quarta-feira, 6 de abril de 2022

A ARMA MAIS FORTE DE PUTIN


        Este texto do mestre Geraldo Bonadio, já alertava para o problema europeu em relação ao gás importado da Rússia em  18 de fevereiro de 2022. A guerra iniciou no dia 24 daquele mês. Esta postagem que o professor Bonadio fez via Facebook vem corroborar com a informação anterior sobre o comércio de gás e petróleo russos.


       Da antiga União Soviética, da qual foi centro político e estratégico, a Rússia herdou um poderio militar desmesurado, com enorme capacidade destrutiva, e um notável desenvolvimento tecnológico, mas o que tira o sono da Europa Ocidental e da OTAN expandida é o controle estatal sobre a prospecção e exportação de gás natural. Se Moscou fechar os gasodutos que a conectam à Europa Ocidental, pode levar à morte, por desaquecimento, milhões de europeus no próximo inverno. Ainda que existam, como efetivamente existem, outros centros supridores daquela commodity, será impossível, aos governos detentores de tais jazidas e à União Europeia, somadas as dificuldades políticas, logísticas e financeiras a resolver, criar alternativa ao suprimento propiciado pela Rússia.



       Essa realidade, que a grande mídia oculta ao tratar do confronto que gera as manchetes dos veículos de comunicação dos últimos dias, fornece dados essenciais para entendermos a crise energética, hoje uma das ameaças mais diretas à sobrevivência das populações pobres do Brasil e desmascara a inconsistência dos que, supostos porta-vozes do “mercado”, tentam convencer os brasileiros de que não temos necessidade de uma estatal do petróleo com a amplitude alcançada em dado momento pela Petrobras, que ia do poço ao posto.


       O caos do nosso sistema energético, cujas consequências diretas atingem do gás de cozinha, cujos botijões passaram a ser vendidos em parcelas nos cartões de crédito de quem os possui, aos combustíveis automotivos, é uma realidade perversa deliberadamente construída e não capricho do destino ou castigo dos deuses. Seus autores foram dois governos apartados do interesse nacional: o de Fernando Henrique Cardoso – com o impatriótico projeto de converter a Petrobras em Petrobrax – e, em especial, o de Michel Temer com seu sinistro programa de destruição da soberania nacional cinicamente rotulado de Ponte para o Futuro.


       E a corrupção na Petrobras durante os governos do PT? Não teve nada a ver com o desastre que aí está? Teve, sim, principalmente por haver levado a desatinos, como a Operação Lava Jato na qual, a pretexto de se restaurar a moralidade, destruíram-se CNPJs essenciais à economia brasileira ao mesmo tempo em que se construíam, através do mau uso das delações premiadas, rotas de fuga e garantias de impunidade para os CPFs dos que com ela se locupletaram. Essa, entretanto, é outra história da qual aqui não trato para manter o foco da narrativa. O certo é que, se não eliminarmos os fatores que criaram a crise energética, nunca iremos recolocar o preço dos derivados de petróleo, no mercado interno, em patamares compatíveis com a renda dos brasileiros.


       Tudo o que se fala e propõe, na grande mídia corporativa - subsídios, mudanças tributárias e por aí a fora - é mera tentativa de má fé, ecoada por incautos, de desviar o foco da questão, a saber: sem uma forte estatal da energia nenhum Estado contemporâneo preserva sua soberania. Tanto isso é verdade que empresas dessa natureza, muito maiores do que a estatal brasileira foi em seus melhores momentos, existem em países tão diferentes em sua forma de governo, níveis de democracia e respeito aos direitos humanos, etnias e religiões dos povos que os habitam, como a Arábia Saudita, a Rússia, a Noruega, a China, o Irã e o Japão. Ou seja, quanto menor e mais impotente for a Petrobras, menor será a soberania do Brasil e maior os padrões de miséria de nossa gente. 

Geraldo Bonadio

Jornalista, advogado e escritor, natural de Sorocaba – SP.

18 de fevereiro de 2022.


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