Honoré de Balzac – Nascido em Tours,
França em 20 de maio de 1799 e falecido em Paris em 18 de agosto de 1850. Foi
um prolífico escritor francês, notável por suas agudas observações
psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna. Sua
magnun opus, “A Comédia Humana”, consiste de 95 romances, novelas e contos que
procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular
a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.
Entre seus romances mais famosos,
destacam-se “A Mulher de Trinta Anos” (1831 e 1832), Eugène Grandet (1833), “O
Pai Goriot” (1834), “O Lírio do Vale” (1835), “As Ilusões Perdidas” (1839), “A
Prima Bette” (1846) e “O Primo Pons” (1847). Desde “Le Denier Chouan” (1829),
que depois se transformaria em “Les Chouans” (1829, na tradução brasileira “A
Bretanha”), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da
hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal
burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras
discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais,
como em “Os Camponeses”, de 1844. Além de romances, escreveu também “estudos
filosóficos” (como “A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a
“Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).
Balzac tinha uma enorme capacidade de
trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava. De certo modo,
as suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou
incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust,
Zola, Dickens, Dostoievski, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo
Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante
da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre
caso amoroso, desde 1832, com a polaca Eweline Hanska, com quem veio a se casar
pouco antes de morrer.
Família
Honoré de Balzac nasceu de uma família
que se esforçou para ganhar respeito. Seu pai, nascido Bernard-François Balssa,
era um dos onze filhos de uma pobre família de Tarn, região sul da França. Era
inicialmente um modesto funcionário, mas em 1760, partiu para Paris com apenas
um louis d’or no bolso, decidido a melhorar sua posição social. Em 1776,
tornou-se maçom e secretário do Conselho do Rei, mudando seu nome para o de uma
antiga família de nobres, adicionando, sem nenhuma causa oficial, o
aristocrático “de” diante do sobrenome. Após o Terror (1793 e 1794)
estabeleceu-se em Tours para coordenar suprimentos do exército.
A mãe de Balzac, nascida
Anne-Charlotte-Laure Sallambier, era burguesa, e cresceu em uma rica família de
merceeiros (pequenos comerciantes) em Paris. A riqueza de seus parentes foi um
ator considerável na troca das alianças: ela tinha somente 18 anos quando se
casou com o cinquentão Bernard-François. V.S. Pritchett, crítico literário
britânico, certa vez escreveu: “Com certeza ela sabia que tinha sido dada a um
velho marido como recompensa pelos serviços que ele havia feito a um amigo da
família e que o capital estava do lado dela. Ela não era apaixonada por seu
esposo.
Honoré (assim chamado por conta de
Santo Honoré de Amiens, cujo dia é comemorado em 16 de maio, quatro dias antes
do aniversário de Balzac) era à época o segundo filho nascido dos Balzacs;
exatamente um ano antes, nascia Louis-Daniel, mas ele só chegou a viver durante
um único mês. Posteriormente, um terceiro filho nasceu, chamada Simone de
Hudsone. As irmãs Laure e Laurence nasceram em 1800 e 1802, e seu irmão
Henry-François em 1807.
Primeiros Anos
Assim que nasceu, Balzac foi enviado a
uma ama de leite; no ano seguinte, ele e sua irmã Laure passaram quatro anos
longe de casa. Embora o livro “Emílio, ou Da Educação” do filósofo genebrino
Jean-Jacques Rousseau houvesse convencido milhares de mães da época a
amamentarem seus próprios filhos, ainda era bem comum entre as famílias de
classes média e alta o envio de bebês às amas de Leite. Quando os pequenos
voltaram para casa, os mantiveram friamente afastados de seus pais, o que deve
ter afetado o autor profundamente: sua novela “Le LysdanslaVallée” (“O Lírio no
Vale”) de 1835 apresenta uma cruel governanta, chamada Miss Caroline, baseada
em sua própria babá.
Aos 8 anos, Balzac foi enviado ao
tradicional e rigoroso colégio oratoriano de Vendôme, onde estudou por sete
anos. Seu pai, procurando transmitir a mesma aparência de trabalhador que lhe
garantiu a estima da sociedade, enviava intencionalmente pouco dinheiro ao
garoto, e isso o fez ser objeto de chacota entre seus colegas de classe mais
ricos.
O menino tinha dificuldades de
adaptação ao estilo da rotina de aprendizagem da escola. Por conta disso, não
raro era enviado ao “nicho”, um castigo de salas reservadas a alunos
desobedientes. Alguns biógrafos contam que o zelador da escola, quando
perguntado muitos anos mais tarde se se lembrava de Honoré quando pequeno,
respondeu: “Lembrar M. Balzac? Como se esquecer? Eu tive a honra de escolta-lo
para a masmorra mais de uma centena de vezes!” Ainda assim, os tempos que
passava sozinho lhe propiciaram a liberdade de ler todos os livros que
encontrava pela frente.
Balzac usou essas cenas de sua infância
– assim como fazia com os vários aspectos de sua vida e das vidas de quem o
cercava – em “La Comédie Humaine”. Seu tempo em Vendôme é refletido em “Louis
Lambert” de 1832, romance sobre um jovem garoto que estuda num colégio
oratoriano em Vendôme. O narrador diz: “Devorava livros de qualquer espécie,
alimentando-se indiscriminadamente de obras sobre religião, história e
literatura, filosofia e física. Ele havia me dito que encontrava prazer
indescritível ao ler dicionários, por falta de outros livros”.
Contudo, embora a sua mente e espírito
fossem bem nutridos, o mesmo não poderia ser dito de seu corpo. Muitas vezes
Balzac ficava doente, até que uma vez, finalmente, o diretor da escola contatou
sua família com notícias de uma “espécie de coma”. Quando voltou para casa, a
sua avó soltou: “Voilà donc comme le collège nous renvoie les jolis que
nous lui en voyons!” (“Olha só como a academia nos desenvolve os bonitos que os
enviamos!”). O próprio Balzac atribuiu sua coma à sua condição de
“congestionamento intelectual”, mas o seu confinamento prolongado no “nicho”
certamente era outro grande fator.
Enquanto isso, paradoxalmente, o seu
pai havia escrito um tratado sobre “Os Meios de Prevenir Roubos e Assassinatos,
e de Restaurar os Homens que Cometem Crimes a um Papel Útil na Sociedade”, no
qual ele mostrava desdém pelos métodos de prisão, como forma de prevenção da
criminalidade.
Adolescência
Em 1814, a família Balzac mudou-se para
Paris. Honoré foi enviado a professores particulares e escolas pelos próximos
dois anos e meio. Este foi um momento infeliz de sua vida, durante o qual ele
tentou o suicídio em uma ponte que fica sobre o rio Loire. Em 1816, Balzac
entrou na Sorbonne, onde teve aula com três professores famosos: François
Guizot, que mais tarde se tornou primeiro-ministro, lecionava história moderna;
Abel-François Villemain, recém-chegado do Collège Charlemagne, realizava
palestras sobre literatura francesa e literatura clássica para cativar
audiências, e Victor Cousin, o mais influente de todos, que dava aula sobre
filosofia e que incentivava seus alunos a pensar de forma independente.
Uma vez concluídos os estudos, Balzac
foi persuadido pelo pai a segui-lo no direito; por três anos, treinou e
trabalhou como um estagiário no escritório de Victor Passes, amigo próximo da
família. Durante essa época, ele começou a entender os meandros da natureza
humana. Em seu romance “Le Notaire” de 1840, escreve que um jovem na profissão
legal vê “as rodas oleosas de cada fortuna, disputa horrenda de herdeiros sobre
corpos ainda não totalmente frios, e o coração humano às voltas com o Código
Penal”. Em 1819, Passes ofereceu a Balzac sua assessoria, mas o seu aprendiz
estava suficientemente cheio da lei. Desesperava-se com a ideia de ser “um
funcionário, uma máquina, um mercenário numa escola de equitação, comendo e
bebendo e dormindo em horários fixos (...)” e por isso dizia: “Eu seria como
todos os outros. E é isso que essas pessoas chamam de vida, essa vida no
rebolo, fazendo sempre a mesma coisa... Tenho fome e nada me oferecem para
satisfazer meu apetite”. Aqui, anuncia sua intenção de ser escritor e a família
combate o sonho.
A renúncia à oferta do senhor Passes
causou grande discórdia na casa de Balzac, mas Honoré não foi definitivamente
abandonado. Em vez disso, em abril de 1819, uma vez que a família muda-se para
uma cidade mais modesta, autorizou-o a viver na capital francesa, de uma forma
que o crítico inglês George Saintsbury descreveria, “em um sótão mobiliado da
formas mais espartana possível com um subsídio de fome e uma mulher idosa para
cuidar dele”, enquanto o resto da família se mudava para uma casa a 20 milhas
(32 quilômetros) nos arredores de Paris.
Primeiro Esforços Literários
O primeiro projeto literário de Balzac
foi um libreto para uma ópera cômica chamada “Le Corsaire”, baseado no “The
Corsair” de Lord Byron. Percebendo, no entanto, que teria dificuldades em
encontrar um compositor, voltou-se para outras atividades.
Em 1820, já havia completado, em
versos, os cinco atos da tragédia Cromwell. Quando terminada, o seu revisor foi
um homem chamado Andrieux, ex-tutor de Eugène Surville, irmã de Balzac, e que no
manuscrito escreveria: “O autor pode fazer tudo que quiser, exceto literatura”.
Apesar desse comentário, e apesar desse trabalho ser fraco em comparação com as
suas obras posteriores, alguns críticos de hoje consideram o seu texto de muita
qualidade. Balzac estava convencido a mostrar a obra à seus parentes e, depois
do ponto final, foi à Villeparisis e leu a peça inteira para sua família, que
não se impressionou. Após essa tentativa, iniciou (embora nunca tenha
finalizado) três romances: Sténie, Falthurne e Corsino. A família o considerava
um fracasso e, apesar de o pai lhe cortar a mesada, não desanimou, e viu que
era hora de mudar de gênero.
Em 1821, Balzac conheceu o empreendedor
Auguste Lepoitevin, que convenceu o jovem a escrever contos, que mais tarde seriam
vendidos por ele a editoras. Em seguida, Balzac focou-se em obras mais longas,
e em 1826 já havia escrito nove romances, todos publicados sob pseudônimos para
resguardar seu nome, e alguns produzidos em colaboração com outros autores. O
escandaloso romance Vicairedes Ardennes de 1822, por exemplo, era atribuído a
“Horace de Saint-Aubin” e foi proibido por retratar relações incestuosas e
trazer como personagem um padre casado. Tais dramalhões eram intencionalmente
pobres, destinados sobretudo à venda comercial e à excitação do público. Na
opinião do biógrafo George Saintsbury, “eram curiosamente interessante, quase
atraentemente ruins”. Saintbury refere que Robert Louis Stevenson tentou
dissuadi-lo da leitura dessas obras iniciais de Balzac. O crítico estado-unidense
Samuel Rogers, contudo, nota que “sem a formação que eles deram a Balzac, assim
como a procura de seu caminho à sua concepção madura de romance, e sem o hábito
de juventude de escrever sob pressão, dificilmente se pode imaginar sua
produção de “La Comédie Humaine”. Outro biógrafo, Graham Robb, sugere que, assim
que descobriu o romance, Balzac descobriu a si mesmo.
Ainda durante essa época, Balzac
escreveu dois panfletos de apoio à primogenitura e à Companhia de Jesus. Este
último, em relação à ordem dos jesuítas, demonstra o interesse que manteve
durante ao longo de toda a sua vida pela Igreja Católica. Mais tarde, num
prefácio da “La Comédie Humaine”, escreveria: “O cristianismo especialmente o
catolicismo, sendo uma repressão total das tendências depravadas do homem, é o
maior elemento na ordem social”.
“Une Bonne Spéculation”
Em finais da década de 1820, Balzac
também se envolveu em vários empreendimentos comerciais, uma inclinação pela
qual a sua irmã responsabilizou um desconhecido vizinho. O primeiro desses
empreendimentos era editorial e publicou certa vez um volume com clássicos
franceses, incluindo as obras de Molière, a preço de banana. Embora fosse
baratos, o negócio fracassou miseravelmente e muitos dos livros “venderam feito
papel velho”. Balzac teve melhor sorte com a publicação das memórias de
Laure Junot duquesa d’Abrantès, com quem também teve um caso.
Pedindo dinheiro de sua família e de
outras pessoas, Balzac aventurou-se novamente em trabalhos de impressão. No
entanto, a sua inexperiência e a falta de capital causaram de novo sua ruína
nos comércios do setor editorial. Conheceu e se apaixonou-se por Laure de
Berny, mulher casada, inteligente e carinhosa, lhe deu sociedade comercial,
abrindo com ele uma impressora que não tardou a falir e fazer com que seu
relacionamento com Laure tornasse um verdadeiro escândalo para a época. Ele
passou os negócios a um amigo (que fez sucesso com eles), mas levou consigo
várias dívidas por muitos anos. Em abril de 1828, devia cerca de 50 mil francos
à sua própria mãe.
Esta tendência por “une
bonne spéculation” (uma boa especulação) nunca deixou Balzac em paz. Ressurgiu dolorosamente anos mais
tarde, quando, sendo um autor ocupado e de renome, viajou à Sardenha na
esperança do reprocessamento de escória nas minas romanas nessa ilha. No fim de
sua vida, apostou na ideia de cortar 20 mil hectares (81 Km²) de madeira de
carvalho na Ucrânia e transportá-la até à França, para vende-la no país.
“La ComédieHumanie” e o Sucesso Literário
Depois de escrever diversas novelas, em
1832, Balzac concebeu a ideia para uma enorme série de livros que retratariam o
panorama de “todos os aspectos da sociedade”. Quando teve a ideia, Balzac
correu para o apartamento de sua irmã e proclamou: “Estou prestes a me tornar
um gênio”. Embora no início tenha chamado o projeto de “Etudes des Moeurs”
(“Estudos de Boas Maneiras”) mais tarde ganhou o nome de “La Comédie Humaine, e
ele incluiu nesta coleção todas as ficções que ele havia publicado durante sua
vida sob seu nome real. “La Comédie Humanine” era o trabalho da vida de Balzac e
também se tornou sua maior conquista.
Viajou à Bretanha após o fracasso dos
seus negócios e permaneceu com a família de Pommereul nos arredores de
Fougères. Foi ali que ele teve a inspiração de escrever “Les Chouans”, um conto
de amor que dá errado entre as forças monarquistas de Chouannerie. Balzac, que
era defensor da coroa, retratou os contrarrevolucionários de forma simpática –
embora eles sejam o centro das cenas brutais do livro. Este foi o primeiro
livro de Balzac lançado com seu próprio nome e lhe garantiu o que um crítico
chamou de “passagem para a Terra Prometida”. A obra lhe proporcionou o estatuto
de um autor que merecia notabilidade (mesmo que ainda devesse algo a Walter
Scott, escritor de romances históricos) e forneceu-lhe um nome a ser citado nas
rodas literárias e nos salões aristocráticos, além dos pseudônimos que havia
criado no passado.
Logo depois, na época da morte de seu
pai, Balzac escreveu “El Verdugo”, sobre um homem de trinta anos que mata o
próprio pai (Balzac tinha trinta anos na época). Essa foi a primeira obra
assinada como “Honoré de Balzac”. Assim como seu pai, ele adicionou o “de” que
soava aristocrático para ser respeitado na sociedade, mas essa foi uma escolha
baseada em suas habilidades, e não no direito de primogenitura. “A aristocracia
e a autoridade de talento são mais substanciais do que a aristocracia de nomes
e de poderes materiais”, escreveu em 1830. O momento da decisão também foi
significativa. O biógrafo Graham Robb escreve: “O desaparecimento do pai,
coincide com a adoção da partícula nobiliárquica. É uma herança simbólica”. Tal
qual seu pai trabalhou para sair da pobreza e atingir respeito social, Balzac
considerava seu esforço e trabalho como marca de nobreza.
Quando a Revolução de Julho destronou
Carlos X, em 1830, Balzac declarou-se legitimista, apoiando a Casa de Bourbon,
mas com qualificações. Ele pressentia que a nova Monarquia de Julho (que
lograva amplo apoio popular) era desorganizada em seus princípios e que
precisavam de um mediador para manter a paz política entre o rei e as forças
insurgentes. Ele pedia “um homem jovem e vigoroso, que não pertença nem ao
Diretório nem ao Império, mas que esteja encarnado em 1830”. Planejou
candidatar-se, apelando principalmente pelas classes mais altas de Chinon, uma
comuna francesa na região administrativa do Centro no departamento de
Indre-et-Loire.
Mas depois de um acidente quase fatal
em 1832 (em que havia escorregado e rachado a cabeça na rua), Balzac decidiu
não se candidatar às eleições.
“La Peau de Chagrin” (“A Pele Triste”)
experimentou sucesso em 1831 e é uma espécie de fábula sobre um jovem chamado
Raphaël de Valentin, que encontra uma pele de animal que prometia grande poder
e riqueza. O protagonista logra ganhar esses atributos, mas perde a capacidade
de gerenciá-los. No final, a sua saúde começa a falhar e ele é consumido pela
própria confusão. Balzac desejava, com essa trama, testemunhar as voltas
traiçoeiras que a vida dá e seu “movimento de serpentina”. Em 1833, foi lançado
“EugèneGrandet”, seu primeiro romance a figurar entre os mais vendidos da
época. A história de um jovem que herda o espírito de avareza do pai, também
tornou-se um dos livros mais aclamados de sua carreira. A escrita é simples,
mas os personagens (especialmente o protagonista) mostram-se dinâmicos e
complexos.
“Le Père Goriot” (“O Pai Goriot”, 1835)
foi seu próximo grande sucesso, em que Balzac transpõe a história de Rei Lear a
uma Paris da década de 1820, destituída de todo o amor, mas que guardava amor
pelo dinheiro. O fato do autor ter centralizado a figura de um pai na novela se
correlaciona com o fato de que na época era mentor de seu secretário, o jovem
Jules Sandeau, e principalmente porque agora (ao que tudo indica) também já era
pai, de Marie-Caroline, com Maria Du Fresnay. Em 1836, Balzac assumiu o comando
do Chronique de Paris, revista semanal de sociedade e política. Se esforçava
para que suas páginas demonstrassem o máximo de imparcialidade possível e uma
avaliação fundamentada em ideologias diversas. Assim, estava interessado em
qualquer ciência social, política ou econômica, seja de direita ou de esquerda.
A revista faliu, mas, em julho de 1840 fundou outra publicação chamada
Revue Parisienne, que, contudo, durou somente até a terceira edição.
Tais tentativas frustradas de negócios,
acrescidas de suas desventuras já citadas na Sardenha, providenciaram ummilieu (ambiente)
apropriado para escrever o livro de duplo volume “Illusion Perdues” (“Ilusões
Perdidas”, 1843). O romance se foca em Lucien de Rubempré, jovem poeta que se
esforça para ganhar a vida e que fica preso no “pântano” das piores
contradições sociais. Seu inglório trabalho no jornalismo reflete as próprias
tentativas fracassadas de Balzac nessa área. “Splendeurs et
Misères des Courtisanes” (“Esplendores e Misérias de Cortesãs”, 1847) continua a
história de Lucien. Ele está preso por Abbé Herrera (Vautrin) em plano
complicado e desastroso para recuperar o seu status social. O livro é permeado
por uma fenda enorme de tempo: a primeira parte (de quatro) abrange um período
de seis anos, enquanto as duas últimas se concentram em apenas 3 dias.
“Le Cousin Pons” (1847) e “La Cousine
Bette” (1848) contam a história de “Les Parents Pauvres” (Os Parentes Pobres”).
Detalhes sobre testamentos e heranças nestas novelas refletem a experiência que
o autor adquiriu quando era funcionário e estagiário no escritório de advocacia
do amigo de sua família, Victor Passes. A realização desses dois livros foram
significativas porque, nessa época, a saúde de Balzac se deteriorava e quase
não pôde completa-los. Muitas de suas novelas foram inicialmente tornadas em
série, como aconteciam com as de Charles Dickens. O tamanho dessas obras não
era predeterminado. “Illusions Perdues” estendeu a milhares de páginas após o
início numa loja de impressão de uma pequena cidade, enquanto a “La
Fille Aux Yeux D’or” (“A Garota dos Olhos de Ouro”, 1835) nos fornece um imenso
panorama de Paris, embora seja uma novela focada em apenas cinquenta páginas.
Hábitos de Trabalho
São notáveis os hábitos de trabalho em
que se dispunha Balzac – embora não conseguisse trabalhar rapidamente,
esforçava-se com dedicação e foco incríveis. Seu método preferido era comer uma
rápida refeição às cinco ou sei horas da tarde e então dormir até meia-noite.
Depois do descanso, levantava-se na madrugada e escrevia por muito tempo, às
vezes interruptamente, com pausas apenas para tomar algumas xícaras de café
preto, pois, como escreveu, “O café é a bebida que desliza para o estômago e
põe tudo em movimento”. Costumava trabalhar num único trecho por cerca de 15
horas ou mais; chegou a declarar que certa vez trabalhou interruptamente por 48
horas com apenas três horas de descanso
Além disso, realizava revisões
obsessivamente, cobrindo provas de impressão com mudanças e adições a serem
repostas. Por vezes, repetia este processo durante a publicação de um livro e
como resultado criava despesas significativas para si próprio e seu editor. Não
raro o produto final era muito diferente da ideia concebida anteriormente e do
livro original. Embora alguns de seus livros nunca tenham chegado a um estado fina
como “Les Employés” (“Os Funcionários”, 1841), eles não deixam de ser notados
pelos críticos.
Apesar de Balzac ter sido um “eremita
vagabundo”, conseguiu manter-se conectado, e principalmente retratar como
ninguém, o mundo social que alimentava sua escrita. Era amigo de
Theóphile Gautier e Pierre-Marie-Charles de Bernard du Graal de la Vilette, e
conhecia Victor Hugo, a que admirava e escrevia cartas. Não gastava seu tempo
em salões, tampouco em clubes, como faziam muitos de seus personagens
principais. Porque, como dizem os biógrafos e críticos, Balzac não se sentia
confortável nesses lugares, pois “pressentia que seu negócio não era frequentar
a sociedade mas cria-la. Porém, frequentou muitas vezes o Château de Saché,
próxima de sua cidade natal, Tours, e que era a casa de seu amigo Jean
Margonne, amane de sua mãe e pai de seu irmão mais novo. Muitos dos personagens
atormentados de Balzac foram concebidos no quarto do segundo andar. Hoje, este
Château é um museu dedicado à vida do autor.
Casamento e Últimos Anos
Em fevereiro de 1832, Balzac recebeu
uma carta de Odessa, sem remetente e assinada apenas com “L’Étrangère” (“A
Estrangeira”), expressando tristeza pelo cinismo e ateísmo de seu livro “La
Peau de Chagrin” e a imagem negativa que o livro fazia das mulheres. Ele
respondeu comprando um espaço nos classificados da Gazette de France, esperando
que o seu crítico misterioso descobrisse a propaganda. Assim começava uma
correspondência de 15 anos entre Balzac e “o objeto de seus mais doces sonhos”:
Eweline Hanska.
Ela era casada com um homem 20 anos
mais velho, Waclaw Hanski, rico polonês proprietário de terra que vivia em Kiev;
havia sido um casamento de conveniência com o intuito de preservar a fortuna da
moça. Em Balzac, Eweline encontrara uma alma gêmea para seus desejos emocionais
e sociais, uma vez que também aspirava viver entre gente e ruas glamorosas da
capital francesa. A correspondência de ambos revela um intrigante equilíbrio
entre paixão, decência e paciência; enquanto a moça sempre tentava imaginar
realidades alheias, o moço estava determinado em manter o seu rumo,
independente dos truques que tinha para usar.
Para a felicidade de Balzac,
Waclaw Hanski morreu em 1841. Com isso, o admirador de sua viúva finalmente teve
a oportunidade de concretizar mais facilmente os seus sonhos e prosseguir com
seus afetos. Concorrendo com o compositor húngaro Franz Liszt, Balzac a visitou
em São Petersburgo em 1843 e impressionou-se com o que viu. Após uma série de
reveses econômicos, problemas de saúde, e as proibições do czar, ambos
finalmente conseguiram se casar. Em 14 de março de 1850, com a saúde de Balzac
em sério declínio, foram do estado dela em Wierzchownia (povoação de Verkhivnia)
para uma igreja em Berdyczów (cidade de Berdychiv, hoje na Ucrânia) e se
casaram. Essa jornada durou dez horas e resultou em pós inchados na noiva e
problemas cardíacos nos noivos.
Embora tenha se casado tarde, Balzac já
havia escrito dois tratados sobre casamento: “Physiologie du Mariage” e “Scènes
de la Vie Conjugale” (“Fisiologia do Casamento” e “Cenas da Vida Conjugal”).
Ambas as obras sofreram com a falta de conhecimento de primeira mão; como dizem
alguns críticos, “solteiros não podem falar de casamento com muita autoridade”.
Em abril, o casal recém-casado partiu para Paris. A saúde de Balzac piorou
durante o percurso e Eweline escreveu à sua filha que o marido estava “em
estado de extrema fraqueza” e “suando em bicas”. Chegaram na capital em 20 de
maio, no quinquagésimo primeiro aniversário de Balzac.
Cinco meses depois do casamento, em 18
de agosto, Balzac morreu. Sua mãe era a única pessoa que estava com ele, quando
faleceu; madame Hanska tinha ido para a cama. Naquele dia, ele fora visitado
por Victor Hugo, que mais tarde serviu como acompanhante do funeral e que
também encarregou do elogio fúnebre no cemitério.
Balzac está enterrado no
Cimetière du Père Lachaise em Paris. “Hoje”, proferiu Hugo na cerimônia, “nós
temos um povo de preto por causa da morte de um homem de talento; uma nação em
luto por um homem de gênio”. O funeral foi assistido por “quase todos os
escritores de Paris”, incluindo Frédérick Lemaïtre, Gustav Courbet, Dumas père e
Dumas fils. Mais tarde, Auguste Rodin criou uma estátua monumental em homenagem
a Balzac, e que hoje em dia fica próxima do cruzamento da Boulevard Raspail e
BoulevardduMontparnasse. Rodin também retratou o autor das “Comédias Humanas”
em diversas outras esculturas menores.
Estilo
A “Comédie Humaine” ficou inacabada à
época de sua morte – Balzac tinha planos de incluir nesta coleção vários outros
livros, a maioria dos quais ele não havia sequer iniciado. Viajava muito
durante o processo dos livros, e as obras “completas” às vezes eram revisadas
entre diferentes edições. Este estilo reflete a própria vida do autor, que
sempre foi uma tentativa de estabilização através de suas ficções. “O homem que
constantemente desaparece”, escreveu V.S. Pritchett, “e que deveria ser
perseguido da rua Cassini à ... Versailles, Ville d’Avray, Itália, e Viena só
poderia construir uma habitação fixa no seu trabalho”.
Realismo
O uso excessivo que Balzac faz dos
detalhes, especialmente os detalhes de objetos, para ilustrar a vida de suas
personagens, fez com que ele fosse um dos pioneiros do realismo literário.
Embora admirasse e fosse inspirado pelo estilo romântico de autores como o
escocês Walter Scott, procurou em sua obra retratar a existência humana através
do uso de particularidades. No prefácio da primeira edição de “Scènes de
la Vie Privée”, ele escreveu: “O autor acredita firmemente que os detalhes apenas
passarão a determinar o mérito das obras...” Entre os detalhes mais comuns em
Balzac estão descrições às vezes minuciosas de decorações, roupas, e posses,
que ajudam a conhecer melhor as personagens. Um exemplo notável são as
descrições da “Pension Vauquer” em “Le Père Goriot”, em que o papel de parede da
pensão reflete a identidade interior dos seus moradores, inspirado num amigo
pessoal do autor, Hyacinthe de Latouche, que tinha conhecimento sobre suspensão
de papéis de parede.
Há críticos que consideram a escrita de
Balzac um notável exemplo do naturismo – uma forma mais pessimista e analítica
do realismo, que busca explicar o comportamento humano como intrinsecamente
relacionado ao meio. Émile Zola declarou certa vez que Balzac era o pai da
novela naturalista. Em outra ocasião, este autor francês disse que, “enquanto
os românticos viam o mundo através de lentes coloridas, o naturalista vê o
mundo através de um vidro transparente – precisamos o tipo de efeito que Balzac
se esforçava para alcançar em suas obras”.
Personagens
Balzac procurava retratar seus
personagens como pessoas reais, nem totalmente boas nem totalmente más, mas
plenamente humanas. “Para chegar à verdade”, escreveu no prefácio de “Le
Lys Dansla Vallée”, “os escritores usam de qualquer artifício literário que
pareça capaz de dar a maior intensidade de vida possível a seus personagens”.
Alguns críticos de fato escrevem que “os personagens de Balzac eram tão reais
para o autor que era como se ele estivesse observando-os no mundo externo”.
Essa realidade foi observada pelo autor inglês Oscar Wilde, que certa vez
disse: “Uma das maiores tragédias de minha vida foi a morte de Lucien de
Rubempré (protagonista de “Illusions Perdues”) ... Isso me assombra nos momentos
de prazer. Eu me recordo disso quando dou risada”.
E, ao mesmo tempo, seus personagens
representam uma variedade de tipos sociais; o nobre soldado, o malandro, o
operário orgulhoso, o espião destemido, a amante sedutora, entre outros. Não
por acaso, como se vê, a sua “Comédie Humaine” é dividida em cenas: “da vida
privada, “da vida de província”, “da vida parisiense”, “da vida política”, “da
vida militar” e “da vida do campo”. Uma das provas de habilidade do autor foi
saber equilibrar a força individual dessas personagens com a representação de
seu tipo social. Um crítico explicou que “há um centro e uma circunferência no
mundo de Balzac”.
Seu uso repetitivo de personagens
(muito dos quais entram e saem nos diversos livros da “Comédie”) reforça a sua
representação realista. “Quando os personagens reaparecem”, observa o crítico
estado-unidense Samuel Rogers, “eles não saem do nada; emergem a partir da
privacidade de suas próprias vidas que, por um intervalo, não fomos autorizados
a ver”. Balzac também utilizou uma técnica realista que o romancista francês
Marcel Proust posteriormente denominou “iluminação retrospectiva”, no qual o
passado de um personagem é revelado muito tempo depois dele ou dela aparecer
pela primeira vez.
Uma reserva quase infinita de energia
impulsiona os personagens dos romances de Balzac. Lutando contra as correntes
da natureza humana e da sociedade, eles podem perder mais vezes do que ganhar –
mas só raramente desistem. Este traço universal humano reflete a disputa do
próprio Balzac contra sua família e a sociedade, e um interesse pelo físico e
místico austríaco Franz Mesmer, pioneiro no estudo do magnetismo animal. Balzac
falava muitas vezes de uma “força de nervos e fluídos” entre os indivíduos, e o
declínio de Raphaël Valentin em “La Peau de Chagrin” exemplifica o perigo de se
afastar da companhia de outras pessoas.
Lugares
A representações da cidade, do
interior, das construções, eram essenciais no realismo de Balzac e muitas vezes
serviram para pintar um cenário naturalista em seus livros por onde a vida dos
personagens seguiria seu curso particular. Isso lhe rendeu a reputação de
naturalista. Para se ter uma ideia, alguns detalhes intrincados sobre locais
por vezes se estendem por cerca de quinze ou vinte páginas. Assim como fazia
comas pessoas a seu redor, Balzac estudava com profundidade esses lugares,
viajando para locais remotos e realizando notas de levantamento que tinha feito
em visitas anteriores.
A influência da cidade de Paris permeia
quase todas as páginas de “La Comédie Humaine. A natureza ocupa um lugar de
volta à metrópole artificial, em contraste com as representações do tempo e da
vida selvagem no meio rural. “Se em Paris”, escreve Rogers, “estamos em uma
região feita pelo homem onde até as estações do ano são esquecidas, essas
cidades do interior são quase sempre retratadas em seu ambiente rural”. O
próprio Balzac já se havia escrito que “as ruas de Paris possuem qualidades
humanas e não podemos nos afastar das impressões que elas causam nas nossas
mentes”. O foco da “Comédia Humana”, em Paris é a chave de ouro que coloca
Balzac como um autor realista. “O realismo não é nada se não for urbano”, anota
o crítico Peter Brooks; a cena do jovem ambicioso que vai à cidade grande para
encontrar a sua tão sonhada e prometida fortuna é onipresente no romance
realista, e aparece frequentemente nas obras de Balzac, vide “Ilusões
Perdidas”.
Perspectiva
O humor literário de Balzac evoluiu com
o tempo, passando de desanimado e decepcionado a solidário e corajoso – mas
nunca otimista. Entre seus primeiros romances, “La Peau de Chagrin” é um conto
pessimista da confusão e destruição. Mas o cinismo caiu assim que sua obra
avançou e os personagens e “Illusions Perdues”, por exemplo, revelam simpatia com
aqueles que são deixados à margem social. A evolução do romance no século XIX
como “democrática forma literária” propiciou a Balzac a afirmação de que “les
livres sont faits pour tout le monde” (“livros são escritos para todo o mundo”).
Era preocupado predominantemente com o
mais escuro da natural essência humana e a influência corrupta das sociedades
média e alta. Representou a humanidade em seu estado mais representativo, e
frequentemente passava incógnito entre as massas da sociedade parisiense para fazer
pesquisas. Usou incidentes de sua própria vida e da vida das pessoas em seu
redor em diversas obras como Eugénie Grandet e Louis Lambert.
Política
Honoré de Balzac era um monarquista
altamente conservador; de diversas formas, ele pode ser visto como o antípoda
do republicanismo democrático de Victor Hugo. Desde “Le Dernier Chouan” (O
Último Britânico, 1829), que depois se transformaria em “Les Chouans” (1829, na
tradução brasileira “A Bretanha”), Balzac denunciou ou abordou problemas do
dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros
poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça
diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da
pintura de ambientes rurais, como em “Os Camponeses”, de 1844. Não obstante, a
sua aguçada percepção quanto às condições da classe trabalhadora fez com que
ganhasse estima de muitos socialistas e marxistas; era o autor favorito de
Engels.
Legado
Honoré de Balzac influenciou
significativamente escritores de seu tempo e das próximas gerações. Muitos
críticos das mais variadas nações atribuem os seus grandes autores como seus
Balzacs; Charles Dickens, por exemplo, já foi chamado de “o Balzac inglês” e de
fato o autor francês teve certa influência nele. Certos críticos denominam
Manuel Antônio de Almeida o “Balzac brasileiro”, enquanto o
Frankfurter Allgemeine Zeitung já reservou tal título aos mais recente Jorge
Amado. Machado de Assis também sofreu forte influência de Balzac em seus
primeiros escritos realistas. No entanto, ele rompe com a narrativa linear e
principalmente com os narradores à modelo de Balzac, Zola e Flaubert, que
desapareciam por detrás da objetividade narrativa, e assim escreveu seus
grandes romances, com Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, com
narradores cínicos e que merecem desconfiabilidade, sem, absolutamente,
desprezar o caráter social e pessimista que também se encontra em Balzac. De
fato muitos críticos já escreveram aproximações sobre ambos, entre elas uma
observação das influências das mulheres balzaquianas nas mulheres de Machado,
especialmente Capitu e a “A Mulher de Trinta Anos. Dos realistas, contudo,
Machado dizia: “Voltemos os olhos para a realidade, mas excluamos o realismo;
assim não sacrificaremos a verdade estética”. Quanto aos detalhes excessivos
presentes em Balzac e em naturalistas como Eça de Queirós, criticou: “essa
pintura, esse aroma de alcova, essa descrição minuciosa, quase técnica, das
relações adúlteras, eis o mal”.
Eça de Queirós, por sua vez, admirava a
“Comédie Humanie” tanto quanto Camilo Castelo Branco. Este escreveu um conjunto
de oito narrativas e que deu o nome de “Novelas do Minho” (1875 a 1877),
explicitamente influenciado em Balzac, enquanto o primeiro escrevia “Cenas da
Vida Portuguesa”, ciclo de romances destinados a retratar a sociedade
portuguesa, após o estabelecimento do liberalismo em Lisboa, Portugal, dos
quais vieram à luz “Os Maias” e “A Capital”, à imagem das cenas sociais que o
autor francês fazia de sua França e Paris.
Gustave Flaubert também foi
substancialmente influenciado pela escrita de Balzac. Elogiando seu retrato da
sociedade, enquanto atacava seu estilo de prosa, certa vez escreveu: “Que homem
ele teria sido caso soubesse escrever!”. Enquanto desenhava o rótulo de
“realista”, Flaubert claramente se focava na atenção de Balzac aos detalhes e
suas descrições da vida “nua e crua” da burguesia. Tal influência se mostra na
obra “L’Education Sentimentale” de Flaubert, que possui uma dívida com as
“Illusions Perdues”. “Aquilo que Balzac começou”, escreveu um crítico, “Flaubert
ajudou a terminar”.
De maneira semelhante, Marcel Proust
também aprendeu com o exemplo realista, e fazia estudos cuidadosos de sua obra,
embora tenha criticado o que veio a chamar “vulgaridade” de Balzac. No entanto,
seu “À la Recherche du Temps Perdu” utiliza um exemplo na ancestral história de
Balzac chamada “Une Heure de ma Vie” (“Uma Hora da Minha Vida”, 1822), em que
segue em detalhes reflexões pessoais profundas. Mais tarde, contudo, em sua
maturidade, Proust chamou de “loucura” a moda contemporânea de comparar Balzac
com Tolstói. O romancista estado-unidense Henry James, por sua vez, talvez
tenha sido o mais afetado por Balzac que todos os outros aqui já citados;
escreveu quatro ensaios derramando elogios sobre ele (em 1875, 1877, 1902 e
1913), e num desses escritos afirmava: “Grande como Balzac é, ele é o todo de
uma peça e permanece na perfeição”. Henry James se esforçava para manter as
motivações psicológicas em detrimento de exibições históricas em suas novelas e
isso aprendeu com Balzac. Ambos autores utilizaram a forma do romance realista
para sondar as maquinações da sociedade e da miríade dos motivos do
comportamento humano.
A visão de Balzac de uma sociedade na
qual o dinheiro, as classes e as ambições pessoais são os principais
intervenientes. O marxista Friedrich Engels escreveria: “Aprendi mais com
Balzac do que com todos os outros profissionais, historiadores, economistas e
estatísticos juntos”. Recebeu elogios de críticos tão diversos como Walter
Benjamin e Camille Paglia. Em 1970, Roland Barthes publicou detalhada análise
sobre a história “Sarrasine” é uma obra-chave na crítica literária
estruturalista. Balzac também tem influenciado a cultura popular. Muitas de
suas obras têm sido adaptadas para o cinema, como “Cousin Bette” de 1998,
estrelando Jessica Lange. Ele também foi incluído de maneira significativa no
filme “The 400 Blows” (“Os 400 Golpes”, 1959) de François Truffaut. Como
roteirista, Truffaut creditava Balzac e Proust como os maiores escritores de
toda a França.
Wikipédia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Honor%C3%A9_de_Balzac. Acesso em: 31 de jan. 2022.
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