Este texto do mestre Geraldo Bonadio, já alertava para o problema europeu em relação ao gás importado da Rússia em 18 de fevereiro de 2022. A guerra iniciou no dia 24 daquele mês. Esta postagem que o professor Bonadio fez via Facebook vem corroborar com a informação anterior sobre o comércio de gás e petróleo russos.
Da antiga União Soviética,
da qual foi centro político e estratégico, a Rússia herdou um poderio militar
desmesurado, com enorme capacidade destrutiva, e um notável desenvolvimento
tecnológico, mas o que tira o sono da Europa Ocidental e da OTAN expandida é o
controle estatal sobre a prospecção e exportação de gás natural. Se Moscou
fechar os gasodutos que a conectam à Europa Ocidental, pode levar à morte, por
desaquecimento, milhões de europeus no próximo inverno. Ainda que existam, como
efetivamente existem, outros centros supridores daquela commodity, será
impossível, aos governos detentores de tais jazidas e à União Europeia, somadas
as dificuldades políticas, logísticas e financeiras a resolver, criar alternativa
ao suprimento propiciado pela Rússia.
Essa realidade, que a grande
mídia oculta ao tratar do confronto que gera as manchetes dos veículos de
comunicação dos últimos dias, fornece dados essenciais para entendermos a crise
energética, hoje uma das ameaças mais diretas à sobrevivência das populações
pobres do Brasil e desmascara a inconsistência dos que, supostos porta-vozes do
“mercado”, tentam convencer os brasileiros de que não temos necessidade de uma
estatal do petróleo com a amplitude alcançada em dado momento pela Petrobras,
que ia do poço ao posto.
O caos do nosso sistema
energético, cujas consequências diretas atingem do gás de cozinha, cujos
botijões passaram a ser vendidos em parcelas nos cartões de crédito de quem os
possui, aos combustíveis automotivos, é uma realidade perversa deliberadamente
construída e não capricho do destino ou castigo dos deuses. Seus autores foram
dois governos apartados do interesse nacional: o de Fernando Henrique Cardoso –
com o impatriótico projeto de converter a Petrobras em Petrobrax – e, em
especial, o de Michel Temer com seu sinistro programa de destruição da
soberania nacional cinicamente rotulado de Ponte para o Futuro.
E a corrupção na Petrobras
durante os governos do PT? Não teve nada a ver com o desastre que aí está?
Teve, sim, principalmente por haver levado a desatinos, como a Operação Lava
Jato na qual, a pretexto de se restaurar a moralidade, destruíram-se CNPJs
essenciais à economia brasileira ao mesmo tempo em que se construíam, através
do mau uso das delações premiadas, rotas de fuga e garantias de impunidade para
os CPFs dos que com ela se locupletaram. Essa, entretanto, é outra história da
qual aqui não trato para manter o foco da narrativa. O certo é que, se não
eliminarmos os fatores que criaram a crise energética, nunca iremos recolocar o
preço dos derivados de petróleo, no mercado interno, em patamares compatíveis
com a renda dos brasileiros.
Tudo o que se fala e propõe,
na grande mídia corporativa - subsídios, mudanças tributárias e por aí a fora -
é mera tentativa de má fé, ecoada por incautos, de desviar o foco da questão, a
saber: sem uma forte estatal da energia nenhum Estado contemporâneo preserva
sua soberania. Tanto isso é verdade que empresas dessa natureza, muito maiores
do que a estatal brasileira foi em seus melhores momentos, existem em países
tão diferentes em sua forma de governo, níveis de democracia e respeito aos
direitos humanos, etnias e religiões dos povos que os habitam, como a Arábia
Saudita, a Rússia, a Noruega, a China, o Irã e o Japão. Ou seja, quanto menor e
mais impotente for a Petrobras, menor será a soberania do Brasil e maior os
padrões de miséria de nossa gente.
Geraldo Bonadio
Jornalista, advogado e escritor, natural de Sorocaba –
SP.
18 de fevereiro de 2022.
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