ficou conhecido por seus monólogos no teatro e, curiosamente, fez sucesso na TV na série “Servo do Povo”, na qual interpretou um professor de história que chegou ao cargo de presidente do país de forma inesperada. O nome “Servo do Povo”, inclusive, foi dado ao seu partido como homenagem ao programa. Zelensky também já havia atuado em filmes com bastante popularidade na Ucrânia e na Rússia.

        Ao lançar sua candidatura para a presidência, inicialmente Zelensky não foi levado a sério. No entanto, ganhou força com uma campanha focada principalmente nas redes sociais, na qual evitou comícios públicos e se comunicou com eleitores principalmente via internet.

         Como candidato, Zelensky procurou ganhar capital político com a desilusão dos eleitores com a elite política, considerada corrupta e ineficaz, e se apresentou como uma alternativa ao establishment. Ele, no entanto, não apresentou suas políticas nem informou quem iria nomear para cargos importantes. Zelensky prometia combater a corrupção, aproximar a Ucrânia dos países do Ocidente e pressionar a Rússia a deixar áreas ocupadas do território ucraniano.

         Quando tomou posse, em maio de 2020, o presidente ucraniano anunciou a dissolução do Parlamento já em seu discurso inaugural. A medida, legalmente controversa, foi tomada para que ele pudesse convocar eleições legislativas antecipadas. O objetivo era obter maioria no Parlamento e formar um governo que conseguisse aprovar suas promessas de campanha.

         Na posse, ele também afirmou que sua primeira tarefa seria acabar com o conflito no leste do país, onde estão as regiões separatistas de maioria russa do Donbass e Lugansk que tentam proclamar independência, com o apoio de Moscou.

        Zelensky também prometeu “proteger a soberania e a independência da Ucrânia” e disse que só dialogaria com a Rússia após a devolução de prisioneiros de guerra e do território ucraniano ocupado.

         Porém, o momento de maior destaque internacional de Zelensky, até o ápice da tensão com a Rússia, havia sido em 2019, quando ele acabou envolvido com o processo de impeachmente aberto contra Donald Trump no parlamento estado-unidense. Às vésperas da corrida eleitoral, Trump pediu a Zelensky que elaborasse um dossiê sobre o filho de seu rival Joe Biden, que teve negócios na Ucrânia. 

       O ex-presidente Trump sugeriu que poderia ajudar os ucranianos com US$ 400 milhões em ajuda militar. Trump sofreu seu primeiro impeachment por isso, mas o Senado dos Estados Unidos, naquele momento com maioria do Partido Republicano, não o afastou do cargo.


Guerra da Ucrânia

           Entre as principais razões apontadas para a Rússia lançar operações contra a Ucrânia estão:

1)        A expansão da OTAN pelo Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia à aliança militar, a contestação ao direito da Ucrânia à soberania independente da Rússia e o desejo de Vladimir Putin de restabelecer a zona de influência da União Soviética. Por um lado, a Rússia diz querer impedir o que classifica de cerco à sua fronteira com a possível adesão da Ucrânia à OTAN, aliança militar de 30 países, que se expandiu pelo Leste Europeu, incluindo hoje 14 países do ex-bloco comunista.


2)    A Rússia acusa o governo ucraniano de genocídio contra ucranianos de origem étnica russa que vivem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk. Alega que operação especial tenta "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, o que pode servir de justificativa para uma eventual deposição do atual governo ucraniano.


3)    Ucrânia e outros observadores veem na guerra uma tentativa da Rússia restabelecer a zona de controle e influência da antiga União Soviética, algo visto como desrespeito à soberania da Ucrânia, que deveria ter o direito de decidir seu destino e suas alianças.




[1] Godos - era um povo germânico que segundo o historiador Jordanes surgiu na região meridional da Escandinávia, migrando para o sul, esse povo que originalmente era unificado acabou por dividir-se em dois ramos: os visigodos (que significava “godos do oeste”) e os ostrogodos (que significava “godos do leste”).

[2] OGPU – Direção Política Estatal Unificada – Obedinénnoe Gossudártsvenoe Politítcheskoe Upravlénie – criada em 15 de novembro, veio centralizar num só órgão as competências pela segurança de todo Estado Soviético, a luta contra atividades contrarrevolucionárias, espionagem, etc. 

[3] Kulak – termo usado pelo governo soviético para se referir a camponeses relativamente ricos do Império Russo que possuíam extensas fazendas e faziam uso de trabalho assalariado em suas atividades, sendo assim considerados pequenos burgueses. A tomada de terras no processo de socialização dos meios de produção na Rússia gerou resistência, sobretudo desta pequena burguesia. Essa oposição ao processo de coletivização foi tão grande que só na Ucrânia foram registrados quase um milhão de atos contrários, só no ano de 1930.

 

[4] Euromaidan – literalmente “Europraça” ou “Esplanada da Europa”, também batizada de “Primavera Ucraniana, foi uma onda de manifestações e agitação civil, na Ucrânia, entre 2013 e 2014. Os manifestantes exigiam maior integração europeia, além de providências quanto à corrupção no governo e a eventuais sanções por parte da Rússia. Houve dispersão violenta dos manifestantes em várias ocasiões e represálias à ativistas da oposição, políticos dirigentes e a Igreja Greco-Católica Ucraniana, aconteceram principalmente depois do cancelamento de leis que restringiam as liberdades civis. Ocorreram várias ocupações das administrações locais, levando à proibição do Partido das Regiões pelos governos locais sob o controle de ativistas antigovernamentais. Havendo no final um acordo para a realização de eleições antecipadas, formação de um governo de transição e mudanças na Constituição, onde os opositores assumem o controle do país e o presidente Viktor Yanukovych foge para a Rússia e a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko é libertada, havendo intervenção da Rússia na Crimeia

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